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Caldeirão da Bolsa

AmLat - Resumo da semana

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Money OUT... e Money IN

por JAS » 19/1/2003 11:50

:wink: Assim como vamos comprar o Expresso ou o Semanário, a Crónica Semanal do Djovarius passou a ser algo que já nos habituámos a ler ao fim de semana.

Mas hoje temos um tema levantado pelo Karamba que gosto muito de discutir... O tal Money IN e o tal Money OUT.
Karamba Escreveu:Actualmente o mercado nacional está quase deserto, por razões óbvias.

Por muito estranho que possa parecer eu começo por dizer precisamente o contrário.
O mercado nacional longe de estar deserto está é sobrelotado.

Como ele diz, e muito bem, verificou-se nos últimos anos uma saída dos grandes investidores.
(Na citação que se segue o bold é meu)
Karamba Escreveu:O início da fase de forte arrefecimento do mercado português teve lugar logo no primeiro trimestre de 1998. Aí começou o desinvestimento em massa por parte de estrangeiros, e de institucionais portugueses. Com a passagem para o euro, houve uma (grande) restruturação das carteiras dos grandes investidores (bancos, fundos, etc.), que diminuíram drasticamente a exposição ao mercado interno (muito pequeno, sem liquidez, e portanto de elevado risco), e passaram a ter uma maior exposição ao mercado europeu. Também em simultâneo houve saídas massiças de capital de investidores particulares para paraísos fiscais, pois começou-se então a falar mais a sério numa reforma fiscal. Tal como na bolsa, “in the doubt .stay out”, e sairam muitos milhões para as ilhas do costume. Tal como no final da década de 70 em que o capital voou para o exterior e só muito mais tarde foi repatriado, desta vez não vai ser diferente.


Com todas estas saídas tivémos indubitavelmente aquilo a que se chama Money Out.

O investidor A, por exemplo, vendeu 1 milhão de títulos X e foi investir a massa para outro mercado qualquer.
E os outros grandes investidores, portugueses ou estrangeiros, fizeram o mesmo.
Como saíram todos... A nossa praça ficou deserta?
Será correcta esta afirmação?

Ora bem, para o grande investidor A vender 1 milhão de títulos será preciso que os consiga... vender!
E para que isso aconteça torna-se necessário que alguém os compre.

Mas como estamos a falar de um mercado de onde estão a sair os grandes investidores é evidente que o investidor A estará a ser substituído por uma multidão de pequenos investidores.
E assim sucessivamente.
Portanto a nossa praça, longe de estar deserta, deve estar neste momento sobrelotada e a rebentar pelas costuras...

O conceito de Money IN e de Money OUT é apenas aplicável aos movimentos do garande capital, movimentos esses que ditam o comportamento dos mercados.
Na realidade, quando se verifica um Money OUT, não há uma "saída" de capitais mas apenas uma "substituição".
O dinheiro que o investidor A tirou da bolsa , abstraindo comissões, é exactamente igual ao total que o conjunto dos pequenos investidores meteram na bolsa.

JAS
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Tal como calculava ..

por Karamba » 19/1/2003 5:12

Não me espanta nada esse tipo de Dy nas empresas do Bovespa.

Quanto ao facto de haverem fundos comercializados em Portugal que investem em mercados emergentes, e até exclusivamente em activos brasileiros, isso é uma realidade.

Aliás os supermercados de fundos de investimento já são uma realidade por estas bandas.
Quem quiser aplicar poupança em fundos, a diversidade é tanta que provavelmente acaba por complicar.

A procura por este tipo de produtos deve (logicamente) estar mais virada para activos sem risco cambial (em euros). Os “emergentes” devem ter muito pouca procura.

O interesse dos portugueses pela bolsa é um fenómeno muito recente, e surgiu com as privatizações das utilities (Pt, Edp e Brisa). A Cimpor (cimentos), também é um papel popular. O resto é …paisagem.

Actualmente o mercado nacional está quase deserto, por razões óbvias.

O início da fase de forte arrefecimento do mercado português teve lugar logo no primeiro trimestre de 1998. Aí começou o desinvestimento em massa por parte de estrangeiros, e de institucionais portugueses. Com a passagem para o euro, houve uma (grande) restruturação das carteiras dos grandes investidores (bancos, fundos, etc.), que diminuíram drasticamente a exposição ao mercado interno (muito pequeno, sem liquidez, e portanto de elevado risco), e passaram a ter uma maior exposição ao mercado europeu. Também em simultâneo houve saídas massiças de capital de investidores particulares para paraísos fiscais, pois começou-se então a falar mais a sério numa reforma fiscal. Tal como na bolsa, “in the doubt .stay out”, e sairam muitos milhões para as ilhas do costume. Tal como no final da década de 70 em que o capital voou para o exterior e só muito mais tarde foi repatriado, desta vez não vai ser diferente.

Um abraço Djovarius,
 
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yields

por djovarius » 18/1/2003 22:39

Mais um abraço ao pessoal do Caldeirão, como sempre, é bom discutir as ideias. E ainda bem que neste espaço todos são recebidos com carinho.

O Karamba colocou uma questão perminente, mas antes quero dizer que em Portugal existem os Fundos Accionistas que investem nos mercados emergentes, sendo que eles têm a obrigação de acompanhar de perto este mercado. Já os pequenos investidores farão melhor escolha se investirem através de Nova York. Já o investidor brasileiro, investe prioritariamente em Wall Street e não na Europa, porque é mais fácil e porque é um jeito legal de desviar umas verbas para fora do país.

A questão dos dividendos. Não tenho agora dados suficientes, mas perante a filosofia da pergunta, posso por exemplo recordar que os Bancos e grandes empresas dos sectores das "utilities" costumam distribuir dividendos muito bons na aparência. São "dividend yields" superiores a 12 ou mesmo 15%. Só que, mais do que isso pagam os títulos de renda fixa com juros pré ou pós fixados com swap cambial, que qualquer um pode comprar, chegando a pagar mais de 20% ao ano, sem grande risco e de liquidez imediata. Eu mesmo mantive posições nesses títulos e em títulos cambiais há um ano atrás.
Este mercado accionista é essencialmente especulativo como poucos, porque às grandes quedas sucedem-se as grandes subidas e vice-versa. E até os futuros sobre o indice Ibovespa são óptimos para o efeito e têm uma boa liquidez.
Aqui, apesar dos altos yields, prevalece a regra que nós sabemos: nunca comprar uma acção só por causa dos dividendos que ela distribui.

Um abraço mais um
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Questão

por Karamba » 18/1/2003 18:03

Djovarius, o Bovespa é um mercado que não é praticamente seguido pelos investidores portugueses. O mercado brasileiro, traduzido para português, é "só política", e ponto final.
Felizmente que temos a tua participação, pois assim sempre vamos estando mais a par das coisas boas e más que se passam nesse mercado.

Calculo que aí no Brasil, a situação de desconhecimento relativamente ao mercado português, ainda seja muito mais acentuada (dado que a nossa praça é minúscula e mais do que periférica, tal como a nossa economia).

Quase que aposto que pequeno investidor brasileiro nem deve saber que existe a BVL e o PSI-20.

Tinha uma curiosidade, que talvez me saibas satisfazer.

Uma vez que o Brasil é um dos países com maior risco (a nível mundial), e tem uma inflacção (e juros) que não tem nada a ver com os US ou com os países da UME, o mercad accionista brasileiro deveria apresentar uns múltiplos baixos (PER, PBV, Price/Sales, etcc... e um Div.Yield muito alto).

Verdade ? Ou não ?

Um abraço, e obrigado pela tua excelente participação.
 
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Excelente...

por Serrano » 17/1/2003 21:06

... crónica, como habitual.
"Aquele abraço".
 
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AmLat - Resumo da semana

por djovarius » 17/1/2003 20:39

Olá, tudo bem? Vamos ao que realmente importa. O mercado e o tempo quente finalmente cederam, não há tendência positiva que aguente perante os eventos que ocorrem nos EUA ou que estejam directamente relacionados com a maior economia mundial. Pela primeira vez em vários meses, os mercados da AL voltaram a colar-se às notícias e aos problemas mundiais, ou será que é melhor dizer problemas norte-americanos que também seguem influenciando os restantes mercados globais.
Nem o acordo de princípio entre a Argentina e o FMI entusiasmaram os investidores nesta fase.
A semana até foi forte em notícias relacionadas aos investimentos portugueses no Brasil, com a EDP e a Portugal Telecom em destaque. A eléctrica nacional, através do Administrador Francisco Sanchez esteve aqui em São Paulo a apresentar a estratégia do grupo neste país. Para já, merece um comentário a venda dos 11,27% que detém na EERJ – Empresa de Electricidade do Rio de Janeiro. Parece uma decisão estranha, mas não é. O Estado do Rio é um grande mercado, mas hoje em dia pode trazer mais problemas aos investidores do que alegrias. Existem dentro do Brasil melhores regiões em termos de potencial de crescimento de negócios. Claro que as verdadeiras razões só eles saberão. Interessante a possibilidade de entrada em Bolsa neste país. Será, caso se concretize, a EDP Brasil e vai abrir o capital na Bovespa em 2004. Esta hipótese merece muita atenção porque nessa altura, as condições de mercado deverão ser mais favoráveis do que hoje e não faltarão pequenos e sobretudo grandes investidores (incluindo os Bancos e os grandes Fundos) que queiram entrar no papel. É algo que deverá ajudar à expansão do negócio da EDP. Se nada de estranho acontecer neste país...
Por sua vez, a Telecom vai fazendo valer a “joint-venture” com a Telefonica. Juntas, têm mais força e ainda minimizam o risco de investir neste país. Esta ligação para a telefonia móvel tem muitas possibilidades de sucesso, mais uma vez condicionado pela turbulência macro-económica local. Esta aquisição feita pela BrasilCel à FixCel da Tele Centro Oeste foi mais passo na estratégia de controlar, aos poucos, o negócio dos celulares. Com pequenos passos, chega-se ao destino e os reguladores do sistema, a Anatel, também aos poucos vai dando o seu amém. A aquisição não é total nem perto disso, mas dará à BrasilCel mais de metade dos direitos de voto da empresa. Os 18,23 reais por lote de mil acções foram generosos? O prémio para os accionistas foi bom? Sem dúvida que sim, mas o negócio tem pernas para andar. Afinal, esta empresa tem as concessões móveis para os Estados do Centro Oeste (inclui a capital federal) e do Norte e se estas regiões não têm o potencial dos Estados do Sudeste e do Sul, também é verdade que naqueles locais o negócio está a começar uma forte expansão e o espaço para crescimento é ainda fabuloso. Às vezes, é preciso investir forte para cortar as pernas à concorrência...

E esta semana tivemos a posse de Lucio Gutierrez como Presidente do Equador, um país que continua dependente do FMI. Este político havia tentado um golpe de Estado há alguns anos, mas acabou por chegar ao poder pela via eleitoral. Qual é o político na região que teve o mesmo percurso? Já sabem a resposta, claro. A propósito, Lula, presidente do Brasil compareceu à posse e aproveitou para falar da Venezuela e do seu grupo de amigos, onde se incluem Espanha e Portugal. Os EUA também entraram no grupo e já deixaram no ar a ideia de que os problemas Venezuelanos se resolverão pela via de eleições antecipadas. A ver vamos, diria o cego...

E os problemas externos ofuscaram a informação de que a Argentina finalmente terá o apoio do FMI. Não se trata, porém, de novos financiamentos, mas sim de verbas para liquidar dívidas já vencidas e não pagas. É um balão de oxigénio para evitar para já um calote mais doloroso ainda. Assim, a Argentina cumprirá algumas obrigações de curto prazo sem mexer no seu pequeno piso de reservas em dólares que não passa de US$ 10.000 milhões. O FMI garantirá 6.000 milhões nesta fase.

O Brasil chegou a ver esta semana a sua moeda valorizar-se mais ainda face ao dólar, a moeda americana chegou a comprar apenas R$ 3,27, mas o seguinte episódio mostra as fragilidades da maior economia latino-americana: bastou o presidente do Supremo Tribunal Federal afirmar que a reforma da Previdência Social (essencial para poupar mais nos gastos públicos) não poderia pôr em causa direitos adquiridos pelos actuais beneficiários para que o mercado reagisse mal, começando a inverter a valorização do Real, logo na quarta-feira. No dia seguinte, o Real parecia querer recuperar, mas o espectro da guerra no Golfo deitou tudo a perder, hoje. Todos os países da região estão a ser afectados. O mercado considera que uma guerra nesta fase vai provocar uma diminuição dos fluxos de investimento para a região, justamente numa altura em que se mantém a greve na Venezuela, a recessão na Argentina e o risco de calote no Brasil. A guerra pode afectar exportações, preços das “commodities” e prejudicar o crédito para estes países. As moedas locais só caiam hoje face ao dólar americano, enquanto este caía face às moedas europeias e asiáticas.
O peso mexicano chegou aos 10,63 por dólar, o valor mais baixo numa década. O Real, só hoje caiu 2,2%, ficando pelos 3,38 por dólar e até o peso Chileno caiu para o valor mais baixo em onze semanas em 727 pesos por dólar. O bolívar Venezuelano (obrigado JAS pela correcção na semana passada) caiu pelo quarto dia consecutivo chegando hoje a mais um recorde em baixa face ao dólar. Hoje, eram precisos 1.780 bolívares para adquirir uma “verdinha”. Já o peso Argentino manteve-se estável devido aos bons ventos do FMI. Ainda não está afastado o risco de recessão no continente e o espectro da guerra não ajuda em nada. Um indicador de que o potencial de queda do Real (novamente) é maior, é o facto do câmbio paralelo estar mais elevado do que o oficial, pela primeira vez em muitos meses.

E os mercados accionistas voltaram a seguir as desventuras de Wall Street. O que parecia óptimo na semana passada, agora já não parece tão bom. Quem aproveitou o “road show” praiano da Bovespa há sete dias, já não sorriu tanto esta semana, com os papéis em baixa e a chuva em alta. Os mercados são como são. Desta vez, foram descartadas as notícias boas como o aumento da produção industrial e das exportações. Hoje, está mesmo a ser o pior dia para as Bolsas. Em São Paulo, a vedeta do dia tem sido (pela negativa) a Telesp Celular, que vai perdendo mais de 7%.

Ficam os câmbios médios indicativos do Real – hoje, sexta-feira e do BOVESPA (números provis.)

IBOVESPA – 11.655 pts – o índice perdeu 4,7% na semana
US$ 1 = R$ 3,38 – o dólar subiu 2,4% na semana
€ 1 = R$ 3,60 – o Euro subiu 4,4% na semana
Obs.) Para quem está a chegar ao Brasil, de férias ou negócios, o câmbio turismo aponta para um valor de R$ 3,48 aprox.

Uma nota final para quem gosta de livros sobre o mercado e aqui no Caldeirão, já vimos que sim: está a fazer furor aqui em SP um livro recente (2002) sobre um tema polémico – as análises dos mercados, feitas pelas casas de investimento e pelos gurus do costume. Chama-se “WHEN BUY MEANS SELL” e o autor é Eric Shkolnik. Saiu a edição em Inglês e desmonta mesmo o negócio das recomendações de compra e venda das empresas.
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