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[TRSM]

Os segredos da bolsa
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Se alguma relação directa se pode fazer é que o sigilo bancário faz mal à bolsa. Mas não pode. O que se pode afirmar é que sempre que cheira um bocadinho a capitalismo, o capital aparece.

No auge da reforma fiscal, a discussão sobre o fim do sigilo bancário provocou reacções emocionadas.

Ia provocar uma fuga de capitais, uma descomunal hemorragia de poupanças para o exterior garantiam os mais inflamados.

O nosso PSI-20 entretanto definhava. Mas isso nada tinha a ver com a derrocada da nova economia que todo o mundo assistia.

As bolsas estavam a cair em todo o lado, mas a nossa sossobrava com o acesso mais fácil às contas bancários dos empresários e dos outros portugueses suspeitos de fugir ao fisco.

Pois é, na sessão imediatamente após à divulgação das 30 propostas do "Compromisso Portugal ", das quais inequivocamente se destacou o apelo à quebra do sigilo bancário, o mercado de capitais português negociou a níveis que já não se via há muito tempo.

É uma cruel ironia: os próprios gestores das empresas cotadas "provocam " os investidores com este tema "tabu " e estes reagem investindo mais nas suas empresas. Se alguma relação directa se pode fazer é, então, que o sigilo bancário faz mal à bolsa.

Mas não pode. O que se pode afirmar é aquilo que, aliás,já nesse tempo, um estudo da CMVM claramente demonstrava: não está provada qualquer relação entre o comportamento dos investidores e o quadro legal que protege as suas contas bancárias.

Os segredos da nossa bolsa são outros. E colocam-nos novamente na conferência do Beato. Onde se voltou a falar da tão famosa "falta de capital " dos nossos grupos. Causa uma enorme perplexidade ouvir este argumento, de falta de capital, justamente quando o capital é o factor mais móvel nesta economia global.

A questão correcta deve ser posta noutros termos: por que falta capital em Portugal? Dito de outra forma, por que razão se vai investir em Portugal? Não é preciso encomendar um estudo ou pedir ajuda aos académicos para resolver este quebra-cabeças. A resposta está a ser dada pelo mercado: os investidores aparecem, o dinheiro não falta, quando há perspectivas de negócio.

Por isso, a nossa bolsa está a subir que se farta. Não é por antecipar a viragem do ciclo económico, pois a retoma continua difusa e incerta. Não é por qualquer razão espectacular. Simplesmente, há empresas que prometem recomposições accionistas importantes (Portucel), há as que podem participar em movimentos de concentrações (Millenium bcp), as que já estão a beneficiar de reestruturações (EDP), as que anunciaram bons contratos (Pararede) ou simplesmente casos de mera correcção de quedas exageradas (caso das cotadas do Grupo Sonae).

A outra questão, porventura a mais interessante, é saber se este movimento é sustentável. Se o frenético arranque deste ano 2004 não está a ser demasiado "latino-americano" para mercados menos voláteis, como o nosso. Há fórmulas para estas dúvidas. Mas a análise técnica não é tarefa de jornalistas.

Limito-me, portanto, a constatar factos:sempre que cheira um bocadinho a capitalismo, o capital aparece. Mais do que uma "dica " para os investidores, fica o recado para os nossos empresários: será que não percebem o que está por detrás desta euforia?

Conhecem o conceito de "free float "? Não há segredo: António Borges chamou-lhe ter "medo dos accionistas