2016 – Mais do mesmo, ou o novo normal
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Re: 2016 – Mais do mesmo, ou o novo normal
djovarius Escreveu:Ora a todos obrigado pela leitura.
Antes de mais, os gráfico publicados mesmo no fim com dois ativos tipos facas em queda... um todos sabem, é o falido Banif. O outro, é uma construtora brasileira cotada em São Paulo que esteve em território de bolha e que perdeu mesmo muito terreno com a crise do país irmão. Faz lembrar a bolha do Nasdaq após o ano 2000 entre outros eventos.
Abraço Ulisses, sempre um prazer colaborar e "welcome back".
Amigo A. Romeno: Un an nou fericit. És atualmente dos mais conscientes participantes desta casa. Obrigado pelos comentários e palavras simpáticas.
Em relação à questão da alavancagem, eu referia-me à economia global e até ao endividamento dos Estados em particular. Mas concordo que a posição da Banca está melhor, e a que não consegue melhorar é expurgada do sistema.
Concordo com a questão das "junk bonds". O que me preocupa é ver os títulos do tesouro nacionais no limite dessa categoria. Salvação vem do BCE !!!????
A Netflix, entre outras, é o exemplo de território de bolha. Ainda não me esqueci de 2000... na época era "tecnologia"... hoje pode ser qualquer coisa...
De resto, concordo com os comentários, sobretudo sobre o Brasil. Penso que só daqui a dois anos haverá recuperação...
Abraço
dj
Djovarious,
os estados tem niveis de alavancagem crescentes de facto, mas penso que assim dos grandes há 4 casos preocupantes: japão, Grécia, Italia, Portugal, a solvencia destes paises vai em muito depender do custo da divida e isso no longo prazo pode ser preocupante, por exemplo se ajustado pelas taxas da primeira decada deste milenio portugal tem apenas prai 90% de divida, isto num racionio de custo da mesma, o problema vai ser quando estes QE acabarem o que vai ocorrer, se a economia europeia começar a crescer e a nacional não evoluir e a procura de credito em relação a massa monetaria aumentar pode muito bem ser a morte do artista incrivelmente porque as taxas exigidas podem começar a subir, o aspeto positivo e que as exportações ate se tem portado bem isto num cenário de travagem a fundo de paises como angola e moçambique, no entanto o cancro dentro da economia persiste, empresas ALAVANCADAS ligadas á maquina da BANCA, e SEM CAPITAIS PRÓPRIOS.... isto leva-nos a outra questão o funcionamento do mercado de capitais em portugal que é deficiente, mas mais deficientes são as empresas que nele entram, seria interessante ver o ROIC das empresas nacionais, mas eu não tenho duvidas nenhumas que é inferior ao custo do capital, se atentarmos às grandes mesmo às do psi geral, salvar-se iam JMT, ramada , corticeira, ren, EDP*, portucel, altri, ctt, semapa e pouco mais o que é indiciador de um nivel de gestão DEFICIENTE e Decrépita, sem vantagens competitivas relevantes, no fundo sem capacidade de gerar projetos economicamente rentaveis
*ajustado em termos de cash pela EDPR que é penalizada pela arbitragem depreciação vs reinvestimento

As opiniões expressas baseiam-se essencialmente em análise fundamental, e na relação entre o valor de mercado dos ativos e as suas perspectivas futuras de negocio, como tal traduzem uma interpretação pessoal da realidade,devendo como tal apenas serem consideradas como uma perspetiva meramente informativa sobre os ativos em questão, não se constituindo como sugestões firmes de investimento
Re: 2016 – Mais do mesmo, ou o novo normal
Ora a todos obrigado pela leitura.
Antes de mais, os gráfico publicados mesmo no fim com dois ativos tipos facas em queda... um todos sabem, é o falido Banif. O outro, é uma construtora brasileira cotada em São Paulo que esteve em território de bolha e que perdeu mesmo muito terreno com a crise do país irmão. Faz lembrar a bolha do Nasdaq após o ano 2000 entre outros eventos.
Abraço Ulisses, sempre um prazer colaborar e "welcome back".
Amigo A. Romeno: Un an nou fericit. És atualmente dos mais conscientes participantes desta casa. Obrigado pelos comentários e palavras simpáticas.
Em relação à questão da alavancagem, eu referia-me à economia global e até ao endividamento dos Estados em particular. Mas concordo que a posição da Banca está melhor, e a que não consegue melhorar é expurgada do sistema.
Concordo com a questão das "junk bonds". O que me preocupa é ver os títulos do tesouro nacionais no limite dessa categoria. Salvação vem do BCE !!!????
A Netflix, entre outras, é o exemplo de território de bolha. Ainda não me esqueci de 2000... na época era "tecnologia"... hoje pode ser qualquer coisa...
De resto, concordo com os comentários, sobretudo sobre o Brasil. Penso que só daqui a dois anos haverá recuperação...
Abraço
dj
Antes de mais, os gráfico publicados mesmo no fim com dois ativos tipos facas em queda... um todos sabem, é o falido Banif. O outro, é uma construtora brasileira cotada em São Paulo que esteve em território de bolha e que perdeu mesmo muito terreno com a crise do país irmão. Faz lembrar a bolha do Nasdaq após o ano 2000 entre outros eventos.
Abraço Ulisses, sempre um prazer colaborar e "welcome back".
Amigo A. Romeno: Un an nou fericit. És atualmente dos mais conscientes participantes desta casa. Obrigado pelos comentários e palavras simpáticas.
Em relação à questão da alavancagem, eu referia-me à economia global e até ao endividamento dos Estados em particular. Mas concordo que a posição da Banca está melhor, e a que não consegue melhorar é expurgada do sistema.
Concordo com a questão das "junk bonds". O que me preocupa é ver os títulos do tesouro nacionais no limite dessa categoria. Salvação vem do BCE !!!????
A Netflix, entre outras, é o exemplo de território de bolha. Ainda não me esqueci de 2000... na época era "tecnologia"... hoje pode ser qualquer coisa...
De resto, concordo com os comentários, sobretudo sobre o Brasil. Penso que só daqui a dois anos haverá recuperação...
Abraço
dj
Cuidado com o que desejas pois todo o Universo pode se conjugar para a sua realização.
Re: 2016 – Mais do mesmo, ou o novo normal
Djovarios, boa perspetiva, eu raramente comento nos teus topicos e são dos melhores do forum
algumas notas
-eu considero ainda assim sobre o setor financeiro que está menos alavancado que em 2008, começando pelos bancos como do rbs ao citi, e o funding hoje em dia penso que não é tao instavel, ai discordo um pouco e penso que se melhorou até em termos de capital e de basileia 3
-a proxima bolha na minha opinião vai ser nas junk bonds a nivel global porque pode chegar-se a um ponto em que a remuneração não cobre o custo do risco se assim lhe quisermos chamar, até porque hoje em dia empresas e nações com um péssimo perfil de risco conseguem credito facilmente
-sem subida dos preços das materias primas os indices americanos estão sobreaquecidos há claramente casos estandarte como o netflix ou a tesla desse trend
-se o pressuposto anterior não se verificar, angola é uma bomba relogio, os bancos angolanos estão cheios de divida em dolares do estado angolano e isso pode ser complicado, não falando da propria situação do pais que está numa ressaca tremenda
-no brasil é a ressaca não só das commodities mas de uma economia excessivamente estimulada pelo lado da procura e que tinha tudo para acabar mal
- na china o real estate e a bolsa ainda me parecem quentes de mais apesar de ser uma realidade distante
-na europa as yields tocaram o chão e o crescimento será moderado
são estas assim as notas que destaco para o proximo ano

algumas notas
-eu considero ainda assim sobre o setor financeiro que está menos alavancado que em 2008, começando pelos bancos como do rbs ao citi, e o funding hoje em dia penso que não é tao instavel, ai discordo um pouco e penso que se melhorou até em termos de capital e de basileia 3
-a proxima bolha na minha opinião vai ser nas junk bonds a nivel global porque pode chegar-se a um ponto em que a remuneração não cobre o custo do risco se assim lhe quisermos chamar, até porque hoje em dia empresas e nações com um péssimo perfil de risco conseguem credito facilmente
-sem subida dos preços das materias primas os indices americanos estão sobreaquecidos há claramente casos estandarte como o netflix ou a tesla desse trend
-se o pressuposto anterior não se verificar, angola é uma bomba relogio, os bancos angolanos estão cheios de divida em dolares do estado angolano e isso pode ser complicado, não falando da propria situação do pais que está numa ressaca tremenda
-no brasil é a ressaca não só das commodities mas de uma economia excessivamente estimulada pelo lado da procura e que tinha tudo para acabar mal
- na china o real estate e a bolsa ainda me parecem quentes de mais apesar de ser uma realidade distante
-na europa as yields tocaram o chão e o crescimento será moderado
são estas assim as notas que destaco para o proximo ano
As opiniões expressas baseiam-se essencialmente em análise fundamental, e na relação entre o valor de mercado dos ativos e as suas perspectivas futuras de negocio, como tal traduzem uma interpretação pessoal da realidade,devendo como tal apenas serem consideradas como uma perspetiva meramente informativa sobre os ativos em questão, não se constituindo como sugestões firmes de investimento
Re: 2016 – Mais do mesmo, ou o novo normal
Dizem que a tradição já não é o que era. Ainda bem que esta tua tradição se mantém. 
Excelente.
Abraço,
Ulisses

Excelente.
Abraço,
Ulisses
2016 – Mais do mesmo, ou o novo normal
(continuação dos belos gráficos da Bloomberg e da Investing.com)
- Anexos
-
- No ano passado, a pergunta era: que lucro pode dar este investimento?
Este ano é: além de segurança, terei ainda algum lucro? - Germany 10-Year Bond Yield.png (25.34 KiB) Visualizado 3024 vezes
-
- Se houver aversão ao risco, esta pode ser uma das melhores opções do mundo para muitos investidores. Mas a inversa também é verdadeira.
- U.S. 10-Year Bond Yield.png (26.73 KiB) Visualizado 3024 vezes
-
- Eis um índice acionista com vários anos de Ouro. No último bateu máximos históricos, mas cedeu muito terreno. Ainda assim, acabou com ganhos. Poderão esses ganhos continuar? A coisa está de copo meio cheio, meio vazio...
- Germany 30(Weekly).png (31.45 KiB) Visualizado 3024 vezes
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- Ficou empatado. Mas para quem está na zona Euro, rendeu tanto quanto o DAX. Quem está em São Paulo ou Buenos Aires (etc.) pode dizer que foi bom investimento. Também não mostra muita força no futuro próximo...
- US SPX 500.png (28.04 KiB) Visualizado 3024 vezes
-
- Tenham cuidado aí fora. O mundo não está para entradas longas em gráficos destes.
Senão vamos para o Casino Estoril beber um uisque.... - Banif.jpg (18.04 KiB) Visualizado 3024 vezes
Editado pela última vez por djovarius em 5/1/2016 0:41, num total de 1 vez.
Cuidado com o que desejas pois todo o Universo pode se conjugar para a sua realização.
2016 – Mais do mesmo, ou o novo normal
Olá a todo o mundo! É com prazer que cumprimos este ritual de discutir as perspetivas para o novo ano, sem nunca nos perdermos no exercício de fazer adivinhação sobre o que quer que seja, porque sempre ocorre alguma coisa que acaba por mudar, nem que seja um pouco, as realidades que pensávamos anteriormente terem uma margem segura de concretização. Nunca assim é, nunca foi ou será.
Ainda assim, vale uma ressalva. O ano que passou foi dos mais “fáceis” de perspetivar e muito do que pensávamos possível, acabou por se concretizar. Afinal, já muitos problemas vinham de trás, não sendo por isso motivo de admiração a crise dos preços das matérias-primas, as consequências em muitos mercados emergentes, como recessões várias, o agravamento do terrorismo, a força do USD, o que ocorre por via do diferencial entre políticas monetárias. Factos que provam que nada de novo ocorre nos mercados e que a história pode sempre repetir-se, embora com contornos diferentes. Surpresas maiores foram a aparente acalmia da Ucrânia, a quantidade de refugiados na Europa (não a sua vinda), a reviravolta Grega e fenómenos como a queda brutal das energias ou de certas divisas – não a sua ocorrência, mas a amplitude dos fenómenos, o que prova que as tendências podem ser mais prolongadas e mais acentuadas do que esperamos.
Ao entrarmos em 2016, temos a continuação de algo bem claro nos últimos meses. Combate ao chamado perigo deflacionista, agora mais centrado nas maiores Economias do mundo, exceto a maior delas – EUA já em contraciclo. Temos assistido a um alinhamento (ou será realinhamento?) de muitos ativos com o chamado novo normal, ou seja, juros e inflação em baixa, crescimento económico incipiente, lucros da esfera empresarial em crescimento anémico, ativos (várias classes) considerados de menor risco com valorizações bem inferiores às que havíamos assistido no passado recente – o chamado “novo normal”.
Este conceito foi trazido aos escaparates há poucos anos pelo famoso Bill Gross, então na PIMCO, empresa do universo Allianz, baseada em Orange County e que foi durante muitos anos a maior gestora de fundos Obrigacionistas do mundo. O novo “normal” da Economia e da esfera financeira global relacionava-se com a teoria de baixos retornos tanto da Economia real quanto da esfera financeira, ou pelo menos dos seus principais ativos, os mais conhecidos, com maior liquidez. Confesso que o conceito começava a fazer sentido à medida que os anos passavam e que os efeitos da crise do sub-prime teimavam em se manter pelo mundo. Sabemos hoje que essa foi mais uma bolha, embora mais intensa do que outras do passado recente, mas não foi a última. Entretanto, como sabemos, tivemos mais crises, como, por exemplo, a das dívidas dos PIIGS (termo que entretanto caiu em desuso). Umas atrás das outras, mas, sempre com algum tipo de relação causa / efeito entre elas.
A verdade é que nenhuma destas crises está verdadeiramente sanada: a esfera financeira global continua tão alavancada como antes. As dívidas públicas, salvo honrosas exceções, batem recordes após recordes em todo o lado. As dívidas privadas continuam em alta e as emissões de “junk bonds”, embora em desaceleração, continuam a ser efetuadas. Este mundo alavancado, de Oriente a Ocidente, continua não só a não resolver os pressupostos da fragilidade sistémica que contribuiu para a ocorrência de crises, como segue plantando as sementes do próximo choque financeiro – e ainda estamos numa fase de tentativa de cura dos males, como se vê na questão da Banca da zona Euro, onde os “players” são obrigados a maiores exigências de capital sob pena de serem “resolvidos” ou simplesmente absorvidos.
Dir-se-á então que não há possibilidade de fuga ao novo “normal”. Há já quem diga que o novo normal é medíocre. Somando os dois conceitos, prefiro então falar em “novo medíocre”. Algo que, infelizmente, acabará por ser normal enquanto se mantiverem condições de elevado “stress” financeiro e crescimento económico abaixo do potencial ou, se preferirem, abaixo daquilo que seria antigamente considerado normal, quer para os países desenvolvidos, quer para os países em processo acelerado de crescimento. Neste particular, a China é a questão mais problemática para 2016. Mesmo sustentando crescimentos maiores do que a média global, a desaceleração desse crescimento implica em menor crescimento global, o que não ajuda as outras grandes potências e acaba por dar maior relevo à questão da tendência deflacionista.
O “novo medíocre” é exatamente algo que temos sobre a mesa e que “obriga” os grandes blocos económicos às chamadas medidas de estímulo, as quais pouco estímulo trazem, à exceção de interessantes valorizações nalguns ativos. A ideia de criar crescimento e inflação por essa via não foi tão mal sucedida assim nos EUA, mas parece não ter o mesmo efeito na Europa. Para alguns, seria melhor dividir todos os meses pelos contribuintes do velho continente essa liquidez. Poderia ser mais interessante como experiência única na História. Seja como for, sinais preocupantes de há um ano continuam de pé em todos os “tabuleiros”. Na época referia-me ao facto dos EUA poderem adiar a subidas das taxas de juro. Contra ventos e marés, isso ocorreu até à beira do fim do ano, mas não foi uma surpresa. Desde logo porque subidas de juros norte-americanos em tempo de valorização do dólar (neste caso, duas coisas que se relacionam) significam muitas vezes problemas para os chamados mercados emergentes (como no início dos anos oitenta), devido à fuga de capitais da periferia para o centro. Por outro lado, esse adiamento foi-se justificando com a própria política (inversa) dos principais Bancos Centrais, como todos sabemos.
Além disso, a esfera geopolítica assistiu a explodir de tensões latentes: a Rússia entrou em força no Médio Oriente, a França, atacada diretamente pelo terrorismo caseiro, foi empurrada para os conflitos no próximo e no médio oriente, enquanto EUA e Reino Unido também se envolvem, embora sem a convicção de outros tempos até porque as suas opiniões públicas ainda têm memória da intervenção no Iraque. A Europa, internamente, assistiu à crise dos refugiados, tema que só se agrava e que pode trazer consequências políticas e até uma certa crise de confiança. Ainda não é completamente visível o leque de consequências políticas, económicas e sociais que a crise dos refugiados vai provocar. Mas é certo que as vai provocar.
A Oriente, a preocupação deixou de ser a desvalorização do Yen Japonês face às divisas dos vizinhos, mas sim a crise da China. Como vimos acima, parece uma contradição falar em crise num país que, em poucos anos, se transformou na segunda maior economia mundial e que ainda cresce muito acima da média global. Acontece que os mercados globais se configuraram em torno desse crescimento brutal, antecipando a sua manutenção por largos anos, sendo que havia a expetativa de ultrapassar os próprios EUA. Com a “travagem” desse crescimento, sofre a economia global, com amplo destaque para as nações dependentes das exportações de todo o tipo de “commodities”. Não é surpresa alguma a forte contração dos restantes BRIC. Ainda assim, há uma grande nação a despertar e que pode ser uma surpresa pela positiva em 2016 – trata-se da Índia, que tem dado indicadores muito positivos. Vamos ver se os consegue sustentar.
Com todas estas condições, com toda essa incerteza, assistimos a reações extremas nos principais mercados, como as valorizações do mercado Obrigacionista Europeu. Além do fator QE, que todos anteciparam, temos uma efetiva fuga para a qualidade. O medo é grande, senão não teríamos os títulos soberanos Suíços até ao prazo de 10 anos com “yields” negativas. O mesmo se passa em relação a outros títulos da velha Europa, rendimento negativo em prazos até dois ou três anos, nalguns casos até cinco anos. Antigamente, falava-se nos “bond vigilantes”. Hoje, a realidade mostra que esse conceito ainda é válido. Há um ano atrás, a questão seria: que lucro pode dar o investimento no título alemão a 10 anos quando ele rende apenas 0.49% ao ano? Hoje a resposta é clara: não rende, mas dá segurança. Trata-se apenas de parquear em segurança o excesso de liquidez que não queremos ver alocada a ativos de risco. E se os mercados acionistas, após valorizações mais modestas do que no passado recente, continuarem o realinhamento pela nova realidade medíocre, o seu potencial de valorização será em 2016 mais baixo ainda. Nesse caso, poderemos assistir a situações antes consideradas aberratórias. Juros negativos em toda a linha, até em ativos mais “duvidosos” como dívidas soberanas de países altamente endividados. Claro que há exceções muito honrosas. O Reino Unido e os Estados Unidos, cujas moedas são consideradas fortes no mercado, não sofrem do mesmo mal. Mas no caso dos EUA, poderemos assistir a uma boa valorização dos títulos do Tesouro, sem que isso implique juros negativos nos prazos mais longos. Basta que Wall Street não esteja a “render” o que os investidores esperam. Nesse caso, também as “commodities” continuariam a sua tendência de longo prazo, sem grandes expetativas de inversão de tendência. Até porque a nossa querida Terra, além de muita liquidez financeira, tem também um excesso de oferta de produção de tudo (uma coisa leva a outra, como vimos em aos anteriores, bastando lembrar da péssima alocação de investimentos, como se viu na produção de petróleo).
Portanto, muito endividamento apesar de juros baixos, muita produção de bens e serviços para tão pouco consumo – mau grado os programas de estímulo e o aumento da população mundial – só pode levar a este estado de crescimento anémico, quase depressivo, mais uma vez, mediocridade durante muito tempo.
Em termos de mercados, é complicado antever ganhos em ativos de risco. O próprio mercado acionista não está muito apetecível, embora alguns setores ou certas empresas possam se destacar pela positiva, como sempre acontece. Em 2015, os mercados norte-americanos ficaram na linha de água, os emergentes estiveram mais fracos e a Europa da moeda única nem foi tão má – destaque-se, a alta da Bolsa de Dublin, a refletir o regresso do tigre Celta.
No mercado cambial, mais uma vez, procuramos por momentos de visibilidade. O mercado é feito de perceções, que nem sempre têm a ver com a realidade. A possibilidade de subida dos juros básicos nos EUA tem levado a valorizações do USD desde 2014 – essa tendência será posta em causa somente se a Reserva Federal alterar o seu viés de alta de juros. Mesmo que essa alta não seja nada de especial, a ameaça de subida de juros “per si” é suficiente para ancorar o USD vis à vis as principais moedas, situação que, além do mais, contribui fortemente para desinvestimentos noutras partes do mundo, favorecendo os ativos norte-americanos. A força do USD só se deverá inverter quando for claro que os juros não vão mais subir e quando a renda fixa “render” menos do que no presente. Isso sinalizaria um cenário de forte aversão ao risco, beneficiando, em última análise o JPY. Tal como no ano passado se assistiu a um aumento da volatilidade, teremos seguramente a continuação desse pressuposto. Há sempre um grande conflito entre a apetência pelo risco e a aversão ao risco. Quando esse conflito se torna mais intenso, aumenta a volatilidade. Isso parece ser o caso no novo ano. O que passou ainda foi lucrativo para quem ficou com DAX ou SPX ou mesmo só o dólar. 2016 promete ser mais complexo, pelo menos é o que parece à entrada do ano.
Vamos então deixar uns gráficos muito importantes, sendo que o comentário a cada gráfico (em rodapé) vai refletir um pouco do que foi dito atrás.
A propósito, os últimos gráficos são educativos: favor não entrar longo em ativos cujo gráfico tenha aquele aspeto. Tenham cuidado aí fora !!
Bom ano, boa sorte
dj
Ainda assim, vale uma ressalva. O ano que passou foi dos mais “fáceis” de perspetivar e muito do que pensávamos possível, acabou por se concretizar. Afinal, já muitos problemas vinham de trás, não sendo por isso motivo de admiração a crise dos preços das matérias-primas, as consequências em muitos mercados emergentes, como recessões várias, o agravamento do terrorismo, a força do USD, o que ocorre por via do diferencial entre políticas monetárias. Factos que provam que nada de novo ocorre nos mercados e que a história pode sempre repetir-se, embora com contornos diferentes. Surpresas maiores foram a aparente acalmia da Ucrânia, a quantidade de refugiados na Europa (não a sua vinda), a reviravolta Grega e fenómenos como a queda brutal das energias ou de certas divisas – não a sua ocorrência, mas a amplitude dos fenómenos, o que prova que as tendências podem ser mais prolongadas e mais acentuadas do que esperamos.
Ao entrarmos em 2016, temos a continuação de algo bem claro nos últimos meses. Combate ao chamado perigo deflacionista, agora mais centrado nas maiores Economias do mundo, exceto a maior delas – EUA já em contraciclo. Temos assistido a um alinhamento (ou será realinhamento?) de muitos ativos com o chamado novo normal, ou seja, juros e inflação em baixa, crescimento económico incipiente, lucros da esfera empresarial em crescimento anémico, ativos (várias classes) considerados de menor risco com valorizações bem inferiores às que havíamos assistido no passado recente – o chamado “novo normal”.
Este conceito foi trazido aos escaparates há poucos anos pelo famoso Bill Gross, então na PIMCO, empresa do universo Allianz, baseada em Orange County e que foi durante muitos anos a maior gestora de fundos Obrigacionistas do mundo. O novo “normal” da Economia e da esfera financeira global relacionava-se com a teoria de baixos retornos tanto da Economia real quanto da esfera financeira, ou pelo menos dos seus principais ativos, os mais conhecidos, com maior liquidez. Confesso que o conceito começava a fazer sentido à medida que os anos passavam e que os efeitos da crise do sub-prime teimavam em se manter pelo mundo. Sabemos hoje que essa foi mais uma bolha, embora mais intensa do que outras do passado recente, mas não foi a última. Entretanto, como sabemos, tivemos mais crises, como, por exemplo, a das dívidas dos PIIGS (termo que entretanto caiu em desuso). Umas atrás das outras, mas, sempre com algum tipo de relação causa / efeito entre elas.
A verdade é que nenhuma destas crises está verdadeiramente sanada: a esfera financeira global continua tão alavancada como antes. As dívidas públicas, salvo honrosas exceções, batem recordes após recordes em todo o lado. As dívidas privadas continuam em alta e as emissões de “junk bonds”, embora em desaceleração, continuam a ser efetuadas. Este mundo alavancado, de Oriente a Ocidente, continua não só a não resolver os pressupostos da fragilidade sistémica que contribuiu para a ocorrência de crises, como segue plantando as sementes do próximo choque financeiro – e ainda estamos numa fase de tentativa de cura dos males, como se vê na questão da Banca da zona Euro, onde os “players” são obrigados a maiores exigências de capital sob pena de serem “resolvidos” ou simplesmente absorvidos.
Dir-se-á então que não há possibilidade de fuga ao novo “normal”. Há já quem diga que o novo normal é medíocre. Somando os dois conceitos, prefiro então falar em “novo medíocre”. Algo que, infelizmente, acabará por ser normal enquanto se mantiverem condições de elevado “stress” financeiro e crescimento económico abaixo do potencial ou, se preferirem, abaixo daquilo que seria antigamente considerado normal, quer para os países desenvolvidos, quer para os países em processo acelerado de crescimento. Neste particular, a China é a questão mais problemática para 2016. Mesmo sustentando crescimentos maiores do que a média global, a desaceleração desse crescimento implica em menor crescimento global, o que não ajuda as outras grandes potências e acaba por dar maior relevo à questão da tendência deflacionista.
O “novo medíocre” é exatamente algo que temos sobre a mesa e que “obriga” os grandes blocos económicos às chamadas medidas de estímulo, as quais pouco estímulo trazem, à exceção de interessantes valorizações nalguns ativos. A ideia de criar crescimento e inflação por essa via não foi tão mal sucedida assim nos EUA, mas parece não ter o mesmo efeito na Europa. Para alguns, seria melhor dividir todos os meses pelos contribuintes do velho continente essa liquidez. Poderia ser mais interessante como experiência única na História. Seja como for, sinais preocupantes de há um ano continuam de pé em todos os “tabuleiros”. Na época referia-me ao facto dos EUA poderem adiar a subidas das taxas de juro. Contra ventos e marés, isso ocorreu até à beira do fim do ano, mas não foi uma surpresa. Desde logo porque subidas de juros norte-americanos em tempo de valorização do dólar (neste caso, duas coisas que se relacionam) significam muitas vezes problemas para os chamados mercados emergentes (como no início dos anos oitenta), devido à fuga de capitais da periferia para o centro. Por outro lado, esse adiamento foi-se justificando com a própria política (inversa) dos principais Bancos Centrais, como todos sabemos.
Além disso, a esfera geopolítica assistiu a explodir de tensões latentes: a Rússia entrou em força no Médio Oriente, a França, atacada diretamente pelo terrorismo caseiro, foi empurrada para os conflitos no próximo e no médio oriente, enquanto EUA e Reino Unido também se envolvem, embora sem a convicção de outros tempos até porque as suas opiniões públicas ainda têm memória da intervenção no Iraque. A Europa, internamente, assistiu à crise dos refugiados, tema que só se agrava e que pode trazer consequências políticas e até uma certa crise de confiança. Ainda não é completamente visível o leque de consequências políticas, económicas e sociais que a crise dos refugiados vai provocar. Mas é certo que as vai provocar.
A Oriente, a preocupação deixou de ser a desvalorização do Yen Japonês face às divisas dos vizinhos, mas sim a crise da China. Como vimos acima, parece uma contradição falar em crise num país que, em poucos anos, se transformou na segunda maior economia mundial e que ainda cresce muito acima da média global. Acontece que os mercados globais se configuraram em torno desse crescimento brutal, antecipando a sua manutenção por largos anos, sendo que havia a expetativa de ultrapassar os próprios EUA. Com a “travagem” desse crescimento, sofre a economia global, com amplo destaque para as nações dependentes das exportações de todo o tipo de “commodities”. Não é surpresa alguma a forte contração dos restantes BRIC. Ainda assim, há uma grande nação a despertar e que pode ser uma surpresa pela positiva em 2016 – trata-se da Índia, que tem dado indicadores muito positivos. Vamos ver se os consegue sustentar.
Com todas estas condições, com toda essa incerteza, assistimos a reações extremas nos principais mercados, como as valorizações do mercado Obrigacionista Europeu. Além do fator QE, que todos anteciparam, temos uma efetiva fuga para a qualidade. O medo é grande, senão não teríamos os títulos soberanos Suíços até ao prazo de 10 anos com “yields” negativas. O mesmo se passa em relação a outros títulos da velha Europa, rendimento negativo em prazos até dois ou três anos, nalguns casos até cinco anos. Antigamente, falava-se nos “bond vigilantes”. Hoje, a realidade mostra que esse conceito ainda é válido. Há um ano atrás, a questão seria: que lucro pode dar o investimento no título alemão a 10 anos quando ele rende apenas 0.49% ao ano? Hoje a resposta é clara: não rende, mas dá segurança. Trata-se apenas de parquear em segurança o excesso de liquidez que não queremos ver alocada a ativos de risco. E se os mercados acionistas, após valorizações mais modestas do que no passado recente, continuarem o realinhamento pela nova realidade medíocre, o seu potencial de valorização será em 2016 mais baixo ainda. Nesse caso, poderemos assistir a situações antes consideradas aberratórias. Juros negativos em toda a linha, até em ativos mais “duvidosos” como dívidas soberanas de países altamente endividados. Claro que há exceções muito honrosas. O Reino Unido e os Estados Unidos, cujas moedas são consideradas fortes no mercado, não sofrem do mesmo mal. Mas no caso dos EUA, poderemos assistir a uma boa valorização dos títulos do Tesouro, sem que isso implique juros negativos nos prazos mais longos. Basta que Wall Street não esteja a “render” o que os investidores esperam. Nesse caso, também as “commodities” continuariam a sua tendência de longo prazo, sem grandes expetativas de inversão de tendência. Até porque a nossa querida Terra, além de muita liquidez financeira, tem também um excesso de oferta de produção de tudo (uma coisa leva a outra, como vimos em aos anteriores, bastando lembrar da péssima alocação de investimentos, como se viu na produção de petróleo).
Portanto, muito endividamento apesar de juros baixos, muita produção de bens e serviços para tão pouco consumo – mau grado os programas de estímulo e o aumento da população mundial – só pode levar a este estado de crescimento anémico, quase depressivo, mais uma vez, mediocridade durante muito tempo.
Em termos de mercados, é complicado antever ganhos em ativos de risco. O próprio mercado acionista não está muito apetecível, embora alguns setores ou certas empresas possam se destacar pela positiva, como sempre acontece. Em 2015, os mercados norte-americanos ficaram na linha de água, os emergentes estiveram mais fracos e a Europa da moeda única nem foi tão má – destaque-se, a alta da Bolsa de Dublin, a refletir o regresso do tigre Celta.
No mercado cambial, mais uma vez, procuramos por momentos de visibilidade. O mercado é feito de perceções, que nem sempre têm a ver com a realidade. A possibilidade de subida dos juros básicos nos EUA tem levado a valorizações do USD desde 2014 – essa tendência será posta em causa somente se a Reserva Federal alterar o seu viés de alta de juros. Mesmo que essa alta não seja nada de especial, a ameaça de subida de juros “per si” é suficiente para ancorar o USD vis à vis as principais moedas, situação que, além do mais, contribui fortemente para desinvestimentos noutras partes do mundo, favorecendo os ativos norte-americanos. A força do USD só se deverá inverter quando for claro que os juros não vão mais subir e quando a renda fixa “render” menos do que no presente. Isso sinalizaria um cenário de forte aversão ao risco, beneficiando, em última análise o JPY. Tal como no ano passado se assistiu a um aumento da volatilidade, teremos seguramente a continuação desse pressuposto. Há sempre um grande conflito entre a apetência pelo risco e a aversão ao risco. Quando esse conflito se torna mais intenso, aumenta a volatilidade. Isso parece ser o caso no novo ano. O que passou ainda foi lucrativo para quem ficou com DAX ou SPX ou mesmo só o dólar. 2016 promete ser mais complexo, pelo menos é o que parece à entrada do ano.
Vamos então deixar uns gráficos muito importantes, sendo que o comentário a cada gráfico (em rodapé) vai refletir um pouco do que foi dito atrás.
A propósito, os últimos gráficos são educativos: favor não entrar longo em ativos cujo gráfico tenha aquele aspeto. Tenham cuidado aí fora !!
Bom ano, boa sorte
dj
- Anexos
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- O Ouro só brilha quando o USD se afunda. Aqui é o oposto que acontece. Atenção, medido em algumas das outras divisas, o Ouro não perdeu e até ganhou. Tudo é relativo.
- Gold(Weekly).png (29.6 KiB) Visualizado 3053 vezes
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- Tal como "refugiado" foi a palavra do ano, petróleo foi o ativo mais falado na esfera financeira global. Mais perdas e perdas, recuperação e novas perdas. Será que já vimos o fundo ? Duvida-se...
- Crude Oil(Weekly).png (27.51 KiB) Visualizado 3053 vezes
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- Fx. Este é um par historicamente importante. Não atingiu elevações históricas, começou a mostrar sinais de hesitação, o que significa "nuvens negras no horizonte". Se inverter em baixa, sinalizará maiores preocupações para os mercados.
- USDJPY.png (27.27 KiB) Visualizado 3053 vezes
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- Mais do que um simples "bull market" do USD, que já vinha do ano anterior, aqui temos a consequência do aumento da liquidez em EUR, a nova divisa que proporciona liquidez ao sistema especulativo.
- EURUSD.png (28.28 KiB) Visualizado 3053 vezes
Editado pela última vez por djovarius em 4/1/2016 16:15, num total de 1 vez.
Cuidado com o que desejas pois todo o Universo pode se conjugar para a sua realização.
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