Outros sites Medialivre
Caldeirão da Bolsa

Portugueses - afinal somos Bons...

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por Automech » 4/11/2010 2:55

Elias Escreveu:AutoMech não percebi o teu raciocínio. A TAP dá milhões de prejuízo. Para dar lucro zero teria de aumentar imenso os preços e tu dizes que isso seria concorrência desleal? Podes explicar melhor a tua ideia?


Sim, a TAP foi um exemplo infeliz ainda que os prejuízos em si não signifiquem que esteja a ser mal gerida. Em 2009 tanto a British Airways e KLM Air France, por exemplo, tiveram prejuízos históricos em 2009.

Além disso a TAP tem problemas ligados à enorme dívida do passado (tal como a RTP por exemplo) que torna uma recuperação mais difícil (mas isto é só um aparte que não está ligado ao tema principal do tópico).

A ideia do meu comentário é de que, se uma empresa pública (com condições para dar lucro como penso que a TAP tem a médio prazo se for bem gerida), torna-se uma distorção para a concorrência se tiver como objectivo o lucro zero.


Elias Escreveu:Eu penso que das duas uma: ou se assume que essa empresa (e as restantes empresas públicas) são para dar lucro e nesse caso os prejuízos não são tolerados, ou então assume-se que o objectivo é prestar um serviço público, mesmo que isso implique subsídios e grandes prejuízos.


Concordo a 100% contigo mas talvez mais radical. Se não é serviço público nem sequer deve estar no estado.


Elias Escreveu:A TAP está naquela situação «croquete» que não é carne nem é peixe.


Para mim a TAP até é daquelas claras em que, tal como a RTP, defendo que não existe a necessidade do serviço público. Eventualmente para as ilhas possa ser necessário mas isso é facilmente resolvido se as condições desse serviço for salvaguardado numa eventual privatização.


Elias Escreveu:Infelizmente parece-me que a ideia sobre as empresas públicas tem sido esta: quando dá prejuízo, o Estado assume, quando dá lucro privatiza.


É um facto...

Elias Escreveu:No seu conjunto, o Sector Empresarial do Estado dá prejuízo. E eu tenho dúvidas (legítimas, dado que se trata também do meu dinheiro), se a gestão dessas empresas está bem entregue e se não se está a pagar demais.


São duas coisas diferentes e por vezes coincidentes. Ou seja, algumas estão a ser mal geridas e ainda por cima paga-se demais.

A questão é que não se pode por o problema como "o tipo é incompetente logo estamos a pagar demais".

A questão tem de ser "o tipo é incompetente por isso vamos despedi-lo e contratar um competente, pelo mesmo valor ou, se necessário, por um valor superior, porque vai pagar-se a ele próprio".

Elias Escreveu:Há outro aspecto que aqui não foi referido: a CP, por exemplo, teve prejuízos de mais de 100 milhões mas tem um passivo de 2700 milhões de euros. E a subsisdiária CP Carga está em falência técnica. Há mais exemplos de empresas cronicamente deficitárias e com passivos enormes. E a minha pergunta é: qual é exactamente o objectivo de pagar ordenados elevados a pessoas que não conseguem pôr estas empresas a dar lucros e deixam acumular passivos destes?


Eu não concordo com a tua pergunta Elias.

Em primeiro lugar porque não sei se estas empresas poderão dar lucros. Caso possam, então é evidente que uma administração que não consiga dar lucro operacional é porque não tem competência (faço a ressalva aqui do lucro operacional porque nalguns casos (e a RTP é um deles) o serviço da dívida herdada é pesadíssimo).

Em segundo lugar, mesmo que não consigam dar lucros, não podemos cruzar os braços. A pergunta a fazer é qual é o nível mínimo de prejuízo ? E a mesma lógica deve ser aplicada. Se o prejuizo for muito abaixo do que se espera então é mudar as administrações.

Na minha opinião chegou-se a este ponto no SEE pela conjugação dos dois factores.

Por outro lado a incompetência das administrações (via cunhas, amigos, partidos) que causaram prejuízos a empresas que podiam dar lucro (ex. RTP).

Por outro lado não minimizaram os prejuízos do serviço publico, quando estes eram inevitáveis.

Elias Escreveu:Por fim, mais um ponto que me parece relevante: no caso das empresas privadas, os accionistas escolhem os gestores que lhes parecem os mais indicados para cumprir o seu desígnio, que é o de gerar lucros. No caso das empresas públicas, os gestores escolhidos são frequentemente elementos ligados aos aparelhos partidários por vezes, trata-se até de ex-governantes). Fica, naturalmente, a dúvida e até a suspeição, sobre se o Estado está a escolher os gestores públicos com base nas suas «excelentes» capacidades de gestão ou se se trata de mero pagamento de favores políticos.

Eu acho que nem restam grandes dúvidas Elias...

Eu tenho contacto com uma grande empresa pública há quase 15 anos e é notório a dança de cadeiras, não só na administração, mas também nas estruturas intermédias.

Há um caso bizarro de um tipo que era director comercial (porque a área comercial é uma área que todos querem) e quando mudou o governo passou para director de recursos humanos (que é uma espécie de prateleira).

Por sua, quando este passou a director comercial, o anterior director comercial passou para a parte do equipamento (que é outra prateleira). Depois, quando mudou o governo voltou a ter um lugar de destaque (que não posso referir qual é porque divulgava a empresa).

Ora isto são tudo menos boas práticas, por isso é que eu prefiro atrair alguém competente do privado e pagar-lhe melhor, se necessário acima do PR, porque tenho a percepção de que é melhor do que esta panela de favores e traições em que vivem as empresas públicas.

E acho que o ordenado nesses casos nem seria um custo. É praticamente um investimento.
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 9360
Registado: 4/6/2010 12:12
Localização: 16

por Elias » 4/11/2010 2:23

Vamos lá deitar mais alguma lenha para a fogueira :twisted:


7,5 milhões de euros para salários de 46 gestores
31 de Outubro, 2010

Desde ajudas ao arrendamento de 55 mil euros ao aluguer de carros por 40 mil euros, há gastos para todos os gostos. Leia alguns exemplos

2009 ficou marcado pela recessão, mas nem por isso os gestores das companhias públicas de transporte, da EP - Estradas de Portugal e dos CTT, uma das maiores empresas do Estado, deixaram de usufruir de regalias.

Só no ano passado, os gastos (salários e despesas) com 46 administradores de nove companhias tuteladas pelo Estado - ANA, STCP, EP, CTT, REFER, CP, ML, CARRIS E TAP - ascenderam aos 7,46 milhões de euros, ou seja, uma média de 162,2 mil euros anuais por gestor, segundo cálculos do SOL baseados nas contas anuais das empresas. Contas feitas, os gestores receberam seis vezes mais do que os trabalhadores das suas empresas, que auferiram 28 mil euros anuais.

Os gastos da administração TAP, liderada por Fernando Pinto - que recebeu 420 mil euros anuais de salário-base - representam um terço do total (ver tabela): cada um dos seis elementos da administração representou uma despesa média de 412 mil euros.

A contribuir para este valor estiveram as ajudas ao arrendamento de habitação de quatro administradores, no valor de 55,4 mil euros. Os gestores da TAP gastaram igualmente cerca de 74 mil euros no renting de viaturas e em combustível.

40 mil euros pelo aluguer de um carro

Os CTT, a segunda no ranking das administrações que mais gastaram em 2009, distribuiu um prémio de gestão de 213,8 mil euros aos seus cinco administradores. O presidente, Estanislau Costa - que circula num veículo de 84 mil euros adquirido pela empresa em 2004 - pagou, no ano passado, 42,5 mil euros para alugar quatro automóveis para os seus colegas de conselho.

As quatro linhas do metropolitano de Lisboa parecem não ser suficientemente utilizadas pelos administradores da empresa, que bateram o recorde de gastos com o aluguer de carros. A antigo administração de Joaquim Reis - agora presidente da Parpública - despendeu 85 mil euros no renting de carros, entre os quais se contam 40,3 mil euros para a viatura do vogal Miguel Roquette, durante nove meses.

Antes de abandonar a empresa, Joaquim Reis decidiu deixar ao seu sucessor um carro novo no valor de 30 mil euros.

Também o presidente da Carris, José Silva Rodrigues gastou 4.142 euros em combustível, no espaço de um ano.

E os administradores da empresa pública com o maior passivo de todas (15,8 mil milhões de euros), a Estradas de Portugal, não se coibiram de gastar 48 mil euros no aluguer de carros e combustível.

Passivo duplica

A aparente fartura do dia-a-dia destes gestores contrasta com a situação das suas empresas. Nos últimos quatro anos, o passivo (ver gráfico) destas nove companhias mais do que duplicou, de 13,3 mil milhões de euros em 2006 para 31,1 mil milhões de euros no final de 2009.

Confrontado com estes números, o Governo pediu, na semana passada, um corte de 15% nos custos das empresas do sector empresarial do Estado. O SOL contactou as empresas de transporte para apurar os seus planos de poupança, mas todos disseram «não ser oportuno falar deste assunto neste momento».

frederico.pinheiro@sol.pt


Claro que se pode defender que estas regalias são necessárias, para atrair os melhores gestores, blá blá.
Eu não concordo com essa abordagem, precisamente por causa daquilo que está escrito no parágrafo que assinalei a bold. Ou seja, fico com a desagradável sensação que estes senhores são pagos - e muito bem pagos - para afundar as empresas que tutelam.

Podem escrever aqui à saciedade que vale a pena contratar bons gestores a peso de ouro (como parece ser o caso dos gestores da TAP); como contribuinte, considero que o meu dinheiro está a ser mal gasto e não consigo entender estas despesas, porque sinceramente não consigo perceber qual a mais-valia que esses senhores trazem às empresas que dirigem.

Mais facilmente eu apoiaria um modelo que assentasse num salário base mais modesto (por exemplo 5 mil euros, o equivalente ao ordenado do primeiro-ministro), acrescido de prémios generosos indexados a resultados positivos (os prémios até podiam ser de cinco vezes o salário, se os resultados se escrevessem com oito ou nove dígitos). Infelizmente no nosso país não se promove o mérito nem há estímulo à obtenção de bons resultados, e por isso prefere-se oferecer e manter regalias, mesmo que os resultados sejam a desgraça que se vê. Não há consequências quando os resultados são maus (ou há? quando foi a última vez que um gestor público foi corrido por causa de maus resultados?)
 
Mensagens: 35428
Registado: 5/11/2002 12:21
Localização: Barlavento

por RandomWalk » 4/11/2010 2:05

Elias, no post anterior afirmas:

"o seu conjunto, o Sector Empresarial do Estado dá prejuízo. E eu tenho dúvidas (legítimas, dado que se trata também do meu dinheiro), se a gestão dessas empresas está bem entregue e se não se está a pagar demais"

e questionas :

"qual é exactamente o objectivo de pagar ordenados elevados a pessoas que não conseguem pôr estas empresas a dar lucros e deixam acumular passivos destes?"

eu digo: se a gestão não é boa é porque não foi possivel atrair os melhores gestores para essa função, e retirando os anjos e santos que, não nego, até podem existir, mas deve ser num mundo diferente do meu, nao vejo outra saida que não seja oferecer remunerações comparaveis aos dos privados.


Agora levantas outra questão, tb interessante:

os salarios do sector empresarial do estado serem tabelados pelos dos func publicos....

Na minha opiniao o problema é precisamente o inverso, ou seja, no funcionalismo publico julgo ser claro que a qualidade dos funcionarios deverá decair precisamente pela degradação do salario, suspensão de progressoes, para alem de outras limitações antes existentes , como a impossibilidade de ser ultrapassado o vencimento de perto de 7000 Eur, exclusividade, vencimento 100% declarado, etc (num universo de 500.000 funcionarios em que 40% são licenciados muitos só podem mesmo ser santos ou tansos).

ou seja, se no sector empresarial do estado aplicarmos as mesmas regras dos fp, então é certo que no fim teremos o ouro todo do lado do sector privado e o sector publico caminhara a passos largos para o abismo
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 199
Registado: 16/1/2008 20:09
Localização: Porto

por Elias » 4/11/2010 1:51

mais_um Escreveu:Humm...não me parece que assim vás lá, se aumentares muito os preços deixas de ter clientes, é a forma mais rapida de fechar a empresa! :mrgreen: :mrgreen:


Pois. Mas a questão é: faz sentido existir uma transportadora aérea do Estado? Quanto estamos dispostos a pagar por ela?

mais_um Escreveu:Sim, a herança da má gestão de anos é enorme, mas alguma coisa está a mudar para melhor.


Podes concretizar?

mais_um Escreveu:Ordenados elevados? Não brinques, um gestor de uma CP ou Carris ganhar 7000 € mês é um ordenado baixo para a função e responsabilidade.


Não estou a discutir a responsabilidade.
Mas questiono se a responsabilidade de um ministro, por exemplo, não é muito superior.

Já agora, nas Estradas de Portugal os vencimentos dos gestores escrevem-se todos com cinco dígitos.

mais_um Escreveu:Sim, os filhos dos accionistas na administração das empresas é devido à sua competencia e larga experiencia, são garantidamente os melhores para gerir as empresas.... :roll:


Isso compete aos accionistas decidir, não te parece?
Se os accionistas estão contentes com os resultados, haverá alguma coisa a apontar? O dinheiro é deles, têm o direito de lá pôr quem entenderem (que eu saiba nenhum presidente de uma empresa pode ser empossado sem ser aprovado / eleito pela assembleia geral).

mais_um Escreveu:Sim, a tua duvida é legitima, mas ao contrario de ti, não tenho duvidas, tenho certezas, :mrgreen: :mrgreen: há alguns lugares nas administrações de empresas publicas (não os presidentes, que dava muito nas vistas) que são favores , independentemente de ser politicos, familiares ou de outro tipo.

este é um exemplo:
vejam o curriculum da jovem "promessa".... :lol: :lol: :lol:

http://www.estradasdeportugal.pt/index. ... os-sociais


8-) http://www.sabado.pt/Multimedia/FOTOS/D ... 81%29.aspx
 
Mensagens: 35428
Registado: 5/11/2002 12:21
Localização: Barlavento

por mais_um » 4/11/2010 1:44

Elias Escreveu: Têm a ver com o facto de haver uma limitação aos salários dos funcionários públicos, limitação essa que não é extensiva ao Sector Empresarial do Estado.


Acontece que as tabelas dos funcináriso publicos dá para os dois lados :P :P , em alguns casos paga menos que no privado, noutros paga mais que no privado

Elias Escreveu:Por outras palavras: se as empresas públicas não têm como objectivo o lucro, porque é que não estão sujeitas às mesmas regras que são exigidas para a função pública no que aos vencimentos diz respeito?


Quem disse que não são para dar lucro? Alem disso os salarios estão tabelados com os sindicatos, excepto a administração.


Elias Escreveu:
Ou ainda numa outra formulação: admitindo como legítimo que se paguem salários elevados (comparáveis aos do privado) para atrair os melhores gestores, então porque é que o mesmo princípio não se há-de aplicar a governantes, ministros, secretários de estado, assessores, deputados, directores-gerais e outros que tais, quero dizer, porque é que há-de haver um tecto salarial para a função pública, sabendo que a existência de um tal tecto afugenta os indivíduos mais capacitados?


agora estou sem tempo, mas mais tarde dou-te a minha opinião.
"Só duas coisas são infinitas, o universo e a estupidez humana. Mas no que respeita ao universo ainda não tenho a certeza" Einstein
“Com os actuais meios de acesso à informação, a ignorância não é uma fatalidade, mas uma escolha pessoal" Eu
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 8133
Registado: 14/11/2008 0:48
Localização: Lisboa

por mais_um » 4/11/2010 1:36

Elias Escreveu: A TAP dá milhões de prejuízo. Para dar lucro zero teria de aumentar imenso os preços e tu dizes que isso seria concorrência desleal? Podes explicar melhor a tua ideia?


Humm...não me parece que assim vás lá, se aumentares muito os preços deixas de ter clientes, é a forma mais rapida de fechar a empresa! :mrgreen: :mrgreen:



Há outro aspecto que aqui não foi referido: a CP, por exemplo, teve prejuízos de mais de 100 milhões mas tem um passivo de 2700 milhões de euros. E a subsisdiária CP Carga está em falência técnica. Há mais exemplos de empresas cronicamente deficitárias e com passivos enormes.


Sim, a herança da má gestão de anos é enorme, mas alguma coisa está a mudar para melhor.

Elias Escreveu:E a minha pergunta é: qual é exactamente o objectivo de pagar ordenados elevados a pessoas que não conseguem pôr estas empresas a dar lucros e deixam acumular passivos destes?


Ordenados elevados? Não brinques, um gestor de uma CP ou Carris ganhar 7000 € mês é um ordenado baixo para a função e responsabilidade.


Elias Escreveu:
Por fim, mais um ponto que me parece relevante: no caso das empresas privadas, os accionistas escolhem os gestores que lhes parecem os mais indicados para cumprir o seu desígnio, que é o de gerar lucros.



Sim, os filhos dos accionistas na administração das empresas é devido à sua competencia e larga experiencia, são garantidamente os melhores para gerir as empresas.... :roll:

Elias Escreveu:
No caso das empresas públicas, os gestores escolhidos são frequentemente elementos ligados aos aparelhos partidários por vezes, trata-se até de ex-governantes). Fica, naturalmente, a dúvida e até a suspeição, sobre se o Estado está a escolher os gestores públicos com base nas suas «excelentes» capacidades de gestão ou se se trata de mero pagamento de favores políticos.



Sim, a tua duvida é legitima, mas ao contrario de ti, não tenho duvidas, tenho certezas, :mrgreen: :mrgreen: há alguns lugares nas administrações de empresas publicas (não os presidentes, que dava muito nas vistas) que são favores , independentemente de ser politicos, familiares ou de outro tipo.

este é um exemplo:
vejam o curriculum da jovem "promessa".... :lol: :lol: :lol:

http://www.estradasdeportugal.pt/index. ... os-sociais
"Só duas coisas são infinitas, o universo e a estupidez humana. Mas no que respeita ao universo ainda não tenho a certeza" Einstein
“Com os actuais meios de acesso à informação, a ignorância não é uma fatalidade, mas uma escolha pessoal" Eu
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 8133
Registado: 14/11/2008 0:48
Localização: Lisboa

por Elias » 4/11/2010 1:32

RandomWalk Escreveu:mas afinal estamos sempre a falar das virtudes das regras do livre mercado , e depois quando se fala do sector publico exige-se que caiam anjos do ceu para por essas empresas a dar lucro ou o menor prejuizo possivel, que estajam dispostos a receber salarios menores do que receberiam no privado


RandomWalk,

As minhas dúvidas não têm a ver com as comparações que são feitas relativamente ao privado. Têm a ver com o facto de haver uma limitação aos salários dos funcionários públicos, limitação essa que não é extensiva ao Sector Empresarial do Estado.

Por outras palavras: se as empresas públicas não têm como objectivo o lucro, porque é que não estão sujeitas às mesmas regras que são exigidas para a função pública no que aos vencimentos diz respeito?

Ou ainda numa outra formulação: admitindo como legítimo que se paguem salários elevados (comparáveis aos do privado) para atrair os melhores gestores, então porque é que o mesmo princípio não se há-de aplicar a governantes, ministros, secretários de estado, assessores, deputados, directores-gerais e outros que tais, quero dizer, porque é que há-de haver um tecto salarial para a função pública, sabendo que a existência de um tal tecto afugenta os indivíduos mais capacitados?
 
Mensagens: 35428
Registado: 5/11/2002 12:21
Localização: Barlavento

por RandomWalk » 4/11/2010 1:07

Elias Escreveu:
No seu conjunto, o Sector Empresarial do Estado dá prejuízo. E eu tenho dúvidas (legítimas, dado que se trata também do meu dinheiro), se a gestão dessas empresas está bem entregue e se não se está a pagar demais.


se calhar nao esta a pagar o suficiente para atrair os melhores..... mas afinal estamos sempre a falar das virtudes das regras do livre mercado , e depois quando se fala do sector publico exige-se que caiam anjos do ceu para por essas empresas a dar lucro ou o menor prejuizo possivel, que estajam dispostos a receber salarios menores do que receberiam no privado , dada a competencia e curriculum, sujeitos ainda ao crivo mordaz de 10 milhoes de portugueses, incluindo analfabetos, indigentes , e parasitas do bota a baixo, para além da provavel devassa da privacidade.

Entre santo e tanso.......


Elias Escreveu:Há outro aspecto que aqui não foi referido: a CP, por exemplo, teve prejuízos de mais de 100 milhões mas tem um passivo de 2700 milhões de euros. E a subsisdiária CP Carga está em falência técnica. Há mais exemplos de empresas cronicamente deficitárias e com passivos enormes. E a minha pergunta é: qual é exactamente o objectivo de pagar ordenados elevados a pessoas que não conseguem pôr estas empresas a dar lucros e deixam acumular passivos destes?


mais uma vez, esses gestores serão os melhores? não me parece..... e numa economia de mercado qual a regra numero um para atrair os melhores gestores? (á parte da teoria peregrina/ingenua/cinica do santo/tanso)
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 199
Registado: 16/1/2008 20:09
Localização: Porto

por kanes » 4/11/2010 0:01

Elias Escreveu:
AutoMech Escreveu:
A TAP faria concorrência desleal se vendesse de forma a ter lucro zero. O mesmo para a CGD.

Se te referires a outras que têm sido deficitárias a mesma lógica aplica-se: se a empresa não tem condições para ter lucro zero, então é preferível, por via de uma melhor gestão, que tenha -100M do que -300M de prejuízo.


AutoMech não percebi o teu raciocínio. A TAP dá milhões de prejuízo. Para dar lucro zero teria de aumentar imenso os preços e tu dizes que isso seria concorrência desleal? Podes explicar melhor a tua ideia?

Eu penso que das duas uma: ou se assume que essa empresa (e as restantes empresas públicas) são para dar lucro e nesse caso os prejuízos não são tolerados, ou então assume-se que o objectivo é prestar um serviço público, mesmo que isso implique subsídios e grandes prejuízos. A TAP está naquela situação «croquete» que não é carne nem é peixe. Infelizmente parece-me que a ideia sobre as empresas públicas tem sido esta: quando dá prejuízo, o Estado assume, quando dá lucro privatiza.

No seu conjunto, o Sector Empresarial do Estado dá prejuízo. E eu tenho dúvidas (legítimas, dado que se trata também do meu dinheiro), se a gestão dessas empresas está bem entregue e se não se está a pagar demais.

Há outro aspecto que aqui não foi referido: a CP, por exemplo, teve prejuízos de mais de 100 milhões mas tem um passivo de 2700 milhões de euros. E a subsisdiária CP Carga está em falência técnica. Há mais exemplos de empresas cronicamente deficitárias e com passivos enormes. E a minha pergunta é: qual é exactamente o objectivo de pagar ordenados elevados a pessoas que não conseguem pôr estas empresas a dar lucros e deixam acumular passivos destes?

Por fim, mais um ponto que me parece relevante: no caso das empresas privadas, os accionistas escolhem os gestores que lhes parecem os mais indicados para cumprir o seu desígnio, que é o de gerar lucros. No caso das empresas públicas, os gestores escolhidos são frequentemente elementos ligados aos aparelhos partidários por vezes, trata-se até de ex-governantes). Fica, naturalmente, a dúvida e até a suspeição, sobre se o Estado está a escolher os gestores públicos com base nas suas «excelentes» capacidades de gestão ou se se trata de mero pagamento de favores políticos.

São estas as minhas questões.


Faco das tuas palavras, as minhas palavras! Acho que ontem não me consegui explicar tao bem como tu em tão poucas linhas. :wink:
 
Mensagens: 254
Registado: 18/9/2010 12:14
Localização: 16

por Elias » 3/11/2010 23:25

AutoMech Escreveu:
A TAP faria concorrência desleal se vendesse de forma a ter lucro zero. O mesmo para a CGD.

Se te referires a outras que têm sido deficitárias a mesma lógica aplica-se: se a empresa não tem condições para ter lucro zero, então é preferível, por via de uma melhor gestão, que tenha -100M do que -300M de prejuízo.


AutoMech não percebi o teu raciocínio. A TAP dá milhões de prejuízo. Para dar lucro zero teria de aumentar imenso os preços e tu dizes que isso seria concorrência desleal? Podes explicar melhor a tua ideia?

Eu penso que das duas uma: ou se assume que essa empresa (e as restantes empresas públicas) são para dar lucro e nesse caso os prejuízos não são tolerados, ou então assume-se que o objectivo é prestar um serviço público, mesmo que isso implique subsídios e grandes prejuízos. A TAP está naquela situação «croquete» que não é carne nem é peixe. Infelizmente parece-me que a ideia sobre as empresas públicas tem sido esta: quando dá prejuízo, o Estado assume, quando dá lucro privatiza.

No seu conjunto, o Sector Empresarial do Estado dá prejuízo. E eu tenho dúvidas (legítimas, dado que se trata também do meu dinheiro), se a gestão dessas empresas está bem entregue e se não se está a pagar demais.

Há outro aspecto que aqui não foi referido: a CP, por exemplo, teve prejuízos de mais de 100 milhões mas tem um passivo de 2700 milhões de euros. E a subsisdiária CP Carga está em falência técnica. Há mais exemplos de empresas cronicamente deficitárias e com passivos enormes. E a minha pergunta é: qual é exactamente o objectivo de pagar ordenados elevados a pessoas que não conseguem pôr estas empresas a dar lucros e deixam acumular passivos destes?

Por fim, mais um ponto que me parece relevante: no caso das empresas privadas, os accionistas escolhem os gestores que lhes parecem os mais indicados para cumprir o seu desígnio, que é o de gerar lucros. No caso das empresas públicas, os gestores escolhidos são frequentemente elementos ligados aos aparelhos partidários por vezes, trata-se até de ex-governantes). Fica, naturalmente, a dúvida e até a suspeição, sobre se o Estado está a escolher os gestores públicos com base nas suas «excelentes» capacidades de gestão ou se se trata de mero pagamento de favores políticos.

São estas as minhas questões.
 
Mensagens: 35428
Registado: 5/11/2002 12:21
Localização: Barlavento

por Lion_Heart » 3/11/2010 18:34

Desculpem la , mas voces aqui a discutir o tópico parecem aqueles inimputaveis no Parlamento.

Voces comparam situações e condiçõs que Não podem ser comparaveis.

Não se pode comparar empresas publicas e privadas.
Nao se pode comparar empresas em mercado livre e em monopolio.
Não se pode comparar empresas que dão lucro e outras que andam sempre em prejuizo crónico.

Sendo assim não se pode comparar salarios, regalias e etc.
" Richard's prowess and courage in battle earned him the nickname Coeur De Lion ("heart of the lion")"

Lion_Heart
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 7051
Registado: 6/11/2002 22:32
Localização: Toquio

por mais_um » 3/11/2010 18:27

Lloyds: Horta-Osório aceita «corte substancial» no salário

António Horta-Osório vai aceitar um «corte substancial» na remuneração ao aceitar ser presidente executivo do grupo do banco britânico Lloyds, mas o pacote anunciado poderá ascender aos 8,8 milhões de euros.

De acordo com o Lloyds, o gestor português terá direito a um salário base anual de 1,035 milhões de libras (1,2 milhões de euros) e um bónus anual máximo de 225 por cento, o que corresponde a 2,33 milhões de libras (2,6 milhões de euros).

Haverá ainda um incentivo a longo prazo em ações que pode ir até 420 por cento do salário e que será pago dentro de três anos se «os objetivos de desempenho forem ultrapassados por uma margem significativa», o que pode valer 4,35 milhões de libras (cinco milhões de euros).

Diário Digital / Lusa

http://diariodigital.sapo.pt/dinheiro_d ... ews=146501



Em 2009 ganhou 4 milhões de € no Abbey, tem um potencial de 16,4 milhões de € em 3 anos no Lloyds, dai o "corte substancial" no salário.... :mrgreen: :mrgreen:

Este espirito de missão... :mrgreen: :mrgreen:
"Só duas coisas são infinitas, o universo e a estupidez humana. Mas no que respeita ao universo ainda não tenho a certeza" Einstein
“Com os actuais meios de acesso à informação, a ignorância não é uma fatalidade, mas uma escolha pessoal" Eu
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 8133
Registado: 14/11/2008 0:48
Localização: Lisboa

por Automech » 3/11/2010 18:20

LTCM Escreveu:
Por incrível que pareça tudo aquilo que faço citação, da tua notícia do Vida Económica, já existia ANTES do Paulo Macedo ou estava na fase final de implementação.
Os resultados, obtidos por ele, na DGCI foram iguais aos dos seus antecessores, além de ter beneficiado do culminar de todo o trabalho que vinha a ser feito desde que o Ministro Sousa Franco ordenou a informatização dos serviços (até 1998 existia 1 computador por cada 20 funcionários), e da consequente cooperação entre vários ministérios que até aí não era possível em tempo útil.

Qualquer D.F. Distrital com 5 anos de experiência é capaz de fazer, com qualidade, o trabalho de D Geral o problema são as “capelinhas” e as “quintinhas” partidárias.

Existem outras considerações mas não vale a pena alongar o assunto.

Bons negócios


Deixo aqui mais um artigo de opinião e uma entrevista (longa) que, por ser ao próprio, vale o que vale mas que mostra o que, também ele, deixou semeado para que o sucessor venha a colher.


Paulo Macedo: O Fim da Linha

Consumou-se aquilo que já há muito se previa, a saída de Paulo Macedo da Direcção Geral dos Impostos.


Recrutado ao BCP, em 2004, por Durão Barroso, o gestor auferia de um salário de 23.000 euros/mês, cinco vezes superior ao do Primeiro Ministro.


Com a entrada em vigor da nova lei, nenhum funcionário público poderá receber um valor superior aos 7500 euros/mês auferidos por José Sócrates.


Desde 2004, depois de três ministros das finanças e outros tantos Governos, Paulo Macedo deixou o seu cunho pessoal na DGCI. Segundo o Expresso a administração fiscal terá já arrecadado, em 2006, um total de 472 milhões de euros através das penhoras a mais de 180 mil bens. Só este ano a equipa de Paulo Macedo já arrestou 12 mil rendas e confiscou cerca de 58 mil imóveis.


Estes resultados sensação devem-se, não só às capacidades inatas de Paulo Macedo, mas também ao processo informatização do Estado. Introduzido em 2006, o Sistema Informático de Penhoras Automático muniu a DGCI de meios para detectar os activos penhoráveis, identificar os faltosos e automatizar os procedimentos.
Numa primeira fase salários, contas bancárias, acções e créditos tornaram-se os alvos de penhoras.


No ano seguinte, caso a dívida se mantivesse, carros e imóveis teriam o mesmo destino. Nestes três anos o fisco avançou com a publicação da lista de devedores e arrecadou o valor recorde de 1,54 mil milhões de euros em dívidas fiscais por cobrança coerciva.


Apesar da contestação inicial, oposição e centrais sindicais renderam-se ao trabalho da equipa de Paulo Macedo. Numa entrevista ao Jornal de Notícias, Manuel Alberto, Presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Impostos (STI) afirmou que "o balanço que se faz do mandato é globalmente positivo" e que a questão do ordenado torna-se irrelevante "quando se compara o vencimento versus os resultados obtidos".


O sindicalista salientou ainda o desempenho de Paulo Macedo ao "desbloquear assuntos parados há cinco anos" tais como a avaliação de funcionários e a gestão de carreiras.


http://observador21.blogspot.com/2007/0 ... linha.html



"Ainda me perguntam se quero factura..."

Nas vésperas de deixar a Direcção Geral das Contribuições e Impostos (DGCI), Paulo Macedo deu ao Expresso uma das suas raríssimas entrevistas – cuja primeira parte foi publicada na edição de dia 4.

À margem da sua gestão enérgica e inovadora, a opinião pública reteve de Paulo Macedo o seu elevado salário, fonte de interminável polémica. Na hora do balanço, o quadro do BCP, onde regressou, aceitou falar um pouco de si, mas sempre de forma contida e discreta.

O crime fiscal compensa?
Cada vez compensa menos. Aliás, uma das coisas que a DGCI tem tentado fazer é que aquela máxima de Benjamin Franklin “Só há duas coisas certas na vida: morrer e pagar impostos” seja cada vez mais verdade (na parte do pagamento dos impostos, claro). De qualquer forma, esta máxima não é concretizada para todos os cidadãos em país nenhum do Mundo.

E em Portugal existe muito essa percepção, que os mais ricos e poderosos conseguem fugir e os que trabalham por conta de outrem não.
A questão pode ser vista a dois níveis. Primeiro, ao nível da política fiscal, e é um facto, hoje internacionalmente aceite, que com a mobilidade de capitais as bases tributáveis na generalidade dos países da OCDE se reconduzem, cada vez mais, a duas realidades: os rendimentos do trabalho e os imóveis. O investimento vai para onde tiver condições mais atractivas e o mesmo acontece relativamente aos rendimentos do trabalho altamente qualificado, que também se movem se tiverem elevadas tributações. A questão da tributação das grandes fortunas é um problema mundial. Mas em Portugal existe também um problema de percepção: vale a pena lembrar os números que constam das estatísticas divulgadas pela DGCI, que o Expresso publicou, e que evidenciam que 50% dos agregados familiares portugueses não pagam IRS. Não por evasão, mas porque não têm rendimentos tributáveis para isso. A taxa média do IRS é 10,3%. O imposto é, de facto, progressivo, porque há uma base de 50% que paga zero e os agregados com rendimentos anuais superiores a 100.000 euros representam cerca de 2% do total e contribuem para mais de 25% da receita.

Não têm desaparecido contribuintes do escalão máximo?
Não, pelo contrário. As estatísticas, disponíveis na Internet, são claríssimas a este respeito. Os contribuintes nos escalões mais altos são hoje em maior número do que no ano passado, do que há dois anos e há três. Outro facto que resulta claríssimo é de que os contribuintes que não obtêm exclusivamente rendimentos do trabalho dependente e pensões têm vindo a aumentar a sua carga fiscal.

A fuga ao fisco faz parte do ADN dos portugueses?
Os portugueses gostam tanto de pagar impostos como os cidadãos do norte da Europa. Os últimos têm é uma maior percepção de que são efectivamente e rapidamente punidos em caso de infracção.

Não é também uma questão de cidadania?
É, no sentido em que no norte da Europa (por exemplo) se vê provavelmente um retorno mais imediato daquilo com que as pessoas contribuem. À medida que em Portugal se for assistindo também ao acréscimo da qualidade dos serviços prestado pelo Estado, à medida que as pessoas forem percebendo que hoje felizmente algumas pessoas necessitadas têm pensões para as quais não contribuíram, ou que têm subsídios e complementos, que apesar de baixos, antes não existiam, e as pessoas se revirem naquilo para que pagam, também haverá menos auto-desculpas para fugir.

Faça um retrato-robot do cidadão que não paga impostos?
Um gestor como eu tem de segmentar.

Isso é uma boa desculpa?
Não é uma desculpa, é verdade. Repare, hoje temos, por exemplo, um tipo de fraude fiscal que consiste no ataque ao próprio sistema fiscal. No caso dos restaurantes de que antes falámos (e sem generalizar, note-se), algumas entidades poderão não declarar a totalidade dos seus proveitos. A outra escala, temos os crimes organizados como a fraude carrossel no IVA, que consiste não só em não entregar o imposto devido como em ir buscar os impostos que outros entregaram ao Estado. Este é um retrato-robot muito mais sombrio do que o do contribuinte que não declarou a integralidade dos seus rendimentos. A única maneira de lidar com a evasão e a fraude é, de facto, segmentá-la. Há casos que são de polícia, outros de inspecção e outros ainda apenas de alerta e avisos.

Mas quando temos um empresário português, até ligado ao mundo do futebol, afirma que nunca declarou mais do que o salário mínimo, é um caso de polícia?
(Silêncio) O sigilo fiscal não me deixa responder a esse tipo de questões concretas. Em teoria posso dizer-lhe que é até possível não declarar quaisquer rendimentos quando são aplicadas taxas liberatórias por retenção na fonte, como no caso de juros de depósitos bancários ou dividendos de acções. O imposto foi retido na fonte e não tem que ser declarado qualquer rendimento. Mas posso-lhe dizer que os casos referidos de forma fundamentada na comunicação social, são objecto de análise cuidada e acção concreta por parte da Administração Fiscal.

Quais são a profissões mais hábeis ou relapsas a fintar o Fisco?
Internacionalmente, e Portugal não é excepção, as actividades que se situam mais perto do consumidor final tem maior tendência para a evasão e fraude.

Está portanto a referir-se aos comerciantes?
Estou a referir-me às actividades que se situam mais perto do consumidor final. No entanto, mesmo dentro desta realidade, há comportamentos distintos. Por exemplo, uma grande superfície ou uma rede de franchising tendencialmente tem um melhor cumprimento fiscal do que um pequeno estabelecimento de ‘vão de escada’ que tem dificuldade em contratar pessoas, que pode ter trabalhadores ilegais, que pode nem ter seguro de acidentes de trabalho. A parte fiscal não é isolada, e está associada também ao cumprimento das regras de higiene e segurança no trabalho, formação profissional ou da Segurança Social.

Antes da sua nomeação para a DGCI, tinha tido uma experiência profissional nesta área, ao integrar a comissão Silva Lopes. Ajudou a preparar o terreno?
No início da minha carreira profissional fui consultor fiscal. Abandonei essas funções em 1993, fui para funções totalmente distintas e o meu contacto com a área fiscal limitou-se praticamente à docência no ISEG. O convite para fazer parte da comissão presidida pelo Dr. Silva Lopes, uma pessoa de excepção, surgiu quando trabalhava já na banca. Essa comissão era composta por pessoas de uma qualidade excelente e eu, obviamente, era a pessoa mais nova e menos qualificada. O trabalho realizado pela comissão abrangeu um vasto conjunto de temas de uma forma séria, levantou muitas questões e produziu um relatório de referência, que ainda hoje é citado. Respondendo à sua questão, sim, pude então perceber melhor o funcionamento da Administração Fiscal, numa perspectiva completamente diferente da anterior.

Essa melhoria dos serviços passava por quê concretamente?
Passava por várias coisas. O Estado tinha acabado de fazer uma operação de securitização, ou seja, tinha acabado de alienar um valor significativo de créditos que não tinha responsabilidade financeira de cobrar, mas cuja cobrança lhe competia numa perspectiva técnica de “servicing” Sentia-se também a necessidade de uma maior percepção da actuação da inspecção tributária, por exemplo transmitindo a ideia de um maior valor esperado negativo a quem foge. Havia também que incentivar a auto-estima das pessoas. Lembro que o cenário era então difícil. Desde logo, o cenário macro económico: em 2003, houve crescimento negativo e em 2004 o crescimento atingiu um valor mínimo. Por outro lado, todos estamos de acordo com a necessidade de reduzir a despesa pública e reformar a Administração Pública, mas há custos para as pessoas: funcionários que se reformam mais tarde, que viram os seus salários congelados e que simultaneamente sentiam que o seu trabalho não era reconhecido.

Não se sentiu uma espécie de corpo estranho quando entrou na DGCI?
Não. E isso pode ter tido a ver com o facto de a minha nomeação nunca ter tido qualquer conotação política. Mas devo dizer que, tendo trabalhado em três governos, com quatro ministros das Finanças e três secretários de Estado, nunca tive qualquer pressão, qualquer pedido de nomeação ou qualquer pedido para inspeccionar a empresa A ou B.

Tinha a percepção quando veio que isso pudesse acontecer?
Tinha a percepção que a opinião pública tem, já que não tinha qualquer conhecimento específico. Fala-se muito – sempre se falou – de nomeações por critérios que não estritamente técnicos. Eu sempre fiz as nomeações que me competiam em função da minha própria decisão, trocando impressões, designadamente com os secretários de Estado com os quais trabalhei e que conheciam as pessoas da casa.

Os sindicatos na altura reagiram mal!
Pode dizer-se que sim, nomeadamente através de declarações iniciais bastante violentas.

Depois meteram a viola no saco…
Depois tiveram a generosidade (o Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos, STI, principal representante dos funcionários da DGCI) e o ónus de alterar a sua posição. É um mérito que lhes reconheço. Mas não estivemos sempre de acordo, embora houvesse muitas situações em que o sindicato tinha razão. Por exemplo, quando queria ver regulamentado o processo de progressão – a avaliação permanente. Ora, se há um processo que está na lei e o Estado se compromete a regulamentar, deve fazê-lo. Outra pretensão onde também tinham razão era a necessidade de requalificar/reclassificar funcionários. Há pessoas que entraram na DGCI como administrativos e técnicos profissionais, relativamente às quais os sindicatos perguntavam porque não eram reclassificados, se, entretanto, tinham obtido as habilitações necessárias para o efeito. E foi-lhes dada essa oportunidade, fizeram estágios nos serviços de finanças, fizeram provas escritas e foram desempenhar tarefas mais qualificadas. Evitámos, assim, recrutar mais técnicos e também que algumas pessoas hoje estivessem eventualmente na mobilidade.

A DGCI tem excesso de pessoas?
Em termos globais não tem pessoas a mais para a actual malha territorial, mas necessita de pessoas mais qualificadas. Necessita, por exemplo, de mais juristas. Se queremos maior velocidade de resposta, menos erros, o cumprimento das garantias dos contribuintes, maior eficácia, interlocutores válidos para os maiores escritórios de advogados do país e as maiores firmas de auditoria, não podemos ter deste lado pessoas com o 11º ano. São pessoas com muito valor e que por vezes excedem todas as expectativas, mas frequentemente quem está do outro lado tem uma preparação muito maior. Os novos juristas de que necessitamos terão previsivelmente, de vir da mobilidade, da Administração Pública, tal como o temos feito. Acolhemos cerca de 1000 pessoas nos últimos 24 meses dentro da função pública. Fomos buscar juristas, economistas, outros licenciados e diversos técnicos com o 12º ano. À partida, será a garantia de uma maior preparação.

O congelamento das admissões tem sido um entrave às necessidades da DGCI?
O congelamento de admissões é claramente negativo a prazo, porque impede a renovação. É, por isso, que o facto de podermos acolher pessoas do resto da Administração Pública é muito importante, o problema é que, quem vem, já não tem 22 anos. Um caso paradigmático: A DGCI criou um call center , mas quem é que lá temos? Pessoas de quarenta e tal anos. E quem deveria estar nos call centers ? Pessoas de vinte anos, a rodar de dois em dois anos e, por regra geral, jovens universitários. Será que a maior prioridade para o descongelamento deve ser para o call center da DGCI? Numa perspectiva egoísta, sim, mas é provável que haja outras prioridades para o país. Resumindo, e para responder à sua pergunta, claramente que o congelamento é um problema a prazo. As medidas drásticas têm efeitos negativos, mas, por vezes, são necessárias.

Se tivesse poder para tomar qualquer medida em Portugal para diminuir a fuga ao Fisco qual seria?
A DGCI não pode tomar medidas legislativas, só pode executá-las e a esse nível muito tem sido feito.

O que faria falta a nível legislativo?
A minha posição nessa matéria é a posição quase unânime a nível nacional: devem evitar-se as alterações legislativas frequentes. Ao nível da administração fiscal, as questões principais não implicam a revisão legislativa, nem há medidas legislativas salvadoras. O nosso sistema fiscal precisará de alguns ajustamentos pontuais, parece ser uma posição consensual. Mas o problema não é da legislação. Quando muito é da sua complexidade, mas não da falta de normas. E, para lidar com essa complexidade, é necessária uma justiça mais célere e são necessárias pessoas qualificadas, pelo que neste momento a maior falta é a este nível. O que faz falta à DGCI são cerca de 700 juristas.

700 juristas?
Existem alguns serviços de finanças onde não existe um único jurista. Tivemos agora uma experiência de sucesso enorme, que foi acolher mais de 300 juristas, durante um ano, no âmbito do Programa de Estágios Profissionais na Administração Pública (PEPAP). Foi excelente. Foram para os serviços de finanças fazer trabalho qualificado. Deste modo, no futuro, deverá voltar-se a recrutar juristas no âmbito da Administração Pública, tal como o fizemos em 2006.

Qual o imposto que mais o preocupa em termos de fuga?
O IVA porque é o que tem mais peso na receita do Estado.

Assustou-se quando o professor Luís Campos e Cunha decidiu aumentar a taxa de IVA para 21% por poder aumentar a fuga?
Não. Penso que foi um aumento controlado e a receita cresceu o que era esperado. Naquela altura ou havia um aumento do IVA ou de outros impostos ou uma diminuição brusca da despesa pública. Alguém que seriamente analise o assunto não pode colocar a questão como um dilema entre aumentar o IVA ou não aumentar o IVA. É a despesa pública que é a causa da receita, são as opções que o Estado faz do nível dos seus gastos que provocam o nível de impostos, e não o contrário.

Mas tem a noção que enquanto director-geral dos Impostos é o principal responsável pela redução do défice que tem existido?
Não, não tenho essa noção. A redução do défice tem um conjunto múltiplo de causas, incluindo, naturalmente, o aumento da receita. Mas aí o mérito é do conjunto de pessoas extremamente qualificadas que a DGCI tem.

Como está a correr a cobrança coerciva?
Estamos no bom caminho para cumprir os objectivos. Mas gostava de salientar que a cobrança coerciva, que envolve os aspectos mais mediáticos das penhoras, das vendas, das cartas, etc., representa menos de 5% do total dos impostos cobrados. Mais de 90% da receita fiscal é cobrada voluntariamente. O maior acréscimo de impostos este ano foi do IRC e resultou das auto-liquidações das empresas, ou seja, foram as empresas que, voluntariamente, declararam e entregaram o imposto, sem intervenção da Administração Fiscal. O êxito de qualquer administração fiscal deve ser aferido pelo grau de cumprimento voluntário. A cobrança coerciva tem um efeito indutor do cumprimento voluntário. E este aumentou, com ganhos enormes para o país.

Qual a sua posição relativamente ao sigilo bancário?
A maior preocupação que tenho é que legislação que existe seja utilizada de forma mais eficaz e selectiva. Pessoalmente, acho que tem de haver estabilidade legislativa. Há poucas derrogações efectivas do sigilo bancário face às 130 mil inspecções que a administração fiscal faz e face aos mais de 10 milhões de liquidações de imposto realizadas anualmente. Temos menos de 1000 situações de derrogação do sigilo bancário, o que poderá significar, nas contas de um jornal, que o número triplicou, mas em 130 mil inspecções é uma percentagem muito reduzida.

Mas não deixou de triplicar.
Certo. Mas o título do jornal poderia questionar porque é que só triplicou perante aquele número de inspecções. É uma situação semelhante à das prescrições de dívidas. Já se explicou dezenas de vezes porque é que as prescrições aumentam e porque é que vão continuar a aumentar. A prescrição significa reconhecer que uma dívida já não pode ser cobrada coercivamente. E porquê? Porque passou o prazo para a cobrar, nomeadamente porque naquele prazo se reconheceu que o devedor não pode, de facto, pagá-la. Há um conjunto de entidades que faliu, que já não existem, ou que não têm qualquer bem no seu património. Em casos de fraude carrossel no IVA, por exemplo, os nomes que aparecem são de marginais, em nome de quem são praticadas fraudes de milhões. Obviamente que estas dívidas são contabilizadas, mas nunca vão ser cobradas e vão acabar por prescrever. Reconhecer as prescrições é necessário, para que do stock de dívida que temos, que é de cerca de 12 mil milhões de euros, fique apenas aquilo que é cobrável. As prescrições que há que impedir são as de dívidas de empresas que têm uma porta aberta ou de pessoas que têm algum tipo de bens.

Uma maior articulação entre a Justiça e administração fiscal em termos de sigilo bancário era desejável no combate à fraude.
Hoje em dia temos uma articulação excelente com várias entidades na área da Justiça, seja com o Ministério Público, seja com a Polícia Judiciária onde temos actualmente 20 brigadas mistas. Temos também vários inspectores nossos ao serviço do Ministério Público. Há uma preocupação com os Tribunais Administrativos e Fiscais, tentando acelerar drasticamente o período de finalização dos processos tributários, através do recrutamento de novos juízes, da criação de novos juízos e até de instruções do Conselho Superior de Magistratura para que se dê maior atenção aos processos que vão prescrever. E a questão do valor do processo não é indiferente. Um processo de um milhão de euros não pode ter o mesmo tratamento que um processo de mil euros, embora em todos os casos haja que assegurar as garantias dos contribuintes. Estas alterações estão em andamento e podem constituir um grande progresso. Eu acredito que uma Justiça célere é a maior garantia para todos nós.

Como é que tem evoluído a cobrança dos créditos que foram securitizados?
Tem evoluído positivamente. A taxa de realização acumulada tem vindo sucessivamente a aumentar. Em todos os semestres a percentagem de realização dos objectivos tem crescido em relação ao anterior. A grande questão era se o serviço da dívida era cumprido e de facto tem sido, embora com a cobrança abaixo das metas que inicialmente foram projectadas.

Esta sua incursão na política (ainda que com um cargo técnico, como gosta de dizer), significa que não mais regressará?
Tinha quase vontade de dizer que nunca se deve dizer nunca. Não considero que fiz uma incursão na política, porque, de facto, a não fiz, nem tal acusação foi feita à DGCI ao longo destes anos.

Foi ou é militante de algum partido?
Não. Não fui, não sou e não tenho qualquer aspiração a sê-lo.

E nunca foi sondado ou assediado por algum partido?
Não, nunca.

Pertence à Associação Cristã de Empresários e Gestores. Subscreveu o Código de Ética. Tem alguma ligação à Opus Dei?
Não.

Não foi assediado?
Não.

Sentiu-se chocado quando apareceu nos jornais e televisões na altura em que pediu para ser rezada uma missa pela DGCI?
Sim, porque a administração fiscal desenvolveu várias iniciativas, designadamente colóquios sobre o combate à evasão e fraude, uma exposição sobre educação tributária, colóquios sobres a inovação na Administração Fiscal portuguesa, sem a presença de uma única câmara de televisão. Nesse dia havia lá cerca de 15 a 20 jornalistas. Aí fiquei chocado.

Acha que foi uma manobra contra si?
Não comento.

Mas a iniciativa que tomou não é muito comum e um dos critérios da imprensa é a novidade, o invulgar…
Mas a questão é que não era invulgar, embora não fosse frequente. Temos diversas situações hoje de bênçãos na inauguração de instalações oficiais de entidades públicas, missas no dia de diversas organizações públicas, etc. E não se tratou, naturalmente, de uma cerimónia oficial, não houve qualquer convocação das pessoas, foi um acto particular.

Sente-se perseguido?
Nestas coisas, nós os portugueses somos implacáveis e à primeira oportunidade …

Mesmo assim foi revelado que processou um economista, Pedro Arroja, por um email que ele lhe enviou…
Não quero falar do caso, encontra-se em segredo de justiça.

Foi o único processo que desencadeou durante os anos que esteve aqui na DGCI?
Eu sim, mas outros funcionários não. Infelizmente há funcionários da administração fiscal que são por vezes insultados. Não é uma função popular...

No seu caso o processo é apenas por difamação?
Tem a vantagem de estar em segredo de justiça.

O hobby do seu pai era a pintura: e os seus?
O meu pai era artista plástico, eu gosto de ver pintura, escultura, gosto de ler, e pratico o lugar comum de ter pouco tempo para isso.

Um quadro que gostaria de ter em casa?
Uma das “Bibliotecas” da Vieira da Silva, aliás tenho a gravura de uma delas que comprei aqui em Lisboa.

Uma escultura?
A escultura tem o encanto da tridimensionalidade e do tacto. Há esculturas que aprecio imenso por razões distintas no Cutileiro e no Francisco Simões.

Tem alguma peça do Cutileiro?
Tenho uma escultura em pedra, um pássaro a sair de uma escarpa…depois disto, lá vão ver se o Cutileiro passou recibo…, que, obviamente, passou.

E livros?
Acho o Miguel Torga magnífico. Quase que se vê e se sente o que ele escreve, de uma forma muito simples. Gosto também de Lobo Antunes. O seu último livro de crónicas é actualmente o meu livro de cabeceira, depois de ter acabado as pequenas memórias de Saramago.

E banda desenhada?
A seu tempo, li todos os livros do Astérix e do Lucky Luke.

Não há lá cobradores de impostos…
O cobrador de impostos deveria ser tão popular como o Bardo…

E filmes?
Dos clássicos, o Casablanca.

Futebol, qual o seu clube?
Não tenho clube.

Deve ser o único português sem clube…
Não sou sócio de nenhum clube. Felizmente… se não as reacções dos restantes sobre as suas questões fiscais não se fariam esperar.

Economistas?
O problema aqui são as omissões. Há diversos economistas de enorme valor, designadamente a esmagadora maioria dos que ocuparam o lugar de Ministro das Finanças. Aliás, a DGCI teve a sorte de a quase totalidade dos ex-ministros das Finanças terem ido falar aos seus dirigentes. Ainda no passado dia 17 de Julho tivemos o privilégio de ouvir a Dra. Manuela Ferreira Leite e o Dr. Vítor Constâncio, em excelentes intervenções sobre a economia portuguesa, que foram objecto de grande apreço e aplauso por parte dos dirigentes.

Já apresentou a declaração de IRS?
Já.

Quanto vai pagar?
Não fiz a simulação, mas lá vai estar a taxa dos 42%!

Concorda com os países do norte da Europa que tornam públicas as declarações do IRS?
Não. Concordo com a publicação como medida de excepção, ou seja, no caso dos devedores, que mantenham essa situação por períodos de tempo longos, e que, advertidos, não tenham regularizado a situação, mas, ainda assim, com restrições. Se não, dificilmente resistiremos ao voyeurismo . Não considero que o benefício compense o custo.

Onde vai passar as férias?
Neste momento ainda não sei. Só agora vou começar a planear as férias. Costumo passar parte no Algarve.

Foi tão discreto durante a sua comissão que nem sequer se sabe onde nasceu...
Sou alfacinha, de São Sebastião da Pedreira.

Porquê esta retracção em se mostrar à opinião publica?
Não me retraí. Falei publicamente várias vezes nas Faculdades de Economia de Coimbra, de Direito de Lisboa, no Instituto Nacional de Administração, no Instituto Superior de Economia e Gestão, na Associação Fiscal Portuguesa, no Centro de Estudos Judiciários, na AESE, na APOTEC, na Câmara dos Técnicos de Contas, na Universidade do Minho, etc. Mas como eram coisas técnicas não foram mediatizadas. Falei dezenas de vezes em sítios públicos.

Porque recusou sempre entrevistas?
Porque tentei dar o máximo de estabilidade à DGCI no sentido de haver o mínimo de ruído para alem do necessário. Em qualquer entrevista que desse, o que seria ressaltado seria a parte que provocasse ruído e a DGCI precisa de estabilidade para fazer o seu trabalho.

Do que vai ter mais saudades?
Das pessoas … e das realizações.

Nos últimos três anos tornou-se numa figura pública facilmente reconhecida. Quando vai a restaurante tem de pedir factura ou entregam-lha logo?
Continuo a ter de pedir. Ainda várias vezes me perguntam se quero factura.

E quando pede, comenta?
Não. Numa ocasião, por exemplo, estava a almoçar com todos os Membros do Conselho de Administração Fiscal. Éramos 13 pessoas à mesa, as 13 pessoas com os cargos mais elevados da Direcção-Geral dos Impostos. Quando nos perguntaram se queríamos factura, a situação foi algo constrangedora, mas não comentei.

Mas apeteceu-lhe?
Apeteceu. Mas se agíssemos sempre como nos apetece seria difícil vivermos em sociedade

O que é que um cidadão comum pode fazer nesse contexto? Chama quem?
O cidadão comum pode ser exigente neste campo como o é cada vez mais nos outros campos todos. Hoje as pessoas são muito mais exigentes em termos de serviços prestados, em termos de produtos de consumo e das suas garantias, em termos de condições contratuais. Bastaria que aplicassem o mesmo nível de exigência aqui. Não é preciso haver missionários, nem fundamentalistas. É apenas necessário que as pessoas entendessem o que está em causa e lhe atribuíssem a importância que já atribuem a outros direitos.

Mas o que é que se faz? Pede-se o livro de reclamações, chama-se o agente da PSP…
O caso das facturas é emblemático e por isso foi objecto de uma série de iniciativas legislativas. Há dois anos legislou-se sobre os requisitos das facturas. Depois houve uma acção de inspecção conjunta com a Polícia Judiciária, sobre os softwares fraudulentos e, também, um acordo com a própria associação de empresas de software para tentar impedir que esses programas não fossem comercializados no futuro. Finalmente, fez-se uma campanha de sensibilização.

Mas engole-se em seco? Limpa-se a boca ao guardanapo e pronto?
Não basta ter uma factura. É preciso garantir duas coisas, que eu peço a factura e que a mesma depois é efectivamente contabilizada.


http://aeiou.expresso.pt/ainda-me-pergu ... ra=f110746

Eu continuo a achar de uma tremenda injustiça querer branquear o bom trabalho que deixou na DGCI, mas cada um que forme a sua própria opinião.
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 9360
Registado: 4/6/2010 12:12
Localização: 16

por Automech » 3/11/2010 17:49

englishman Escreveu:Diz-me quantas empresas públicas obtêm lucro? Repara que também não é pedido que as empresas públicas obtenham lucro, mas que permaneçam perto dos 0% de dívida e 0% de lucro, que já é bom, dado que não foram criadas com o objectivo primário de resultados mas mais de providenciar as populações de serviços dignos que sirvam os que os financiam (todos nós).
São modelos diferentes que requerem estratégias diferentes... logo, ordenados e condições que não são comparáveis.


Estratégias diferentes sim. Mas competência inferior dos gestores não.

englishman Escreveu:Para além disso, o factor concorrência não é tão significativo como no sector privado. Não tens concorrentes para a EDP, CP/REFER... logo a capacidade e trabalho de gestão requerida é menor.
E muitos outros aspectos poderiam ser referidos, mas penso que não vale a pena continuar dado que são dois campos de actuação nada comparáveis e daí não podem ter os mesmos ordenados/condições que um CEO de uma empresa privada oferece... sim, porque ela oferece segundo os resultados obtidos e não de forma automática.


Pois, isso é a habitual falácia quando se fala de monopólios. Esquece-se de que uma empresa deficitária pode dar mais ou menos prejuízo e que isso não é indiferente nem desligado da qualidade da gestão.

Além disso, mesmo com prejuízos (quando os mesmos não podem ser evitados pela natureza do serviço público) os objectivos podem existir, de qualquer das formas.
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 9360
Registado: 4/6/2010 12:12
Localização: 16

por LTCM » 3/11/2010 17:38

AutoMech Escreveu:
(...)
operar por objectivos e metas concretas. Os melhores devem ser recompensados e não existir complacência relativamente aos incumpridores (sempre numa perspectiva de bom senso).

Foi dado início a um ciclo diferente nas contribuições e impostos. O trabalhador dos impostos passou a ser encarado de uma maneira diferente. O contribuinte começa a ter consciência de que existe uma máquina fiscal que funciona e que cada vez é mais complicado fugir aos deveres contributivos. Foram criados departamentos novos nos serviços, a inspecção
foi reforçada, a profissão foi valorizada.

(...)

Somando tudo o termo caríssimo tem muito que se lhe diga...


Por incrível que pareça tudo aquilo que faço citação, da tua notícia do Vida Económica, já existia ANTES do Paulo Macedo ou estava na fase final de implementação.
Os resultados, obtidos por ele, na DGCI foram iguais aos dos seus antecessores, além de ter beneficiado do culminar de todo o trabalho que vinha a ser feito desde que o Ministro Sousa Franco ordenou a informatização dos serviços (até 1998 existia 1 computador por cada 20 funcionários), e da consequente cooperação entre vários ministérios que até aí não era possível em tempo útil.

Qualquer D.F. Distrital com 5 anos de experiência é capaz de fazer, com qualidade, o trabalho de D Geral o problema são as “capelinhas” e as “quintinhas” partidárias.

Existem outras considerações mas não vale a pena alongar o assunto.

Bons negócios
Remember the Golden Rule: Those who have the gold make the rules.
***
"A soberania e o respeito de Portugal impõem que neste lugar se erga um Forte, e isso é obra e serviço dos homens de El-Rei nosso senhor e, como tal, por mais duro, por mais difícil e por mais trabalhoso que isso dê, (...) é serviço de Portugal. E tem que se cumprir."
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 3030
Registado: 28/2/2007 14:18

por Automech » 3/11/2010 17:38

LTCM Escreveu:
mais_um Escreveu: as pessoas que exercem cargos de gestor publico devem faze-lo por espirito de missão ?


Exactamente.


Então teremos apenas aqueles que estão voluntários por um salário inferior e não os que estão disponíveis no mercado via salário competitivo com o privado.

Nem toda a gente está num estágio da vida ou da carreira que queira e/ou possa abdicar de um salário superior para ir servir o estado.

Ficamos assim limitados nas opções.

Ir para uma empresa pública não é o mesmo ser chamado para jogar na selecção nacional.
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 9360
Registado: 4/6/2010 12:12
Localização: 16

por mais_um » 3/11/2010 16:18

englishman Escreveu:
Ou seja, muito poucas dão lucro dado que 50% são atribuídos a uma só empresa pública (que detém participações num universo enorme de empresas portuguesas onde concorrência é nula, na maioria).



Mas a questão é se dão lucro ou se tem concorrência? Tu perguntaste quantas emmpresas dão lucro, não fui conta-las, coloquei-te os numeros globais, quer dos lucros, quer dos prejuizos.

Já agora das que dão prejuizo, o grosso é da saude, seguidas dos transportes.

englishman Escreveu:Só para constar, dois dos Accionistas da EDP:
Parpublica - Participaçöes Publicas 20.49 %
Caixa Geral de Depositos 5.24 %


E?


englishman Escreveu:
Apenas vou colocar dois excertos de texto paradigmáticos da situação que se tem vindo a discutir:

In Publico
Resultados da banca
Lucros do Santander caíram 9,8 por cento até Setembro
28.10.2010 - 09:38 Por Lusa
21 de 54 notícias em Economia« anteriorseguinte »
O Santander obteve lucros líquidos de 6080 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano, menos 9,8 por cento que em igual período do ano passado, informou a entidade à Comissão Nacional do Mercado de Valores (CNMV).

A redução dos lucros líquidos foi menor devido ao impacto nas contas da nova normativa do Banco de Espanha que obriga a acelerar as provisões sobre imóveis, que no caso do Santander ascenderam a 472 milhões de euros.

A entidade explica que a prioridade do grupo continua a ser reforçar a qualidade do seu balanço, pelo que este ano já realizou provisões por um valor total de 9072 milhões de euros.

O grupo espanhol refere ainda ter havido uma descida no valor do crédito mal parado, que se situava em 3,42 por cento no final de Setembro.

O Santander reforçou ainda a sua posição de liquidez com um volume de recursos captados de 135.200 milhões de euros entre depósitos e emissões a médio e longo prazo.

Os recursos de clientes ascendiam a 984.195 milhões de euros, mais 13,5 por cento, com a margem bruta a ascender a 31.436 milhões de euros, mais 7 por cento.

A América Latina representa já 42 por cento do volume de negócios (o Brasil representa 25 por cento), acima do valor registado na Europa Continental (37 por cento).



vs.

In Ionline
Presidente da TAP é o gestor público mais bem pago
por Filipe Paiva Cardoso e Ana Suspiro, Publicado em 04 de Junho de 2009
Fernando Pinto recebeu 420 mil euros, mas ganharia mais fora de Portugal

O líder da TAP, Fernando Pinto, recebeu 420 mil euros brutos de salário base ao longo de 2008 - ou seja 30 mil euros por mês - não tendo recebido qualquer prémio de gestão, segundo dados da companhia aérea. Esta remuneração, apesar de ter sido substancialmente reduzida desde a chegada do gestor brasileiro, em 2000, ainda faz do administrador-delegado da TAP o gestor público mais bem pago de Portugal. E provavelmente o quadro do Estado com maior remuneração, com base nos salários que são públicos.

No seu novo mandato - o quarto à frente da companhia aérea -, Fernando Pinto manterá as mesmas condições salariais, segundo fonte oficial do Ministério das Obras Públicas. Isto numa altura em que a TAP se prepara para avançar com um plano de redução e flexibilização dos custos. A transportadora fechou 2008 com prejuízos de 285 milhões de euros, mas espera já este ano voltar aos lucros, mas espera já este ano voltar aos lucros.

Apesar de estar à frente de outros gestores públicos, como o presidente da Caixa Geral de Depósitos, Faria de Oliveira, que ganhou cerca de 363 mil euros brutos no ano passado, o salário do presidente da TAP ficou bastante abaixo da remuneração recebida pelos líderes de outras companhias europeias (ver página do lado), sobretudo porque Fernando Pinto e a sua equipa não receberam qualquer prémio de gestão em 2008.

O líder da transportadora também perde na comparação com os presidentes das empresas nacionais privadas cotadas em bolsa onde o Estado ainda é accionista com direitos especiais. É o caso da Portugal Telecom, da EDP e da Galp Energia.

O líder da TAP já aceitou uma redução de quase metade no seu ordenado em 2003, quando Manuela Ferreira Leite era ministra das Finanças. Na altura, e após um longo processo negocial, a equipa de gestão concordou que a sua remuneração fosse equiparada à paga por outra empresa então tutelada pelo Estado, a Portucel, entretanto privatizada. Já em Maio do ano passado, o máximo responsável pela companhia aérea admitiu sofrer um novo corte, quando pediu aos sindicatos que aceitassem uma maior flexibilidade laboral na TAP, tendo para isso prometido que daria o primeiro sinal de que era preciso sacrifícios para enfrentar 2008: ofereceu-se para baixar 10% o ordenado. Os sindicatos fecharam a porta à flexibilidade laboral e Fernando Pinto manteve o vencimento.

Quanto à restante equipa que compõe o conselho de administração executivo da TAP Portugal - Michael Connoly, Luiz Mor, Jorge Sobral, Manoel Torres e Luís Vaz (substituído esta semana por Luís Rodrigues) - , cada um dos gestores recebeu no ano passado 280 mil euros brutos, ou 20 mil euros mensais. também sem direito a qualquer prémio de gestão.

SALÁRIO PODE IR ATÉ 735 MIL EUROS No ano passado, e só contando com o vencimento-base, a TAP gastou 1,82 milhões de euros com o conselho de administração executivo. Segundo o estatuto remuneratório da companhia aérea, o vencimento variável de curto e longo prazo depende do "cumprimento de objectivos mensuráveis" anual ou plurianualmente, "tendo como limite máximo anual 75% do valor total da compensação fixa anual". Ou seja, no limite e em caso de cumprimento total dos objectivos contratualizados com o accionista, Fernando Pinto poderia receber 735 mil euros num ano. Este valor já é comparável com os montantes auferidos pelos presidentes de outras transportadoras europeias, sobretudo as de dimensão mais semelhante, como a transportadora austríaca Austrian Airlines.

Esta foi a primeira vez que a TAP Portugal divulgou publicamente os salários dos seus gestores. Estes valores nunca tinham vindo reflectidos nos relatórios e contas da transportadora, uma vez que sempre foram pagos pela TAP SGPS. Agora são processados pela TAP SA.

Além da remuneração-base, Fernando Pinto e a sua equipa têm direito, como outros gestores públicos, a telemóveis, combustíveis e carros pagos, e ainda quase 55 mil euros para o pagamento das despesas de alojamento em Portugal, rubrica esta a que Jorge Sobral e então Luís Vaz não tiveram direito durante 2008.



Desculpa, mas esta parte não consegui perceber onde queres chegar, o que tem a ver um banco espanhol (as contas são do santander espanha, de 2009) com a TAP (contas de 2008)?

Queres comparar os prejuizos da Iberia de 2009, da BA de 2009, etc... e comparar os vencimentos dos administradores dessas companhias com o da TAP?

Um abraço,

Alexandre Santos
"Só duas coisas são infinitas, o universo e a estupidez humana. Mas no que respeita ao universo ainda não tenho a certeza" Einstein
“Com os actuais meios de acesso à informação, a ignorância não é uma fatalidade, mas uma escolha pessoal" Eu
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 8133
Registado: 14/11/2008 0:48
Localização: Lisboa

por rmachado » 3/11/2010 16:04

1º ponto:
Nós somos bons, muito bons e excelentes...
Mas tb somo maus, muito maus e mediocres...
é algo comum a todos os paises..

2º ponto:
As pessoas podem e devem ser pagas mediante a sua competência e/ou objectivos que se estabeleçam e isto tanto serve para o privado como para o público.
A grande questão é que muitas vezes no público se confunde competência com outras coisas e acredito que muita gente não se importe de receber menos do que receberia no privado pelo espirito de missão com que agarra certos cargos públicos e sim deviam ser plafonados.
O grande problema é que temos muitas vezes a partidarização da gestão e ai vai tudo por água abaixo.

Um belissimo exemplo (ou dois) são o Paulo Macedo e o Almerindo Marques, curiosamente de quadrantes politicos opostos mas competentissimos e curiosamente (no caso do primeiro de certeza) gabados pelo sindicato da classe.. dir-se-ia que é estranho.. mas não é. Ele era competente e o que ganhava enfim.. até podia ser pouco.
 
Mensagens: 2125
Registado: 24/8/2004 10:42
Localização: Carregado

por Automech » 3/11/2010 15:49

LTCM Escreveu:
AutoMech Escreveu: Tal como o Paulo Macedo também era caro.


O Paulo Macedo não era caro era caríssimo.
Não fez nada que outro, nas mesmas condições, não tivesse feito, dentro das façanhas desse extraordinário gestor tenho de sublinhar:
o mandar rezar missas e;
o mudar do logótipo da DGCI.
ou seja desperdiçar dinheiro em publicidade que não tem qualquer utilidade.


É fácil criticar o trabalho feito quando não existe o contraditório (que seria entrar na máquina do tempo, voltar a atrás, meter lá outra pessoa e comparar os resultados).

De qualquer das formas deixo aqui um artigo de opinião, que por acaso coincide com a minha:

Já é uma certeza. Paulo Macedo vai abandonar a DGCI e regressar ao seu antigo lugar na banca.

Importa agora fazer uma breve análise do que se passou durante o seu consulado. Desde logo, há que admitir que colocou em prática uma estratégia que se traduziu em resultados práticos melhores do que os esperados.

Até os sindicatos aplaudem a sua actuação, o que não é comum no nosso país.

A ideia de colocar um gestor da banca na Direcção-Geral dos Impostos partiu de Manuela Ferreira Leite e, como se recordarão, à partida levantou bastante polémica, desde logo pelo elevado salário que representou a sua contratação.

Parece agora não restarem dúvidas que todos os euros foram merecidos e Paulo Macedo termina o mandato tal como começou, sem alarido, sem falsas modéstias ou uma apresentação exaustiva dos resultados obtidos.

O que é revelador da sua personalidade e da própria competência. Sai sem dar nas vistas, apenas com a tarefa cumprida.

Mas o que é verdadeiramente importante é que Paulo Macedo introduziu uma nova forma de proceder na DGCI. Sobretudo, teve a preocupação de adequar a máquina fiscal ao próprio mercado.

Os resultados são evidentes e merecem ser reflectidos. Também a máquina fiscal pode ter características empresariais, isto é, operar por objectivos e metas concretas. Os melhores devem ser recompensados e não existir complacência relativamente aos incumpridores (sempre numa perspectiva de bom senso).

Foi dado início a um ciclo diferente nas contribuições e impostos. O trabalhador dos impostos passou a ser encarado de uma maneira diferente. O contribuinte começa a ter consciência de que existe uma máquina fiscal que funciona e que cada vez é mais complicado fugir aos deveres contributivos. Foram criados departamentos novos nos serviços, a inspecção
foi reforçada, a profissão foi valorizada.

Poderá parecer pouco à partida, mas a realidade é que Paulo Macedo abraçou a tarefa pelas vertentes verdadeiramente importantes.

Quanto à sua saída, há questões que não se compreendem. A lei não permite auferir o ordenado de cerca de 24 mil euros, pelo que nem sequer deveria estar em discussão a sua permanência, a menos que fosse aceite um ordenado de acordo com a sua posição.

O que chega a ser ridículo é, pelo menos aparentemente, a dificuldade de encontrar um profissional dentro da própria administração capaz de continuar o trabalho de Paulo Macedo. Afinal, quase se passa um atestado de incompetência a toda a administração pública.

Talvez se esteja a fazer uma tempestade num copo de água…


http://www.vidaeconomica.pt/users/0/39/ ... c42b80.pdf

Quanto ao episódio da missa, embora caricato (para mim que sou ateu), tanto quanto me lembro foi pago do bolso dele e feita em horário pós laboral.

Já em relação ao logótipo, sim, era desnecessário assim como o ter-se esquecido de pagar o IMI a tempo.

Somando tudo o termo caríssimo tem muito que se lhe diga...
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 9360
Registado: 4/6/2010 12:12
Localização: 16

por kanes » 3/11/2010 15:40

Elias Escreveu:
AutoMech Escreveu:É um pouco exagerado Elias. O privado também tem limites, embora não expressos.


Referia-me à existência de limites consagrados na lei, como acontece com os funcionários públicos em que há um tecto máximo (o salário do PR), no sector empresarial do Estado esse limite não está definido - e deveria estar, em minha opinião.

AutoMech Escreveu:Podemos defender que o estado não deve competir. Isso é uma coisa.

Mas a partir do momento em que compete terá de competir na remuneração, sob pena de não atrair pessoas competentes.


Não vejo as coisas assim. Competentes para quê? Simplesmente para dirigir uma empresa? Acreditas mesmo que não há pessoas competentes dispostas a gerir uma empresa pública pelo salário do PR? É preciso pagar quatro vezes mais?

Acresce que as empresas privadas têm como objectivo o LUCRO, ao passo as que empresas públicas têm como objectivo prestar um serviço público e não o lucro. Sendo assim, não vejo porque é que têm de concorrer com o privado e porque é que têm de pagar principescamente.


Hoje já estou mais contente, alguem que partilha os meus ideais.


8-) 8-)
 
Mensagens: 254
Registado: 18/9/2010 12:14
Localização: 16

por englishman » 3/11/2010 14:48

mais_um Escreveu:
englishman Escreveu:

Em 2009, as empresas publicas deram lucros na casa dos 837 milhões de € e as empresas publicas que deram prejuizos tiveram 1164 milhões de €.

http://www.dgtf.pt/ResourcesUser/SEE/Do ... E_2010.pdf

Por isso há muita empresa publica que dá lucro....


Dos quais 478 milhões afectos à Parpública, certo?
Ou seja, muito poucas dão lucro dado que 50% são atribuídos a uma só empresa pública (que detém participações num universo enorme de empresas portuguesas onde concorrência é nula, na maioria).

Só para constar, dois dos Accionistas da EDP:
Parpublica - Participaçöes Publicas 20.49 %
Caixa Geral de Depositos 5.24 %

Apenas vou colocar dois excertos de texto paradigmáticos da situação que se tem vindo a discutir:

In Publico
Resultados da banca
Lucros do Santander caíram 9,8 por cento até Setembro
28.10.2010 - 09:38 Por Lusa
21 de 54 notícias em Economia« anteriorseguinte »
O Santander obteve lucros líquidos de 6080 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano, menos 9,8 por cento que em igual período do ano passado, informou a entidade à Comissão Nacional do Mercado de Valores (CNMV).

A redução dos lucros líquidos foi menor devido ao impacto nas contas da nova normativa do Banco de Espanha que obriga a acelerar as provisões sobre imóveis, que no caso do Santander ascenderam a 472 milhões de euros.

A entidade explica que a prioridade do grupo continua a ser reforçar a qualidade do seu balanço, pelo que este ano já realizou provisões por um valor total de 9072 milhões de euros.

O grupo espanhol refere ainda ter havido uma descida no valor do crédito mal parado, que se situava em 3,42 por cento no final de Setembro.

O Santander reforçou ainda a sua posição de liquidez com um volume de recursos captados de 135.200 milhões de euros entre depósitos e emissões a médio e longo prazo.

Os recursos de clientes ascendiam a 984.195 milhões de euros, mais 13,5 por cento, com a margem bruta a ascender a 31.436 milhões de euros, mais 7 por cento.

A América Latina representa já 42 por cento do volume de negócios (o Brasil representa 25 por cento), acima do valor registado na Europa Continental (37 por cento).



vs.

In Ionline
Presidente da TAP é o gestor público mais bem pago
por Filipe Paiva Cardoso e Ana Suspiro, Publicado em 04 de Junho de 2009
Fernando Pinto recebeu 420 mil euros, mas ganharia mais fora de Portugal

O líder da TAP, Fernando Pinto, recebeu 420 mil euros brutos de salário base ao longo de 2008 - ou seja 30 mil euros por mês - não tendo recebido qualquer prémio de gestão, segundo dados da companhia aérea. Esta remuneração, apesar de ter sido substancialmente reduzida desde a chegada do gestor brasileiro, em 2000, ainda faz do administrador-delegado da TAP o gestor público mais bem pago de Portugal. E provavelmente o quadro do Estado com maior remuneração, com base nos salários que são públicos.

No seu novo mandato - o quarto à frente da companhia aérea -, Fernando Pinto manterá as mesmas condições salariais, segundo fonte oficial do Ministério das Obras Públicas. Isto numa altura em que a TAP se prepara para avançar com um plano de redução e flexibilização dos custos. A transportadora fechou 2008 com prejuízos de 285 milhões de euros, mas espera já este ano voltar aos lucros, mas espera já este ano voltar aos lucros.

Apesar de estar à frente de outros gestores públicos, como o presidente da Caixa Geral de Depósitos, Faria de Oliveira, que ganhou cerca de 363 mil euros brutos no ano passado, o salário do presidente da TAP ficou bastante abaixo da remuneração recebida pelos líderes de outras companhias europeias (ver página do lado), sobretudo porque Fernando Pinto e a sua equipa não receberam qualquer prémio de gestão em 2008.

O líder da transportadora também perde na comparação com os presidentes das empresas nacionais privadas cotadas em bolsa onde o Estado ainda é accionista com direitos especiais. É o caso da Portugal Telecom, da EDP e da Galp Energia.

O líder da TAP já aceitou uma redução de quase metade no seu ordenado em 2003, quando Manuela Ferreira Leite era ministra das Finanças. Na altura, e após um longo processo negocial, a equipa de gestão concordou que a sua remuneração fosse equiparada à paga por outra empresa então tutelada pelo Estado, a Portucel, entretanto privatizada. Já em Maio do ano passado, o máximo responsável pela companhia aérea admitiu sofrer um novo corte, quando pediu aos sindicatos que aceitassem uma maior flexibilidade laboral na TAP, tendo para isso prometido que daria o primeiro sinal de que era preciso sacrifícios para enfrentar 2008: ofereceu-se para baixar 10% o ordenado. Os sindicatos fecharam a porta à flexibilidade laboral e Fernando Pinto manteve o vencimento.

Quanto à restante equipa que compõe o conselho de administração executivo da TAP Portugal - Michael Connoly, Luiz Mor, Jorge Sobral, Manoel Torres e Luís Vaz (substituído esta semana por Luís Rodrigues) - , cada um dos gestores recebeu no ano passado 280 mil euros brutos, ou 20 mil euros mensais. também sem direito a qualquer prémio de gestão.

SALÁRIO PODE IR ATÉ 735 MIL EUROS No ano passado, e só contando com o vencimento-base, a TAP gastou 1,82 milhões de euros com o conselho de administração executivo. Segundo o estatuto remuneratório da companhia aérea, o vencimento variável de curto e longo prazo depende do "cumprimento de objectivos mensuráveis" anual ou plurianualmente, "tendo como limite máximo anual 75% do valor total da compensação fixa anual". Ou seja, no limite e em caso de cumprimento total dos objectivos contratualizados com o accionista, Fernando Pinto poderia receber 735 mil euros num ano. Este valor já é comparável com os montantes auferidos pelos presidentes de outras transportadoras europeias, sobretudo as de dimensão mais semelhante, como a transportadora austríaca Austrian Airlines.

Esta foi a primeira vez que a TAP Portugal divulgou publicamente os salários dos seus gestores. Estes valores nunca tinham vindo reflectidos nos relatórios e contas da transportadora, uma vez que sempre foram pagos pela TAP SGPS. Agora são processados pela TAP SA.

Além da remuneração-base, Fernando Pinto e a sua equipa têm direito, como outros gestores públicos, a telemóveis, combustíveis e carros pagos, e ainda quase 55 mil euros para o pagamento das despesas de alojamento em Portugal, rubrica esta a que Jorge Sobral e então Luís Vaz não tiveram direito durante 2008.


Abraço.
EnglishMan
_________________________________

Bons negócios. EnglishMan
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 1556
Registado: 19/1/2005 17:46
Localização: lx

por LTCM » 3/11/2010 14:42

mais_um Escreveu: as pessoas que exercem cargos de gestor publico devem faze-lo por espirito de missão ?


Exactamente.
Editado pela última vez por LTCM em 3/11/2010 14:51, num total de 1 vez.
Remember the Golden Rule: Those who have the gold make the rules.
***
"A soberania e o respeito de Portugal impõem que neste lugar se erga um Forte, e isso é obra e serviço dos homens de El-Rei nosso senhor e, como tal, por mais duro, por mais difícil e por mais trabalhoso que isso dê, (...) é serviço de Portugal. E tem que se cumprir."
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 3030
Registado: 28/2/2007 14:18

por LTCM » 3/11/2010 14:21

AutoMech Escreveu: Tal como o Paulo Macedo também era caro.


O Paulo Macedo não era caro era caríssimo.
Não fez nada que outro, nas mesmas condições, não tivesse feito, dentro das façanhas desse extraordinário gestor tenho de sublinhar:
o mandar rezar missas e;
o mudar do logótipo da DGCI.
ou seja desperdiçar dinheiro em publicidade que não tem qualquer utilidade.
Remember the Golden Rule: Those who have the gold make the rules.
***
"A soberania e o respeito de Portugal impõem que neste lugar se erga um Forte, e isso é obra e serviço dos homens de El-Rei nosso senhor e, como tal, por mais duro, por mais difícil e por mais trabalhoso que isso dê, (...) é serviço de Portugal. E tem que se cumprir."
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 3030
Registado: 28/2/2007 14:18

por mais_um » 3/11/2010 14:12

englishman Escreveu:
Desculpa, mais_um. Acho um completo absurdo aquilo que acabo de ler.


Não tens que pedir desculpa.

englishman Escreveu:Diz-me quantas empresas públicas obtêm lucro? Repara que também não é pedido que as empresas públicas obtenham lucro, mas que permaneçam perto dos 0% de dívida e 0% de lucro, que já é bom, dado que não foram criadas com o objectivo primário de resultados mas mais de providenciar as populações de serviços dignos que sirvam os que os financiam (todos nós).




Em 2009, as empresas publicas deram lucros na casa dos 837 milhões de € e as empresas publicas que deram prejuizos tiveram 1164 milhões de €.

http://www.dgtf.pt/ResourcesUser/SEE/Do ... E_2010.pdf

Por isso há muita empresa publica que dá lucro....


Está a partir de uma premissa errada, existem empresas publicas cujo o objectivo é dar lucro, por exemplo a CGD, a TAP, etc... essas é facil medir a sua performance porque concorrem com empresas privadas.

Depois existem as empresas que tem que prestar um serviço publico, nessas o objectivo não é ter lucros mas sim prestar o serviço com custos equilibrados, estas normalmente dão prejuizo devido a decisões politicas, já que é a tutela (politicos) que define as suas fontes de receitas.



englishman Escreveu: Não tens concorrentes para a EDP

duas correcções, a EDP não é uma empresa publica e tem concorrentes.

englishman Escreveu: CP/REFER... logo a capacidade e trabalho de gestão requerida é menor.


Independentemente de ter ou não concorrencia não tem que ser bem gerida?

englishman Escreveu:E muitos outros aspectos poderiam ser referidos, mas penso que não vale a pena continuar dado que são dois campos de actuação nada comparáveis e daí não podem ter os mesmos ordenados/condições que um CEO de uma empresa privada oferece... sim, porque ela oferece segundo os resultados obtidos e não de forma automática.


As empresas publicas, tal como nas privadas, tem em geral componente variavel (em função dos resultados obtidos ) e fixas, tal como nas privadas , nao é automatico.

Um abraço,

Alexandre Santos
"Só duas coisas são infinitas, o universo e a estupidez humana. Mas no que respeita ao universo ainda não tenho a certeza" Einstein
“Com os actuais meios de acesso à informação, a ignorância não é uma fatalidade, mas uma escolha pessoal" Eu
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 8133
Registado: 14/11/2008 0:48
Localização: Lisboa

por sem2006 » 3/11/2010 14:10

mais_um Escreveu:
Elias Escreveu:
Acresce que as empresas privadas têm como objectivo o LUCRO, ao passo as que empresas públicas têm como objectivo prestar um serviço público e não o lucro.


Nem todas, existem empresas publicas cujo o objectivo é lucro.

http://www.parpublicasgps.com/index.php ... Itemid=100

http://www.dgtf.pt/ResourcesUser/SEE/Do ... 2010_1.pdf

Actualizado a 30/09/2010

Elias Escreveu: Sendo assim, não vejo porque é que têm de concorrer com o privado e porque é que têm de pagar principescamente.


Quais são os administradores publicos que são pagos principescamente?


Quais são? Bem..tu não deves viver neste país...ou então não sei.. :roll:
 
Mensagens: 348
Registado: 29/4/2009 13:31
Localização: 13

AnteriorPróximo

Quem está ligado:
Utilizadores a ver este Fórum: fosgass2020, Google [Bot] e 181 visitantes