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Caldeirão da Bolsa

BCP alarmante

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

para Joao Dinis de Sousa

por artista_ » 20/3/2003 23:09

Acontece que você está a considerar a provisão de 200 milhões de euros que o BCP resolveu fazer, e isso é tão importante que representa quase 50% dos lucros ou seja sem ela tem quase de dobrar o EPS, ou seja:

472/3257=0.1449 euros

Ora será pouco provável que o BCP volte a fazer provisões este ano e ainda assim ela não pode (ou não deve) ser considerada para o cálculo do EPS...

Tudo depende da evolução dos resultados mas se se mantiverem o PER do BCP neste momento é 8.64... muito longe dos 16 que você referiu!!!

cps
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Re: permita-me discordar...

por Joao Dinis de Sousa » 20/3/2003 17:32

artista Escreveu:Para terminar gostaria apenas de lhe perguntar onde foi buscar o EPS de 0,8€? e porque acha que o BCP vai ter de voltar a fazer provisões em 2003?


O EPS de 0.08 é muito simples. O lucro foi de 272 ME, o número de acções é de 2327 M, com as 930 M do aumento de capital passam a ser de 3257 M. Logo o EPS é de 272 / 3257 = 0.0835 euros.

Quanto a voltar a fazer as mesmas provisões em 2003, acho que muita coisa pode acontecer, mas o crédito mal parado na economia começa a ser suficientemente grave para esperarmos que não se tenha limitado a 2002, se calhar em 2003 será ainda pior.
Joao Dinis de Sousa
 

Re: BCP

por Joao Dinis de Sousa » 20/3/2003 17:25

Merlin Escreveu:É importante perceber que a sl que refere , em 2001, de 5040ME, inclui os passivos subordinados, segundo o mesmo critério em 2002 seria de aprox 5300 ME , antes do presente aumento.Com este aumento ( e pensando que as contas traduzem de forma verdadeira e apropriada a siruação da instituição), a situação do banco fica relativamente confortável em termos de indices tier1 e tier2.Na banca Nacional, tirando a CGD não vjo muito melhor (naqueles que contam, óbviamente).Um abraço. :wink:


Merlin, obrigado pela sua intervenção, mas gostaria que apresentasse mais detalhes do que afirma. Não tive acesso ao balanço de 2002 ainda; quando afirmei que a SL era de 2188 ME foi baseado num artigo do DN que também foi posted aqui no Caldeirão. Estamos a tocar aqui num ponto da máxima importância.
Joao Dinis de Sousa
 

Re: BCP

por JAS » 20/3/2003 15:09

Sorna Escreveu:Gostaria que explicasse, em que se baseia o JAS, para poder afirmar essa "migração de participações qualificadas" que anteriormente referiu.


Houve um post do Provedor que tinha as participações qualificadas em 2001 e 2002. Julgo que essas estatísticas foram diviguldadas por altura do anúncio do aumento de Capital.

JAS
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por Visitante » 20/3/2003 12:55

Bom dia

Porque não se fala aqui dos que só fazem short intraday?
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BCP

por Merlin » 20/3/2003 12:28

joão Dinis escreveu "segundo a contabilidade americana, o banco já teve prejuízo em 2002 e, de facto, é difícil imaginar um lucro quando a situação líquida implode de 5040 ME para 2188 ME...). "


É importante perceber que a sl que refere , em 2001, de 5040ME, inclui os passivos subordinados, segundo o mesmo critério em 2002 seria de aprox 5300 ME , antes do presente aumento.Com este aumento ( e pensando que as contas traduzem de forma verdadeira e apropriada a siruação da instituição), a situação do banco fica relativamente confortável em termos de indices tier1 e tier2.Na banca Nacional, tirando a CGD não vjo muito melhor (naqueles que contam, óbviamente).Um abraço. :wink:
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Re: BCP

por Sorna » 20/3/2003 1:59

JAS Escreveu:
No último ano registou-se uma migração de participações qualificadas da mão de particulares para os institucionais. Isso normalmente antecede qualquer subida, não é?


Caro, JAS

como é de seu conhecimento este aumento de capital desde muito cedo me destertou algum interesse.
A prova, foi o devido esclarecimento quanto ao funcionamento dos direitos.

Gostaria que explicasse, em que se baseia o JAS, para poder afirmar essa "migração de participações qualificadas" que anteriormente referiu.

cumps.

:| Sorna :|
Sorna
 

Não me admirava que...

por artista_ » 20/3/2003 1:52

a UBS e a ML ficassem de mãos a abanar... só que isso pode não ser uma boa notícia!
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BCP

por JAS » 20/3/2003 1:43

Muitos dos problemas referidos para o BCP são comuns aos outros bancos portugueses...
O investimento feito pelo BCP, em empresas portuguesas, mostra-se desastroso? Pois mostra... os accionistas dessas empresas dizem o mesmo.
Quanto ao Aumento de Capital veremos... O sucesso da operação está garantido. Quero ver se haverá mais alguma empresa portuguesa a conseguir fazer um aumento e, ainda por cima, aumentando o capital em 40%.

Mas vamos aos gráficos. não há qualquer dúvida que o BCP teve um comportamento péssimo nos últimos meses mas isso não é novidade nenhuma. O papel estava em queda e só lá ficou quem quiz.
Mas acho que o que interessa discutir é o comportamento no passado recente e em termos de curto ou médio prazo.
Partindo da cotação inicial de 1,64, quando foi anunciado o Aumento de Capital, já se sabia que a cotação deveria ser corrigida para aproximadamente 1,36.
Um dos erros frequentes que tenho visto é a falta de correcção da distribuição de dividendos (quebra de 0,10) e do próprio aumento de capital (quebra de 0,18) o que falseia, na minha opinião, o aspecto de qualquer gráfico.
Se virmos bem a queda "catastrófica" foi, na realidade, apenas de 1,36 para 1,32... cerca de 3%.

Neste momento negoceiam-se direitos. Já aqui foi explicado como é vantajoso vender acções do banco, comprar direitos a preço equivalente ou até mais baratos, subscrever as mesmas acções no aumento de capital. Além de se conseguir recomprar o mesmo mais barato só se paga 1 euro/acção mais tarde. Empréstimo a custo zero...
Deste facto era expectável uma descida de cotações e, consequentemente, uma desvalorização dos direitos.

Estamos a poucos dias da conclusão da negociação dos direitos (último dia 25 Março) e nessa altura acaba-se a troca. Deixa de haver este motivo para a cotação cair.
Logo a seguir temos o dia 31 (fecho do trimestre) e não nos podemos esquecer que 40% do BCP está na mão dos institucionais. Estas cotações do BCP vão influenciar muito negativamente esses resultados.
No último ano registou-se uma migração de participações qualificadas da mão de particulares para os institucionais. Isso normalmente antecede qualquer subida, não é?
Finalmente não estou a ver que os accionistas do BCP não exerçam o seu direito de opção e não comprem a 1 Euro todas as acções não subscritas... Sobrará alguma para o Sindicato de Bancos?

Pensem nisso.

JAS

P.S. - Eu sou um dos que tem comprado direitos. Se o negócio dos direitos correr mal limit-me a subscrever as acções...
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permita-me discordar...

por artista_ » 20/3/2003 1:17

Se há investidores a comprar direitos e não vão ter capital para os exercer não sei, o que sei é que a pressão vendedora de direitos e acções é muito superior à compradora, caso contrário as respectivas cotações não caiam a pique como tem caído.

O que me parece, aliás é uma visão partilhada por muita gente, é que há muita venda de direitos (convém não esquecer que alguns accionistas de referência disseram publicamente que não iriam au aumento de capital e devem estar agora a vender os seus "milhões" de direitos) que tem sido aproveitada para fazer arbitragem com as acções fazendo cair ambos, ou seja vende-se acções para comprar direitos que representam as mesmas acções a preços cada vez mais baratos... parece-me simples, excesso de oferta em relação à procura!!

Mas se realmente houver investidores a comprar direitos que não vão poder exercer, não se podem queixar de ninguém a não ser da sua própria estratégia, pois estão a assumir uma posição especulativa e não de longo prazo.
Há sim alguns investidores que compraram acções do BCP há alguns anos, incentivados por campanhas do grupo, e que presentemente para além de terem menos-valias potenciais consideráveis estão a ser confrontados com sucessivos aumentos de capital que lhes exigem ainda mais esforços financeiros. De qualquer forma nestes casos tem sempre a possibilidade de venderem os seus direitos em bolsa, o que aliás deve ser o que está a acontecer um muitos casos.

Para terminar gostaria apenas de lhe perguntar onde foi buscar o EPS de 0,8€? e porque acha que o BCP vai ter de voltar a fazer provisões em 2003?

Acho que está demasiado pessimista, se calhar está na hora de comprar?!.. :)

Aproveite que quando acabar a negociação dos direitos deverá acontecer o contrário, muitos compradores e pouco papel à venda...

cumprimentos
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Caro João Sousa

por Puxa vida » 19/3/2003 23:49

apreciei a sua exposição e concordo na generalidade com o apresentado.

Há, no entanto, uma questão que gostaria de referir:

A queda dos direitos /acção já era de esperar

Ora ,se não há dinheiro no mercado suficiente,o BCP teve que recorrer ao capital estrangeiro, e estes não andam a dormir, e pouco mais vão pagar que 1€

O problema foi que muitos investidores fizeram dos direitos um negócio igual ao das acções e desataram a comprar, influênciados por tudo e mais alguma coisa em que o BCP tem sido fértil ultimamente

Agora, aproxima-se a fase final e estão carregados de direitos e não tem dinheiro para comprar as acções correspondentes. Vão ter que vender a qualquer preço para não perderem tudo.
Puxa vida
 

Re: esclarecimento

por Joao Dinis de Sousa » 19/3/2003 22:49

artista Escreveu:O Per do BCP é 11 (aliás agora já é menor que isso) e não 16 porque o lucro que você referiu é depois de uma provisão de 200 milhões de euros que o BCP resolveu fazer, algo extraordinário que não se espera que volte a acontecer no presente ano, ou seja não fosse essa provisão e actualmente o BCP tem um per inferior a 10 mesmo depois do aumento de capital....
cps


O lucro é sempre considerado pós provisões. E os 200 ME provisionados podem não ser suficientes para o crédito mal parado que começa a multiplicar-se em toda a economia portuguesa; e estas provisões podem repetir-se em 2003.
Joao Dinis de Sousa
 

mais...

por artista_ » 19/3/2003 21:39

... o prazo para negociação dos direitos é o normal para qualquer aumento de capital, não há aqui qualquer diferença...

Voltarei mais tarde a fazer um comentário mais detalhado, agora vou hjantar que já são horas :)
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esclarecimento

por artista_ » 19/3/2003 21:32

O Per do BCP é 11 (aliás agora já é menor que isso) e não 16 porque o lucro que você referiu é depois de uma provisão de 200 milhões de euros que o BCP resolveu fazer, algo extraordinário que não se espera que volte a acontecer no presente ano, ou seja não fosse essa provisão e actualmente o BCP tem um per inferior a 10 mesmo depois do aumento de capital....

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por Lucas » 19/3/2003 21:06

Excelente post.
Não consigo compreender na prática o porquê da existência do valor contabilistico e do valor nominal.
O que são na prática e qual o seu interesse.

Obrigado a quem puder responder
Lucas
 

BCP alarmante

por Joao Dinis de Sousa » 19/3/2003 20:41

O BCP está em queda acentuada há muitos meses. Nos últimos dias muitos investidores compraram direitos de subscrição do aumento de capital a valores entre os 0.18 e os 0.11. Mas a situação é preocupante, senão vejamos. Os lucros de 2002 foram de 272 milhões de euros, cerca de metade do ano passado, o que faz com que, tendo em conta o novo número de acções depois do aumento (3257 milhões), à cotação de 1.32, o PER do banco ainda é de 16 (ao contrário de uma nota recente da ESR que considera que o PER é de 11). Além disso, a situação líquida do banco desceu, catastroficamente, dos 5040 ME em 2001 para 2188 ME em 2002, ou seja, para menos de metade. Isso coloca o valor contabilístico em cerca de 0.96 euro (já depois do encaixe do aumento de capital), abaixo do valor nominal de 1 euro. O preço de subscrição de 1 euro, muito baixo, foi a única forma de garantir (será que garante?) a colocação das acções, para obter um encaixe de que o banco desesperadamente precisa. A tomada firme das acções por instituições internacionais faz-se a 1 euro, eles não ofereceriam mais um tostão. Além disso, será que essa tomada firme é realmente efectiva? Ou encontra-se protegida por acordos de opção de revenda secretos (feitos com opções, warrants, ou outros instrumentos derivados), que garantem ao tomador nada perder, mantendo-se o impacto mediático da tomada firme com o objectivo de levar milhares de investidores a subscrever? Não tenho provas disto que estou a sugerir, mas não me admirava que, nas colocações de acções modernas, quer em OPVs quer em aumentos de capital, já se tenha institucionalizado uma prática de "tomadas forme aparentes" como forma de marketing das ditas operações (será que o fundo estrangeiro que tomou firme a OPV da Sonae.com em 2000 a 10 euros está realmente a perder? Ou saiu a ganhar pelas traseiras? Aqui fica a interrogação).
Além disso, note-se a propaganda desenfreada do BCP que tem assolado os media nestes dias. Na rádio ouve-se agora um anúncio a invocar a grandeza do grupo (dá emprego a 22000 pessoas, etc). Nos jornais económicos, fala-se de rumores de interesse de bancos estrangeiros. Fala-se de vários accionistas de referência que dizem que vão subscrever (será que lhes foram dadas garantias para proferirem tais declarações?). Tudo isso ajuda a que as pessoas vão subscrever este aumento. Mas a má situação do BCP não passou despercebida a muitos investidores de peso e isso pressiona as cotações para baixo. O prazo de subscrição é só até 28-3, para reduzir as hipóteses de queda da acção até ao momento da subscrição.
Mais geralmente, a situação do BCP parece alarmante. As suas quotas de mercado caíram em 2002 em várias frentes (segundo artigo no DN). As aquisições do BPA, BPSM e Banco Mello nunca foram rentáveis. O seu investimento na Eureko estoirou, a Oniway fechou, as participações em empresas (como a EDP) perderam muito valor, o que significa perdas de centenas de milhões de contos. A gestão BCP, excelente até 1994 e ruinosa a partir daí, destruiu metade do valor investido pelos accionistas nos sucessivos aumentos de capital. O banco anunciou que quer vender a Seguros & Pensões, numa confissão de impotência impressionante - desde o início dos anos 90 que os grandes bancos têm um braço segurador associado. Se conseguir vender, será barato, pois as seguradoras europeias estão arruinadas, e as portuguesas não estão melhor (por exemplo, a Tranquilidade do grupo Espírito Santo também perdeu milhões de contos). O fundo de pensões do BCP está com uma insuficiência enorme, devido à queda dos mercados accionistas e ao facto de ter investido em acções BCP compradas a 4-5 euros. Milhares de clientes estão endividados ao banco na sequência das acções BCP que compraram a 4-5 euros com recurso a crédito. Será que estes clientes têm vontade (e dinheiro) para pagar estas dívidas? E a quantidade crescente de empresas do sector imobiliário falidas? E a quantidade crescente de famílias que não suporta as prestações imobiliárias, obrigando o banco a executar hipotecas, um negócio desvantajoso? E o colapso do negócio da corretagem bolsista? E a retracção de cerca de 50% nas transacções imobiliárias, com a consequente redução do crédito? E o facto de as grandes empresas instaladas em Portugal recorrer crescentemente à banca europeia para se financiar? E a tendência crescente dos clientes usarem a banca online, o que obriga os bancos a fechar agências e a despedir pessoal, com grandes custos (a tal piada: os espaços já foram pastelarias, depois passaram a sucursais bancárias, e agora vão voltar a ser pastelarias)? Por tudo isto, a situação de toda a banca portuguesa é alarmante, e a do BCP pior.
Que esperar agora? A cotação deverá manter-se no curto prazo entre os 1.20 e os 1.40, pois há enormes pressões para que este seja subscrito, mas, a longo prazo, poderá ir abaixo do valor nominal. O melhor que poderá acontecer é o banco concentrar-se nas áreas rentáveis. Se, depois de limpo dos sectores deficitários, o banco aguentar os lucros de 0.08 euros por acção actuais, talvez tenha um valor entre 1.10 e 1.30 euros. Mas os custos de reestruturação e de venda ao desbarato das participações não rentáveis poderão causar prejuízos nos próximos anos (segundo a contabilidade americana, o banco já teve prejuízo em 2002 e, de facto, é difícil imaginar um lucro quando a situação líquida implode de 5040 ME para 2188 ME...). Tudo isso poderá erodir a situação líquida para valores abaixo dos 0.96 euros por acção actuais em 2003 ou 2004, justificando cotações bem mais baixas. A ver vamos.
Joao Dinis de Sousa
 


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