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Caldeirão da Bolsa

Portugal agrava fosso entre ricos e pobres

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por Bender » 20/8/2007 23:37

Miguel Sousa Tavares
Os ricos

Acho uma prática normal e salutar a publicação anual da lista dos cem mais ricos do país. Ser rico, sem ter enriquecido por meios ilícitos, não é vergonha alguma. Ser rico, tendo contribuído para a riqueza do país, é motivo de orgulho. Nos Estados Unidos, ser rico tendo criado obra à vista, é causa de admiração de vizinhos e conterrâneos. Em Portugal, ainda é, sobretudo, causa de inveja e desconfiança. A diferença está nas mentalidades, mas está também na forma como as coisas funcionam e no papel desempenhado pelo Estado.

Para se ser rico e causa de admiração é necessário ter enriquecido numa sociedade minimamente igualitária, onde as oportunidades estão distribuídas de forma equilibrada por todos, à partida – na educação, na saúde, na habitação e condições de vida, no desporto, etc. Não é o caso dos Estados Unidos, onde cada um é deixado por conta da sua sorte ou do seu engenho, mas é o caso das democracias escandinavas e do Norte da Europa, onde a social-democracia garantiu cinquenta anos de prosperidade, justiça social e desenvolvimento cultural sem paralelo em nenhum outro lugar do mundo e em nenhuma outra época.

O nosso mal-estar perante as grandes fortunas não tem razão ideológica, mas tem razão política e muita. Nós nunca vivemos em social-democracia. Nós nunca tivemos uma sociedade equilibrada, justa e igualitária nas oportunidades. Tivemos sempre – desde o tempo das Descobertas, passando pelo liberalismo, pela República e pelo Estado Novo – uma sociedade que colocou os pobres por conta da caridade e os ricos por conta do privilégio. Numa época histórica em que um socialismo emergente, com o foco em Moscovo, se enfrentava com o fascismo de inspiração social e cristã, o Estado Novo dotou-se de uma lei chamada do Condicionamento Industrial, que lhe permitiu controlar os grandes empresários, no continente e em África, e de uma organização corporativa do Estado, inspirada na 'Carta del Lavoro' mussoliniana, que lhe assegurou a domesticação dos sindicatos e da mão-de-obra assalariada, pois que, como explicou Salazar, "não podemos permitir que o operariado se transforme numa classe privilegiada". Cada um fará do salazarismo a leitura histórica que quiser – mesmo aqueles que não o estudaram a sério ou que, tendo-o estudado, o falsificaram à medida das suas convicções políticas. Pessoalmente, desde há muito que tenho o meu diagnóstico feito, e o tempo e as leituras subsequentes só vieram confirmá-lo: o Estado Novo e o salazarismo foram, porventura, o período mais negro e mais prejudicial de toda a história de Portugal. Ainda hoje, muito do que penamos, muito do que de negativo existe na mentalidade instalada entre os portugueses deve-se à doutrinação desses cinquenta anos de ditadura retrógrada e beata. Os ricos continuam a apostar que o Estado é a fonte de todos os negócios verdadeiramente rentáveis, e os pobres continuam a acreditar que o Estado lhes deve toda a protecção e desvelo. Uns e outros foram habituados a pensar que não há lugar para a iniciativa própria, para o risco individual, para um contrato com direitos e obrigações recíprocas entre o cidadão e o Estado.

O desvario comunista dos anos a seguir a 74 serviu apenas para que uma imensa massa de desfavorecidos e ignorantes imaginasse que todos poderiam ser ricos pela simples estatização de toda a economia do país. Tal como a 'vaca soviética' de Livtchenko era teoricamente capaz de produzir mais leite do que a 'vaca capitalista', também entre nós se procurou levar os incautos a acreditar que a Reforma Agrária iria tornar o país auto-suficiente em bens alimentares, que a indústria e as empresas em autogestão e sem investimento e risco privado seriam capazes de render muito mais e que a banca "ao serviço do povo" financiaria tudo isto... com o dinheiro de ninguém.

O despertar desta bebedeira colectiva, com a necessidade premente de acorrer ao mais elementar – pagar aos funcionários públicos, evitar a fome e as falências sucessivas das empresas, garantir o crédito externo ao Estado Português – levou a restabelecer aos poucos o único sistema económico que se acreditava, e ainda acredita, ser capaz de manter o país a funcionar: o capitalismo clientelar do Estado. E, para que a revolta social fosse evitada, deu-se aos trabalhadores o reverso da medalha: uma lei de despedimentos que garante trabalho até à eternidade a quem o tem e precariedade para sempre a quem o não tem; subsídios de desemprego garantidos, não só para quem não encontra trabalho mas também para quem não quer trabalhar; reforma segura para todos, mesmo para os que não descontaram durante a vida; um sistema de ensino público que custa uma fortuna ao país e que só satisfaz os sindicatos de professores; e um sistema de saúde pública onde se gasta mais "per capita" do que na Holanda e se espera dezoito meses por uma operação urgente. Assim se regressou ao velho Portugal de sempre, com um Estado que assegura o favor aos maus empresários e a protecção aos maus trabalhadores. E que gasta a riqueza produzida e cobrada à parte saudável do país a sustentar os que vivem à sua conta.

O que faz impressão na lista dos cem mais ricos de Portugal é constatar que as suas fortunas acumuladas representam 22% de toda a riqueza do país e que o fosso entre os que mais ganham e os que menos ganham é o maior de toda a Europa comunitária a quinze. E faz impressão pensar que, enquanto os trabalhadores por conta de outrem e a generalidade da classe média e média-baixa viu os seus rendimentos subir entre zero e três por cento no ano passado, os cem mais ricos aumentaram a sua riqueza em 36%. E fizeram-no essencialmente através da bolsa – ou seja, não pelo desempenho das suas empresas, não pela criação de riqueza para o país, mas sim através da simples especulação com o dinheiro. Mais interessante ainda seria podermos dispor da lista dos cem maiores pagadores de impostos do país em nome individual, para compararmos com os cem mais ricos. Ou sabermos quanto pagaram de impostos sobre os lucros as empresas ou fundações onde se abrigam os cem mais, para compararmos com os que, vivendo apenas do seu trabalho, pagam 42% de IRS. Aí, sim, poderíamos perceber a dimensão da injustiça social e fiscal em que vivemos.

Mas, num país que alimenta essa coisa indecorosa que é o "off-shore" da Madeira (um simples território de evasão fiscal promovida pelo Estado), num país onde mais de metade das fundações servem apenas para fugir ao fisco, onde dois terços das empresas nunca declaram lucros, onde se baptiza de 'empresário' quem nunca criou um posto de trabalho nem produziu um euro de riqueza facturável, onde os gestores públicos recebem indemnizações escandalosas para saírem de uma empresa e passarem para outra e onde o Estado oferece de graça (e ainda paga os encargos) o seu maior museu para albergar uma colecção de arte privada emprestada, não é de admirar que a generalidade das pessoas não acredite na seriedade dos meios pelos quais alguns se tornaram tão ricos. É que não se pode ter tudo: boa cama e boa fama.

Miguel Sousa Tavares
Publicado segunda-feira, 20 de Agosto de 2007 8:00 por Expresso Multimedia
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por kostta » 17/8/2007 22:27

Keyser Soze Escreveu:
kostta Escreveu:sem qualificações? entao este governo nao se lembrou das "novas oportunidades"? só nao tem o 12º quem nao quer... é oferta da casa


é uma estupidez....é apenas para fazer estatistica

tal como a passagem "automática" até ao 9º ano introduzida no passado

temos um sistema de ensino cada vez com pior qualidade, facilitista...onde descura a exigência, o rigor, a disciplina, o mérito, a responsabilização, a avaliação..



quem dita as ordens são os chefes, que estão sentados em gabinetes no ministerios. o ze povinho cumpre e cala, senao tem processo disciplinar.
o que importa são os numeros, como la se chega nao importa.
o facto da aluna ser anorexica, o pai ser alcoolico ou a mae ter prob. psiquiatricos, são aspectos que se têm que ter em conta na retenção de um aluno. tudo serve de desculpa.



O Governo anunciou ontem o Plano Tecnológico de Educação para colocar Portugal entre os cinco países europeus mais avançados ao nível da modernização do ensino. Projecta-se um rácio de dois alunos por computador ligado à internet, 90% dos professores com competências certificadas em tecnologias informáticas (TIC) e o mesmo para 50% dos estudantes. Vai surgir um sítio Mais-Escola.pt e uma Escola Simplex. Deve estar concluído em 2010 e custará 400 milhões de euros.


Era bom que pudesse ser verdade. Infelizmente, não é provável. A Educação não tem ginástica, nem músculo, para a tarefa. Para os professores que se esforçam nas escolas que nem umas baratas tontas, ocupados com a elaboração de relatórios que depois ninguém lê, o plano é uma ofensa. Há umas décadas que deixou de haver uma carteira para cada aluno, como no meu tempo de liceu. As reduções e a desorganização do pessoal auxiliar transformaram os professores em mulheres a dias. É abstruso atirar-lhes com as TIC quando muitos só pensam em que os mandem para a reforma.

O ensino não tem melhorado em Portugal e o problema não se soluciona pondo uns milhões em cima. O processo é mais difícil. Exige mobilização dos professores, dos pais, práticas transparentes. E, já agora, pergunto: como é que se vai entregar a coordenação de um plano destes a chefes de organismos que só se fazem notar por instaurarem processos disciplinares a funcionários com ‘opiniões desbragadas’?
João Vaz, Redactor Principal



in http://www.correiodamanha.pt/noticia.as ... l=93&p=200
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por Sei lá » 17/8/2007 22:04

Keyser Soze Escreveu:
JAM Escreveu:A vossa longa discussão sobre as empresas é um espectáculo, mas como sempre caem no erro de que se uma empresa está mal a culkpa é dos trabalhadores que não querem trabalhar.

Não concordo nem de perto nem de longe!!!

Como de costume, as chefias são sempre esquecidas e na maior parte das vezes os erros de gestão e falta de disciplina na emptresa partem daí.


se fosse a ti, lia outra vez

eu critico é um sistema que permite que gestores, empresários, "chefes" na FP enriqueçam à base das inefeciências dos sistema, do corrupção, dos compadrios com o poder público para alterar leis ou regulamentações....e não pq são produtivos e têm mérito

é uma sociedade de esquemas, não uma meritocracia


e com um sistema de educação de m****, o zé povinho continua ignorante, sem qualificações, pouco produtivo e condenado a baixos salários


No meu post generalizei, não me referi a ti em particular. Concordo que infelizmente estamos numa sociedade de esquemas e não se valoriza o mérito, pelo menos aquilo que eu considero mérito.
O mercado cega... nem uma ida a Cuba resolve. Cuba?!? :shock: Phone-ix!! Eles são socialistas pá!!!!
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por Keyser Soze » 17/8/2007 15:40

kostta Escreveu:sem qualificações? entao este governo nao se lembrou das "novas oportunidades"? só nao tem o 12º quem nao quer... é oferta da casa


é uma estupidez....é apenas para fazer estatistica

tal como a passagem "automática" até ao 9º ano introduzida no passado

temos um sistema de ensino cada vez com pior qualidade, facilitista...onde descura a exigência, o rigor, a disciplina, o mérito, a responsabilização, a avaliação..
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por kostta » 17/8/2007 14:45

sem qualificações? entao este governo nao se lembrou das "novas oportunidades"? só nao tem o 12º quem nao quer... é oferta da casa
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por Keyser Soze » 17/8/2007 11:33

JAM Escreveu:A vossa longa discussão sobre as empresas é um espectáculo, mas como sempre caem no erro de que se uma empresa está mal a culkpa é dos trabalhadores que não querem trabalhar.

Não concordo nem de perto nem de longe!!!

Como de costume, as chefias são sempre esquecidas e na maior parte das vezes os erros de gestão e falta de disciplina na emptresa partem daí.


se fosse a ti, lia outra vez

eu critico é um sistema que permite que gestores, empresários, "chefes" na FP enriqueçam à base das inefeciências dos sistema, do corrupção, dos compadrios com o poder público para alterar leis ou regulamentações....e não pq são produtivos e têm mérito

é uma sociedade de esquemas, não uma meritocracia


e com um sistema de educação de m****, o zé povinho continua ignorante, sem qualificações, pouco produtivo e condenado a baixos salários
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por Sei lá » 17/8/2007 11:20

A vossa longa discussão sobre as empresas é um espectáculo, mas como sempre caem no erro de que se uma empresa está mal a culkpa é dos trabalhadores que não querem trabalhar.

Não concordo nem de perto nem de longe!!!

Como de costume, as chefias são sempre esquecidas e na maior parte das vezes os erros de gestão e falta de disciplina na emptresa partem daí.

Aliás, existe uma situação muito comum (pelo menos aqui no Norte) e que são os administradores e economistas especializados em afundar empresas até ao sistema de insolvência. Eles saltam de empresa para empresa, elas fecham e eles aranjam outra.

Aliás, há certas faces que quando entram nas empresas deixam logo toda a gente com a certeza que aquilo está por pouco tempo...

Como de costume continuam a insistir em bater no zé povinho que é quem menos pode fazer para alterar o estado de coisas, e é o tal Zé Poviho que na Europa é um exemplo de trabalho e produtividade. Não me parece que o problema esteja no Zé Povinho... mas isto é a minha opinião e eu não percebo nada de nada.
O mercado cega... nem uma ida a Cuba resolve. Cuba?!? :shock: Phone-ix!! Eles são socialistas pá!!!!
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por Keyser Soze » 17/8/2007 10:42

Keyser Soze Escreveu:
JAM Escreveu:Leiam a entrevista do presidente do Montepio ao Diário Económico que ele também fala destas treta dos vencimentos milionários de alguns. Vale a pena ler não só por isso, mas porque o homem tem uma abordagem muito "terra a terra" em relação a questões importantes. Acima de tudo acho que ele tem mais lucidez que a maioria...


sim ... o Medina de Carreira tb vale a pena ouvir (ainda mais pessimista que este)

algumas das coisas que ele disse vão em linha o que escrevi aqui (até fala do Belmiro ehehe)... outras nem tanto



este está numa liga diferente do Silva Lopes e Medina Carreira, mas tb vale a pena ler...admiro-lhe a frontalidade

e curiosamente tb partilha algum das ideias que escrevi aqui:

Edição Impressa - Destaque

Entrevista a Vasco Pulido Valente

2007-08-17 00:05
“Sócrates é superficial como Cavaco”
O colunista diz que Sócrates ‘não tem dois milímetros de profundidade’, que o Governo é autoritário e faz saneamento político.

António José Teixeira

As pessoas não estão habituadas à crítica, diz Vasco Pulido Valente, talvez o colunista mais mordaz da vida portuguesa. Em vez de críticas esperam elogios, tantos mais quanto mais alto subiram. O historiador chama «shallow» a José Sócrates, que considera tão superficial como Cavaco Silva. Revolta-se contra a imprevisibilidade dos governos e a incapacidade de definir o que o Estado deve fazer. Mas nem por isso se assume pessimista… Em Novembro, vai editar «Ir para o Maneta», revisitação das invasões francesas 200 anos após Junot ter entrado em Lisboa. Uma conversa à mesa do Gambrinus num dia de Verão.

O que é uma opinião construtiva?
Nunca penso nos efeitos que vão ter as minhas colunas. Penso se gosto delas, ou não. Muitas vezes sucede não gostar de uma coluna e muita gente gostar, e vice-versa. Procuro fazer uma coluna que ache boa. Nunca me preocupei com mais nada.
Para uma coluna ser boa tem de correr riscos, não se preocupar em falhar, agradar…

Nunca tive esse problema. Nunca quis «agradar». A minha opinião raramente coincide com a opinião do público. Isso significa que não se deixa contagiar pela corrente?
Significa que não sei fazer de outra maneira. Não sou capaz de imaginar o que é que o leitor quer que eu escreva.

A opinião em Portugal é relevante?
É muito importante.

Porquê?
Porque a opinião «materializa» em palavras o que as pessoas sentem. A opinião consegue determinar e organizar os sentimentos vagos das pessoas.

O que é que vale a pena ler e ouvir em Portugal?
Leio tudo. Levanto-me cedo e gosto de ler os jornais. Um dos grandes prazeres da minha vida é o pequeno-almoço. Beber chá e ler os jornais. Tudo é significativo, o que gosto e o que não gosto, o que é inteligente e o que não é. O mais útil é o que põe problemas, que levanta questões. Não é o que deixa «cair» a sabedoria sobre o leitor.

Há nomes de referência?
Não vou dizer. O que me interessa nas colunas são os problemas que põem, se vale a pena discuti-las, «acrescentam» alguma coisa. Interessam menos os nomes. Pode ser um artigo do José Manuel Fernandes ou da Constança Cunha e Sá, do Pacheco Pereira ou do Miguel Sousa Tavares. Mesmo artigos ou entrevistas sobre economia: do João Salgueiro, do Vítor Bento ou do Francisco Sarsfield Cabral. Disse estes nomes e podia dizer mais dez.

O país reflecte-se no espelho diário da comunicação social? Ou há surpresas? Há um país que não passa, que nos surpreende?
A imprensa portuguesa, de uma maneira geral, dá uma imagem relativamente fiel do país. Mas não a comenta, nem tira as conclusões que deve. Frequentemente, alguma imprensa faz serviços ao poder político, tentando desviar a atenção de certas coisas. Isso preocupa-me.

A opinião pública tem peso?
O que pensam as pessoas na rua depende, em parte, dos jornais. Cada vez menos, como se sabe. Depende também da televisão, mas aí o debate foi suprimido.

Há quem diga que a sua marca de água enquanto colunista é dizer mal. É incapaz de dizer bem?
Sou agora incapaz de dizer bem!

Mas tem a consciência de que boa parte das suas colunas são muito reprovadoras…
São.

Sente algum estímulo para dizer bem?
Sinto. E muitas vezes escrevo.

Que feed-back tem das suas colunas?
Tenho pouco. Recebo cartas; mails não porque quero manter a privacidade. O contacto dos leitores com o colunista é mau para o colunista. Começa inconscientemente a ser influenciado pelos leitores.

Há que manter a distância…
Não só em relação aos leitores, mas a todos os poderes políticos e sociais. Muitos políticos de quem era amigo zangaram-se quando descobriram que não fazia um «desconto». Houve outros que não, nomeadamente Mário Soares e Marques Mendes. Há muita gente que deixou de me falar, que se afastou… Não perceberam. O primeiro foi Balsemão. Não perceberam que o que escrevia sobre eles enquanto políticos não tinha nada a ver com eles enquanto pessoas.

Não há poder de encaixe para as críticas?
As pessoas não estão habituadas à crítica. Esperam elogios: e tantos mais quanto mais alta é a sua vaidade e mais alto subiram. A intolerância à crítica cresce com a importância a que as pessoas se dão ou têm realmente. Não percebem que a função de um crítico é criticar. Se me disserem que escrevi um livro péssimo, isso não é um juízo sobre mim, mas sobre o livro.

Não é fácil fazer a separação. Ao dizer-se que escreveu um livro mau, isso não é difícil de aceitar, sobretudo se nos parecer injusto?
A mim não. Fiz o que podia, mas se calhar não chegou.

Uma vez li a seu respeito, julgo que da parte de um seu admirador, que o que Vasco Pulido Valente tem de imensamente positivo é não ter pinga de marxismo no seu intelecto; o que tem de negativo é que não é evidente que goste de ser português. É verdade?
Fui poupado por razões de educação, de história e de acaso aos grandes sistemas de fé da minha geração. Fui criado como ateu e nunca tive a experiência de perder a fé porque nunca tive fé. Nasci numa família revolucionária, que deixou de ser revolucionária antes de eu chegar à idade adulta. Não tive fé na revolução e também não perdi a fé na revolução. Não passei pela experiência de quase todos os meus contemporâneos, que perderam a fé em deus e na revolução. Fui sempre uma pessoa sem fé. Não tenho pinga de marxismo nem de catolicismo. As duas coisas estão ligadas. Muita gente começou pelo catolicismo e mudou para o marxismo e vice-versa. Sou um ateu. Agnóstico é uma palavra que hoje não quer dizer nada.

E sobre o gostar, ou não, de ser português?
Isso é ridículo. É claro que gosto de ser português. Se não gostasse, ao fim de tantos anos, tinha arranjado maneira de me ir embora. Gosto de viver em Portugal. Sou português até ao tutano. Caso contrário não teria a menor paciência para escrever sobre Portugal. Como passei a minha vida a fazer, principalmente como historiador.

José Saramago diz que, mais tarde ou mais cedo, Portugal se integrará na Ibéria…
Não me admira nada. Deve o prémio Nobel à Espanha. Não me impressiona que Portugal possa fazer parte de uma outra Ibéria daqui a uns anos. O problema é que os espanhóis não nos querem. A questão é ao contrário. Nós até poderemos querer, mas a Espanha não quer. Já fiz a experiência de dizer provocatoriamente a espanhóis que sou iberista. Eles riem-se e dizem que nós só gostamos do dinheiro deles. A Espanha não tem razão nenhuma para absorver Portugal. São coisas da insensatez política de José Saramago.

Politicamente como é que se define? O facto se não ter fé não significa que não tenha convicções.
Uma convicção não é uma etiqueta. O meu objectivo é conjugar o máximo de liberdade com o igualitarismo indispensável. Não sou um liberal ortodoxo. O ideal é criar um máximo de liberdade sem prescindir de certas funções sociais do Estado, nomeadamente a saúde e a segurança social. Não sou partidário do Estado Providência, que se intromete em tudo e domina tudo. Nem de um Estado liberal que não garanta o suporte social que as pessoas precisam na saúde e na segurança social. A saúde tornou-se tão cara e sofisticada que não pode ser deixada às seguradoras ou à poupança do cidadão comum, o mesmo se diga da segurança social. Uma sociedade civilizada não pode deixar morrer alguém que não tem dinheiro para fazer uma operação. Os velhos não podem ser abandonados.

Que avaliação faz da marcha do Governo de José Sócrates?
Marcha bem e marcha mal. Sócrates é um bombeiro. Foi chamado numa altura em que a casa estava a arder. Deitou água na casa. As reformas na saúde e na segurança social não são reformas. São operações de damage control para a sobrevivência do sistema, mas por detrás não há uma visão política. Ou seja, voltamos à velha questão: o que é que o Estado deve fazer e o que é que não deve fazer? Ele não tem a menor ideia. E como não tem uma ideia, não tem uma direcção. A fé no Estado providência ou o «modelo social europeu» vem da incapacidade de definir o que o Estado deve fazer. Talvez leve ainda dez, vinte anos, até se perceber o que é indispensável que o Estado faça. Nesta altura, há duas posições: uma que diz que o Estado não deve fazer nada ou quase nada e outra que quer salvar o Estado como está. Não concordo com uma coisa nem outra.

O Governo deve ser mais pequeno?
Deve. Não precisamos de uma série de ministérios: da economia e da agricultura, por exemplo.

Uma das críticas recorrentes é a de que os empresários estiveram sempre demasiado encostados aos governos. De uma vez por todas, devemos largar a economia às empresas?
Muitos ministros da economia e das finanças intervieram na economia. O que acontece é que as empresas que sabem organizar-se sobrevivem e as outras não, são sorvedouros de dinheiro público. O Estado só deve fornecer o «ambiente»: infra-estruturas, contas públicas equilibradas, uma fiscalidade razoável, leis laborais menos rígidas, justiça, pouca burocracia e por aí fora. O trivial.

E quanto às pequenas e médias empresas, as que produzem mais emprego? Sempre dizemos que são muito frágeis, que os empresários nem sempre têm capacidade para aguentarem os seus negócios…
O grande problema das pequenas e médias empresas é a imprevisibilidade. Nunca se sabe quando aparece um irresponsável que «arranja» um défice de 4% e depois foge para não sei onde… As pessoas têm medo. É preciso criar em Portugal uma tradição de previsibilidade do Estado.

José Sócrates não é previsível?
Ainda não. E a previsibilidade não depende de um único governo.

Isso não decorre de vivermos numa economia global?
Com certeza que não. Se estivéssemos a pagar os mesmos impostos com a mesma eficiência há 30 anos, se tivéssemos o défice do Estado controlado há 30 anos, havia confiança.

O que é que o irrita em José Sócrates?
He is shallow. Não há palavra em português. Não tem um fundo cultural político, uma visão histórica do país, um pensamento organizado sobre a sociedade portuguesa. É shallow. Não tem dois milímetros de profundidade.

Não é arrogância da sua parte?
Espero que não. Há muita gente que não é shallow na política portuguesa. António Costa é menos shallow do que José Sócrates… Sócrates é superficial como Cavaco. Não percebem o país, não percebem os problemas do regime…

É por isso que chegaram onde chegaram? É por serem máximos denominadores comuns?
Talvez sim.

Tem-se falado de ‘claustrofobia democrática’ e de alguns sinais de autoritarismo da administração pública. Há perigo totalitário?
Perigo totalitário, nenhum. Autoritarismo há. Há uma tentativa de controlar a imprensa e a televisão. E o funcionalismo.

Há algum paralelo com o alerta de Mário Soares, quando era Presidente, para o perigo de uma ‘ditadura da maioria’, referindo-se ao PSD?
O que Mário Soares queria dizer, na altura, era que o PSD fazia o que queria e não respeitava as minorias. Hoje, o perigo é de um autoritarismo que autoriza saneamentos políticos. Depois do 25 de Abril, quando os ministros chegavam aos seus gabinetes recebiam uma pilha de denúncias. Denúncias contra antigos apoiantes do Estado Novo, contra os elementos da reacção que atrasavam o PREC, contra os comunistas saneadores, contra o PS que ocupava o aparelho do Estado, contra o PSD… Durante dez anos, quem primeiro aparecia a um ministro ou secretário de Estado era o delegado do partido no Ministério. Aconteceu isso comigo. Ninguém levava a sério essas denúncias e muito menos as considerava em qualquer decisão. Agora, há uns senhores que tiram fotografias a cartazes e as levam à «autoridade»; e há processos disciplinares…

Mas há, ou não, limites?
Há. O do cumprimento das ordens.

Este é um problema dos governos?
Se alguém tivesse tentado fazer o que a ministra da Educação e o ministro da Saúde fizeram, sei que os primeiros-ministros que conheci não consentiam. Estou a falar de Mário Soares, Sá Carneiro, Balsemão… Não toleravam com certeza esse género de coisas.

Os portugueses valorizam suficientemente a liberdade?
Claro que não. Caso contrário, não seria pensável denunciar pessoas. Isto vem de muito longe. Nunca fomos uma sociedade liberal e o funcionalismo público nunca foi neutro.

Como interpreta a crescente abstenção dos portugueses nos actos eleitorais?
Independentemente da abstenção, as últimas presidenciais e as eleições na Câmara de Lisboa mostram o descrédito dos partidos. Os eleitores identificam-se pouco com os partidos. Não votam em quem o partido manda. Identificam-se mais com indivíduos do que com partidos. A crise de representação é óbvia. A maioria absoluta de Sócrates foi uma maioria de pânico. O país não queria Santana Lopes…

Votou na eleição de Lisboa?
Não votei. Fui um dos abstencionistas. Se votasse em alguém seria em António Costa. Não votei nele porque não se diferenciou suficientemente da política governamental, sobretudo da política autoritária de Sócrates. Realisticamente era a única pessoa que oferecia alguma confiança.

Que fazer da democracia representativa?
Não sou apocalíptico. O mundo está para acabar desde que começou! As democracias têm fases melhores e piores. E nós temos 30 anos de democracia. Não estou pessimista.

E o papel da imprensa?
Não há hoje em Portugal um grande jornal de referência, como foi o Diário de Notícias. Não há um jornal que determine a opinião e influencie o governo. O único que há é o Público e não é muito forte. E talvez o Diário Económico… Devia haver grandes jornais de referência. A televisão não tem a possibilidade analítica da imprensa. Fazem muita falta contra-poderes na sociedade, contributos de racionalidade, limites ao oportunismo dos governos. A polémica sobre a OTA, por exemplo, foi saudável, apesar de não ter sido muito clara.


“Para a Constança e para mim, Roma é ‘a’ cidade”

Porque foge das multidões, prefere o DVD ao cinema. Os livros são a sua paixão. E só escreveria memórias se toda a gente sobre quem falasse já tivesse morrido.

Goza férias?
Tento…

O que são férias para si? Quebrar a rotina? Ter outro tipo de actividade? Ir para a praia? Viajar?
Gosto de viajar, mas viajar não me descansa. Tento descansar metade do tempo e viajar a outra metade. Estou velho.

As férias da sua vida já foram ou estão para vir?
As melhores férias são em Roma. Para a Constança [Cunha e Sá] e para mim, Roma é a cidade. Infelizmente, fumamos e a Itália proibiu o tabaco. Estamos a pensar em deixar de fumar.

Que anda a ler?
The Fall of Mussolini, de Philip Morgan. Não é um livro bom. A investigação não é má, mas o homem é pouco perspicaz.

E a escrever?
Não tenho idade para começar um livro novo. Uma investigação histórica demora anos e, embora não pareça, exige uma certa resistência física. Estou agora a tentar republicar o que escrevi de melhor. Investigo e corrijo algumas lacunas; e alguns erros. Já saiu um livro – A Revolução Liberal – com um prefácio novo. Vai sair, no dia 7 de Novembro, outro sobre as invasões francesas. 7 de Novembro é o dia em que há 200 anos Junot entrou em Lisboa. As invasões francesas são, para mim, a principal ruptura da nossa História moderna. O título é Ir para o Maneta. O «Maneta» era um general de Junot, o general Loison, que não tinha um braço. Fez uma campanha punitiva como reacção ao levantamento popular de 1808 e matou milhares de pessoas nas Beiras e no Alentejo. «Ir para o maneta» significava, e significa, morrer. No próximo ano vou reunir todos os meus ensaios históricos e políticos que estão dispersos. Serão muito emendados porque sei agora o que lá falta e o que está a mais. É a minha visão de Portugal e chamar-se-á Portugal. Em 2010, no centenário da República, vou reeditar O poder e o Povo.

Vai escrever as suas memórias?
Só escreveria memórias se toda a gente sobre quem falasse já tivesse morrido…

Porquê?
Para não correr o risco de ofender ninguém.

Sei que gosta de cinema, qual foi o último filme que viu?
Vejo filmes em DVD. Angustia-me ir às salas de cinema. Sinto-me mal no meio de multidões. O último filme que vi foi o Triunfo da Vontade, de Leni Riefensthal. Estou a preparar um curso sobre a Europa de antes da I Guerra até ao início da II Guerra e li um livro sobre Hitler. Tive uma dúvida sobre se em 1934 era absolutamente claro que Hitler queria a guerra. Vi o filme e fiquei de boca aberta: só um acéfalo é que não percebia. Aquilo era uma declaração de guerra. Ao mundo!

Quais são os seus grandes prazeres?
O maior prazer é ler. É a possibilidade de ao fim de três páginas estar em Roma ou nos problemas da Madame Bovary… É uma forma de sair do mundo.

Auto-retrato:
Auto-retrato? Está a pensar na frase do Sinatra: «Frank Sinatra, barítono.» Digo o mesmo: Vasco Pulido Valente, historiador e jornalista. Gostava que fosse tão boa como a do Sinatra, mas não é! Eu infelizmente também não sou o Sinatra.

Perfil
Tem 66 anos. O seu avô materno foi um revolucionário do 5 de Outubro e membro do Partido Democrático de Afonso Costa. Era jacobino e ateu. Os filhos também e os netos não escaparam. Só que os pais de Vasco Correia Guedes – o seu verdadeiro nome, mas que o próprio trata por pseudónimo – deixaram de ser revolucionários antes do filho se tornar adulto. Nem teve fé na revolução nem a perdeu. Vasco orgulha-se de ter sido sempre um homem sem fé. O que não quer dizer que não tenha convicções. Mais social-democrata, oscilou entre a direita e a esquerda, entre Sá Carneiro e Mário Soares. Na síntese de hoje, procura conjugar «um máximo de liberdade com o igualitarismo indispensável». É talvez o mais lido e temido colunista português. Tem uma escrita assertiva, tantas vezes cortante. Foi jornalista em O Independente e secretário de Estado da Cultura de Sá Carneiro. Licenciou-se em Filosofia pela Faculdade de Letras de Lisboa e doutorou-se em História pela Universidade de Oxford. É investigador-coordenador do Instituto de Ciências Sociais e autor de vários ensaios «O Poder e o Povo», «Os Devoristas», «Os Militares e a Política», «Glória», «Um Herói Português – Henrique Paiva Couceiro»… Vasco Pulido Valente gosta de dizer que a vida é como um funil que se vai estreitando de possibilidades. Por enquanto, não lhe faltam verbo e lucidez, mesmo que as suas opiniões raramente coincidam com as do público. Ou talvez por isso.

http://diarioeconomico.com/edicion/diar ... 26864.html
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por Keyser Soze » 16/8/2007 13:42

e ninguém fala do Hu Jintao, Presidente da China?

só ganha 274 euros


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por nunofaustino » 16/8/2007 13:30

LS Escreveu:
nunofaustino Escreveu:
LS Escreveu:
DN, 16-08-2007 Escreveu:Sócrates ganha mais que Putin



Tb se poderia dizer que ele ganha menos do que o sarkozy ou um quarto do bush... depende do ênfase que se quer dar à notícia...

Um abr
nuno


Como tive oportunidade de referir no post seguinte, o enfase do titulo para mim está errado. Coloquei o excerto precisamente pela razão oposta.


So agora é que vi o teu segundo post... e concordo contigo :).

Um abr
Nuno
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por Keyser Soze » 16/8/2007 13:00

kostta Escreveu:1º o facto da empresa nao ser eficiente, nem sempre resulta do facto de haver melhores empresas no mercado. (outros exemplos: compadrios, cunhas,...)

isso acontece muito em Portugal: nas autarquias por ex. alguns construtores ajem em conluio com os autarcas para alterar PDM´s e obter licenças de construção....mas isso é um sintoma do estado corporativo e de interesses que identifiquei anteriormente...é um exemplo claro como o estado, o poder público interfere na economia e provoca distorções

repara uma coisa para dizermos que uma empresa é ineficiente é pq temos um termos de comparação, é pq há pelo menso outra empresa q trabalha melhor



2º nunca me viste a dizer que era a favor de injectar subsidios nas empresas

ok ... mas para as coisa funcionar como quer a solução teria q ser injectar dinheiro via subsidios pq a empresa per si não é sustentável


3º claro que o ze povinho tem direito a ser patrão e ate tomar conta da empresa. Não esquecendo que para tal é necessario dinheiro, dinheiro esse que, na maioria das vezes, não está disponivel.

não sei se te apercebeste, mas estamos no meio de um mini-crash bolsista por causa dos excessos e da facilidade em obter crédito


4º isto tudo começou pela facto de dizeres que o que se passa no privado nao te influencia, apenas te influencia o que se passa no publico. E o que eu quero dizer é que o que se passa no privado, influencia o estado, influenciando TODOS os contribuintes. Se o estado nao recebe os impostos, os descontos para a seg. socialm, se vai ter que pagar subs de desemprego, todos os contribuintes estão a pagar por isso.

explica-me como é que uma empresa que perde a competitividade, que é ultrapassada pela concorrência e começa a perder receitas e a ter prejuizo vai buscar o dinheiro para pagar os impostos, salários, descontos para a SS ?

5º tira-me uma duvida: pq nao defendes o sector da saude todo privado?

o preço do mercado para muitos tratamentos seria inacessivel para muita gente

ums sistema misto publico/privado talvez funcionasse melhor
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por LS » 16/8/2007 12:39

nunofaustino Escreveu:
LS Escreveu:
DN, 16-08-2007 Escreveu:Sócrates ganha mais que Putin



Tb se poderia dizer que ele ganha menos do que o sarkozy ou um quarto do bush... depende do ênfase que se quer dar à notícia...

Um abr
nuno


Como tive oportunidade de referir no post seguinte, o enfase do titulo para mim está errado. Coloquei o excerto precisamente pela razão oposta.
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por kostta » 16/8/2007 12:18

1º o facto da empresa nao ser eficiente, nem sempre resulta do facto de haver melhores empresas no mercado. (outros exemplos: compadrios, cunhas,...)


2º nunca me viste a dizer que era a favor de injectar subsidios nas empresas

3º claro que o ze povinho tem direito a ser patrão e ate tomar conta da empresa. Não esquecendo que para tal é necessario dinheiro, dinheiro esse que, na maioria das vezes, não está disponivel.


4º isto tudo começou pela facto de dizeres que o que se passa no privado nao te influencia, apenas te influencia o que se passa no publico. E o que eu quero dizer é que o que se passa no privado, influencia o estado, influenciando TODOS os contribuintes. Se o estado nao recebe os impostos, os descontos para a seg. socialm, se vai ter que pagar subs de desemprego, todos os contribuintes estão a pagar por isso.

5º tira-me uma duvida: pq nao defendes o sector da saude todo privado?
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por Keyser Soze » 16/8/2007 11:24

kostta Escreveu:
e qual é a tua alternativa !?

se tu tens em empresa ineficiente ( não a agir ilegalmente) gerida por gestores e/ou trabalhadores incompetentes, que produz mais caro e/ou de pior qualidade, o mercado (automaticamete, sem intervenção estatal) acaba por separar o trigo do joio, seleccionando e premiando os mais competentes, eficientes e produtivos

a tua idea parece-me que face a empresa em dificuldades, a dar prejuizo (provavelemente gerida por gestores incompetentes) o Estado deve enterrar lá subsidos para manter uma empresa ineficiente, ou seja:

premiar gestores incompetentes
premiar a concorrência desleal contra as empresas concorrentes que no mesmo negócio que são eficientes

isto foi em parte o que se passou com o Vale do Ave que vc tanto criticam


claro que sou contra manter empresas à custa de subsidios.
lembras-te de dizer que se as empresas privadas são inefecientes o problema é delas, num mercado concorrencial as empresas abrem falência ? é que quem fica prejudicado nao sao só as empresas somos todos nós. menos dinheiro de impostos, para as reformas, dividas a fornecedores, que tb nao podem pagar aos seus funcionarios, fornecedores, impostos, SEg. social, ...
E ´muitas das vezes de quem é a culpa da empresa falir? de quem cria a empresa, de quem dá as ordens. A culpa não é sempre doze povinho que trabalha o que lhe mandam fazer.


pensa um pouco no que acabaste de escrver...não faz mt sentido

se uma empresa é inefeciente é pq existem melhor empresas que ela no mercado, e se ela depois não consegue vender, não obtem receitas, e sem receitas como é que ela paga impostos, para as reformas, dividas a fornecedores, que tb nao podem pagar aos seus funcionarios, fornecedores, impostos, SEg. social, !?

o q acontece em Portugal é há muitas pessoas que pensam como tu, e em vez do mercado arrumar com as empresas "más" e as as "boas" cresceram e absorverem até parte dos deempregados das "más"

insiste-se em dar balões de oxigénio ás "más", ás custas dos impostos de toda gente, permeando a má gestão...




E ´muitas das vezes de quem é a culpa da empresa falir? de quem cria a empresa, de quem dá as ordens. A culpa não é sempre doze povinho que trabalha o que lhe mandam fazer.


ninguém diz o contrário

esqueces-te é de referi que os trabalhadores têm liberdade de iream trabalhar para outra empresa concorrente....ou até tomar conta da empresa e substituir-se ao patrão....olha como fez o Belmiro


já disse aqui: ser patrão não é um direito de nascença
o zé povinho se quiser tb pode ser patrão, tem é que chegar-se à frente e arriscar
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por nunofaustino » 16/8/2007 11:16

LS Escreveu:
DN, 16-08-2007 Escreveu:Sócrates ganha mais que Putin



Tb se poderia dizer que ele ganha menos do que o sarkozy ou um quarto do bush... depende do ênfase que se quer dar à notícia...

Um abr
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por LS » 16/8/2007 11:14

Apesar do titulo (que não é meu) do excerto longe de mim pensar que o vencimento do PM de Portugal exagerado. Pelo contrário, é mais um português mal pago. Que acaba, no fundo, por ser a grande maioria da população activa do país.
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por Keyser Soze » 16/8/2007 11:12

petar Escreveu:Keiser,
Onde está a do Medina?
Obrigados,
P


não está, ele não deu entrevista

(a ultima vez que o ouvi foi num programa da TSF, procura no site)

apenas queria dizer que o Ernani Lopes e o Medina Carreira são 2 pessoas a quem se deve prestar atenção qd falam

(se bem que nem sempre concorde com eles)
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por LS » 16/8/2007 11:03

DN, 16-08-2007 Escreveu:Sócrates ganha mais que Putin


SUSANA SALVADOR

O Presidente dos EUA, George W. Bush, é o líder dos países mais ricos do mundo com melhor ordenado, recebendo 24 167 euros por mês. O primeiro-ministro português, José Sócrates, que não entrou nas contas feitas pelo jornal alemão Bild, ganha mais que o Presidente russo Vladimir Putin e que o chinês Hu Jintao.

As férias de luxo do Chefe do Estado francês, Nicolas Sarkozy, nos EUA e as críticas que estas desencadearam levaram o Bild a contabilizar os salários dos líderes dos sete países mais ricos do mundo, mais a Rússia (G8) -, com a excepção do Canadá.

Bush lidera este ranking, seguido de perto pelo primeiro-ministro britânico Gordon Brown, com um salário mensal de 23 334 euros. Em terceiro lugar, o chefe do Governo da segunda maior potência económica do mundo, o Japão. Shinzo Abe recebe 21 910 euros. A única mulher do grupo, a alemã Angela Merkel, surge em quarto lugar com 20 427 euros, seguida pelo primeiro-ministro italiano, Romano Prodi (18 900 euros).

Só depois vem Sarkozy, com um salário de 6600 euros. Uma "miséria", diz o jornal italiano La Repubblica, lembrando o poder e a responsabilidade do líder francês - que, no limite, tem a última palavra sobre o uso de "370 bombas atómicas". Mais mal pagos somente Putin, com 4860 euros, e Hu Jintao, com escassos 274 euros - 88 vezes menos do que Bush.

O Presidente americano não se pode, contudo, gabar - o primeiro-ministro de Singapura, Lee Hsien Loong, ganha cem mil euros por mês, segundo a contabilização feita recentemente pelo semanário francês L'Express.

As contas do Bild não incluem outros rendimentos e benefícios de que os líderes destes países usufruem. Assim, por exemplo, o abismo entre o ordenado do primeiro-ministro italiano e o do Presidente francês pode explicar-se pelo facto de não terem sido contabilizadas as pensões que Sarkozy recebe por ter ocupado outros cargos. Jacques Chirac, o seu antecessor, recebia mais 13 mil euros para além do salário de 6600 euros.|


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por kostta » 16/8/2007 10:42

e qual é a tua alternativa !?

se tu tens em empresa ineficiente ( não a agir ilegalmente) gerida por gestores e/ou trabalhadores incompetentes, que produz mais caro e/ou de pior qualidade, o mercado (automaticamete, sem intervenção estatal) acaba por separar o trigo do joio, seleccionando e premiando os mais competentes, eficientes e produtivos

a tua idea parece-me que face a empresa em dificuldades, a dar prejuizo (provavelemente gerida por gestores incompetentes) o Estado deve enterrar lá subsidos para manter uma empresa ineficiente, ou seja:

premiar gestores incompetentes
premiar a concorrência desleal contra as empresas concorrentes que no mesmo negócio que são eficientes

isto foi em parte o que se passou com o Vale do Ave que vc tanto criticam


claro que sou contra manter empresas à custa de subsidios.
lembras-te de dizer que se as empresas privadas são inefecientes o problema é delas, num mercado concorrencial as empresas abrem falência ? é que quem fica prejudicado nao sao só as empresas somos todos nós. menos dinheiro de impostos, para as reformas, dividas a fornecedores, que tb nao podem pagar aos seus funcionarios, fornecedores, impostos, SEg. social, ...
E ´muitas das vezes de quem é a culpa da empresa falir? de quem cria a empresa, de quem dá as ordens. A culpa não é sempre doze povinho que trabalha o que lhe mandam fazer.
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por petar » 16/8/2007 8:59

Keiser,
Onde está a do Medina?
Obrigados,
P
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por Keyser Soze » 16/8/2007 8:16

JAM Escreveu:Leiam a entrevista do presidente do Montepio ao Diário Económico que ele também fala destas treta dos vencimentos milionários de alguns. Vale a pena ler não só por isso, mas porque o homem tem uma abordagem muito "terra a terra" em relação a questões importantes. Acima de tudo acho que ele tem mais lucidez que a maioria...


sim ... o Medina de Carreira tb vale a pena ouvir (ainda mais pessimista que este)

algumas das coisas que ele disse vão em linha o que escrevi aqui (até fala do Belmiro ehehe)... outras nem tanto


Edição Impressa - Destaque
Entrevista a Silva Lopes 2007-08-16 00:05
"Esta é a maior crise financeira dos últimos anos"
Para o presidente do Montepio Geral e histórico economista não há dúvidas: o crédito vai ficar mais caro para todos.

Helena Garrido

O preço do financiamento da banca, das empresas e dos clientes em geral vai aumentar na sequência desta crise com origem no crédito à habitação nos Estados Unidos, afirma Silva Lopes. Actualmente a presidir o Montepio Geral, afirma que os bancos em geral andaram a medir mal o risco. A partir de agora vai aumentar a diferença entre a taxa de juro cobrada a um cliente de elevado ricos e outro menos arriscado. Nos últimos tempos estes ‘spreads’ estavam demasiado estreito. O que significa que, mesmo sem o BCE aumentar as taxas de juro, o custo do financiamento pode subir, com efeitos na banca, nas empresas e nas famílias. Na sua opinião, os lucros da banca portuguesa já não vão ser tão positivos no segundo semestre. E lembrando a crise de 1929, considera que o sector financeiro devia ser mais regulamentado. Esta é, diz, a maior crise financeira dos últimos anos,

Considera que Portugal corre o risco de enfrentar uma crise como a que foi desencadeada pelos Estados Unidos com a ‘subprime’ [ crédito à habitação concedido a famílias com reduzidos rendimentos]?
Não. Como sou pessimista depois tenho sempre muitas surpresas agradáveis. Pensava que com o aumento do desemprego iríamos ter problemas de crédito malparado na banca, por via da habitação, em grande quantidade. O que não está a acontecer. Há alguns sinais de degradação da situação com o aumento das taxas de juro, mas não é muito. Para mim tem sido uma surpresa.

Mas a banca portuguesa também concedeu empréstimos a famílias de rendimentos reduzidos como nos Estados Unidos?
Não sei comparar o que se fez aqui com os Estados Unidos. A concorrência no crédito à habitação tem levado a oferecer condições que não são positivas.

O que é que isso significa? Que a banca enfrenta elevados riscos?
Na minha opinião, a relação entre o risco e o preço [taxa de juro cobrada pelo banco] não é adequada. Quando o risco é elevado o ‘spread’ deve ser alto. Embora os bancos tenham modelos de ‘pricing’ baseados no risco não confio muito neles.

Isso significa que o crédito malparado não aumentou até agora mas vai subir a prazo?
Não sei. Se a tendência for a dos últimos anos, podemos estar tranquilos. Mas um problema de ‘subprime’ tem maior risco de ocorrer em Espanha. Em Portugal o que podemos é ser afectados por uma crise espanhola. Em Espanha os bancos estão a emprestar a imigrantes, uma classe de elevado risco.

Como é que podíamos ser contagiados por Espanha?
Uma crise económica em Espanha afectava logo Portugal. E a instabilidade financeira contagia-se rapidamente. Aliás, estou convencido que a banca portuguesa não vai apresentar lucros tão positivos no terceiro trimestre deste ano.

A banca portuguesa depende significativamente do sector da construção, financia a construção e a compra de casas, num circuito está fechado. O sector está em queda há cinco anos. Vemos casas à venda por todo o lado. Como se explica que isso não seja visível nas contas dos bancos?
Os preços das casas não baixaram… Bem, nos Estados Unidos também não. Mas aqui há muito negócio bancário de transferência de crédito à habitação.

E do lado do crédito concedido às empresas de construção?
Mas esse crédito está a abrandar. Mesmo os empréstimos para habitação estão a crescer menos. Hoje já ninguém financia projectos marginais. A banca continua a financiar a construção de casas em Lisboa, mas à volta da cidade não.

Mas entretanto já o fizeram no passado.
Sim, mas de uma maneira geral os construtores conseguiram vender as casas. Quando não o conseguem damos uma dilatação do crédito. Em geral são três anos para a construção e dois para a venda das casas. E são poucos os eu não cumprem.

Porque diz então que os resultados da banca não vão ser tão bons em Setembro?
Por causa dos mercados financeiros. Hoje o mercado de crédito, com os derivados e os diversos intervenientes, é um edifício tão complexo que já ninguém sabe o que é aquilo. A Bear & Stearns [banco de investimento que foi dos primeiros a ser afectado por esta crise de crédito] confessou que não sabia quanto é que estava a perder com esta crise. Os modelos são de tal forma complexos que já ninguém sabe os seus efeitos. Por exemplo uma família americana compra uma casa com crédito, esse crédito é vendido a outra instituição com uma titularização, estes títulos são comprados um ‘hedge fund’ que por sua vez faz um crédito sobre aquilo… É criada uma rede que ninguém conhece. Nos anos 90 registou-se a falência do ‘Long Term Capital Management’ que tinha entre os seus gestores um Prémio Nobel. Os modelos matemáticos são muito bonitos, mas falha um pormenorzinho e cai tudo. Neste momento há muitos títulos que não se conseguem vender. E o sinal de que o problema é grave está na intervenção dos bancos centrais.

Os bancos centrais intervieram de forma muito significativa…
Esperemos que consigam resolver o problema. A minha convicção é que [com esta crise] vão acabar os reduzidos ‘spreads’ que estamos a aplicar nos empréstimos ou que temos tido na obtenção de financiamento. Os bancos portugueses conseguem financiamento com ‘spreads’ face às obrigações do tesouro alemãs [bunds] de 15 a 30 pontos base. O Montepio faz emissões com ‘spreads’ de 22 pontos face às obrigações do Tesouro alemães [‘bunds’]. Isto vai-se alargar. Nunca mais voltamos a beneficiar destas margens. Os ‘spreads’ vão aumentar de uma forma permanente e os bancos e os clientes terão alguns problemas com isso. O crédito aos consumidores e às empresas vai ser mais caro.

Significa que vai existir uma maior ligação entre o custo do financiamento e o grau de risco.
Sim, maior do que existia. O que acontecia até agora em todo o mundo era que a diferença entre os ‘spreads’ de dívida muito boa, com rating ‘AAA’ e menos boa, como BBB, eram de tal maneira pequena que mesmo os devedores com risco elevado conseguiam empréstimos baratos. Daqui para a frente já não vai ser assim.

Porque diz isso?
Pelo que se passou nesta crise. Demonstrou-se que a avaliação do risco é importante. E o risco estava a ser mal medido nos mercados financeiro e, provavelmente, na relação entre os bancos e os clientes.

Esta crise de crédito pode traduzir-se numa crise económica ou os bancos centrais conseguirão controlar o problema?
Não sei. O problema é bastante sério. É um problema maior que a crise do ‘Long Term Capital Management’ [em 1998 que impôs uma intervenção da Reserva Federal]. E a do 11 de Setembro não foi uma crise financeira. Esta é provavelmente a maior crise financeira dos últimos anos. Esperemos que os bancos centrais consigam que a situação se ultrapasse. O sistema é de tal forma complicado que não se sabe bem o que pode acontecer. Os banco centrais têm de ter o mercado mais regulado.

Mais regulado do que é hoje?
Exactamente. Têm de reforçar a regulação deixando apenas o mercado livre para quem não utiliza o dinheiro do público. Se for milionária e quiser aplicar o dinheiro num ‘hedge fund’ extremamente arriscado, ninguém pode impedir.

Mas se esse fundo se for financiar na banca?
Aí já não deve ser permitido. É preciso isolar as actividades de elevado risco das outras. Aliás foi o que se fez a seguir à crise de 1929. Mais tarde é que se desregulou tudo. Sou um economista antigo, vejo as regulações que tínhamos e que hoje já não existem e fico um bocado preocupado.

Essas regulamentações foram consideradas excessivas e desnecessárias.
Vamos ver se agora não chegamos à conclusão que afinal são necessárias.

Foi a conclusão a que se chegou em 1929, após um período de desregulamentação?
E a crise de 1929 gerou a regulamentação de que nos livrámos nos anos 80. E agora vamos ver.

Temos novos sistemas de informação como Basileia II, as NIC e ao mesmo tempo consideramos que não conseguimos conhecer bem o que se passa dentro da caixa do sistema financeiro. Porquê?
Porque os produtos derivados nunca foram bem regulados. São de tal forma complexos que nem os próprios administradores conseguem saber quanto estão a perder.

Como avalia o que se está a passar no BCP?
Acompanhei mal esse processo. O que vou dizer aplica-se ao governo das sociedades em geral. As grandes companhias não familiares têm de ter um conselho de supervisão ou de administração e uma comissão executiva. Já tivemos em Portugal casos em que o ‘charmain’ se deu bem e se deu mal com o conselho executivo. Por exemplo, o caso da CGD em que se deram mal. Agora temos o BCP. Isto acontece. Temos casos em que se dão bem, mas com excepção do BPI, não se sabe o que anda a fazer o ‘charmain’, nunca se ouve falar nele. Também não me parece uma boa solução. Aqui no Montepio também estamos a estudar essa questão da governação. O que me parece a melhor solução é a comissão executiva ser nomeada e demitida pelo conselho de supervisão ou de administração. E este deve ser removido pela assembleia geral de accionistas.

Foi o que foi proposto por Jardim Gonçalves na primeira assembleia geral.
Parece-me que é a prática da maioria dos outros países. Mas há outras questões que também são importantes, especialmente num banco, que é a relação entre o conselho geral e o próprio banco. Podem-se criar relações de cumplicidade prejudiciais para os accionistas. Daí que seja importante que as transacções com membros do conselho de administração sejam publicitadas, o que é uma recomendação da OCDE. Além disso o conselho de administração deve ter um grupo significativo de pessoas independentes e com uma reputação a defender.

O debate de quem ganha o quê não é um bocado mesquinho?
Não, nem pensar, não é nada mesquinho. Uma das recomendações da OCDE é que as remunerações do conselho de administração devem ser debatidas em assembleia geral. Tem importância porque vimos nos Estados Unidos os executivo ‘raparem’ o dinheiro aos accionistas. E um país em que certas pessoas ganham mil vezes mais que outros tem um problema social. Se o sector privado produz isto faz mal. Há algum critério que justifique que o presidente de uma grande empresa portuguesa ganhe 20% mais que o seu homólogo numa grande companhia francesa, onde também o ganho já é escandaloso? Temos casos destes em Portugal. Há um grande debate em França, Reino Unido, nos Estados Unidos… Em Portugal não se debate nada. Vemos por exemplo casos de gestores que ganham fortunas à frente das empresas, saem por que a empresa está a perder dinheiro mas recebem um ‘pára-quedas dourado ’. E os accionistas ficam a ver navios. Já pensou porque é que o BCP saiu da bolsa de Nova Iorque?

Porque não se debate da remuneração em Portugal quando o vemos acontecer noutros países?
Há mais concorrência, uma vida académica activa e jornalistas com peso.


Há mais margem para maior concentração no sector bancário?
Se não for no grupo dos cinco grandes, provavelmente há.

Discorda de Jardim Gonçalves quando diz que ainda margem para maior concentração?
Discordo. As concentrações podem ter como objectivo melhorar a eficácia ou aumentar o poder de mercado. Há outros objectivos, como o ego de quem promove a concentração, a participação nos lucros que é maior se a empresa for maior. Mas discuto apenas os outros factores. Quanto à eficiência, nenhum dos cinco grandes me parece ineficiente. Não há nenhum melhor que os outros. E se um deles se tornar ineficiente deve ser comprado por outro que não esteja no mercado português. Se um dos grandes banco for comprado pelo Bilbao Viscaya não vejo problema. Mas se for o Santander já se levantam problemas.

Não vê problema em ser um banco estrangeiro?
Não. Essa questão dos centros de decisão nacional é um falso problema, uma hipocrisia. O Totta é um bom exemplo: fez a fortuna de Champalimaud, de Roquette e de mais alguns. E nas mãos do Santander traz mais problemas à economia portuguesa do que quando pertencia a Champalimaud? Penso que não. Até é um banco mais eficiente. Hoje não há centros de decisão nacional. É engraçado ver que algumas pessoas que assinaram aquele manifesto venderam depois as suas empresas. A privatização do Totta é um bom exemplo. Eu aliás sou muito crítico em relação às privatizações.

Mas porquê?
Recentemente privatizou-se a REN. Se calculávamos que as acções iam subir porque não fez o Estado um leilão?

Um dos argumentos do ministro das Finanças é que o Estado tem uma credibilidade a defender e que o valor a que foram vendidas as empresas estabiliza a longo prazo no preço da privatização. Um dos exemplos é a EDP. Considera um bom argumento?
Não. Todas as mais-valias que as pessoas andam à procura é tirar dinheiro aos portugueses, aos que não subscreveram acções nas privatizações.

A bolsa portuguesa, considera que está eufórica?
No conjunto dos 27 países da UE somos a economia que cresce menos e temos a bolsa que sobe mais. Não é preciso dizer mais nada. Os nossos PER estão elevados, não? Se tiver de investir em acções não o faço na bolsa portuguesa.

Esta conjuntura económica portuguesa de divergência tem algum paralelo histórico?
No período posterior à II guerra mundial não há paralelo histórico. Os períodos anteriores à guerra não são comparáveis. Desde o fim da II guerra Mundial nunca tivemos um período tão prolongado de tão fraco crescimento como agora. Antes da guerra tivémos tempos de maior recuo. Mas a economia não tinha qualquer semelhança com a de hoje, dependia muito das condições meteorológicas ou perturbações nas importações.

Considera possível o regresso da convergência para breve?
Um dia acontecerá. Não sei é quando.

Não é viável a perspectiva do ministro das Finanças de que será em 2009?
É possível… É conhecido que sou pessimista. O comportamento das exportações o ano passado surpreendeu-me um bocado. Mas também temos de colocar a questão em perspectiva, porque em 2006 ainda perdemos alguma quota de mercado, o que acontece desde 1990. Nas exportações e no mercado interno estamos a perder quota de mercado há mais de 15 anos. Não soubemos reagir a este movimento de globalização, de liberalização e de entrada dos novos membros na UE.

O Banco de Portugal revela que o perfil das exportações se tem alterado…
Estamos a registar alguma melhoria na composição das exportações, com mais tecnologia, mas tudo isso ainda tem pouco peso. A grande fonte que tínhamos de vendas para o exterior era o investimento estrangeiro orientado para a exportação. E como temos visto muitos deles têm saído do país. Vão surgindo novos mas não sabemos qual é o peso dos subsídios dados pelo Estado nem o valor acrescentado nacional que criam.

Mas qual a importância disso desde que se crie valor acrescentado?
Mas que valor acrescentado é que vai criar? Duzentos empregados, eventualmente. O resto é tudo estrangeiro: o capital, os equipamentos, os lucros vão para o exterior… O que fica cá? Nem sequer os impostos, fica apenas a remuneração dos empregados. Qual é a elação entre este valor acrescentado e o subsídio que se deu? Este tipo de análise não se faz, não é parte da propaganda oficial…

Era capaz de compensar subsidiar as pessoas que seriam empregadas?
Bem, uma parte desse subsídio que se dá à empresa vem da União Europeia. Mas de facto pode não ser a melhor aplicação de recursos. Penso que devíamos ter uma política de subsídios transparente: conhecer os objectivos, os critérios de escolha e numa democracia até se devia saber quanto é que se dá a cada projecto, pois é dinheiro público. Por exemplo, devemos ter pago uma fortuna para a Autoeuropa cá ficar. Não sabemos. Mas estou convencido que foi um bom investimento, o tal subsídio por causa da indução de outros valores como entrada de tecnologia, criação de outras empresas, volume elevado de emprego… Mas gostava de ter acesso aos cálculos, que existisse um sítio na Internet onde pudéssemos ver.

Pensa que esses estudos são feitos ou é tudo concretizado de forma discricionária?
Não sei. Isto que se tem discutido dos aeroportos, do TGV… Ouvimos falar que existem centenas de estudos mas não sabemos nada. Conhece algum estudo global sobre o aeroporto na Ota?

Com avaliação de custos benefícios?
Exactamente. Quando dizemos que não há estudos, dizem que está na Internet, vamos lá e de facto encontramos centenas de coisas… Mas é o itinerário do estorninho no campo do aeroporto… Não é assim que se tomam decisões.

Mas considera que há subsídios que estão a ser dados assim?
Não sei. A opinião pública não sabe. Conhece?

O que conhecemos são anúncios esporádicos de projectos de investimento.
Mas em relação a esses projectos não sabemos qual o subsídio que se deu e a sua justificação económica. Devíamos saber. Até acredito que muitos são positivos.

Qual é a sua opinião sobre o projecto do TGV (comboio de alta velocidade)?
No caso do TGV para o Porto nem é preciso estudos económicos. Devemos adiar o projecto. Segundo se afirma vamos ganhar 20 minutos em relação à linha actual. Não vejo qualquer vantagem económica em gastar aqueles mil milhões todos para isso. Ainda apor cima depois de se terem gasto já mil milhões de euros na linha do Norte. O que não quer dizer que daqui a dez anos, com mais crescimento económico, não se possa fazer. Não fecho a ideia até porque sou um fã de comboios.

Devia-se dar prioridade à ligação entre Lisboa e Madrid?
Essa ligação é mais por razões de prestígio nacional do que de cálculo económico. Não acredito que vamos ter um tráfego para Madrid que possa tornar a linha rentável a curto prazo. Sou a favor porque será integrada numa rede de transportes europeus e o orgulho nacional ficaria afectado se a linha de TGV acabasse em Badajoz. E, como seja qual for a solução, para o aeroporto é preciso fazer um TGV, prolonga-se até à fronteira.

Não existem razões económicas? Facilita a integração ibérica, há muitos portugueses a trabalhar em Espanha e espanhóis em Portugal…
Não acredito que o TGV possa oferecer preços parecidos com os das companhias aéreas de ‘low cost’. O que é fundamental é uma rede de bitola europeia para mercadorias. Há quem afirme que o TGV, sendo bitola europeia e não sendo rentável para passageiros, será usado para mercadorias. Mas as mercadorias não precisam de TGV. Precisam é de bitola europeia.

O que pensa do debate sobre as alternativas à Ota?
É um tema tão complexo. Tenho-me guiado pelo que os engenheiros vão dizendo. E, como em todas as profissões, dizem coisas diferentes. Convenceram-me de que é preciso outro aeroporto. Na Ota, o que dizem os engenheiros, é que tem custos monstruosos de remoção de solos e o problema de não poder ser ampliado. Se isto é verdade, a escolha da Ota é um disparate. Nem percebo porque se andou a perder tanto tempo com aquilo. Se Alcochete resolver o problema, deve escolher-se essa localização.

Há pouco dizia que não consegue antecipar o regresso da convergência. Quais são os principais condicionalismos para um crescimento mais rápido da economia?
O grande problema está na qualificação. Muita da nossa mão-de-obra não tem qualificações para trabalhar em indústrias modernas. E o país só pode progredir com uma mudança estrutural da sua produção de bens e serviços transaccionáveis. Como enfrentamos a concorrência da China, da Índia, da Turquia temos de ir para produtos de tecnologia intermédia em que a proximidade da Europa seja um factor importante. Embora aí estamos pior que os polacos ou que os húngaros que, além da situação geográfica, têm um nível cultural superior. Os húngaros podem não ter tantos carros como nós, nem tantos telemóveis, mas é uma vergonha a diferença cultural entre nós e eles.

Pensa que em Portugal existiu uma inversão de valores, um excesso de valorização de casas, automóveis…
Temos uma tradição de valorizar pouco a educação. Em 1960 tínhamos taxas de analfabetismo que os outros países europeus já tinha reduzido para valores mais baixos um século antes. Neste domínio andamos cem anos atrasados. Ultimamente aumentámos o número de alunos, produzimos universitários de um nível muito elevado. Em valor absoluto, comparativamente ao passado, estamos muito melhor. Infelizmente muitos dos bons ficam lá fora. Os portugueses hoje mandam os filhos para a escola, antes não o faziam. Mas não é para aprender é para tirar o canudo. Os pais agridem os professores porque não passam os filhos.

Não se valoriza o conhecimento…
Entre os emigrantes, por exemplo, os portugueses mandam menos os filhos para a universidade que as outras comunidades. Há qualquer coisa de atávico de não valorizar o conhecimento, a formação. O resultado é que temos a população activa da Europa com menos qualificações. E se olharmos para outros países europeus… A Grécia e a Espanha estavam atrasados e ainda estão. Mas se compararmos o progresso deles com o nosso vemos a diferença. Ando a dizer isto há muitos anos. O problema do ensino é a maior vergonha nacional. E é por causa da qualidade. O ensino tem sido governado por grupos de interesses e não pelo interesse nacional. Os pedagogos… Por exemplo, sem exames não conseguimos andar para a frente. Há alguns alunos universitários que não sabem somar um meio com um terço.

E a política que esta ministra da Educação está a seguir?
Esta ministra da Educação já tomou medidas muito positivas, mas não fez tanto quanto devia fazer. Tem sido muito atacada, o que é bom sinal. Os ministros que mais admiro no Governo são os que aparecem no fim da classificação na opinião pública. Os ministros da Saúde, da Educação e das Finanças…

O ministro das Finanças mesmo assim não é muito impopular.
Os ministros que aparecem em primeiro lugar são em geral os dos Negócios Estrangeiros, da Cultura… que não têm problemas com a população. Os grandes ministros estão a fazer grandes reformas. O ministro da Saúde, por exemplo, está em último lugar.

O ministro da Saúde não tem falhado na explicação das reformas?
Se calhar quem tem falhado somos todos nós, não é só o ministro. Quando a imprensa o critica porque fechou uma maternidade, deve perceber o que se pode fazer com o que se poupa por isso: melhorar outra maternidade. Por exemplo, aqueles centros de saúde que estavam abertos sempre, durante a noite ia lá uma pessoa ou outra por semana e estavam lá um médico e uma enfermeira, com certeza a dormir, e durante o dia faltavam médicos. Acabou-se com o período nocturno e o diurno é mais eficaz. Toda a gente pensa que o orçamento é um saco sem fundo. Não pode ser. O problema da saúde vai ser o mais grave no futuro. Vamos ter de limitar o apoio sanitário às famílias portuguesas. As pessoas não gostam, mas tem de ser. Não há dinheiro.

Não concorda com a baixa de impostos?
De maneira nenhuma.

Se a situação orçamental melhorar…
Mesmo que a situação orçamental melhore, há duas rubricas que aumentarão sempre: a segurança social e a saúde. Na educação já se cortou despesa mas provavelmente ainda se pode poupar mais alguma coisa. Assim como ainda se podem cortar despesas em muitos serviços públicos com pessoal a mais. Mas se olharmos para o que gastamos em segurança social comparativamente a outros países europeus, e com o que está a acontecer à mortalidade e natalidade, verificamos que a despesa vai ter de aumentar. Mesmo com as medidas já tomadas na segurança social, uma das mais importantes adoptadas por este Governo. Bem sei que há pessoas que defendem que se deve privatizar tudo. Mas isso é o sistema americano e eu não o quero cá.

Mesmo que o equilíbrio orçamental seja atingido em linha com o previsto no Programa de estabilidade, não é recomendável baixar impostos por causa das perspectivas de aumento de despesa no estado social?
Claro, exactamente. Não quer dizer que não exista correcção de impostos. No IRC nós temos um problema de competição fiscal internacional. Aliás, penso que o mundo está bastante mal. O capitalismo mundial anda num delírio que dificilmente é sustentável.

Mas há quem defenda que se devia baixar o IRC e aumentar os impostos indirectos…
Mas se uns querem que se baixe o IVA por causa da Espanha, que tem uma das taxas mais baixas da Europa enquanto o nosso é dos mais altos. Quanto ao IRC, não quer dizer que não sejamos obrigados a baixar por causa da competição fiscal internacional que é terrível. Mas não está provado em parte nenhuma que a baixa de IRC aumente o crescimento económico. Ninguém sabe qual é a taxa que corresponde à inversão na curva de Laffer.

O Dr Carlos Tavares refere que a baixa de IRC realizada no Governo de Durão Barroso não se saldou em queda de receitas…
Nesse caso a razão foi o aumento da eficácia fiscal. Muita gente não pagava impostos neste país. E agora pagam.

Esta eficácia fiscal não começa a violar alguns direitos dos contribuintes?
Considero que o interesse colectivo está à frente do interesse individual. Discordo destas questões que se levantam sobre o sigilo bancário. Como acontece noutros países, o fisco devia poder fiscalizar as contas bancárias de forma automática. Não deve é ser qualquer um a ver as contas, têm de ser pessoas credenciadas para esse efeito. E além disso tem de haver um processo rápido para se protestar contra ingerências abusivas do fisco.

E os tribunais também têm de ser rápidos…
Exactamente, rápidos e justos. Mas quando o interesse colectivo está em jogo, o fisco e a judiciária deviam ter acesso às contas bancárias. Obviamente que pode aumentar a circulação em notas.

Aumenta a economia paralela…
Sim, há esse risco. Temos de ter esse objectivo de maior eficácia fiscal com acesso a informação bancária. Mas este sistema tem de andar em paralelo com a eficácia e rapidez nas respostas à reclamação do contribuinte. A nossa lei nem sempre é muito clara e o fisco por vezes faz interpretações que são discutíveis e até absurdas, ignorando as consequências das suas decisões. Tal pode levar uma empresa à falência. O contribuinte corre o risco de ter de esperar quatro a cinco anos por uma decisão dos tribunais. Mas todos sabemos que o progresso que se fez no fisco nos último anos é espectacular.

Pensa que foi o resultado do trabalho desenvolvido pelo director-geral Paulo Macedo que deixou agora a função?
Claro.

Pensa que é injusto não ser possível pagar-lhe o salário que tinha?
Injusto não é a palavra. Do ponto de vista da eficácia económica, merecia aquele salário e até mais. Quando pertenci àquela Comissão para o Desenvolvimento da Reforma Fiscal defendi e escrevi que o director geral dos impostos dirigia a empresa mais importante de Portugal e como tal devia ganhar mais que o presidente do BCP. Nós em Portugal pagamos muito mal a uns e excessivamente bem a outros.

Concorda também com o que disse Paulo Macedo de que o primeiro-ministro e o presidente da república ganham muito pouco?
Sim, concordo. E ganham muito pouco porque há muitos que ganham de mais no sector privado. Paulo Macedo também disse isso. Qualquer dirigente de topo ou mesmo intermédio em algumas empresas ganha mais que o Presidente da República.

Mas são empresas privadas, não são pagos com dinheiro dos contribuintes.
Mas o problema é que quando se tem um perfil como Paulo Macedo entre ter um lugar público ou ceder à tentação de ir para um lugar privado onde vai ganhar dez vezes mais… O que se paga no sector público é pouco, mas o que paga o privado é de mais. Considera-se que são as forças de mercado…

Exacto…
As forças de mercado não funcionam neste caso. Só acredito nas forças de mercado quando há concorrência perfeita. Quando há imperfeições no mercado, não acredito. Por exemplo, liberalizámos os preços de alguns medicamentos e agora custam o dobro. Se o mercado não funciona, pois então voltemos à regulamentação.

Mas considera que o mercado só funciona se os preços caírem?
Um mercado que só funciona com os preços ao passarem para o dobro, não considero que deva existir.

Foi uma das vozes mais críticas em relação à falta de concorrência em Portugal, nomeadamente nos sectores das telecomunicações e da energia. Mantém essa posição?
Mantenho, continua tudo na mesma. Dizem-me que na energia nos estamos a aproximar, mas no outro dia estive a ver umas comparações e continuamos a ser o país com os preços mais altos. Na energia como nas telecomunicações não pode haver concorrência, têm de actuar as políticas públicas. Como nos medicamentos. Aprendemos que a concorrência perfeita dá óptimos resultados. Mas é raro existir um mercado de concorrência perfeita. Porque é que hoje uma empresa que não tenha um ROE [rendibilidade dos capitais próprios] de 15% considera que não está a desenvolver um bom trabalho? Se existisse concorrência perfeita as empresas não tinham de ter este objectivo. E não é só em Portugal, é em todo o mundo. O capitalismo está a servir-nos mal: a distribuição do rendimento está a piorar em todo o mundo, não sabemos onde vai parar a instabilidade no sistema financeiro e tudo de impõe pelo ‘marketing’. Aquela teoria que aprendemos de que o consumidor é soberano já foi posta em causa há muitos anos pelo Galbraith.

Mesmo hoje com as novas tecnologias considera que a oferta não é induzida pelo consumidor?
Estou convencido que, como dizia Galbraith, as empresas é que levam o consumidor a ganhar hábitos de consumo. Quando o consumidor resolve beber Coca-Cola em vez de ‘Pirolitos,’ como havia quando eu era novo, é por causa da Coca-Cola não pela soberania do consumidor. Eu gostava muito dos ‘Pirolitos’ lá da minha terra. E desapareceram. E não eram piores que a Coca-Cola.

A situação que se vive hoje no sector das telecomunicações persppectiva menos concorrência que a que se previa antes do lançamento da OPA da Sonae sobre a PT?
Não sou especializado nessa matéria. Naquela OPA não compreendi porque é que a Autoridade da Concorrência autorizava que a Sonae mantivesse as duas redes de telemóveis (TMN e Optimus). Na altura considerei que se a OPA tivesse vencido era capaz de ser melhor, existiria um ganho de eficiência. Mas entretanto a gestão da PT melhorou muito. O que defendo é que se separem as empresas.

A existência de accionistas comuns inviabiliza a concorrência?
Claro. Se os accionistas de controlo forem os mesmos nada acontece.

Mas como se pode impedir isso se estamos no domínio do sector privado.
Os americanos sabem fazer isso.

Considera que existe o risco de Portugal ter níveis de desemprego à irlandesa e à espanhola devido ao processo de reestruturação?
Admito que não, por causa da emigração. Há muitos portugueses a emigrarem outra vez.

O perfil da emigração é o mesmo dos anos 60?
Não. Nos anos 60 quem emigrava era o camponês analfabeto. Hoje emigram muitos que têm o secundário ou frequência do superior para trabalharem em cafés. E ganham uma miséria. E há um novo fenómeno de emigração que é o de pessoas qualificadas.

Fala-se muito dessa emigração qualificada. Mas tem ideia se tem crescido?
Tem crescido. Aliás os meus dois filhos são exemplo disso, são os dois emigrantes. E há que fazer uma crítica à política de bolsas de estudo. São pagas sem exigir o reembolso do dinheiro ou a obrigação de prestar serviços em Portugal, pelo menos cinco anos. Quando era isso que devia acontecer.

Portugal tem falta de mão-de-obra qualificada mas há emigrantes e desempregados entre as pessoas com mais qualificações. Isto é um paradoxo?
Não é. O país não criou indústria de ponta para essa tal mão-de-obra qualificada. A Irlanda atraiu muitos laboratórios e empresas de ‘software’. Nós não temos essa capacidade, não temos um número suficiente de pessoas qualificadas.

Mas também não há iniciativa empresarial?
Não há, mas se tivéssemos massa crítica os estrangeiros vinham para cá. Neste momento não nos podemos queixar da falta de iniciativa empresarial. Tenho uma grande admiração pelas pequenas e médias empresas que exportam. São os heróis da economia portuguesa, pessoas da indústria anónimas – com excepção de Américo Amorim que exporta cortiça e Belmiro de Azevedo com a madeira, os grandes grupos não exportam nada. Quem exporta em Portugal são as multinacionais e as pequenas e médias empresas. Mas esses não são famosos. Famosos são os que especulam na bolsa.

A política das contas públicas está no bom caminho?
O que está a acontecer nas contas públicas ultrapassa as minhas expectativas. Não pensei que se pudesse fazer tanto. Gostava que se fizesse mais mas penso que o que se tem feito é notável. É preciso fazer mais nomeadamente na reforma do Estado que por vezes parece que está a enfraquecer.

O ritmo das reformas não vai abrandar por entrarmos na segunda parte do mandato?
Não sei. O primeiro-ministro, apesar de ser muito atacado, continua a ter uma posição muito forte nas sondagens. Os portugueses não desgostam de alguém com capacidade de decisão. E como as suas decisões são em geral correctas… Foi uma grande surpresa para mim o facto de manter a popularidade, apesar das medidas difíceis que tomou. Espero que continue assim.

Não considera que existe alguma arrogância no governo, como afirma Mário Soares? Ou sintomas de autoritarismo?
Não. Admito que possa haver um caso ou outro. Mas fazer disso o que é mais importante… não. Não estou preocupado com isso. Preocupa-me mais a transformação económica e social, nomeadamente no sector público. O que têm feito é notável. Embora considere que se tem de fazer mais.

Os governos deviam ter poder para intervir mais na política monetária como de alguma forma propôs O presidente francês Nicolas Sarkozy?
O facto dos bancos centrais funcionarem à margem do sistema democrático preocupando-se só com a inflação não me parece uma boa ideia.

Porquê?
Porque a moeda não serve só para a inflação. A prova disso são as intervenções recentes que os bancos centrais fizeram, e bem. É verdade que o BCE tem tido bom senso e que as pessoas que estão nestas instituições são bem escolhidas. Reconheço que os governos podem ter a tendência para manipular politicamente os bancos centrais. O sistema actual deve manter-se. Mas considero que o BCE devia ser mais parecido com o norte-americano. No sentido de prestar contas ao Parlamento e de que a inflação não é o único objectivo. Devem preocupar-se com o crescimento mas também com o sistema financeiro. Colocar os bancos centrais na dependência dos governos, isso não.


“Quando vou num comboio a vapor, a apanhar fuligem na cara, fico radiante!”

Fã de comboios e de ópera, não se interessa por futebol. As melhores férias da sua vida foram-lhe ‘impostas’ pelos filhos.

Como vão ser as suas férias este ano?
Vou uma semana ao Sul de França fazer uma viagem de comboio a vapor. Sou fã de comboios.

E faz colecções de comboios?
Não, sou um fã moderado. Sou filho de ferroviário, vivi perto de caminhos-de-ferro quando era miúdo. Quando vou num comboio a vapor a apanhar fuligem na cara fico delirante.

É a sua imagem de felicidade, andar de comboio a vapor a apanhar fuligem na cara.
Exactamente.

E já andou no comboio do Douro?
Claro. Andei em todos os comboio do Douro. Aquela linha que acabou agora para Mirandela, passei lá um mês antes da enxurrada, este ano. E tenho um neto com dois anos que tem os meus defeitos.

Também é fã dos comboios, o seu neto?
Por enquanto é. Sou economista, como sabe, e preocupo-me com os cálculos de custos e benefício. Mas considero que temos o dever nacional de manter a linha entre a Régua e Vila real mesmo que dê prejuízo, pela mesma razão que mantemos a Torre de Belém.

Já viajou em comboios a vapor noutros sítios do mundo?
Já.

Qual foi a que gostou mais?
Em Inglaterra. Também já andei na Turquia.

Quais foram as férias da sua vida?
As duas melhores foram as que os meus filhos me exigiram. Quando trabalhei para o Banco Mundial nos anos 80 fazia algumas missões. A certa altura fui à Turquia e o meu filho, na altura com 18 anos, exigiu ir ter comigo e andámos lá os dois uma semana. E foi nessa altura que andei no comboio a vapor. Passados três anos a minha filha exigiu o mesmo, estava eu na China também numa missão do Banco Mundial

Que livro está a ler?
Há um que estou a ler há algum tempo de um historiador francês, Simon Schama e que se chama ‘Citizens’. É sobre a Revolução Francesa, um tema que gosto muito. E um outro de um economista inglês de esquerda Andrew Glyn que ensina em Oxford, com o título ‘Capitalism Unleashed’.

Tem de ler livros de direita também.
Comprei um livro recentemente de um indiano que escreveu um livro sobre o liberalismo. Um dos autores que é de direita e aprecio muito é o Martin Wolf. A minha economia aprendo-a no Financial Times.

Qual é o livro da sua vida?
Há muitos. Mas há um que me impressionou bastante. A História de Portugal de Oliveira Martins. Era novo quando o li. Tinha aprendido história pelos livros oficiais, onde os reis portugueses eram todos uns heróis, uns sábios, justos… eram todos uns super-homens. Quando li o livro de Oliveira Martins descobri que não era assim, Foi nessa altura que li também aquele livro de Aquilino Ribeiro, ‘Misérias e Grandeza dos reis de Portugal’.

Televisão vê?
Não. Vejo o noticiário mas o português pouco. Normalmente faço o seguinte: vejo a abertura do noticiário da RTP e depois passo para a BBC. Em compensação vejo muitos vídeos.

Porque não vê o noticiário português?
Estar a ver um quarto de hora uma coisa qualquer que aconteceu no Benfica ou sobre a menina inglesa a Maddie… Não tenho paciência… Não consigo a perder o meu tempo com aquilo. É possível que o noticiário da RTP 2 seja bom, mas raramente o vejo. Antes, quando não existia concorrência, o noticiário era bom, ficava informado. Podia ter maior parcialidade em relação ao Governo, mas ficava melhor informado. Que o futebol apareça no fim, ainda vá lá. O problema é que aparece no princípio. Assim vejo a BBC.

Não gosta de futebol?
Não me interesso. Não sou contra.

A informação degradou-se em Portugal?
Penso que sim. Nesta área sou intervencionista. O Governo devia impor obrigações de programas de certo nível cultural nas horas de maior audiência. A televisão é um dos factores de deseducação dos portugueses. É claro que nos outros países também há má televisão. Mas mesmo as coisas piores em Inglaterra são vinte vezes melhor. Não sei é como se define um programa de qualidade… Sei que precisamos que a televisão exerça uma função educativa que não tem. Houve um nivelamento por baixo.

Cinema, costuma ir?
Não. Vejo vídeos em casa. Devia ir.

Qual é o seu filme?
‘Mon Oncle’ do Jacques Tati. Já vi três ou quatro vezes. Fabuloso, comovente.

E música, do que gosta?
Gosto bastante de ver ópera e vejo em casa. Tenho cerca de cem vídeos de ópera. Quando estou a escrever oiço música clássica.

Usa muito a Internet?
Uso os sites de instituições internacionais como a OCDE, FMI, Banco Mundial, União Europeia

Quais os jornais que lê?
O Financial Times é o meu jornal para tudo, mesmo na opinião. Também leio o Economist mas identifico-me mais com o Financial Times. Depois leio o Público, Diário de Notícias, Diário Económico e Jornal de Negócios. Mas levo tanto tempo a ler o FT como os outros todos juntos. Demoro quase uma hora a ler o Financial Times.

Da sua actividade profissional qual foi a que mais gostou?
Foi ser governador do Banco de Portugal. Entre 1975 e 1980

Foram tempos difíceis quando lá esteve.
Na altura apeteceu-me muitas vezes ir-me embora. Estar a perder 20 de dólares por dia de reservas e ter em caixa 40 milhões de dólares de reservas não era brincadeira.

Nem dormia bem…
Foram momentos muito complicados. Mas visto à distância foram tempos muito interessantes.

Foi nessa altura que “enganou” Mário Soares com a desvalorização?
Eu também enganei mas o caso foi com Vítor Constâncio. Desde que fui para o Banco de Portugal tive uma luta permanente porque queria desvalorizar o escudo e o governo não permitia. Havia uns conselheiros que eram uns ignorantes. A certa altura comecei a deixar cair o escudo sem dizer nada a ninguém, não intervindo. Mas os emigrantes descobriram isto rapidamente e começaram a não enviar as remessas. Nessa altura tivemos de parar. Tentámos fazer uma única desvalorização mas o Governo não permitiu. Veio cá o Rocard [Michel Rocard, primeiro-ministro francês 1988-1991]. Rocard teve um almoço comigo e Vítor Constâncio. E nós pedimos-lhe para convencer o Mário Soares a desvalorizar o escudo. E foi assim que conseguimos desvalorizar 15%. Desvalorizámos um pouco mais. É claro que aqueles que nos andavam a fazer a vida negra detectaram mas o ministro das Finanças, que era o Medina Carreira, ficou do nosso lado e nós argumentámos que era a referência internacional. Depois veio a equipa do MIT, liderada por Rudiger Dornbush num grupo de que fazia parte o Paul Krugman. Deram a ideia da desvalorização deslizante. Mas o que eles queriam era um ritmo de desvalorização mensal que exigia um aumento significativo das taxas de juro. E nós não queríamos. Então ele sugeriu que antes de entrarmos no ‘crawling peg’ deixássemos cair o escudo. Assim fizemos. Mários Soares estava no Algarve e alguém o alertou: aqueles tipos estão a desvalorizar…Telefonou ao Constâncio que lhe disse: Foi por causa da coroa sueca. Que tinha caído e vinha nos jornais.

Perfil:
José da Silva Lopes, 75 anos, é presidente do Montepio Geral. A filha seguiu a vida académica, em Inglaterra, e o filho é economista no FMI. Tem três netos, o mais velho com 16 anos. E mais um a caminho. O mais novo partilha a sua paixão por comboios a vapor. Profundo conhecedor da economia portuguesa, com grande sentido de humor, diz-se um pessimista - uma vantagem que lhe permite ter várias “surpresas agradáveis”. Considera-se uma pessoa de esquerda. Mas escreve artigos em conjunto com Miguel Beleza. Economista licenciado pelo actual ISEG, nasceu em Ourém e tem um lugar na história económica portuguesa. Começa a sua carreira no serviço público no Ministério da Economia onde esteve entre 1956 e 1964, tendo integrado a equipa de técnicos que participou nas negociações para a entrada de Portugal na EFTA em 1959 e no GATT, actual Organização Mundial do Comércio, em 1961 Hoje é presidente do Montepio Geral. Acompanhou no Governo, como ministro das Finanças ou secretários de Estado, e como governador do Banco de Portugal um dos períodos mais conturbados da história económica portuguesa entre 1975 e 1980. É a si que se deve a aplicação da desvalorização deslizante, desenhada por uma equipa que trouxe do MIT que era liderada pelo por Rudiger Dornbush, já falecido. È ainda a si que se devem as negociações para os planos de estabilização do FMI que impediram uma crise grave em Portugal.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/ ... 26491.html
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por Keyser Soze » 16/8/2007 6:49

rikardo Escreveu:fecharam-nos as 20h, nessas 5h que trabalhou fora da legalidade da mais que margem para a multa e para ter lucro na mesma, eram nestas empresas que as multas deviam ser pesadas,(creio que a multa que eles vao levar são a volta de 3000€) eles pagam e ainda se riem e voltam a fazer o mesmo da próxima..não era aos condutores por conduzir em excesso de velocidade, (não estou a dizer que não deviam ser multados por excesso de velocidade , apenas que podiam ser mais meigas eehe)


isto é mais exemplo da intervenção estatal na economia e excesso de burocracia e leis e licenças e excercios de poder para se sentirem importantes q tanto abundam no nosso quotidiano

a noticia do Sol:

o hipermercado poderia funcionar fora do horário determinado por lei, caso tivesse solicitado e lhe fosse concedida uma «autorização especial para o fazer pela Câmara Municipal de Loures, que é quem os licencia».

ou seja, segundo a lei podia estar aberto mas tinha que ter um papelinho da camara a dizer que podia

como referi acima acho estas leis dos horários parvas....não percebo pq o raio é que o Estado (ou poder a nivel local) é que define os horários de abertura de uma empresa privada, em última análise, proibindo quem quer trabalhar mais

na perspectiva do trabalhador nessa empresa: se está definido um horário semanal para um trabalhador de x horas .... uam empresa qu queira estar aberta mais tempo ou paga horas extraordinarias ao funcionário ou contrata mais gente
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por Keyser Soze » 16/8/2007 6:32

kostta Escreveu:
Keyser Soze Escreveu:
E não, não é só estado, o patrão "privado" tb falha. Quantos recursos das empresas são desperdiçados por funcionarios que lá andam.


se as empresas privadas são inefecientes o problema é delas, num mercado concorrencial as empresas abrem falência

eu como consumidor, se não estou satisfeito com uma empresa mudo para a concorrência

como os serviços do estado não posso fazer isso, não tenho escolha...e ainda por cima tenho que lhes pagar o salário como os meus impostos


abre falencia, nao pagando o que deve ao estado nem aos trabalhadores e isso sim é um problema para todos nós.


e qual é a tua alternativa !?

se tu tens em empresa ineficiente ( não a agir ilegalmente) gerida por gestores e/ou trabalhadores incompetentes, que produz mais caro e/ou de pior qualidade, o mercado (automaticamete, sem intervenção estatal) acaba por separar o trigo do joio, seleccionando e premiando os mais competentes, eficientes e produtivos

a tua idea parece-me que face a empresa em dificuldades, a dar prejuizo (provavelemente gerida por gestores incompetentes) o Estado deve enterrar lá subsidos para manter uma empresa ineficiente, ou seja:

premiar gestores incompetentes
premiar a concorrência desleal contra as empresas concorrentes que no mesmo negócio que são eficientes

isto foi em parte o que se passou com o Vale do Ave que vc tanto criticam
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por Sei lá » 16/8/2007 1:39

Leiam a entrevista do presidente do Montepio ao Diário Económico que ele também fala destas treta dos vencimentos milionários de alguns. Vale a pena ler não só por isso, mas porque o homem tem uma abordagem muito "terra a terra" em relação a questões importantes. Acima de tudo acho que ele tem mais lucidez que a maioria...
O mercado cega... nem uma ida a Cuba resolve. Cuba?!? :shock: Phone-ix!! Eles são socialistas pá!!!!
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por rikardo » 16/8/2007 1:34

fecharam-nos as 20h, nessas 5h que trabalhou fora da legalidade da mais que margem para a multa e para ter lucro na mesma, eram nestas empresas que as multas deviam ser pesadas,(creio que a multa que eles vao levar são a volta de 3000€) eles pagam e ainda se riem e voltam a fazer o mesmo da próxima..não era aos condutores por conduzir em excesso de velocidade, (não estou a dizer que não deviam ser multados por excesso de velocidade , apenas que podiam ser mais meigas eehe)
 
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