No meu bairro está tudo rico!
No meu bairro está tudo rico!
No meu bairro está tudo rico!
Nicolau Santos
Desde quinta-feira vai uma enorme euforia no meu bairro. Foi logo a seguir
ao ministro das Finanças ter dito a Judite de Sousa, na RTP-1, que são os
30% mais ricos deste país que investem em PPR, PPR-E, PPA e CPH. É que, a
ser assim, 90% desses 30% vivem no meu bairro. E o certo é que o
foguetório não tem parado, já se organizaram várias festas de ricos e já
houve muita gente do meu bairro que não trabalhou sexta e sábado (os
ricos, como se sabe, têm a mania de não trabalhar aos sábados).
O sr.Joaquim da mercearia convenceu a mãe, há dez anos, a fazer um PPR,
tendo em conta que a Segurança Social pública não anda lá muito católica e
seria bom prevenir o futuro da senhora. Desde quinta, o sr.Joaquim fechou
a mercearia e só espera pela herança que a mãe, que não anda bem de saúde,
lhe vai deixar. E ele que não sabia que era filho de uma das pessoas mais
ricas de Portugal!
O sr.João da padaria convenceu-se, há três anos, que era bom fazer um
PPR-E, porque o filho ia bem no liceu e depois quereria certamente não só
concluir um curso universitário, como também tirar talvez um MBA. Nessa
altura, o PPR-E daria jeito. Agora está com um problema em casa. O miúdo
ouviu o Bagão Félix, dizer que o pai está entre os 30% mais ricos de
Portugal e agora já não quer estudar. Diz que não precisa. Chatices de
ricos...
A sra.Ana, ajudante na farmácia, resolveu começar a colocar uns trocos
numa Conta Poupança Habitação, visando a compra de uma casinha quando
chegar aos 30, ela que têm agora 24. Desde quinta que não aparece no
emprego e mandou dizer que não consta que os ricos trabalhem. Acha
estranho que a conta bancária continue próxima do zero no final do mês.
Mas se o dr.Bagão disse que ela é rica, é porque é verdade.
Quanto ao José, empregado de uma agência imobiliária, que passa o dia a
mostrar casas a clientes, resolveu há uns anitos arriscar uns dinheiros
num Plano PoupançaAcções. Ouviu o dr.Catroga dizer que era uma forma de
reanimar o mercado de capitais, que daria uma boa rentabilidade os
investidores. Agora que soube que está rico, já escreveu ao dr.Catroga a
agradecer a indicação.
E assim a festança não pára no meu bairro. Mas ando preocupado. Soube que
o eng. Belmiro se estava a preparar para fazer um PPR e poupar no seu IRS
e agora já não o vai poder fazer. O eng. Jardim Gonçalves, que tem muitos
filhos e netos, ia apostar nos PPR-E. Também já não vai a tempo. O
dr.Artur Santos Silva, que é muito forreta, estava a pensar fazer um CPH
no banco de que é presidente - só para poupar 127 euros no IRS! Não pode,
porque o dr.Bagão lhe topou os intentos. E finalmente o eng. Mira Amaral
ia colocar a sua choruda reforma em PPA. Vai ter de gastá-la noutro sítio.
E eis como finalmente temos um ministro que acaba com os ricos para dar
aos pobres. Bem haja, dr.Bagão! E assim já não precisa de investirno
combate à fraude e à evasão fiscal, nem investigar a sério o rendimento
das profissões liberais, nem combater 50% das empresas que declaram
prejuízos, nem estabelecer uma colecta mínima para restaurantes, mercearias
e outros pequenos negócios para os quais, como é óbvio, não há qualquer
possibilidade de controlo fiscal. Carregue nesses 30% de ricos que investem
em PPR, PPR-E, PPA, CPH - e vai ver como resolve o défice e a justiça
fiscal desce sobre este país! Força! Que não lhe doam as mãos!
Nicolau Santos
Desde quinta-feira vai uma enorme euforia no meu bairro. Foi logo a seguir
ao ministro das Finanças ter dito a Judite de Sousa, na RTP-1, que são os
30% mais ricos deste país que investem em PPR, PPR-E, PPA e CPH. É que, a
ser assim, 90% desses 30% vivem no meu bairro. E o certo é que o
foguetório não tem parado, já se organizaram várias festas de ricos e já
houve muita gente do meu bairro que não trabalhou sexta e sábado (os
ricos, como se sabe, têm a mania de não trabalhar aos sábados).
O sr.Joaquim da mercearia convenceu a mãe, há dez anos, a fazer um PPR,
tendo em conta que a Segurança Social pública não anda lá muito católica e
seria bom prevenir o futuro da senhora. Desde quinta, o sr.Joaquim fechou
a mercearia e só espera pela herança que a mãe, que não anda bem de saúde,
lhe vai deixar. E ele que não sabia que era filho de uma das pessoas mais
ricas de Portugal!
O sr.João da padaria convenceu-se, há três anos, que era bom fazer um
PPR-E, porque o filho ia bem no liceu e depois quereria certamente não só
concluir um curso universitário, como também tirar talvez um MBA. Nessa
altura, o PPR-E daria jeito. Agora está com um problema em casa. O miúdo
ouviu o Bagão Félix, dizer que o pai está entre os 30% mais ricos de
Portugal e agora já não quer estudar. Diz que não precisa. Chatices de
ricos...
A sra.Ana, ajudante na farmácia, resolveu começar a colocar uns trocos
numa Conta Poupança Habitação, visando a compra de uma casinha quando
chegar aos 30, ela que têm agora 24. Desde quinta que não aparece no
emprego e mandou dizer que não consta que os ricos trabalhem. Acha
estranho que a conta bancária continue próxima do zero no final do mês.
Mas se o dr.Bagão disse que ela é rica, é porque é verdade.
Quanto ao José, empregado de uma agência imobiliária, que passa o dia a
mostrar casas a clientes, resolveu há uns anitos arriscar uns dinheiros
num Plano PoupançaAcções. Ouviu o dr.Catroga dizer que era uma forma de
reanimar o mercado de capitais, que daria uma boa rentabilidade os
investidores. Agora que soube que está rico, já escreveu ao dr.Catroga a
agradecer a indicação.
E assim a festança não pára no meu bairro. Mas ando preocupado. Soube que
o eng. Belmiro se estava a preparar para fazer um PPR e poupar no seu IRS
e agora já não o vai poder fazer. O eng. Jardim Gonçalves, que tem muitos
filhos e netos, ia apostar nos PPR-E. Também já não vai a tempo. O
dr.Artur Santos Silva, que é muito forreta, estava a pensar fazer um CPH
no banco de que é presidente - só para poupar 127 euros no IRS! Não pode,
porque o dr.Bagão lhe topou os intentos. E finalmente o eng. Mira Amaral
ia colocar a sua choruda reforma em PPA. Vai ter de gastá-la noutro sítio.
E eis como finalmente temos um ministro que acaba com os ricos para dar
aos pobres. Bem haja, dr.Bagão! E assim já não precisa de investirno
combate à fraude e à evasão fiscal, nem investigar a sério o rendimento
das profissões liberais, nem combater 50% das empresas que declaram
prejuízos, nem estabelecer uma colecta mínima para restaurantes, mercearias
e outros pequenos negócios para os quais, como é óbvio, não há qualquer
possibilidade de controlo fiscal. Carregue nesses 30% de ricos que investem
em PPR, PPR-E, PPA, CPH - e vai ver como resolve o défice e a justiça
fiscal desce sobre este país! Força! Que não lhe doam as mãos!