Mia Couto
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E ainda...
Pois é, não és assim tão maluco...
Eu penso que, se se conseguir que o povo iraquiano passe a viver melhor, que a riqueza natural do país seja melhor distribuida, então esta guerra não será em vão.
O que não estava à espera, e parece que os americanos também não, é que o povo iraquiano não esteja contente por ser libertado. Nesta altura os americanos, parece-me, já estavam à espera se serem aclamados e ajudados pelo povo oprimido.
E o que é que se vê? Nada disso. Será que o povo estava descontente?
Agora chegam ali uns ocidentais e dizem: a partir de agora as mulheres vão passar a andar de cara destapada, toda a gente veste jeans e vão comer uns hamburguers no Mcdonalds.
E se eles não quiserem? Certamente que alguns quererão, mas será a maioria? Ou será que antes de mais e sobretudo são anti-americanos, e preferem a opressão a serem libertados por eles ?
Eu penso que, se se conseguir que o povo iraquiano passe a viver melhor, que a riqueza natural do país seja melhor distribuida, então esta guerra não será em vão.
O que não estava à espera, e parece que os americanos também não, é que o povo iraquiano não esteja contente por ser libertado. Nesta altura os americanos, parece-me, já estavam à espera se serem aclamados e ajudados pelo povo oprimido.
E o que é que se vê? Nada disso. Será que o povo estava descontente?
Agora chegam ali uns ocidentais e dizem: a partir de agora as mulheres vão passar a andar de cara destapada, toda a gente veste jeans e vão comer uns hamburguers no Mcdonalds.
E se eles não quiserem? Certamente que alguns quererão, mas será a maioria? Ou será que antes de mais e sobretudo são anti-americanos, e preferem a opressão a serem libertados por eles ?
A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original – Albert Einstein
Andamos todos enganados!!!
Pensar que os americanos atacaram o Iraque para libertarem o povo ou estabelecerem lá uma democracia pluralista é lirismo puro...
Pensar que a guerra foi desencadeada por causa das armas de destruição em massa é lirismo puro
Pensar que os franceses, russos e chineses eram contra a guerra pelo seu apego ao humanismo e preocupação pelo povo iraquiano é lirismo puro.
Pensar que os movimentos pacifistas que têm desencadeado manifestações um pouco por todo o mundo são espontâneos e desinteressados é lirismo puro
Pensar que Saddam Hussein é um menino de coro e que é o defensor e representante do Islamismo é lirismo puro... E pensar que ele é o pior ditador do mundo ainda é mais lírico (houve muitos piores que ele e que passaram e passam impunes apenas porque seguem os interesses desta ou daquela potência)
Toda a informação que nos chega pode ser manipulada pelo que deve ser sempre questionada (qualquer que seja a nossa opinião ou ponto de vista).
Para mim o Bottom Line é a questão de princípio. Ou seja, descontando os interesses de todas as partes envolvidas, resta-nos o que cada um de nós defende do ponto de vista humano. Resta-nos a nossa consciência. E se algumas pessoas conseguem viver bem com a sua consciência defendendo uma guerra e uma intervenção armada como esta, melhor para elas. Eu não consigo!!! Mas é apenas a minha opinião.
Espero que a respeitem, da mesma forma como respeitam a do Mia Couto, ou a do Incognitus. Porque no dia em que isso não acontecer, então o verdadeiro mal terá vencido a guerra!
P.
Pensar que a guerra foi desencadeada por causa das armas de destruição em massa é lirismo puro
Pensar que os franceses, russos e chineses eram contra a guerra pelo seu apego ao humanismo e preocupação pelo povo iraquiano é lirismo puro.
Pensar que os movimentos pacifistas que têm desencadeado manifestações um pouco por todo o mundo são espontâneos e desinteressados é lirismo puro
Pensar que Saddam Hussein é um menino de coro e que é o defensor e representante do Islamismo é lirismo puro... E pensar que ele é o pior ditador do mundo ainda é mais lírico (houve muitos piores que ele e que passaram e passam impunes apenas porque seguem os interesses desta ou daquela potência)
Toda a informação que nos chega pode ser manipulada pelo que deve ser sempre questionada (qualquer que seja a nossa opinião ou ponto de vista).
Para mim o Bottom Line é a questão de princípio. Ou seja, descontando os interesses de todas as partes envolvidas, resta-nos o que cada um de nós defende do ponto de vista humano. Resta-nos a nossa consciência. E se algumas pessoas conseguem viver bem com a sua consciência defendendo uma guerra e uma intervenção armada como esta, melhor para elas. Eu não consigo!!! Mas é apenas a minha opinião.
Espero que a respeitem, da mesma forma como respeitam a do Mia Couto, ou a do Incognitus. Porque no dia em que isso não acontecer, então o verdadeiro mal terá vencido a guerra!
P.
On any given Sunday you can whether win or lose. But can you win or lose like a Man?
- Mensagens: 106
- Registado: 5/11/2002 10:20
As perguntas são boas, e as respostas são difíceis.
Mas vais ver que, acabada a guerra, vão existir muito mais apoiantes da dita, do que antes desta.
A primeira coisa que se vai ver, vai ser a ONU a tentar protagonizar a reconstrução do Iraque - há muito $ nisso.
Já agora, sobre a questão ONU. A ONU é tão burocrática que raramente age seja no que for, a menos que alguém - geralmente os EUA, mas nem sempre - se prontifiquem a actuar com ou sem ela.
Mas vais ver que, acabada a guerra, vão existir muito mais apoiantes da dita, do que antes desta.
A primeira coisa que se vai ver, vai ser a ONU a tentar protagonizar a reconstrução do Iraque - há muito $ nisso.
Já agora, sobre a questão ONU. A ONU é tão burocrática que raramente age seja no que for, a menos que alguém - geralmente os EUA, mas nem sempre - se prontifiquem a actuar com ou sem ela.
- Mensagens: 3255
- Registado: 6/11/2002 19:27
Em resposta...
Meus amigos
quando vos deixei aqui a carta do Mia Couto era apenas para vos dar conhecimento de uma carta que já estava a correr mundo, inclusivamente já hoje ouvi uma entrevista ao escritor na TSF.
Mas como o Incognitus começou a disparar em todos os sentidos, achei que merecia uma resposta.
No essencial estou de acordo com o escritor, no entanto reconheço que há algumas imprecisões, assim como misturar a intervenção militar no Kuweit com esta no Iraque não faz sentido.
Mas agora pergunto eu. O que é que vai ser o pós-guerra?
Que fazer com as Nações Unidas ?
Que fazer com a NATO?
Que fazer com a questão Palestiniana?
Vai tudo ficar na mesma? Na paz podre?
As Nações Unidas continuam a valer quando dão o amen aos americanos, e não servem para nada quando não dão?
E a Nato serve para quê?
E a questão Palestiniana, que fazer? Continuar a apoiar Israel?
Esta guerra vai durar muito para além do conflito no Iraque, estou convencido disso.
Cumprimentos
LR
quando vos deixei aqui a carta do Mia Couto era apenas para vos dar conhecimento de uma carta que já estava a correr mundo, inclusivamente já hoje ouvi uma entrevista ao escritor na TSF.
Mas como o Incognitus começou a disparar em todos os sentidos, achei que merecia uma resposta.
No essencial estou de acordo com o escritor, no entanto reconheço que há algumas imprecisões, assim como misturar a intervenção militar no Kuweit com esta no Iraque não faz sentido.
Mas agora pergunto eu. O que é que vai ser o pós-guerra?
Que fazer com as Nações Unidas ?
Que fazer com a NATO?
Que fazer com a questão Palestiniana?
Vai tudo ficar na mesma? Na paz podre?
As Nações Unidas continuam a valer quando dão o amen aos americanos, e não servem para nada quando não dão?
E a Nato serve para quê?
E a questão Palestiniana, que fazer? Continuar a apoiar Israel?
Esta guerra vai durar muito para além do conflito no Iraque, estou convencido disso.
Cumprimentos
LR
A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original – Albert Einstein
amsf, se a ONU funcionasse, eu concordaria contigo.
Porém, a ONU não funciona, nem é democrática, nem a maioria dos participantes da dita são democracias.
Ou seja, esperar que algo seja feito pela ONU geralmente só serve para aumentar as desgraças.
Infelizmente, no espírito do politicamente correcto, a questão Saddam não ficou resolvida em 1991. Esse foi um erro que está hoje a ser corrigido.
Porém, a ONU não funciona, nem é democrática, nem a maioria dos participantes da dita são democracias.
Ou seja, esperar que algo seja feito pela ONU geralmente só serve para aumentar as desgraças.
Infelizmente, no espírito do politicamente correcto, a questão Saddam não ficou resolvida em 1991. Esse foi um erro que está hoje a ser corrigido.
- Mensagens: 3255
- Registado: 6/11/2002 19:27
Eu próprio afirmei que a carta continha erros históricos
"Concordo com a carta...existem alguns lapsos históricos no entanto muita coisa faltaria acrescentar"
A minha posição é simples e complexa ao mesmo tempo.
Qualquer acção que se faça deve ser no âmbito da ONU (a propósito esta ONU não é democrática) para que nenhum país tire partido de qualquer acção...
imagine um polícia que actua num bairro de malfeitores perseguindo os que não lhe pagam uma comissão e protegendo aqueles que o fazem...é esta a política dos EUA...não basta ser polícia, ter uma farda e arma...é preciso que esse polícia tenha autoridade moral para o ser... a questão é tão simples quanto este exemplo...
Viva a democracia...os direitos humanos...o direito internacional...o combate ao terrorismo desde de que isso sirva os interesses dos EUA...
"Concordo com a carta...existem alguns lapsos históricos no entanto muita coisa faltaria acrescentar"
A minha posição é simples e complexa ao mesmo tempo.
Qualquer acção que se faça deve ser no âmbito da ONU (a propósito esta ONU não é democrática) para que nenhum país tire partido de qualquer acção...
imagine um polícia que actua num bairro de malfeitores perseguindo os que não lhe pagam uma comissão e protegendo aqueles que o fazem...é esta a política dos EUA...não basta ser polícia, ter uma farda e arma...é preciso que esse polícia tenha autoridade moral para o ser... a questão é tão simples quanto este exemplo...
Viva a democracia...os direitos humanos...o direito internacional...o combate ao terrorismo desde de que isso sirva os interesses dos EUA...
-
amsf
A Autoria da carta é irrelevante, os argumentos são fracos, so what?
(Sim, eu reparei que a autoria da carta era de alguém que se devia limitar à literatura)
Agora, para facilitar a discussão.
QUAL a alternativa às decisões tomadas? Não haver guerra? QUEM é que quer assumir esse risco? QUEM é que se responsabiliza pelos que o Saddam vai matando, ou por um eventual atentado no futuro, usando armas fornecidas pelo dito (vão dizer que isso não é possível? A história do tipo não é animadora...)?
Quem se assume contra a guerra nem sequer levantou um cabelo por causa do Rwanda, é triste.
(Sim, eu reparei que a autoria da carta era de alguém que se devia limitar à literatura)
Agora, para facilitar a discussão.
QUAL a alternativa às decisões tomadas? Não haver guerra? QUEM é que quer assumir esse risco? QUEM é que se responsabiliza pelos que o Saddam vai matando, ou por um eventual atentado no futuro, usando armas fornecidas pelo dito (vão dizer que isso não é possível? A história do tipo não é animadora...)?
Quem se assume contra a guerra nem sequer levantou um cabelo por causa do Rwanda, é triste.
- Mensagens: 3255
- Registado: 6/11/2002 19:27
Nada disto pode
ser visto segundo a teoria do preto ou branco. Existem muitas nuances neste tema e as posições antagónicas podem ter, cada uma delas, as suas razões. Nada é perfeito! Eu diria que nada é intrinsecamente imperfeito.
Mas recordo aqui uma frase do nosso Embaixador Cutileiro (citado de cor): Entre ter os meus destinos nas mãos dos «falcões» do Bush ou nas dos «órfãos de Lenine», escolha a primeira solução.
... e eu assino por baixo.
Abraço
ABsurdo
Mas recordo aqui uma frase do nosso Embaixador Cutileiro (citado de cor): Entre ter os meus destinos nas mãos dos «falcões» do Bush ou nas dos «órfãos de Lenine», escolha a primeira solução.
... e eu assino por baixo.
Abraço
ABsurdo

Caro incognitus
Fico admirado com os seus conhecimentos históricos especialmente com os literários...
Admira-me que não tenha atacado o LR pois tenho quase a certeza que não se apercebeu da autoria da carta...
LR...cuidado...O Incognitus tal como o Bush confunde os alvos...cuidado podes vir a ser atacado por ter escrito a carta...Mia Couto não lhe diz nada?! Nõ me admirava...
Fico admirado com os seus conhecimentos históricos especialmente com os literários...
Admira-me que não tenha atacado o LR pois tenho quase a certeza que não se apercebeu da autoria da carta...
LR...cuidado...O Incognitus tal como o Bush confunde os alvos...cuidado podes vir a ser atacado por ter escrito a carta...Mia Couto não lhe diz nada?! Nõ me admirava...
-
amsf
- Mensagens: 3255
- Registado: 6/11/2002 19:27
Já reparaste que essa carta, se fosse escrita num sistema daqueles que os EUA combateram, era motivo suficiente para te enfiar num calabouço?
Já reparaste que em última análise, essa carta só é escrita porque os EUA defenderam a nossa forma de vida, o nosso sistema?
Resta-te alguma dúvida que a Europa toda tinha sido invadida pela URSS (ou pela Alemanha ...), se não fossem os EUA? E que em África só existiram Ditaduras neste momento?
Já reparaste que em última análise, essa carta só é escrita porque os EUA defenderam a nossa forma de vida, o nosso sistema?
Resta-te alguma dúvida que a Europa toda tinha sido invadida pela URSS (ou pela Alemanha ...), se não fossem os EUA? E que em África só existiram Ditaduras neste momento?
- Mensagens: 3255
- Registado: 6/11/2002 19:27
amsf, preferias as acções que os EUR tomaram para te defender do comunismo, ou viver num estado comunista, hoje?
Se os EUA n tivessem tomado essas acções, ninguém as teria tomado por eles ...
Eu, francamente, prefiro viver numa democracia capitalista, com todos os seus defeitos.
E tu?
Se os EUA n tivessem tomado essas acções, ninguém as teria tomado por eles ...
Eu, francamente, prefiro viver numa democracia capitalista, com todos os seus defeitos.
E tu?
- Mensagens: 3255
- Registado: 6/11/2002 19:27
Concordo com a carta...existem alguns lapsos históricos no entanto muita coisa faltaria acrescentar:
República Dominicana - Meados da década de 80
Haiti - Duvalier 199?
Sem falar nas muitas operações encobertas da qual o derrube de Allende - Chile 1973 e a colocação do Pinochet no poder é um exemplo...
Actualidade: O braço de ferro da coligação anti-natura Patrões/sindicatos contra o Chavez só não teve continuidade porque era importante estabelizar a questão petrolífera antes de intervir no Iraque...após a colocação dum regime fantoche neste país a Venezuela voltará cair na instabilidade...
Teorias conspirativas!? Sim, dirão quase todos...ficariam maravilhados com a tecnologia, agentes e dinheiro que os EUA gastam com os seus Serviços Secretos...no entanto não tiram dai as devidas consequências...os americanos fazem investimentos avultados sem esperar retorno pensarão os ingénuos...
A guerra fria acabou mas não os hábitos...até os aliados são alvo destes serviços...
República Dominicana - Meados da década de 80
Haiti - Duvalier 199?
Sem falar nas muitas operações encobertas da qual o derrube de Allende - Chile 1973 e a colocação do Pinochet no poder é um exemplo...
Actualidade: O braço de ferro da coligação anti-natura Patrões/sindicatos contra o Chavez só não teve continuidade porque era importante estabelizar a questão petrolífera antes de intervir no Iraque...após a colocação dum regime fantoche neste país a Venezuela voltará cair na instabilidade...
Teorias conspirativas!? Sim, dirão quase todos...ficariam maravilhados com a tecnologia, agentes e dinheiro que os EUA gastam com os seus Serviços Secretos...no entanto não tiram dai as devidas consequências...os americanos fazem investimentos avultados sem esperar retorno pensarão os ingénuos...
A guerra fria acabou mas não os hábitos...até os aliados são alvo destes serviços...
-
amsf
"- Os Estados Unidos foram a única nação do mundo que lançou bombas
atómicas sobre outras nações; "
Já agora, conte o resto da História. Os EUA fizeram BEM em lançar essas bombas, pois se não o tivessem feito morreriam muito mais civis Japoneses, Militares Japoneses, e principalmente militares americanos numa guerra que eles não começaram;
"- O seu país foi a única nação a ser condenada por "uso ilegítimo da
força" pelo Tribunal Internacional de Justiça; "
Sabendo-se como é e foi violento o mundo, percebe-se logo a isenção desse tribunal ao isolar os EUA como único ...
"- Forças americanas treinaram e armaram fundamentalistas islâmicos mais extremistas (incluindo o terrorista Bin Laden) a pretexto de derrubarem os invasores russos no Afeganistão; "
Não foi "a pretexto", foi MESMO com esse objectivo. E funcionou. Exactamente qual é que era o ponto que querias provar?
"- O regime de Saddam Hussein foi apoiado pelos EUA enquanto praticava as piores atrocidades contra os iraquianos (incluindo o gaseamento dos curdos em 1998); "
Os EUA podem ter apoiado o regime iraquiano, há dezenas de anos atrás. Mas em 1998 certamente que não o fizeram. Caso andes distraído, os EUA não são nada amigos do Iraque desde 1991.
"- Como tantos outros fantoches, Mobutu Seseseko foi por vossos agentes
conduzido ao poder e concedeu facilidades especiais à espionagem
americana: o quartel-general da CIA no Zaire tornou-se o maior em África. A ditadura brutal deste zairense não mereceu nenhum reparo dos EUA até que ele deixou de ser conveniente, em 1992;"
Há muitos casos semelhantes e tristes (vide Bin laden). A política não é uma ciência exacta, e os que parecem "bons" hoje podem muito bem ser "maus" amanhã. Cometer erros é próprio dos humanos. E muitos destes casos nem se podem chamar "erros" pois na altura em que acontecem são claramente a melhor opção (como apoiar o Bin laden no Afeganistão).
"- A invasão de Timor Leste pelos militares indonésios mereceu o apoio dos EUA. Quando as atrocidades foram conhecidas, a resposta da Administração Clinton foi "o assunto é da responsabilidade do governo indonésio e não queremos retirar-lhe essa responsabilidade"; "
De facto, os EUA olharam para o outro lado e não interviram. Estás a dizer que "não intervir" é crime? Infelizmente, junto com a não intervenção dos EUA estão os outro 100 e tal países que existem no mundo, TÃO CULPADOS quanto os EUA, nesse caso (e em muitos outros - Rwanda, etc).
"- Em Agosto de 1998, a força aérea dos EUA bombardeou no Sudão uma fábrica de medicamentos, designada Al-Shifa. Um engano? Não, tratava-se de uma retaliação dos atentados bombistas de Nairobi e Dar-es-Saalam. "
Exacto. Resta saber se era apenas uma fábrica de medicamentos. Sabes, eles teriam muitos alvos militares por onde escolher, se escolheram uma "fábrica de medicamentos", certamente é porque não achavam que fosse uma "fábrica de medicamentos".
"- Em Dezembro de 1987, os Estados Unidos foi o único país (junto com
Israel) a votar contra uma moção de condenação ao terrorismo internacional."
Duvido que se tratasse de uma moção para condenar o terrorismo internacional. Leva em conta que a maioria dos Estados presentes na UN são tudo menos democracias, e que muitas das "moções" que tentam aprovar têm outros intentos para além do título. Desconfio, por Israel se ter tb oposto, que seria algo contra Israel (aí, sim, existe uma perseguição histórica e indesmentível aos judeus).
"- Em 1953, a CIA ajudou a preparar o golpe de Estado contra o Irão na
sequência do qual milhares de comunistas do Tudeh foram massacrados. A lista de golpes preparados pela CIA é bem longa.
- Desde a Segunda Guerra Mundial, os EUA bombardearam: a China (1945-46), a Coreia e a China (1950-53), a Guatemala (1954), a Indonésia (1958), Cuba (1959-1961), a Guatemala (1960), o Congo (1964), o Peru (1965), o Laos (1961-1973), o Vietname (1961-1973), o Camboja (1969-1970), a Guatemala (1967-1973), Granada (1983), Líbano (1983-1984), a Líbia (1986), Salvador (1980), a Nicarágua (1980), o Irão (1987), o Panamá (1989), o Iraque (1990-2001), o Kuwait (1991), a Somália (1993), a Bósnia (1994-95), o Sudão (1998), o Afeganistão (1998), a Jugoslávia (1999)"
No contexto da luta contra o comunismo, muita coisa foi feita e nem tudo foi bom. Com a queda do comunismo, e tendo muitos dos povos sob o seu efeito lutado contra este, percebe-se facilmente de que lado estava a razão. Não quer dizer que tudo o que foi feito tenha sido certa, mas pelo menos o motivo era.
"- Acções de terrorismo biológico e químico foram postas em prática pelos
EUA: o agente laranja e os desfolhantes no Vietname, o vírus da peste
contra Cuba que durante anos devastou a produção suína naquele país. "
A peste não sei, mas o agente laranja foi concebido como um "desfolhante" para por a coberto a guerrilha fazendo cair as folhas das árvores. Quaisquer outras consequências do "Agente laranja" foram efeitos secundários, que resultam de um agente quimico militar não ser sujeito ao mesmo tipo de pesquisa que um medicamento. Ou seja, "não foi de propósito" (não invalida as consequências, mas mostra que n existiu intenção).
"O Iraque não é Saddam. São 22 milhões de mães e filhos, e de homens que trabalham e sonham como fazem os comuns norte-americanos. Preocupamo-nos com os males do regime de Saddam Hussein que são reais. Mas esquece-se os horrores da primeira guerra do Golfo em que perderam a vida mais de 150 000 homens"
E quantos é que perderam a vida no Iraque em tempo de "paz" ou nas aventuras do Saddam contra o Irão e o Kuwait? Mais, muitos mais. Cometes, portanto, o erro de lógica de pensar que sob o Saddam, "não guerra"=paz.
"Livrar-nos-emos de Saddam. Mas continuaremos prisioneiros da lógica da guerra e da arrogância"
Francamente, ainda bem que continuamos prisioneiros dessa lógica e arrogância, se vinda dos EUA. Senão, ou eramos judeus mortos, ou falávamos alemão, ou eramos comunistas, ou falávamos japonês ...
"Sua Excelência parece não necessitar que uma instituição internacional
legitime o seu direito de intervenção militar"
Nunca instituição internacional nenhuma fez algo de jeito neste planeta no que toca a guerras. A "paz" vinda das instituições internacionais tende mais é a deixar os perigos crescer e a provocar mais vítimas no final.
"Eu gostaria de poder festejar o derrube de Saddam Hussein. E festejar com todos os americanos. Mas sem hipocrisia, sem argumentação e consumo de diminuídos mentais. Porque nós, caro Presidente Bush, nós, os povos dos países pequenos, temos uma arma de construção massiva: a capacidade de pensar "
Tendo em conta os argumentos, não parece.
atómicas sobre outras nações; "
Já agora, conte o resto da História. Os EUA fizeram BEM em lançar essas bombas, pois se não o tivessem feito morreriam muito mais civis Japoneses, Militares Japoneses, e principalmente militares americanos numa guerra que eles não começaram;
"- O seu país foi a única nação a ser condenada por "uso ilegítimo da
força" pelo Tribunal Internacional de Justiça; "
Sabendo-se como é e foi violento o mundo, percebe-se logo a isenção desse tribunal ao isolar os EUA como único ...
"- Forças americanas treinaram e armaram fundamentalistas islâmicos mais extremistas (incluindo o terrorista Bin Laden) a pretexto de derrubarem os invasores russos no Afeganistão; "
Não foi "a pretexto", foi MESMO com esse objectivo. E funcionou. Exactamente qual é que era o ponto que querias provar?
"- O regime de Saddam Hussein foi apoiado pelos EUA enquanto praticava as piores atrocidades contra os iraquianos (incluindo o gaseamento dos curdos em 1998); "
Os EUA podem ter apoiado o regime iraquiano, há dezenas de anos atrás. Mas em 1998 certamente que não o fizeram. Caso andes distraído, os EUA não são nada amigos do Iraque desde 1991.
"- Como tantos outros fantoches, Mobutu Seseseko foi por vossos agentes
conduzido ao poder e concedeu facilidades especiais à espionagem
americana: o quartel-general da CIA no Zaire tornou-se o maior em África. A ditadura brutal deste zairense não mereceu nenhum reparo dos EUA até que ele deixou de ser conveniente, em 1992;"
Há muitos casos semelhantes e tristes (vide Bin laden). A política não é uma ciência exacta, e os que parecem "bons" hoje podem muito bem ser "maus" amanhã. Cometer erros é próprio dos humanos. E muitos destes casos nem se podem chamar "erros" pois na altura em que acontecem são claramente a melhor opção (como apoiar o Bin laden no Afeganistão).
"- A invasão de Timor Leste pelos militares indonésios mereceu o apoio dos EUA. Quando as atrocidades foram conhecidas, a resposta da Administração Clinton foi "o assunto é da responsabilidade do governo indonésio e não queremos retirar-lhe essa responsabilidade"; "
De facto, os EUA olharam para o outro lado e não interviram. Estás a dizer que "não intervir" é crime? Infelizmente, junto com a não intervenção dos EUA estão os outro 100 e tal países que existem no mundo, TÃO CULPADOS quanto os EUA, nesse caso (e em muitos outros - Rwanda, etc).
"- Em Agosto de 1998, a força aérea dos EUA bombardeou no Sudão uma fábrica de medicamentos, designada Al-Shifa. Um engano? Não, tratava-se de uma retaliação dos atentados bombistas de Nairobi e Dar-es-Saalam. "
Exacto. Resta saber se era apenas uma fábrica de medicamentos. Sabes, eles teriam muitos alvos militares por onde escolher, se escolheram uma "fábrica de medicamentos", certamente é porque não achavam que fosse uma "fábrica de medicamentos".
"- Em Dezembro de 1987, os Estados Unidos foi o único país (junto com
Israel) a votar contra uma moção de condenação ao terrorismo internacional."
Duvido que se tratasse de uma moção para condenar o terrorismo internacional. Leva em conta que a maioria dos Estados presentes na UN são tudo menos democracias, e que muitas das "moções" que tentam aprovar têm outros intentos para além do título. Desconfio, por Israel se ter tb oposto, que seria algo contra Israel (aí, sim, existe uma perseguição histórica e indesmentível aos judeus).
"- Em 1953, a CIA ajudou a preparar o golpe de Estado contra o Irão na
sequência do qual milhares de comunistas do Tudeh foram massacrados. A lista de golpes preparados pela CIA é bem longa.
- Desde a Segunda Guerra Mundial, os EUA bombardearam: a China (1945-46), a Coreia e a China (1950-53), a Guatemala (1954), a Indonésia (1958), Cuba (1959-1961), a Guatemala (1960), o Congo (1964), o Peru (1965), o Laos (1961-1973), o Vietname (1961-1973), o Camboja (1969-1970), a Guatemala (1967-1973), Granada (1983), Líbano (1983-1984), a Líbia (1986), Salvador (1980), a Nicarágua (1980), o Irão (1987), o Panamá (1989), o Iraque (1990-2001), o Kuwait (1991), a Somália (1993), a Bósnia (1994-95), o Sudão (1998), o Afeganistão (1998), a Jugoslávia (1999)"
No contexto da luta contra o comunismo, muita coisa foi feita e nem tudo foi bom. Com a queda do comunismo, e tendo muitos dos povos sob o seu efeito lutado contra este, percebe-se facilmente de que lado estava a razão. Não quer dizer que tudo o que foi feito tenha sido certa, mas pelo menos o motivo era.
"- Acções de terrorismo biológico e químico foram postas em prática pelos
EUA: o agente laranja e os desfolhantes no Vietname, o vírus da peste
contra Cuba que durante anos devastou a produção suína naquele país. "
A peste não sei, mas o agente laranja foi concebido como um "desfolhante" para por a coberto a guerrilha fazendo cair as folhas das árvores. Quaisquer outras consequências do "Agente laranja" foram efeitos secundários, que resultam de um agente quimico militar não ser sujeito ao mesmo tipo de pesquisa que um medicamento. Ou seja, "não foi de propósito" (não invalida as consequências, mas mostra que n existiu intenção).
"O Iraque não é Saddam. São 22 milhões de mães e filhos, e de homens que trabalham e sonham como fazem os comuns norte-americanos. Preocupamo-nos com os males do regime de Saddam Hussein que são reais. Mas esquece-se os horrores da primeira guerra do Golfo em que perderam a vida mais de 150 000 homens"
E quantos é que perderam a vida no Iraque em tempo de "paz" ou nas aventuras do Saddam contra o Irão e o Kuwait? Mais, muitos mais. Cometes, portanto, o erro de lógica de pensar que sob o Saddam, "não guerra"=paz.
"Livrar-nos-emos de Saddam. Mas continuaremos prisioneiros da lógica da guerra e da arrogância"
Francamente, ainda bem que continuamos prisioneiros dessa lógica e arrogância, se vinda dos EUA. Senão, ou eramos judeus mortos, ou falávamos alemão, ou eramos comunistas, ou falávamos japonês ...
"Sua Excelência parece não necessitar que uma instituição internacional
legitime o seu direito de intervenção militar"
Nunca instituição internacional nenhuma fez algo de jeito neste planeta no que toca a guerras. A "paz" vinda das instituições internacionais tende mais é a deixar os perigos crescer e a provocar mais vítimas no final.
"Eu gostaria de poder festejar o derrube de Saddam Hussein. E festejar com todos os americanos. Mas sem hipocrisia, sem argumentação e consumo de diminuídos mentais. Porque nós, caro Presidente Bush, nós, os povos dos países pequenos, temos uma arma de construção massiva: a capacidade de pensar "
Tendo em conta os argumentos, não parece.
-
Visitante
Sem palavras...
Quando um poeta descreve a situação desta forma, nada mais há a dizer que não seja: faço dele as minhas palavras e tenho vergonha de pertencer a um país que, sem consultar os seus cidadãos ou seguir a sua opinião, apoiou esta intervenção armada no Iraque.
Podem racionalizar com a teoria dos interesses nacionais, com o deve e o haver das relações internacionais mas a minha consciência (e a nossa consciência nacional) não se padece com essas mesquinhices...
Se há algo que não nos podem tirar é a capacidade de pensarmos por nós próprios e de emitirmos as nossas opiniões...
Que a paz esteja ao virar da esquina
P.
Podem racionalizar com a teoria dos interesses nacionais, com o deve e o haver das relações internacionais mas a minha consciência (e a nossa consciência nacional) não se padece com essas mesquinhices...
Se há algo que não nos podem tirar é a capacidade de pensarmos por nós próprios e de emitirmos as nossas opiniões...
Que a paz esteja ao virar da esquina
P.
On any given Sunday you can whether win or lose. But can you win or lose like a Man?
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- Registado: 5/11/2002 10:20
Mia Couto
Carta ao Presidente Bush
Senhor Presidente:
Sou um escritor de uma nação pobre, um país que já esteve na vossa lista negra. Milhões de moçambicanos desconheciam que mal vos tínhamos feito.
Éramos pequenos e pobres: que ameaça poderíamos constituir ? A nossa arma de destruição massiva estava, afinal, virada contra nós: era a fome e a miséria.
Alguns de nós estranharam o critério que levava a que o nosso nome fosse manchado enquanto outras nações beneficiavam da vossa simpatia. Por exemplo, o nosso vizinho - a África do Sul do "apartheid" - violava de
forma flagrante os direitos humanos. Durante décadas fomos vítimas da
agressão desse regime. Mas o regime do "apartheid" mereceu da vossa parte uma atitude mais branda: o chamado "envolvimento positivo". O ANC esteve também na lista negra como uma "organização terrorista!".
Estranho critério que levaria a que, anos mais tarde, os taliban e o próprio Bin Laden fossem chamadas de "freedom fighters" por estrategas
norte-americanos.
Pois eu, pobre escritor de um pobre país, tive um sonho. Como Martin
Luther King certa vez sonhou que a América era uma nação de todos os
americanos. Pois sonhei que eu era não um homem mas um país. Sim, um país que não conseguia dormir. Porque vivia sobressaltado por terríveis factos.
E esse temor fez com que proclamasse uma exigência. Uma exigência que tinha a ver consigo, Caro Presidente. E eu exigia que os Estados Unidos da América procedessem à eliminação do seu armamento de destruição massiva.
Por razão desses terríveis perigos eu exigia mais: que inspectores das
Nações Unidas fossem enviados para o vosso país. Que terríveis perigos me alertavam? Que receios o vosso país me inspiravam? Não eram produtos de sonho, infelizmente. Eram factos que alimentavam a minha desconfiança. A lista é tão grande que escolherei apenas alguns:
- Os Estados Unidos foram a única nação do mundo que lançou bombas
atómicas sobre outras nações;
- O seu país foi a única nação a ser condenada por "uso ilegítimo da
força" pelo Tribunal Internacional de Justiça;
- Forças americanas treinaram e armaram fundamentalistas islâmicos mais extremistas (incluindo o terrorista Bin Laden) a pretexto de derrubarem os invasores russos no Afeganistão;
- O regime de Saddam Hussein foi apoiado pelos EUA enquanto praticava as piores atrocidades contra os iraquianos (incluindo o gaseamento dos curdos em 1998);
- Como tantos outros dirigentes legítimos, o africano Patrice Lumumba foi
assassinado com ajuda da CIA. Depois de preso e torturado e baleado na
cabeça o seu corpo foi dissolvido em ácido clorídico (apesar do principal
beneficiário deste assassinato ter sido a Unión Minière, uma maultinacional
belga);
- Como tantos outros fantoches, Mobutu Seseseko foi por vossos agentes
conduzido ao poder e concedeu facilidades especiais à espionagem
americana: o quartel-general da CIA no Zaire tornou-se o maior em África. A ditadura brutal deste zairense não mereceu nenhum reparo dos EUA até que ele deixou de ser conveniente, em 1992;
- A invasão de Timor Leste pelos militares indonésios mereceu o apoio dos EUA. Quando as atrocidades foram conhecidas, a resposta da Administração Clinton foi "o assunto é da responsabilidade do governo indonésio e não queremos retirar-lhe essa responsabilidade";
- O vosso país albergou criminosos como Emmanuel Constant um dos líderes mais sanguinários do Taiti cujas forças para-militares massacraram
milhares de inocentes. Constant foi julgado à revelia e as novas
autoridades solicitaram a sua extradição. O governo americano recusou o
pedido.
- Em Agosto de 1998, a força aérea dos EUA bombardeou no Sudão uma fábrica de medicamentos, designada Al-Shifa. Um engano? Não, tratava-se de uma retaliação dos atentados bombistas de Nairobi e Dar-es-Saalam.
- Em Dezembro de 1987, os Estados Unidos foi o único país (junto com
Israel) a votar contra uma moção de condenação ao terrorismo internacional.
Mesmo assim, a moção foi aprovada pelo voto de cento e cinquenta e três
países.
- Em 1953, a CIA ajudou a preparar o golpe de Estado contra o Irão na
sequência do qual milhares de comunistas do Tudeh foram massacrados. A lista de golpes preparados pela CIA é bem longa.
- Desde a Segunda Guerra Mundial, os EUA bombardearam: a China (1945-46), a Coreia e a China (1950-53), a Guatemala (1954), a Indonésia (1958), Cuba (1959-1961), a Guatemala (1960), o Congo (1964), o Peru (1965), o Laos (1961-1973), o Vietname (1961-1973), o Camboja (1969-1970), a Guatemala (1967-1973), Granada (1983), Líbano (1983-1984), a Líbia (1986), Salvador (1980), a Nicarágua (1980), o Irão (1987), o Panamá (1989), o Iraque (1990-2001), o Kuwait (1991), a Somália (1993), a Bósnia (1994-95), o Sudão (1998), o Afeganistão (1998), a Jugoslávia (1999)
- Acções de terrorismo biológico e químico foram postas em prática pelos
EUA: o agente laranja e os desfolhantes no Vietname, o vírus da peste
contra Cuba que durante anos devastou a produção suína naquele país.
- O Wall Street Journal publicou um relatório que anunciava que 500 000
crianças vietnamitas nasceram deformadas em consequência da guerra química das forças norte-americanas.
Acordei do pesadelo do sono para o pesadelo da realidade. A guerra que o Senhor Presidente teimou em iniciar poderá libertar-nos de um ditador. Mas ficaremos todos mais pobres. Enfrentaremos maiores dificuldades nas nossas já precárias economias e teremos menos esperança num futuro governado pela razão e pela moral. Teremos menos fé na força reguladora das Nações Unidas e das convenções do direito internacional. Estaremos, enfim, mais sós e mais desamparados.
Senhor Presidente:
O Iraque não é Saddam. São 22 milhões de mães e filhos, e de homens que trabalham e sonham como fazem os comuns norte-americanos. Preocupamo-nos com os males do regime de Saddam Hussein que são reais. Mas esquece-se os horrores da primeira guerra do Golfo em que perderam a vida mais de 150 000 homens.
O que está destruindo massivamente os iraquianos não são as armas de
Saddam. São as sanções que conduziram a uma situação humanitária tão grave que dois coordenadores para ajuda das Nações Unidas (Dennis Halliday e Hans Von Sponeck) pediram a demissão em protesto contra essas mesmas sanções.
Explicando a razão da sua renúncia, Halliday escreveu: "Estamos destruindo toda uma sociedade. É tão simples e terrível como isso. E isso é ilegal e imoral". Esse sistema de sanções já levou à morte meio milhão de crianças iraquianas.
Mas a guerra contra o Iraque não está para começar. Já começou há muito tempo. Nas zonas de restrição aérea a Norte e Sul do Iraque acontecem continuamente bombardeamentos desde há 12 anos. Acredita-se que 500 iraquianos foram mortos desde 1999. O bombardeamento incluiu o uso massivo de urânio empobrecido (300 toneladas, ou seja 30 vezes mais do que o usado no Kosovo)
Livrar-nos-emos de Saddam. Mas continuaremos prisioneiros da lógica da
guerra e da arrogância. Não quero que os meus filhos (nem os seus) vivam dominados pelo fantasma do medo. E que pensem que, para viverem tranquilos, precisam de construir uma fortaleza. E que só estarão seguros quando se tiver que gastar fortunas em armas. Como o seu país que despende 270 000 000 000 000 dólares (duzentos e setenta biliões de dólares) por ano para manter o arsenal de guerra. O senhor bem sabe o que essa soma poderia ajudar a mudar o destino miserável de milhões de seres.
O bispo americano Monsenhor Robert Bowan escreveu- lhe no final do ano passado uma carta intitulada "Porque é que o mundo odeia os EUA ?" O bispo da Igreja Católica da Florida é um ex--combatente na guerra do Vietname.
Ele sabe o que é a guerra e escreveu: "O senhor reclama que os EUA são alvo do terrorismo porque defendemos a democracia, a liberdade e os direitos humanos. Que absurdo, Sr. Presidente ! Somos alvos dos terroristas porque, na maior parte do mundo, o nosso governo defendeu a ditadura, a escravidão e a exploração humana. Somos alvos dos terroristas porque somos odiados. E somos odiados porque o nosso governo fez coisas odiosas. Em quantos países agentes do nosso governo depuseram líderes popularmente eleitos substituindo-os por ditadores militares, fantoches desejosos de vender o seu próprio povo às corporações norte-americanas multinacionais ? E o bispo conclui: O povo do Canadá desfruta de democracia, de liberdade e de direitos humanos, assim como o povo da Noruega e da Suécia. Alguma vez o senhor
ouviu falar de ataques a embaixadas canadianas, norueguesas ou suecas? Nós somos odiados não porque praticamos a democracia, a liberdade ou os direitos humanos. Somos odiados porque o nosso governo nega essas coisas aos povos dos países do Terceiro Mundo, cujos recursos são cobiçados pelas nossas multinacionais."
Senhor Presidente:
Sua Excelência parece não necessitar que uma instituição internacional
legitime o seu direito de intervenção militar. Ao menos que possamos nós
encontrar moral e verdade na sua argumentação. Eu e mais milhões de
cidadãos não ficamos convencidos quando o vimos justificar a guerra. Nós
preferíamos vê- lo assinar a Convenção de Kyoto para conter o efeito de
estufa. Preferíamos tê-lo visto em Durban na Conferência Internacional
contra o Racismo.
Não se preocupe, senhor Presidente. A nós, nações pequenas deste mundo, não nos passa pela cabeça exigir a vossa demissão por causa desse apoio que as vossas sucessivas administrações concederam apoio a não menos sucessivos ditadores. A maior ameaça que pesa sobre a América não são armamentos de outros. É o universo de mentira que se criou em redor dos vossos cidadãos. O perigo não é o regime de Saddam, nem nenhum outro regime. Mas o sentimento de superioridade que parece animar o seu governo.
O seu inimigo principal não está fora. Está dentro dos EUA. Essa guerra só pode ser vencida pelos próprios americanos.
Eu gostaria de poder festejar o derrube de Saddam Hussein. E festejar com todos os americanos. Mas sem hipocrisia, sem argumentação e consumo de diminuídos mentais. Porque nós, caro Presidente Bush, nós, os povos dos países pequenos, temos uma arma de construção massiva: a capacidade de pensar
Senhor Presidente:
Sou um escritor de uma nação pobre, um país que já esteve na vossa lista negra. Milhões de moçambicanos desconheciam que mal vos tínhamos feito.
Éramos pequenos e pobres: que ameaça poderíamos constituir ? A nossa arma de destruição massiva estava, afinal, virada contra nós: era a fome e a miséria.
Alguns de nós estranharam o critério que levava a que o nosso nome fosse manchado enquanto outras nações beneficiavam da vossa simpatia. Por exemplo, o nosso vizinho - a África do Sul do "apartheid" - violava de
forma flagrante os direitos humanos. Durante décadas fomos vítimas da
agressão desse regime. Mas o regime do "apartheid" mereceu da vossa parte uma atitude mais branda: o chamado "envolvimento positivo". O ANC esteve também na lista negra como uma "organização terrorista!".
Estranho critério que levaria a que, anos mais tarde, os taliban e o próprio Bin Laden fossem chamadas de "freedom fighters" por estrategas
norte-americanos.
Pois eu, pobre escritor de um pobre país, tive um sonho. Como Martin
Luther King certa vez sonhou que a América era uma nação de todos os
americanos. Pois sonhei que eu era não um homem mas um país. Sim, um país que não conseguia dormir. Porque vivia sobressaltado por terríveis factos.
E esse temor fez com que proclamasse uma exigência. Uma exigência que tinha a ver consigo, Caro Presidente. E eu exigia que os Estados Unidos da América procedessem à eliminação do seu armamento de destruição massiva.
Por razão desses terríveis perigos eu exigia mais: que inspectores das
Nações Unidas fossem enviados para o vosso país. Que terríveis perigos me alertavam? Que receios o vosso país me inspiravam? Não eram produtos de sonho, infelizmente. Eram factos que alimentavam a minha desconfiança. A lista é tão grande que escolherei apenas alguns:
- Os Estados Unidos foram a única nação do mundo que lançou bombas
atómicas sobre outras nações;
- O seu país foi a única nação a ser condenada por "uso ilegítimo da
força" pelo Tribunal Internacional de Justiça;
- Forças americanas treinaram e armaram fundamentalistas islâmicos mais extremistas (incluindo o terrorista Bin Laden) a pretexto de derrubarem os invasores russos no Afeganistão;
- O regime de Saddam Hussein foi apoiado pelos EUA enquanto praticava as piores atrocidades contra os iraquianos (incluindo o gaseamento dos curdos em 1998);
- Como tantos outros dirigentes legítimos, o africano Patrice Lumumba foi
assassinado com ajuda da CIA. Depois de preso e torturado e baleado na
cabeça o seu corpo foi dissolvido em ácido clorídico (apesar do principal
beneficiário deste assassinato ter sido a Unión Minière, uma maultinacional
belga);
- Como tantos outros fantoches, Mobutu Seseseko foi por vossos agentes
conduzido ao poder e concedeu facilidades especiais à espionagem
americana: o quartel-general da CIA no Zaire tornou-se o maior em África. A ditadura brutal deste zairense não mereceu nenhum reparo dos EUA até que ele deixou de ser conveniente, em 1992;
- A invasão de Timor Leste pelos militares indonésios mereceu o apoio dos EUA. Quando as atrocidades foram conhecidas, a resposta da Administração Clinton foi "o assunto é da responsabilidade do governo indonésio e não queremos retirar-lhe essa responsabilidade";
- O vosso país albergou criminosos como Emmanuel Constant um dos líderes mais sanguinários do Taiti cujas forças para-militares massacraram
milhares de inocentes. Constant foi julgado à revelia e as novas
autoridades solicitaram a sua extradição. O governo americano recusou o
pedido.
- Em Agosto de 1998, a força aérea dos EUA bombardeou no Sudão uma fábrica de medicamentos, designada Al-Shifa. Um engano? Não, tratava-se de uma retaliação dos atentados bombistas de Nairobi e Dar-es-Saalam.
- Em Dezembro de 1987, os Estados Unidos foi o único país (junto com
Israel) a votar contra uma moção de condenação ao terrorismo internacional.
Mesmo assim, a moção foi aprovada pelo voto de cento e cinquenta e três
países.
- Em 1953, a CIA ajudou a preparar o golpe de Estado contra o Irão na
sequência do qual milhares de comunistas do Tudeh foram massacrados. A lista de golpes preparados pela CIA é bem longa.
- Desde a Segunda Guerra Mundial, os EUA bombardearam: a China (1945-46), a Coreia e a China (1950-53), a Guatemala (1954), a Indonésia (1958), Cuba (1959-1961), a Guatemala (1960), o Congo (1964), o Peru (1965), o Laos (1961-1973), o Vietname (1961-1973), o Camboja (1969-1970), a Guatemala (1967-1973), Granada (1983), Líbano (1983-1984), a Líbia (1986), Salvador (1980), a Nicarágua (1980), o Irão (1987), o Panamá (1989), o Iraque (1990-2001), o Kuwait (1991), a Somália (1993), a Bósnia (1994-95), o Sudão (1998), o Afeganistão (1998), a Jugoslávia (1999)
- Acções de terrorismo biológico e químico foram postas em prática pelos
EUA: o agente laranja e os desfolhantes no Vietname, o vírus da peste
contra Cuba que durante anos devastou a produção suína naquele país.
- O Wall Street Journal publicou um relatório que anunciava que 500 000
crianças vietnamitas nasceram deformadas em consequência da guerra química das forças norte-americanas.
Acordei do pesadelo do sono para o pesadelo da realidade. A guerra que o Senhor Presidente teimou em iniciar poderá libertar-nos de um ditador. Mas ficaremos todos mais pobres. Enfrentaremos maiores dificuldades nas nossas já precárias economias e teremos menos esperança num futuro governado pela razão e pela moral. Teremos menos fé na força reguladora das Nações Unidas e das convenções do direito internacional. Estaremos, enfim, mais sós e mais desamparados.
Senhor Presidente:
O Iraque não é Saddam. São 22 milhões de mães e filhos, e de homens que trabalham e sonham como fazem os comuns norte-americanos. Preocupamo-nos com os males do regime de Saddam Hussein que são reais. Mas esquece-se os horrores da primeira guerra do Golfo em que perderam a vida mais de 150 000 homens.
O que está destruindo massivamente os iraquianos não são as armas de
Saddam. São as sanções que conduziram a uma situação humanitária tão grave que dois coordenadores para ajuda das Nações Unidas (Dennis Halliday e Hans Von Sponeck) pediram a demissão em protesto contra essas mesmas sanções.
Explicando a razão da sua renúncia, Halliday escreveu: "Estamos destruindo toda uma sociedade. É tão simples e terrível como isso. E isso é ilegal e imoral". Esse sistema de sanções já levou à morte meio milhão de crianças iraquianas.
Mas a guerra contra o Iraque não está para começar. Já começou há muito tempo. Nas zonas de restrição aérea a Norte e Sul do Iraque acontecem continuamente bombardeamentos desde há 12 anos. Acredita-se que 500 iraquianos foram mortos desde 1999. O bombardeamento incluiu o uso massivo de urânio empobrecido (300 toneladas, ou seja 30 vezes mais do que o usado no Kosovo)
Livrar-nos-emos de Saddam. Mas continuaremos prisioneiros da lógica da
guerra e da arrogância. Não quero que os meus filhos (nem os seus) vivam dominados pelo fantasma do medo. E que pensem que, para viverem tranquilos, precisam de construir uma fortaleza. E que só estarão seguros quando se tiver que gastar fortunas em armas. Como o seu país que despende 270 000 000 000 000 dólares (duzentos e setenta biliões de dólares) por ano para manter o arsenal de guerra. O senhor bem sabe o que essa soma poderia ajudar a mudar o destino miserável de milhões de seres.
O bispo americano Monsenhor Robert Bowan escreveu- lhe no final do ano passado uma carta intitulada "Porque é que o mundo odeia os EUA ?" O bispo da Igreja Católica da Florida é um ex--combatente na guerra do Vietname.
Ele sabe o que é a guerra e escreveu: "O senhor reclama que os EUA são alvo do terrorismo porque defendemos a democracia, a liberdade e os direitos humanos. Que absurdo, Sr. Presidente ! Somos alvos dos terroristas porque, na maior parte do mundo, o nosso governo defendeu a ditadura, a escravidão e a exploração humana. Somos alvos dos terroristas porque somos odiados. E somos odiados porque o nosso governo fez coisas odiosas. Em quantos países agentes do nosso governo depuseram líderes popularmente eleitos substituindo-os por ditadores militares, fantoches desejosos de vender o seu próprio povo às corporações norte-americanas multinacionais ? E o bispo conclui: O povo do Canadá desfruta de democracia, de liberdade e de direitos humanos, assim como o povo da Noruega e da Suécia. Alguma vez o senhor
ouviu falar de ataques a embaixadas canadianas, norueguesas ou suecas? Nós somos odiados não porque praticamos a democracia, a liberdade ou os direitos humanos. Somos odiados porque o nosso governo nega essas coisas aos povos dos países do Terceiro Mundo, cujos recursos são cobiçados pelas nossas multinacionais."
Senhor Presidente:
Sua Excelência parece não necessitar que uma instituição internacional
legitime o seu direito de intervenção militar. Ao menos que possamos nós
encontrar moral e verdade na sua argumentação. Eu e mais milhões de
cidadãos não ficamos convencidos quando o vimos justificar a guerra. Nós
preferíamos vê- lo assinar a Convenção de Kyoto para conter o efeito de
estufa. Preferíamos tê-lo visto em Durban na Conferência Internacional
contra o Racismo.
Não se preocupe, senhor Presidente. A nós, nações pequenas deste mundo, não nos passa pela cabeça exigir a vossa demissão por causa desse apoio que as vossas sucessivas administrações concederam apoio a não menos sucessivos ditadores. A maior ameaça que pesa sobre a América não são armamentos de outros. É o universo de mentira que se criou em redor dos vossos cidadãos. O perigo não é o regime de Saddam, nem nenhum outro regime. Mas o sentimento de superioridade que parece animar o seu governo.
O seu inimigo principal não está fora. Está dentro dos EUA. Essa guerra só pode ser vencida pelos próprios americanos.
Eu gostaria de poder festejar o derrube de Saddam Hussein. E festejar com todos os americanos. Mas sem hipocrisia, sem argumentação e consumo de diminuídos mentais. Porque nós, caro Presidente Bush, nós, os povos dos países pequenos, temos uma arma de construção massiva: a capacidade de pensar
A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original – Albert Einstein
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