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Caldeirão da Bolsa

Artigo de João Dinis de Sousa q n resisti em colocar aqui

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Bom artigo

por Bigodes de Aço » 12/11/2003 22:23

Só essa do Fundo Sierra ser bom para a Sonae cotada na bolsa é que não concordo. Pode ser bom para a Fingest(holding pessoal de Belmiro)

Temos mais casos na bolsa nacional desse tipo de vigarices: entre eles a TDU e a Brisa(não parece? É recente ainda......)
Bigodes de Aço
 

numa avaliaçao a marcelo rebelo de sousa

por Visitante » 12/11/2003 22:12

nota maxima -20 valores.
Visitante
 

Artigo de João Dinis de Sousa q n resisti em colocar aqui

por Vic » 12/11/2003 20:24

Muito se falou da famosa frase "gato por lebre" proferida por Cavaco Silva em 1987. Ele tinha toda a razão. Os empresários do país estavam a vender por altíssimos preços nas OPVs acções que pouco valiam em termos fundamentais, e cujo preço desceu depois (em muitos casos para zero), levando à ruína milhares de pequenos investidores. Foi isto moral? Não. Foi isto legal? Foi. As leis do país permitiam-no, os empresários aproveitaram-nas para ganhar, massacrando os inocentes. Curiosas leis estas que permitem que um empresário venda acções por um preço muito alto e que depois desvie facturação da empresa vendida para empresas do seu mesmo grupo que não estão cotadas, por forma a que os lucros da empresa cotada desçam ou passem a prejuízos, a cotação caia para níveis irrisórios e os pequenos accionistas percam o seu dinheiro, ao mesmo tempo que o grande accionista triplica a sua vasta fortuna.

Mas hoje vou-vos falar de outro tipo de vigarice: comprar lebre por gato, ou seja, comprar por baixo preço, através de OPA, acções aos pequenos investidores que depois valerão muito. Têm-se feito muitas operações destas. Um exemplo foi a Lusotur. Em inícios de 1999 o accionista dominante, André Jordan, lançou uma OPA sobre a empresa a 3 contos ou 15 euros por acção, o que avaliava a empresa toda em 15 milhões de contos. A empresa é proprietária do grande complexo turístico de Vilamoura. Hoje, Jordan vai vender a empresa por um valor de 120 a 130 milhões de contos, o que significa que os pequenos investidores receberam pelas acções 9 vezes menos do que elas valiam; e nem se pode dizer que a empresa se tenha desenvolvido muito entretanto, os fluxos turísticos pouco ou nada subiram de 1999 para cá.

Outro exemplo foi a Sonae SGPS com a Sonae Imobiliária, a melhor empresa do grupo. Em fins de 2001 foi retirada da Bolsa a 15 euros por acção, o que avaliava a empresa toda em 563 milhões de euros. A empresa detinha todos os centros comerciais da Sonae, em Portugal, Espanha e Brasil, e mais estão a ser construídos. A recente operação de venda destes activos ao Fundo Sierra, avaliou-os ao valor de 2400 milhões de euros e foi transferido um passivo de 1300 milhões de euros (operação óptima para a Sonae), o que avalia a Sonae Imobiliária em 1080 milhões de euros, cerca do dobro do preço por acção que foi pago aos pequenos investidores, isto decorridos apenas dois anos, e dois anos em que os centros comerciais perderam possivelmente algum valor devido à recessão no comércio. Por isto, sempre pensei que era melhor ter acções da Sonae SGPS do que de qualquer das participadas e tenho-as agora, como tenho tido em muitas ocasiões durante os últimos 17 anos (ganhei nelas a grande maioria das vezes).

Outro exemplo é a Celulose do Caima, comprada em OPA pela Cofina há 3 anos a 3 euros por acção. Hoje, as acções remanescentes já vão em 6 euros, embora a liquidez seja baixa (este é um caso raro em que a empresa não foi retirada da Bolsa após a OPA e em que ainda se pode dizer que os pequenos accionistas tiveram a possibilidade de não vender na OPA ficando beneficiados por essa decisão de não-venda). Não admira que as acções valham mais hoje. A Cofina tenciona entregar activos florestais da Caima como moeda de troca para obter uma volumosa participação na Portucel. Estas florestas são avaliadas a grande preço, e o preço até poderá ser justo (embora talvez um pouco puxado para cima, para beneficiar a Cofina/Lecta em detrimento do Estado português e demais accionistas da Portucel, o que motiva o conflito com a Sonae) mas, no entanto, justo ou p ou puxado para cima, os pequenos accionistas da Caima receberam pelas acções um valor correspondente a uma avaliação destas florestas muito por baixo. Conclusão: compre Cofina.

E estude os pormenores de todas estas sagas comprando o nosso software Finbolsa. Está lá tudo, mesmo para as empresas que já saíram da Bolsa. Poderia agora citar mais 30 casos semelhantes mas não há espaço.

Por que é que estas coisas são possíveis? Teoricamente poderíamos pensar que o mercado é livre, os pequenos accionistas, tal como os grandes, só vendem se quiserem, ninguém pode ser acusado de estar a fazer um bom negócio comprando barato o que os outros concordam em vender. No entanto, o mercado não é assim tão livre e transparente. Os pequenos investidores são sistematicamente enganados sobre o valor da empresa da qual possuem acções, devido à inadequação, insuficiência e consciente omissão da informação que é dada ao mercado. Além disso, existe a iníqua lei das OPAs potestativas que ameaça os pequenos accionistas de confisco das suas acções ao preço baixo e fraudulento decidido pelo accionista que lança a OPA (com a ajuda do tal avaliador "independente" - uma piada que nos devia dar alguma vontade de chorar depois da vontade de rir). Isso fá-los vender sob coacção, uma coisa comparável a extorsão e anti-constitucional.

Além disso, não há uma tradição de respeito pelos pequenos accionistas de empresas não cotadas e, consequentemente, não há uma tradição de pequeno accionariado (do tipo do investidor que compra acções de uma empresa mesmo não cotada devido ao valor fundamental que têm). Até há ainda algum pequeno accionariado deste tipo (ao mesmo nível do "Senhor que tinha umas acções da Fidelidade" descrito por Camilo Castelo Branco no século XIX), mas muito pouco. As pessoas sabem que, neste país, deter acções não cotadas é um perigo, um grande perigo. O accionista dominante pode fazer mil e um truques sujos para enganar o pequeno: OPA potestativa, não pagar dividendos, atribuição a ele próprio e à sua família de cargos bem pagos na empresa que sugam os fundos desta, impossibilitando lucros e dividendos enquanto a família dominante engorda, desvio de facturação para empresas associadas pertença do accionista dominante e muitas outras coisas. No fundo é tudo uma questão de honestidade ou falta dela. Por isso, 99% das pessoas vende as acções se sabe que vão sair da Bolsa. Por isso, não há um accionariado com sentimento de classe e capacidade reivindicativa. Por isso, o investimento em small-caps na Bolsa portuguesa tem sido ruinoso desde 1987 para cá (apesar de ser muito bom noutros países): quando a empresa fica bem os pequenos ganham poucochinho, quando fica mal perdem tudo ou quase tudo. Por isso agora uma empresa para ir para a Bolsa tem que ter um pacote de marketing muito bem montado, uma imagem muito sexy, numa altura bolsista muito boa. A credibilidade do capitalismo popular em Portugal ficou destruída por 16 anos de falcatruas generalizadas.

Excelente.
 
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