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Caldeirão da Bolsa

2012 - Complexo período de transição - análise anual

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por Opcard » 9/1/2012 18:56

As opniões são muitas e variadas e Olivier Delamarche que é gestor no Platinum Fund e comentador na BFM Business é um pouco mais pessimista alguns titulos dos seus comentarios:

03 de janeiro 2012/03/01 - A depressão econômica ainda é atual - A explosão nunca esteve tao proxima

27 dezembro 27/12/2011 - Todos os valores estão errados - até mesmo a China está falida

20 de dezembro 2011/12/20 - Os bancos vão à falência em França - CAC40 ainda a perder 1.000 pontos

13 de dezembro 2011/12/13 - Há uma escolha entre a peste e a cólera

06 de dezembro 2011/06/12 - A saída da Grécia é inevitável

29 de novembro 29/11/2011 - Isto pode acabar em guerra - Leiam os livros de história ... isto acabou sempre dessa forma.

22 de novembro 2011/11/22 - O euro vai estourar -
"Estou muito surpreso que as agências de rating não se degradam os norte-americanos que estao piores do que a Grécia"

http://minuit-1.blogspot.com/2011/02/vi ... r-bfm.html

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por EuroVerde » 9/1/2012 15:32

Se fizermos um minimo inferior ao minimo do Verão passado, podemos fazer a tal base que falas. Se isso acontecesse, seria para "limpar" os pequenos e encontrar-se um nível com o qual podia acontecer só lá estarem por fim os fundos no fundo. :roll:
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por djovarius » 9/1/2012 13:25

Ora viva uma vez mais,

Ainda algumas questões no ar, neste caso, quero dar uma palavra ao migluso, que colocou e bem, algumas reticências.

Eu acho que o mercado ainda não descontou totalmente, aquilo que ainda deverá ocorrer na zona EUR.
Mas a minha questão é mesmo essa: tanto faz que seja agora no espaço de um mês ou dentro de um semestre.
O que importa é que haja uma conclusão, a qual o mercado irá "descontar". Noto que ainda não houve uma verdadeira capitulação. Ela quase ocorreu no Verão, mas ainda não foi aquilo que o mercado necessitava para expurgar as mãos fracas. Repare-se no caso português: ainda há mãos pequenas a comprarem BCP de forma especulativa. Ou a manifestarem interesse em Obrigações Gregas. Isto quer dizer que o mercado ainda merece confiança.
Normalmente, fundos de muito longo prazo ocorrem quando ninguém quer ouvir falar em títulos de espécie alguma. Isto é válido para qualquer ponto do Planeta. E não sei se já teremos chegado ao fundo de índices da nossa zona Euro, como o Euro Stoxx 600, e também não pago para ver.

Continuo a afirmar que, sim, entre este e o próximo ano deveremos construir (a meio de alguns sustos) uma base para um mercado mais saudável nos anos seguintes.

Abraço

dj
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por pisão » 4/1/2012 2:20

Como as exportações estão a cair a China vai avançar com reformas para estimular o consumo interno.

Isto são boas notícias para a economia mundial.


China mulls plans to boost domestic consumption: report

Reuters

7:35 p.m. EST, January 3, 2012

SHANGHAI (Reuters) - The Chinese government is planning new policies to boost domestic consumption, especially of vehicles and appliances, in a bid to offset the effects of sagging export demand, the China Daily reported on Wednesday, quoting a government official.

With tax rebates on vehicles and domestic appliances either having expired or due to expire, the government is working on new measures, said Huang Hai, former assistant minister of commerce and a member of the economic and trade policy consulting committee linked to the Ministry of Commerce.

These may include subsidies for families living in affordable housing that buy electrical appliances and for consumers planning to change cars, the paper said.

The daily also quoted a Ministry of Commerce spokesman as saying that the ministry was considering new programs to expand consumption, with details to be announced next week.

Huang also said over 10 government agencies, including the Ministry of Commerce, the National Development and Reform Commission and the Ministry of Finance, are expected to cooperate and propose concrete plans to boost consumption at a meeting slated for April.

China's exports have steadily fallen over the past few months on the back of economic woes in the European Union. Exports in November expanded 13.8 percent from a year ago, the most sluggish rate in more than two years.

Europe remains China's single largest export market, but export growth to the continent slowed to just 5 percent in November from a year ago, the third straight month of single digit growth and the smallest expansion since February 2011.

(Reporting by Fayen Wong and Lu Jianxin; Editing by Jonathan Hopfner)

Copyright © 2012, Reuters
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por Rasputine1973 » 4/1/2012 0:05

Parabéns pelo artigo, cheio de "sumo" e bem estruturado.
Também concordo que as oportunidades andarão por aí mas penso que ainda não vimos suficiente "sangue nas ruas".
Penso que os próximos meses serão decisivos e que há 3 factores a acompanhar de muito perto: crise da divida europeia (eu incluiria a questão do rating da França neste tema); recessão ou não dos EUA; abrandamento ou travagem a fundo da China (atenção à bolha do imobiliário)?
Acho que os mercados vão ser sensiveis a ests questões e espero swings fortes e com boas oportunidades de negócios.

Bom ano

Rasputine
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por migluso » 3/1/2012 23:05

djo,

É sempre um prazer ler as tuas análises.
Concordo com grande parte do que dizes, em especial com o teu pensamento sobre políticas monetárias.

Pela minha interpretação das tuas palavras, diria que estou mais pessimista do que tu, em especial devido à situação da França.

A grande questão que coloco a mim mesmo neste início do ano é: até que ponto o mercado já descontou um quase certo downgrade do rating da França e, muito provavelmente logo a seguir, também do FEEF?

Apesar desta minha dúvida, quer-me parecer que o mercado acredita que o BCE imprimirá o que for preciso para não deixar as yields francesas divergirem de forma irremediável das alemãs.

De resto, penso que deveremos estar preparados para swings "de respeito" originados por palavras e/ou medidas de políticos e/ou banqueiros centrais.

Abraço e bons negócios para este novo ano.
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por djovarius » 3/1/2012 12:58

Olá amigos,

Bem hajam. É um prazer escrever para tão ilustres leitores :)

Quero esclarecer, até porque já recebi particularmente algumas questões, que em nenhum momento estou a defender que a crise já acabou e que a partir de agora é tudo a subir loucamente. Seria uma admiração se tal se passasse assim sem mais nem menos.
O que digo é que estamos numa época de transformações e que este ano e o próximo poderão efetivamente ser uma base para o início de um ciclo mais positivo.
Recordo que, essencialmente desde o período 2000/02, as coisas têm andado aos altos e baixos, pelas razões que todos sabemos, sendo que após um período crítico de 10 a 15 anos seja normal o regresso a tempos de maior estabilidade. Creio que já não falta muito, mas até lá, ainda teremos incerteza e volatilidade. Há problemas por resolver em todo o lado, o mundo ainda está num período de transição.

Abraço

dj
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por whitebala » 3/1/2012 12:44

Excelente.

sem duvida que artigos assim enriquecem em muito este forum :)
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por Rags » 3/1/2012 11:52

djovarius Escreveu:Em resumo: mais um ano extremamente difícil, de fortes incertezas, mas de onde sairão as fundações para um mercado mais saudável, contrariando as expetativas da maioria. Mas como sabemos, nos mercados, a maioria está do lado errado.

Obrigado



Obrigado "nós" que temos o privilégio de ler esta excelente e pormenorizada visão dos mercados financeiros, ao longo dos tempos, passados e actuais.

Muito bom :clap: :wink:
Cumprimentos
Rags
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por db7 » 3/1/2012 9:59

Obrigado pelo excelente texto.
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por AC Investor Blog » 3/1/2012 8:38

Mais um excelente artigo com muita boa base de informação e conteúdo.....

Existe uma velha frase em Wall Street que diz " Buy stocks when there's blood in the streets " Por outras palavras, isto significa...quando reina o caos total, os investidores têm uma grande chance de ganhar dinheiro, porque a maioria das pessoas pensa que o mundo vai acabar....... traduzido à letra, compre acções quando há sangue nas ruas...

Esta frase diz quase tudo.....

Um abraço,
AC Investor Blog
www.ac-investor.blogspot.com -
Análises Técnicas de activos cotados em Wall Street. Os artigos do AC Investor podem também ser encontrados diariamente nos portais financeiros, Daily Markets, Benzinga, Minyanville, Solar Feeds e Wall Street Pit, sendo editor e contribuidor. Segue-me também no Twitter : http://twitter.com/#!/ACInvestorBlog e subscreve a minha newsletter.
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por Lion_Heart » 3/1/2012 2:41

Excelente como sempre. Sigo atentamente os posts do djo e concordo com a maioria deles. :clap:
" Richard's prowess and courage in battle earned him the nickname Coeur De Lion ("heart of the lion")"

Lion_Heart
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por MarcoAntonio » 3/1/2012 1:55

É bom notar que as tuas crónicas de início de ano são uma tradição que se mantém, djo.

Já não vou conseguir ler o teu post já hoje, a esta hora, mas não queria deixar de notar em avanço...
Imagem

FLOP - Fundamental Laws Of Profit

1. Mais vale perder um ganho que ganhar uma perda, a menos que se cumpra a Segunda Lei.
2. A expectativa de ganho deve superar a expectativa de perda, onde a expectativa mede a
__.amplitude média do ganho/perda contra a respectiva probabilidade.
3. A Primeira Lei não é mesmo necessária mas com Três Leis isto fica definitivamente mais giro.
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por sargotrons » 3/1/2012 1:52

Obrigado DJ pela big picture!
Não faz mal!...
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por pisão » 3/1/2012 1:51

Os meus parabéns.

Muito boa análise cheia de sumo, é destes posts que o caldeirão precisa.

Abraço :clap: :clap: :clap: :clap:
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2012 - Complexo período de transição - análise anual

por djovarius » 3/1/2012 1:23

A todos, Feliz Ano Novo.

Chegámos a 2012, ano de mistérios, o qual para alguns é o ano do "fim do mundo". Para os que acreditam que o mundo vai sobreviver, escrevo eu, como todos os anos. Para os que acreditam que os mercados vão manter-se, apesar de todas as crises, do jeito que sempre funcionaram, então vale a pena continuar atento, analisar e investir quando for caso disso, sem precipitações, até porque devemos continuar num clima de forte incerteza, a qual não é lá muito amigo dos investidores.

Uma coisa é certa: esta não é a primeira nem será a última crise das nossas vidas. Porém, ela é diferente porque afeta até um certo modo de vida com o qual nascemos e crescemos. À nossa volta, uma sensação de quase colapso económico. Como se não estivéssemos à beira do precipicio, mas sim já em queda à espera que algo nos possa segurar para que possamos à queda sobreviver. O Mundo que conhecíamos já não é (será) o mesmo. Até porque os pressupostos mudaram.
Tal como um negócio nos mercados pode ser fechado ou invertido devido à mudança dos pressupostos que a ele deram origem, também as nossas vidas (a sociedade) muda porque os seus alicerces tremem de alto a baixo. Pode não ser uma implosão, mas será seguramente um terramoto.

Está a fazer 4 anos sobre um ensaio em que preconizava, à época, uma grande alteração do eixo da esfera económico-financeira global, com a força a se transferir de Ocidente para Oriente. Hoje acrescento que também se pode incluir neste rol, do Centro para a Periferia, leia-se para os chamados mercados emergentes, independentemente dos pontos cardeais.
Esse movimento foi e é real, já estava em marcha, tendo-se ampliado cada vez mais nestes anos. Não há nada a fazer. Uns fizeram o trabalho de casa, os outros, quais cigarras no Verão, "adormeceram" à sombra dos gloriosos anos pós-Guerra Mundial e pós-guerra fria. A abertura dos mercados, a chamada Globalização fizeram o resto. Eles souberam desta beneficiar, encontrando o "caminho marítimo" para o enriquecimento. Outros não souberam interpretar as consequências das suas próprias decisões. O movimento em causa não se deve a nenhuma das atuais crises, antes se torna mais óbvio por conta delas.
É que aquilo a que hoje chamamos crise, não passa de uma consequência lógica da insanidade económico-financeira que vivemos a Ocidente. A negação das chamadas "bolhas", a crença de que tudo se resolvia com mais e mais crédito, a esperança na infinita elasticidade desse mesmo crédito, com o beneplácito dos mercados e das autoridades de política monetária. Enfim, acrescentemos a mediocridade do pessoal político e já temos uma bela receita para o desastre.
Afinal, o mundo e os seus problemas não começaram hoje ou há quatro anos. Mas sempre gostámos de relembrar que há momentos que marcam comportamentos que têm consequências de longo prazo, ainda que não visíveis à partida.
A forma como se inflacionaram as massas monetárias e as dívidas públicas das maiores potencias mundiais foram, sobretudo a partir da década de noventa do século passado, as principais causas para aquilo a que se assiste hoje.
Voltemos contudo trinta anos no tempo. Depois de muitos anos de estagnação (a famosa estagnaflação) e pessimismo, o mundo ocidental encetava uma época de prosperidade. Os mercados acionistas atingiam um fundo de muito longo prazo e voltavam a se valorizar. Depois de um período de juros elevados para combater a subida de preços, os resultados foram visíveis. Uma queda forte da inflação (IPC) e um "pool" de poupanças capaz de gerar novos investimentos em várias áreas, situação que levou a uma gradual e sustentada descida de juros a todos os prazos.
O mundo em crise retomava a sua caminhada. Depois de anos de refúgio Ouro, os capitais voltavam a procurar ativos de risco. Não foi de admirar a forte valorização das "equities" entre 1982 e 1987, naquilo que foi um reajuste dos preços dos ativos à massa monetária recentemente criada. O PIB global voltava a dar fortes sinais, liderado pelos EUA, como quase sempre nos tempos da dita "guerra fria". O chamado "crash de 1987" nem sequer teve o significado de outros semelhantes no passado. Parecia igual, mas não passou de um "glitch" técnico se analisarmos toda essa década de mercado. Já nos anos noventa, as recessões foram de menor importância. Bons os tempos em que as recessões eram apenas cíclicas, perfeitamente normais, como se de uma válvula de escape se tratassem. A verdade é que nada impediu mais uma década extraordinária para os mercados de títulos em geral, mesmo com algumas contrariedades que se apoderaram do sistema.
Mas é também nessa última década do século que se desencadeiam uma série de eventos que levaram a reações que teriam consequências nefastas nos tempos mais recentes e que ainda cá estão, sabe-se lá até quando.
Os EUA assumem um papel mais importante (pós-guerra fria) também nos mercados financeiros, intervindo tanto domesticamente como no exterior. Começa com a crise dos "Savings and Loans" no início da década, em que o FED intervém em conjunto com o Tesouro. A recessão interna de 1992, as garantias para as Brady Bonds (salvação financeira latino-americana), a crise Tequila dos vizinhos a sul, enfim, a crise Russa, a do Real Brasileiro, a crise Asiática, que é aliás muito semelhante à crise atual de alguns Estados da zona Euro, enfim, até o Y2K (lembram-se das asneiras a propósito do "bug" do milénio?). A verdade é que há um fio condutor entre estes eventos, o qual é muito falado ano após ano, aqui no Caldeirão de Bolsa. É o aumento da liquidez, situação que num primeiro momento é bem vista porque significa uma resposta às mencionadas crises. No caso do bug do milénio foi ainda mais espantoso, já que houve uma antecipação por parte do FED a uma crise que nunca chegou a ocorrer. A verdade é que as cedências de liquidez não tiveram grande influência na Economia real nem sequer nos índices de preços ao consumidor, razão pela qual foram consideradas um sucesso. O problema foi a perpetuação de "bolhas" em diversos mercados (como um virus que procura espaço vital, esgotados os recursos do espaço anterior). E seria já na nova década que a liquidez e as "bolhas" seriam mais visíveis e mais catastróficas para o investidor médio. Foi a das Telecom/Internet/Nasdaq, foram novas injeções de liquidez na sequência de 11/09/01, a crise Argentina, a entrada do FMI no Brasil, foi a bolha dos mercados emergentes, foi, enfim, já entre 2004 e 2008, a mãe de todas elas, a "bolha" do crédito, confundida erradamente nos "media" como crise do "sub-prime", já que este último é apenas um aspeto da transformação do crédito em produtos derivados, fora do sistema comum, facto que revelou um triste "shadow banking system" que coloca em causa o regular funcionamento do mercado livre e aberto.

É devido a estas condições que muitos autores falavam de um "crash", como foi o caso do célebre prof. Roubini. Era inevitável que acabariam por acertar em cheio. O problema prendeu-se com o "timing". Acertar em algo, com uma diferença de cinco anos, por exemplo, tem tanto valor como não acertar. Mas, se se tratar de um espaço de tempo inferior a dois anos, já podemos falar de alguma credibilidade.
Porque estes autores estavam condenados a acertar, nem que fosse num "timing" errado. Pela mesma razão que leva qualquer analista a ser pessimista nesta fase: uma diferença importante entre a liquidez criada e a riqueza efetivamente produzida. No passado, a elevação da massa monetária acima do PIB nominal já seria o suficiente para deixar os Bancos Centrais de "cabelos em pé". Hoje, verificamos que o aumento da liquidez e do crédito nem sequer influenciaram o PIB real de muitos países. Esse foi um dos problemas de fundo. Uma "bolha" de crédito, que tivesse, ao menos, o condão de promover um crescimento económico miraculoso, poderia ser aceite e gerenciável. Mas a verdade é que os poderes públicos e as entidades privadas, nos EUA e na velha Europa, endividaram-se a ritmo não compatível com o "output" de bens e serviços entretanto gerado. Dir-se-à que não adianta tentar alterar os ciclos económicos e evitar as recessões. Culpa dos políticos? Sim, mas também da "populaça" que vota em quem promete "pão e circo", algo que, ao fim de um certo tempo, não se pode mais cumprir, sob pena de uma implosão económica. Infelizmente, todo este "sistema" poderia ter explodido muito antes, mas foi aqui que entrou em campo outro jogador. O bloco China / tigres asiáticos (que entretanto aprenderam com o seu próprio colapso de fim dos anos noventa) alterou muitos dos pressupostos antigos. Sobretudo os Chineses, que não tiveram quaisquer problemas em absorver o excesso de liquidez em dólar, aceitando papel-moeda (Reserva) em troca dos seus produtos e serviços, esterilizando o seu "superavit" estrutural, através da compra de títulos de dívida dos EUA. Mais recentemente, utilizaram as suas enormes reservas na aquisição de "commodities", desfazendo-se assim do excesso de "papéis" em troca de ativos importantes para o seu próprio crescimento. O sistema funcionaria sempre bem, se a própria China fosse imune às "bolhas" que ajudaria a desenvolver. Porém, nuvens negras já estão no horizonte. Há um excesso de capacidade produtiva, os preços estão em elevação, a bolha do imobiliário já lá chegou e há o risco de arrefecimento e de fortes protestos sociais, por parte de quem já não consegue um lugar ao Sol. Já no ano velho, o mercado acionista de Shanghai revelou essas preocupações e corrigiu, já não sendo a primeira vez que isso sucede.

Em resumo, EUA com um crescimento abaixo do potencial, crise (não do EUR) na periferia da Europa Unida a ameaçar o continente, BRIC ainda imunes mas ainda assim a perder força, países ricos em matérias-primas de base a sorrirem (como Canadá ou Austrália), mas já a pensar no que fazer se as Economias dos restantes permanecerem em recessão, ambiente agitado no Oriente Médio e o Japão em desespero a emitir moeda a fim de a desvalorizar, tentando integrar a China num sistema de forex mais aberto, mais flutuante. Eis, pois, o Mundo complexo do início de 2012.
Para quem acreditar que o Planeta vai sobreviver ao dito fim do calendário Maia e que não teremos que procurar refugio numa espécie de Arca de Noé, fica pois uma boa notícia: há certas coisas no mercado que não mudam. E se há hoje um ambiente de tanto pessimismo, podemos acreditar que é exatamente nestas alturas que chegam ao fim os "bear markets". Foi assim no início dos anos oitenta. Nessa altura, também o mundo ía acabar, nem que fosse através de uma guerra nuclear, a América Latina, outrora um milagre económico entrava numa crise de dívida sem solução à vista. Enfim, juros elevados deixavam o mundo capitalista em recessão, a quarta no espaço de uma década. Como vimos atrás, e contra ventos e marés, tudo isso marcaria o começo de tempos globalmente positivos para os mercados.
Será que a História se repete? Sim e não.
Sim, porque sempre que se pensa que o mundo está perdido, que o pessimismo está no auge, a realidade demonstra exatamente o oposto. Os mercados "dão a volta" quer em momentos de extrema euforia, quer na situação inversa. Daí que não seja de admirar que, em algum ponto entre 2012 e 2013, possamos assistir a um fundo de muito longo prazo. Sobretudo se o clima de negócios atingir um forte pessimismo, como espero, até porque deveremos voltar a entrar em recessão global, mais pronunciada nalguns lugares do que noutros e até a nenhuma recessão em várias Economias, mas que parecerá mau, já que, quem se acostumou a forte crescimento (acima de 5% ao ano) terá sempre uma má percepção da realidade em caso de crescimento anémico (como seria o caso de apenas 2%).

E... Não, porque desta feita, ao contrário de há 30 anos, o ciclo não pode ser alimentado por poupanças globais que simplesmente não existem. O excesso de crédito, que já está a ser contido, impede uma saudável progressão da Economia. Faltava mais poupança para mais e melhor investimentos. E se há regiões do Mundo em que isso não é um problema, a maioria não está em condições para crescer, a não ser devido à abundância de liquidez. Mas isso, como já vimos, não leva a nada de sustentável. E mesmo para os mercados, isso significa a formação de "bolhas", a presença de forte volatilidade e euforia sem sentido.
O mercado que sobe de uma forma saudável é aquele que tem bases e que só atrai o homem da rua já em fim de ciclo positivo.
Independentemente de quando vamos assistir a um ciclo de longo prazo positivo na maioria dos mercados, uma coisa é certa: a desalavancagem das Economias com problemas estruturais é para continuar. A possibilidade de um ou mais calotes "parciais" ou "assistidos" serve apenas para viabilizar as Reformas estruturais, para que o doente não morra da cura. Mas, seguramente que a desalavancagem é para continuar, com menos crescimento e criação de emprego. Só por aqui se vê que é quase impossível uma euforia à moda antiga. E isso é bom, porque é muito mais saudável para os mercados, martirizados por anos e anos de uma certa destruição de valor e de capital. Diria, pois, que há que ser Touro, mas com cautelas, mas antes temos de ver se o urso "morre bem morto", o que ainda não está provado.
No ano passado, a minha visão já era mais cética do que agora e as razões eram bem óbvias. Não era preciso ser génio algum para adivinhar problemas nas Nações mais endividadas, sobretudo na zona euro. Os quais poderiam, por "osmose" se estender até à Itália e Espanha. Nem era complicado adivinhar que o mercado haveria de ser seletivo em relação aos ativos bons para investir. Daí que quem não fugiu da zona Euro, fez uma rotação de investimentos. Isso é bem claro ao olharmos para o mercado de dívida pública: a palavra chave foi a rotação de investimento. Os mercados acionistas também viram semelhante situação acontecer ao longo do ano, embora de uma forma menos acentuada. Mais uma vez, o EUR perde face à maioria da divisas e até o USD parece querer brilhar. Ainda assim, as "commodities" continuam a ser "refúgio" contra o excesso de liquidez. Neste particular, há que dizer que nem se pode mais falar de problemas relacionados com o USD. Hoje, a liquidez vem também da moeda única e do sempre enigmático senhor Iene, o JPY - a tal divisa que alimenta (alimentou) o "carry trade". Voltou a ocorrer e reflete a tendência de muitos anos pelas razões que já vimos acima.

E para este ano que agora começa ? Tudo leva a crer que o nervosismo vai perdurar numa primeira fase. O mercado já descontou muita coisa, mas ainda não terá descontado uma recessão global, caso a desalavancagem prove ser levada longe demais. O mais provável é que tal não seja assim, até porque em ano de Presidenciais nos EUA, haverá seguramente uma "ajuda" por parte da Reserva Federal. Não uma ajuda ao Presidente que procura a reeleição, mas uma "ajuda" às atividades da esfera financeira / económica. A fatura virá depois.
Após um certo tempo de incerteza, poderemos ter no segundo semestre, um melhor clima. O mercado já saberá quem é quem na Europa, como será a crise resolvida. O mesmo em relação à China, que deverá já ter sabido lidar com os seus próprios problemas. Novos problemas, novas soluções. O Mundo sempre teve a criatividade para sair dos seus problemas.

Vejamos, pois, uns gráficos. Desta feita não colocamos gráficos do mercado acionista norte-americano, pois isso pode ser visto em detalhe, todos os dias, nos tópicos respetivos. E ainda terminou o ano sem ganhar ou perder nada. E desses mercados, ficou a opinião acima. O mercado poderá fazer um forte arranque num clima de pessimismo, entre este e o próximo ano.

Obrigações do Tesouro (EUA) - 10 anos

Este é o título que mostra bem, como tem sido o mundo pós- Lehman Bros. Um mundo de aversão ao risco, ou pelo menos, aquilo que os investidores pensam que é a aversão ao risco. Ao contrário do que seria de esperar, títulos de dívida não têm um comportamento linear e provavelmente nunca terão. Só assim se explica que Economias fortes mas altamente endividadas "paguem" juros muito baixos em comparação com outras, por vezes menos endividadas, mas consideradas frágeis, pelo menos à luz das agências de notação, as mesmas que antes de 2008 não conseguiam ou não se interessavam em ver risco em lado nenhum. A verdade é que os EUA com ratio dívida/PIB a rondar os 100% é considerado refúgio para os investidores, sendo sempre um ativo a ter em conta. Isto significa que, caso o mercado acionista esteja em "stress", pode-se ainda contar com as Bonds a 10 anos. O mesmo vale para o título Japonês, em caso de "stress" nos mercados asiáticos e para as "bunds" alemãs, no caso Europeu. Estas últimas têm tido um comportamento semelhante ao equivalente americano, dando razão a quem afirma que não há bem uma crise do Euro, mas sim e apenas de alguns dos seus integrantes. Só ficarei "bear" nestes títulos quando os mercados em geral atirarem para trás das costas a crise dos PIIGS.


Por falar em refúgio e aversão ao risco, vamos recuperar os gráficos de longo prazo do Franco Suíço e do Yene Japonês. Verifique-se como em 2011, o dólar atingiu mínimos históricos face a qualquer das outras divisas. O eterno "bear market" a que me referi uma vez. Isto mostra que até existem recursos para investimento financeiro de risco médio e elevado, mas que, de momento, esses recursos procuraram uma belo lugar para hibernar. O USD e os ativos norte-americanos podem ser um refúgio, mas quando se procuram Yenes e Francos, o mercado mostra o medo em todo o seu esplendor. Ainda assim, é este medo que dará origem, como sempre, ao próximo "bull market" de ativos que têm estado deprimidos. É tudo uma questão de renovado otimismo. Não sei quando ele virá, mas virá, como sempre. Não falo de altos e baixos do dia a dia, mas de uma mudança de percepção. Pode levar tempo, não quer dizer que ocorra já em 2012, como referi antes.


A esse propósito, fica também o gráfico do Ouro. Nada nos diz que este "bull market" que já completou uma década vai terminar. Dez ou doze anos parece muito, mas nada impede que dure ainda mais tempo. E enquanto os juros reais forem negativos, o Ouro tem tudo para continuar a brilhar. Mas atenção à liquidez. Se os Bancos Centrais forem restritivos na criação de moeda / cedência de liquidez, o Ouro pode até colapsar. Nessa altura, o dólar (cash) seria Rei.


No caso abaixo do petróleo, está mais sensível à recuperação da atividade das principais Economias do que os metais. Sendo uma "energia", poderá ser afetado tanto pela geo-política, como pelo crescimento das Economias. Se porventura, a crise Europeia desse tréguas, poderíamos ver um teste à case dos 120 / 140 dólares por barril. Este ativo já andou por esses territórios antes da chamada crise do sub-prime.


Finalmente, o gráfico do EUR/USD, o ativo mais negociado, com maior giro financeiro da esfera financeira global. Aqui, também se debaterá no sítio próprio, mas a verdade é que o comportamento deste par mudou. Já é complicado falar-se no "velho Bull market" que começou em 2001 / 2002. Ainda assim, dado que o par ainda consegue, em certos momentos, mostrar alguma força, como sucedeu na última primavera, ainda é prematuro falar-se no inverso, num "bear market". Este será confirmado se o par voltar abaixo de 1.20 e por lá permanecer. Isso será possível se só a Alemanha e alguns vizinhos conseguirem boas performances nos mercados e Economias, enquanto outros membros do EUR agonizam. Nesse caso, o mercado poderá penalizar mais estes últimos, mas em termos de divisa nada muda. A ajudar à festa, uma monetização disfarçada por parte do BCE: cede liquidez às entidades Bancárias do sistema, as quais, provavelmente, a utilizarão para investir em dívida pública de curto / médio prazo. Uma forma indireta de contornar o estatuto do BCE, ao mesmo tempo que aumenta o Balanço e tira valor notional ao EUR no mercado cambial. O que faria o EUR inverter e "explodir" em alta, em vez do caminho descendente atual? Uma forte recuperação dos mercados acionistas (e não só) ancorada num ambiente de maior otimismo e crescimento real. Seja como for, mesmo o chamado dollar index ainda só recuperou 13% em relação ao seu mínimo histórico em Março de 2008 - não se pode falar em território "bull".

Em resumo: mais um ano extremamente difícil, de fortes incertezas, mas de onde sairão as fundações para um mercado mais saudável, contrariando as expetativas da maioria. Mas como sabemos, nos mercados, a maioria está do lado errado.

Obrigado

djovarius
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