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Caldeirão da Bolsa

O Império da Coincidência e do Previsível

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Re: O Império da Coincidência e do Previsível

por JAS » 2/2/2003 3:50

MarcoAntonio Escreveu:(...)exceptuando dois casos em particular que vale a pena referir e relacionados com efeitos de sazonalidade, uma verdadeira pedra no sapato do Random-Walk: a sazonalidade semanal (o chamado <i>Monday Effect</i>) e a sazonalidadee anual (o chamado <i>January Effect</i>).

Eu ainda acrescentaria alguns outros como o Friday Effect, porque muita gente tem a mania de fechar posições antes do fim de semana, e o fecho do trimestre porque são conhecidas as movimentações de alguns Fundos por causa da apresentação de resultados.

MarcoAntonio Escreveu:(...)A conclusão clássica dos académicos: ainda que passa ter algum fundamento, os testes empíricos levam a concluir que o recurso à Análise Técnica não permite mais do que ganhos marginais.

Ora bem, as regras e os timings definidos pela AT, limitam na realidade os ganhos. Mas daí a serem marginais vai uma grande distância. De qualquer forma, grão a grão enche a galinha o papo. Julgo que o uso escrupuloso da AT fará perder, em média, metade dos ganhos possíveis num trade. Define sem dúvida uma entrada tardia e define uma saída também tardia após se iniciar a queda.

MarcoAntonio Escreveu:A popularidade crescente da Análise Técnica (...)

Pois bem, este é um ponto que gosto muito de abordar. Quando todos começam a utilizar o mesmo método, e o utilizam de uma forma correcta e objectiva, deixa de se verificar o ditado popular "em terra de cegos quem tem olho é Rei". Quero com isto dizer que se todos começarem a "saber prever" como se irá mover determinado título será difícil negociar em bolsa... Se ele está a subir deixará de haver vendedores, se ele está a descer não haverá compradores. A primeira consequência disto será uma maior amplitude de oscilação das cotações porque haverá rarefação de um dos lados. E também uma maior rapidez do movimento porque todos começam a vê-lo, com os meios de informação disponíveis, ao mesmo tempo.
Isto, de facto, poderá reduzir substancialmente os ganhos, poderá mesmo reduzi-los a ganhos marginais apenas.
Haverá então que antecipar os timings de entrada e de saída não esperando pelo dia seguinte. Começa a ser necessário estar on-line e a analisar permanentemente o título para tentar entrar ou sair antes da maioria dos "At's".

MarcoAntonio Escreveu:Este tipo de análise «adaptativa» e de carácter iminentemente subjectivo é de facto muito traiçoeira porque o analista/investidor acaba por recorrer muitas vezes aos gráficos apenas para encontrar conforto e justificação para os trades executados... ou simplesmente encontra explicações nos gráficos que estes nunca tiveram porventura intenções de fornecer!...

É costume argumentar que há sempre quem veja coisas diferentes no mesmo gráfico ou no mesmo título. Isso é verdade, pelo menos por enquanto. Mas é uma questão de tempo e é uma questão de aprendizagem. Sob este ponto de vista julgo que, com a generalização do conhecimento, isso se irá atenuar muito rapidamente.
Além disso eu comecei por referir, propositadamente, quando "utilizam a AT de uma forma correcta e objectiva" o que deixa de fora todos aqueles casos de dúbia interpretação onde é habitual misturarmos a AT com o "Feeling" ou com o "Desejo"...

MarcoAntonio Escreveu:(...)duas vezes seguidas, outras três, outras quatro (com frequências decrescentes, fruto das respectivas probabilidades). Da mesma forma, existe uma certa probabilidade de, no meio do acaso bolsístico, surgirem padrões nos gráficos, por vezes até muito caprichosos.

A história das moedas já está discutida noutro post pelo que não toco no assunto.
O que me interessa fazer realçar é que a questão frequências, probabilidades de cada uma, etc, etc, apenas tem validade se a amostra , objecto de estudo, tiver dimensão adequada. Não se faz estatística com um caso...
Quero com isto dizer que a AT não é aplicável quando a base de dados anterior é muito reduzida ou quando os volumes de determinado título são ridículos. Isto deixa de fora naturalmente todas as nossas Small Caps e, diria mesmo, grande parte dos títulos do nosso PSI...
Mas vejo tantas análises a essas... Não há bicho careta que não faça a sua ATzinha e não a apresente como se fosse perfeitamente válida.
Outro erro frequente é continuar a considerar a mesma base de dados quando se verifica uma substancial alteração na negociação. Não falo do stock split pois esse é tão evidente que é normal ser feita a correcção. Mas falo, por exemplo, da distribuição de dividendos e falo do caso das OPA's. Continuar a "prever" o caminho da Vodafone sem atender a que existe actualmente uma oferta é um erro pois os antigos suportes ou resistências deixam de ter validade plausível, tudo o que está para trás da data de lançamento da oferta pouco interessa.

MarcoAntonio Escreveu:Alguns perguntar-se-ão então como se conjuga uma visão destas com uma estratégia de investimento que se baseia praticamente em exclusivo em Análise Técnica. Esse será o tema do próximo post que terá de ficar provavelmente para o próximo fim de semana.

eheheheh... Para a semana temos então mais discussão, toda a gente sabe que eu não sou um incondicional da AT.

Um abraço Marco.

JAS
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por MarcoAntonio » 1/2/2003 20:38

Bem, penso que pelo menos uma virtude o meu post teve, «puxar» por alguns e já apareceram algumas opiniões interessantes.

Em relação ao tema da memória do mercado, a mim parece-me óbvio que o mercado tem memória, no entanto colocam-se algumas questões: se tem memória porque repete sempre os mesmos erros?... E em que medida é que se pode utilizar a memória em nosso favor, se é que se pode (o facto de ter memória não prova que a possamos utilizar, a memória pode seguir um padrão imprevisível e aparentemente aleatório, refiro-me é claro à forma como a memória condiciona os movimentos futuros). São aspectos que penso poder aprofundar melhor num próximo post e onde conto que a minha posição pessoal fique mais clara (sublinho que no meu post inicial não está presente a minha opinião, mas duas posições antagónicas com as quais não me identifico, encontrando-me antes num ponto médio algures entre as duas).

Havia talvez mais algum ponto que mercesse ser discutido daqueles que entretanto colocaram nestas respostas, mas de momento estou sem tempo para o fazer.
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1. Mais vale perder um ganho que ganhar uma perda, a menos que se cumpra a Segunda Lei.
2. A expectativa de ganho deve superar a expectativa de perda, onde a expectativa mede a
__.amplitude média do ganho/perda contra a respectiva probabilidade.
3. A Primeira Lei não é mesmo necessária mas com Três Leis isto fica definitivamente mais giro.
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A Memória dos mercados

por ASA Delta » 1/2/2003 16:51

Para mim trata-se do elemento principal do comportamento dos mercados. É através da memória dos mercados que nós vamos buscar informação sobre o que se passou em 1929,fazemos correlações sobre situações semelhantes e tentamos observar comportamentos futuros. Sabemos que quando se aproxima uma guerra, um atentado, ou uma calamidade qualquer, os mercados caêm, o ouro sobe....etc. São informações da memória dos mercados

As ATs não são mais que o registo de memória dos mercados, conjugados com factores aleatórios, como por ex:informação priviligiada sobre factos que alteram os rumos dos mercados. E o pior é que a At mostra as informações mas desfazadas no tempo,regista factos passados e não pode medir tendências futuras porque nunca sabemos a dimensão da memória, ou seja: a memória não se pode medir, é um elemento psicológico


O que há a descobrir nos mercados é uma Matriz de Memória

cpts
ASA Delta
 

por fproenca » 1/2/2003 13:14

Só tú para fazeres um artigo destes Marco, parabéns porque és dos poucos que vão ao fundo das questões.

Continua, principalmnete perto do fim de semana, assim dá para ler com mais calma.

Um abraço
"Os simples conselhos, recomendações ou informações não responsabilizam quem os dá, ainda que haja negligência da sua parte" (Art. 485º do Código Civil)
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Graficódependente

por Mary » 1/2/2003 9:46

Eu sou daqueles que sem gráfico não vai a lado nenhum :|

Este texto está sem duvida um must e merece ser impresso para referêncoa posterior mas de practica tem muito pouco, aliás, até é capaz de baralhar ainda mais as cabeças dos iniciados.

Larry Williams no seu livro faz referência ao random walk e até prova como o mercado é tudo menos random.

Segundo ele, se um mercado for random então seria bastante simples negociá-lo pois o range intraday seria practicamente sempre o mesmo, dia após dia.

Para provar o contrário, fez um teste com os dias da semana e provou que existem dias da semana mais propicios a rallies e outros mais propicios a sells offs, provando deste modo que o mercado não é random.


Eu penso que cada um de nós deve adaptar o seu proprio trading style, independentemente o que os académicos dizem ou pensam. Sempre ouvi dizer que quanto mais se estuda, menos se aprende :wink:

Para mim um gráfico é tudo. Ele indica-nos o rande de preços intraday, indicando assim os compradores/vendedores e o volume, indicando a pressão de um dos lados. Confesso que em tempo de earnings season as noticias são acompanhadas com alguma atenção, pois nesta situação é a psicologia que fala mais alto e dependendo da pressão de compra/venda exercida depois da noticia, podemos tentar antecipar um movimento aquando de algum tipo de valor de referência, repetindo um padrão anterior. Aqui, novamente, o grafico diz tudo.

O problema de fazer uma leitura grafica consoante os nossos desejos é sem duvida o grande handicap da AT. Cada vez mais foco os meus estudo barra a barra, seja ela diaria, semanal ou mensa. Há muito que deixei os triangulos e os H&S. Isso de trading não tem nada.

Sou um fiel crente de que os padrões do passada repetem-se vezes sem conta no futuro. É claro que não me refiro nos padrões geometricos mas sim nos padrões existentes em cada barra.

É interessante que deste tipo de padrão pouco ou nada se fala. E porquê? Simples, o seu estudo requere muitas horas à frente de um PC a fazer testes e ninguém tem a paciência para fazer tal estudos. É preferivel passar os dias em foruns e chats à espera de alguma alma divina que lhe diga o que fazer, ou então, apresentar um grafico com meia duzia de indicadores, que por norma anulam-se sempre uns aos outros, e dizer que o titulo XPTO vai subir pois está em zona oversold, please......

Vou ser curto e grosso :evil: neste forum apenas existe 1 pessoa que neste momento desperta a minha atenção no aspecto do trading, e é o allen

a sua visão, pelo que me é possivel entender, visto que ele discute muito pouco o seu sistema de leitura :cry: , é o simples seguimento barra a barra, seguindo deste modo os repetidos padrões da mesma.

Todos os outros nicks publicam posts interessantes mas sem a menor utilidade no conceito do trading.

Peço desculpa se ofendi alguém, não quis nem quero menosprezar as centenas de nicks registados neste forum. Todos os dias venho aqui e tento ler todos os posts publicados. Mas quem aqui anda nesta vida à mais de 5 anos, sabe perfeitamente que à pelo menos 3 anos que nada de "interessante" acontece nos foruns sobre bolsa neste país.

De vez enquando aparece posts como este que o Marco escreveu que desperta a atenção mas de resto, são apenas bitaites, que, para o stress são sempre bons :wink:


Peço desculpa pelo longo post mas acordei electrico hoje :mrgreen:

Cumprimentos a todos e mais uma vez, parabens Marco e espero com bastante interesse o post da proxima semana
Mary
 

por MarcoAntonio » 1/2/2003 2:35

ASA Delta, volto a frisar que eu não estou a defender o Random-Walk nem os pressupostos inerentes. Quanto muito estou a admitir que esse (como outros modelos) têm a vantagem de se aproximarem bastante nas suas «previsões» do que se passa no mercado real, ou seja, ao comparar-se o que o modelo sugere que deve acontecer com o que acontece realmente, os resultados são muito aproximados. De qq das formas, o post tem seguimento (que só devo apresentar na semana que vem).

Ainda sobre a questão da independencia, penso que já ficou explicado atrás, mas a questão não é afirmar que os acontecimentos nunca são dependentes mas que funcionam como independentes: a correlação entre períodos consecutivos (e para vários valores, um dia, uma semana, um mês) é praticamente nula, ou seja, não existe correlação do ponto de vista estatístico, pelo menos assinalável. Portanto, se os acontecimentos não são exactamente aleatórios, funcionam como sendo 99% aleatórios (detectando-se uma correlação positiva mínima aqui, uma correlação negativa mínima acolá e no global tudo se anulando). Dito por outras palavras, a correlação que detectou nesse caso do BPI, estatísticamente nada lhe diz que da próxima vez se vai passar de igual forma, provavelmente vai-se passar de forma diferente e no final o que temos é (na prática) acontecimentos independentes.

Se não são independentes, são dependentes a um nivel tão reduzido e tão «mal correlacionado» (perdoem-me o termo) que considerá-los independentes funciona satisfatoriamente bem.

É óbvio que estamos a falar de um modelo e cujo (principal) objectivo não é que represente exactamente o mercado em toda a sua lógica mas que funcione e que funcione de forma tão aproximada à realidade tanto quanto possível (e aqui voltamos ao meu primeiro parágrafo).

Esta questão da independência é idêntica à questão da racionalidade dos investidores: é lógico que os académicos não defendem que não existe irracionalidade nos mercados e que os intervenientes são todos uns prodígios da racionalidade, o que se passa é que as irracionalidades tendem a cancelar-se no global do mercado e os desvios, a prazo, tendem a ser corrigidos.

E para que não haja confusões, relembro ainda mais uma vez que deste lado está um investidor que praticamente recorre em exclusivo à Análise Técnica para investir. Nada do que eu escrevi invalida o recurso à Análise Técnica (embora eu tenha escrito que outros pensam que sim). Não quer dizer que eu pense o mesmo que eles...
:wink:
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Caro Marco

por ASA Delta » 1/2/2003 2:18

Desta sua análise destaco a questão dos acontecimentos independentes do mecado; ou seja ,os mercados não terem memória.

Não concordo de modo nenhum

Vejamos um exemplo de hoje, caso do BPI com a noticia do reforço do Santander

Em relação à AT de ontem nada indicava a subida de hoje. Portanto a AT não dá a previsão de acontecimentos futuros. Pelo contrário a de hoje já lhe dá o efeito da noticia e nada lhe diz sobre o dia de 2ª feira. Mas há uma coisa que ficou no ar (isso é a memória do mercado) e vai ter possivelmente efeitos futuros na acção.
ASA Delta
 

por MarcoAntonio » 1/2/2003 1:34

Caro (visitante), o meu objectivo é apresentar perspectivas, ideias e se possível suscitar a discussão salutar. Gostaria que as minhas participações fossem entendidas nesse sentido. Muito do que escreve «bebi» de outros. Como disse Newton num raro momento de modéstia, se cheguei onde cheguei foi porque me coloquei sobre os ombros de gigantes.

Não é o meu caso, obviamente, que não cheguei a lado nenhum de especial. O que quero dizer é que o que damos é o que recebemos. O que está aqui escrito é 99% trabalho de outros. Os outros 1% são o meu esforço para transmitir o pouco que assimilei.

Como vê, é muito pouco.
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Excelente artigo

por JAS » 1/2/2003 1:32

Pois é, Marco António, é destes artigos que eu gosto.
Vejo que agora vens cá pouco mas vens com as ideias muito arrumadinhas.
Como deves calcular eu estou de acordo com grande parte do que escreveste mas não vou resistir a fazer uns comentários...
Mas deixo isso para o fim de semana, hoje estou mesmo cheio de sono.

Um grande abraço,
JAS
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por MarcoAntonio » 1/2/2003 1:27

* Em traços muito gerais, a Teoria do Random-Walk acenta no pressuposto de um Mercado Eficente, propondo que a evolução dos preços resulta da informação acessível aos intervenientes do mercado a cada momento. Ou seja, perante a informação disponível, o mercado faz uma avaliação racional e eficiente do valor do activo. Desta forma, considera-se que o valor atribuído pelo mercado uma boa estimativa do valor real do activo. A volatilidade e instabilidade no curtíssimo-prazo é explicada pela chegada constante de nova informação que se vai propragando pelos intervenientes do mercado a diferentes velocidades. Essa nova e inesperada informação resulta em movimentos aleatórios imprevisíveis em torno do valor real do activo, até porque a informação não é imediatamente assimilada e interpretada da mesma forma pelos diversos intervenientes que poderão discordar entre si, «puxando» a cotação ora para um lado ora para o outro. Assim, podemos ver a evolução dos preços como uma caminho aleatório em torno do valor real do activo, tendendo os desvios para o valor real a ser corrigidos a prazo.
A Teoria é parcial no que diz respeito à questão A.F. vs A.T. ao considerar que enquanto praticamente não existe espaço de manobra para a segunda dado que a chegada da nova informação é imprevisível e a distribuição dos preços é muito próxima duma distribuição normal, para a primeira existe uma consequencia bastante directa que é o facto de um Analista Fundamental dispor de informação mais completa do que aquela que está acessível ao público em geral e de portanto poder «jogar» com os desvios que possam existir entre a avaliação que o mercado faz do activo e a avaliação que o Analista faz do mesmo activo.

* Em relação a este segundo ponto, a <i>serial correlation</i> é a correlação dos retornos em períodos consecutivos (sejam de um dia, uma semana ou um mês), ou seja, verificar se existe alguma correlação para movimentos nesses períodos e movimentos no período posterior. Por outroas palavras, verificar se um título que sobe num dia tem maior probabilidade de subir no dia seguinte (correlação positiva) ou de cair (correlação negativa). Os resultados não são conclusivos e aproximam-se muito de zero (ou seja, de não existir qq correlação).
Os <i>run-tests</i> consistem em analisar para um determinado período de tempo as sequências de subidas e de descidas e verificar se estas se repetem de acordo com uma distribuição normal. É um exemplo muito idêntico ao da moeda lançada ao ar: tome-se por exemplo um período de 20 sessões e verifique-se qual foi a sequência (por hipótese, U DD U D UUU DD U D UU D UUUU D) e compare-se a frequência de cada uma das sequências com a que sería de esperar. Se por exemplo, as subidas de <i>xis</i> dias consecutivos forem mais frequentes do que as probabilidades ditariam, então é sinal que o comportamento não é aleatório.
Acontece que a análise técnica não avalia as tendências por simples sequências de dias <i>up</i> e dias <i>down</i>. Aliás, as tendências são outra pedra no sapato do Random-Walk e testes mais elaborados permitiriam já demonstrar que as tendências são mais persistentes do que sería desejável num comportamento puramente aleatório.


Sobre a observação pertinente do u2u, esse é de facto um ponto muito importante e uma das bases da teoria do Random-Walk (que eu não estou a defender, aliás ela está a «passar à história», o meu objectivo é apresentar duas perspectivas radicalmente diferentes e de como duas facções apresentam «modelos» do mercado tão distintas). Em relação a essa questão já parcialmente respondida atrás, segundo os académicos defensores do Random-Walk, os acontecimentos no mercado são muito próximos do independente, ou seja, se existe dependência ela praticamente não se faz sentir (pelo menos segundo os seus estudos e análises). Isto desafia o senso-comum porque é o mesmo que dizer que o mercado não tem memória. Mas de facto o modelo apresentado com base no pressuposto da independência aproxima-se muito do real diferindo em questões de pormenor. De qualquer das formas «eles» já andam à procura de um modelo melhor...
:wink:
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por MarcoAntonio » 1/2/2003 1:21

U2u, segundo os académicos, os acontecimentos no mercado se não são independentes são muito próximos de independentes. Eu sei que isto desafia o senso comum, mas eles têm os dados empíricos do lado deles e essa é uma das razões por eu ter escrito o artigo: nem tudo o que parece é.

De qq das formas ainda ia deixar umas notas adicionais mas o PC encravou-me e foi abaixo pelo que só as vou colocar agora.
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por pseudoqualquercoisa » 1/2/2003 1:19

Este tipo é um must .
pseudoqualquercoisa
 

Re: O Império da Coincidência e do Previsível

por u2u. » 1/2/2003 1:10

Gostei bastante do artigo, mas... uma pequena correcção. Quando dizes:

MarcoAntonio Escreveu:<b>O Império da Coincidência e do Previsível</b>
Umas vezes sairá alteranada, outras duas vezes seguidas, outras três, outras quatro (com frequências decrescentes, fruto das respectivas probabilidades). Da mesma forma, existe uma certa probabilidade de, no meio do acaso bolsístico, surgirem padrões nos gráficos, por vezes até muito caprichosos. O que sería improvável é que não detectassemos qualquer padrão ou nenhuma coincidência intrigante!



O lançamento de uma moeda ao ar uma segunda vez, terceira vez ou n vez é independente do lançamento anterior. Só numa situação de completa aleatoriedade é que tal poderia acontecer, o que não se aplica aos mercados (penso eu de que). Uma vez falei com um investigador na área da sismologia e ele dizia-me que a previsão dos terramotos era idêntica á previsão da evolução bolsista. E que apenas com modelos complexos utilizando um rede neuronal parcialmente conexa de retropropagação de erros - não me perguntem como isto funciona, pois não sei :| - seria possível prever um movimento e mesmo assim sem uma certeza quanto á sua amplitude.
De resto, penso que a análise técnica funciona muito bem em situações de curto prazo ou, quando muito, a médio-prazo desde que não haja factores exógenos (como foi o caso do 11 de Setembro e da previsivel guerra no Iraque).
Esta é a minha humilde opinião.
Um abraço e bom fds
u2u
u2u.
 

O Império da Coincidência e do Previsível

por MarcoAntonio » 1/2/2003 0:52

<b>O Império da Coincidência e do Previsível</b>

Para os académicos, mais importante do que apresentar uma explicação lógica para um modelo ou teoria, é encontrar dados empíricos que consubstanciem esse modelo ou teoria. Ou seja, um académico que desenvolva uma teoria que desafie o senso comum mas que seja validada por dados empíricos será tido em maior conta pela comunidade académica do que aquele que apresenta uma teoria interessante do ponto de vista lógico mas que não consegue encontrar dados empíricos que sustente essa teoria.

O grande argumento dos académicos contra a Análise Técnica sempre foi e ainda vai sendo o de não existirem dados empíricos que sustentem satisfatoriamente as teorias em torno da Análise Técnica em geral enquanto que a sua antítese, a Teoria do Mercado Eficiente e do Random-Walk* (<i>Eugene Fama</i>, década de 60).
Verdade seja dita que os estudos, principalmente nos primeiros anos do reinado do Random-Walk, foram conduzidos regra geral por académicos adversos à Análise Técnica por defeito profissional que a viam como que envolta em misticismo e portanto talvez não devam ser encarados com verdadeira imparcialidade. Refira-se por exemplo que o tipo de testes que normalmente eram executados para demonstrar a validade do Random-Walk e consequentemente a pouca validade da Análise Técnica convencional (testes como <i>serial correlation</i> ou <i>run-tests</i>) pouco têm a ver com o tipo de padrões relativamente complexos e por vezes bastante elaborados que a AT convencionalmente defende. Aqueles testes consistiam em abordagens extremamente simplistas e acentavam numa estatística demasiado elementar e realmente, a esse nível, não se encontram grandes discrepâncias face ao que seria de esperar pela teoria do Random-Walk exceptuando dois casos em particular que vale a pena referir e relacionados com efeitos de sazonalidade, uma verdadeira pedra no sapato do Random-Walk: a sazonalidade semanal (o chamado <i>Monday Effect</i>) e a sazonalidadee anual (o chamado <i>January Effect</i>). Fora estas discrepâncias claras há muito conhecidas e constatadas pelos dados empíricos, o que sobrava eram pequenos desvios face aos valores esperados que pouco espaço de manobra deixava para a Análise Técnica tal como a conhecemos e tal como foi popularizada. A conclusão clássica dos académicos: ainda que passa ter algum fundamento, os testes empíricos levam a concluir que o recurso à Análise Técnica não permite mais do que ganhos marginais.

A popularidade crescente da Análise Técnica fora dos meios académicos contrasta de forma evidente com o descrédito que sofre entre os académicos. Mais ainda, e sem dúvida mais relevante, testes mais recentes e com base em métodos de análise conduzidos de forma mais favorável e de acordo com a AT clássica têm vindo a demonstrar que de facto alguns dos padrões defendidos pela AT clássica surjem com uma frequência assinalavelmente superior ao que seria de esperar caso fossem unicamente fruto do acaso. Por outro lado, a Teoria do Random-Walk tem vindo a perder o seu charme mesmo junto dos académicos, que procuram agora modelos mais exactos para descrever o comportamento do mercado. Como curiosidade refira-se que o padrão que mais desafia as probabilidades são os «excessivamente» frequentes duplo-topo e duplo-fundos.

No entanto, mesmo estes estudos estão longe, bastante longe, de concluir que o comportamento dos mercados seja regido pela Análise Técnica ou qualquer uma das suas abordagens em particular. A explicação mais simples para grande parte dos padrões (de curto-prazo) que vemos para nos gráficos continua a ser simplesmente... o acaso!

Será porventura algo que desafia o senso-comum pois temos uma extrema dificulade em lidar com o acaso e em particular, com os padrões e coincidências gerados pelo acaso. A experiência do quotidiano leva-me a concluir que sobrevalorizamos as coincidências atribuindo-lhes significados e explicações (supostamente) racionais que vão por vezes muito para além do razoável. Esta nossa fraqueza de procurarmos explicação para tudo... mesmo quando as explicações são desnecessárias.

Ao analisar um gráfico, devemos ter em conta que o mercado debita a cada segundo milhares de dados que são analisados pelos investidores e analistas um pouco por todo o mundo. Os gráficos são em grande parte fruto de acontecimentos externos não controláveis e muitas vezes inesperados e reflectem logicamente uma boa dose de aleatoriedade. Mas se nem todos os movimentos podem ser justificados como fruto do acaso por surgirem mais vezes do que sería expectável, como vimos atrás, não deveremos no entanto cair no erro inverso de considerar toda e qualquer formação caprichosa como tendo qualquer significado divino ou especial ou encarar o gráfico (ou uma certa forma de analisar o gráfico) como o Santo-Graal do Trading. O gráfico não contém tudo nem pode conter tudo a menos que tenhamos uma visão mística do mercado e acreditemos que tudo está pré-determinado - se pressupomos que o gráfico contém toda a informação necessária então o futuro sería previsível e determinístico. Como tal, a menos que tenhamos esta visão do mercado e do Universo em geral, teremos então de concluir que o gráfico está muito longe de fornecer por qualquer via de análise uma capacidade predictiva inquestionável.

Mas então porque serão os gráficos recorrentemente encarados dessa forma?

Tal deve-se a meu ver a um dos <i>handicap</i> da Análise Técnica... o efeito perverso da Coincidência, a tal fraqueza do Ser Humano. Na Análise Técnica, esta fraqueza reflecte-se em análises que projectam recorrentemente a vontade/crença do analista. A densidade de informação é tal que o analista pode simplesmente ver aquilo que mais deseja ver: onde um analista vê um <i>rising wedge</i>, outro vê um canal ou um triângulo ascendente, onde outro vê um H&S invertido o outro consegue vislumbrar o H&S em posição normal, mas num <i>time-frame</i> ligeiramente diferente, onde um vê uma resistência quebrada, outro vê um suporte quebrado uns dias antes... E tal procedimento pode dar-se de forma completamente inconsciente.

Este tipo de análise «adaptativa» e de carácter iminentemente subjectivo é de facto muito traiçoeira porque o analista/investidor acaba por recorrer muitas vezes aos gráficos apenas para encontrar conforto e justificação para os trades executados... ou simplesmente encontra explicações nos gráficos que estes nunca tiveram porventura intenções de fornecer!...

Em última instância, não devemos tentar explicar o inexplicável...

Imaginemos que lançamos uma moeda ao ar 10 vezes. Qual é a justificação de sair «coroa» 3 vezes consecutivas?... Nenhuma, é pura e simplesmente fruto do acaso. Embora a probabilidade de sair «cara» ou «coroa» seja de 50% para cada um dos lados, existe uma certa probabilidade de sair um mesmo lado x vezes consecutivas. Se lançarmos <i>n</i> vezes a moeda, o que é improvável é sair alternadamente cara e coroa!... Umas vezes sairá alteranada, outras duas vezes seguidas, outras três, outras quatro (com frequências decrescentes, fruto das respectivas probabilidades). Da mesma forma, existe uma certa probabilidade de, no meio do acaso bolsístico, surgirem padrões nos gráficos, por vezes até muito caprichosos. O que sería improvável é que não detectassemos qualquer padrão ou nenhuma coincidência intrigante!

Ao procurarmos explicação técnica para <b>todos</b> os movimentos corremos o risco de estarmos a justificar o injustificável... e afinal, acabamos a desempenhar o mesmo papel dos jornalistas que vão povoando os nossos mídia, que se escalpelizam a explicar todo e qualquer movimento que se dá em Bolsa!...

Alguns perguntar-se-ão então como se conjuga uma visão destas com uma estratégia de investimento que se baseia praticamente em exclusivo em Análise Técnica. Esse será o tema do próximo post que terá de ficar provavelmente para o próximo fim de semana.

*Segue noutro post duas notas adicional sobre estes pontos, breves esclarecimentos para enquadrar aqueles que possam não estar contextualizados com o tema.
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1. Mais vale perder um ganho que ganhar uma perda, a menos que se cumpra a Segunda Lei.
2. A expectativa de ganho deve superar a expectativa de perda, onde a expectativa mede a
__.amplitude média do ganho/perda contra a respectiva probabilidade.
3. A Primeira Lei não é mesmo necessária mas com Três Leis isto fica definitivamente mais giro.
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