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Caldeirão da Bolsa

Novo artigo: "O Maestro"

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por djovarius » 12/2/2004 22:11

Boa noite,

Desta vez, a propósito do artigo do Ulisses, vou destoar um pouco da maioria das opiniões sobre "Easy Al" !!! :(

Bom, ele tornou-se um protagonista e uma figura querida dos mercados, sobretudo accionistas, porque terá criado as condições objectivas para uma das maiores corridas Bull da História dos mesmos.

Mas há quem pense que o seu percurso é comtroverso e que mudou de opinião ao longo dos anos.
A propósito, sei que já foi editado na América uma biografia "livre" sobre Greenspan que está a causar uma certa polémica. Pode ser que descubra o nome do livro e o autor para poder passar essa informação.

Aqui, vamos a um pouco de história como o nosso Ulisses gosta :)
Na década de sessenta, AG defendia uma moeda ancorada pelo padrão Ouro, realidade que à época estava com os dias contados. Ele não era um purista, ou um gold-bug mas simpatizava com o padrão e defendia a sua manutenção, nem que fosse parcial. Assim, seria possível manter padrões de crescimento sem comprometer uma moeda forte e objectivos de inflação controlada.

Depois, ele adaptou-se às circunstâncias, como sabemos.
Muito mais importante do que ele, no passado recente, foi o seu antecessor, Paul Volcker, que chefiou o FED entre 1979 e meados de 1987 !!
Este senhor apanhou a América numa profunda crise social e económica, no fim da década perdida de estagnação e inflação - a famosa estagnaflação !!
Volcker sabia que havia que fazer sacrifícios num ponto para resolver o outro.
Assim, aumentou fortemente os juros e controlou a liquidez para atacar a inflação. Mesmo que isso aprofundasse a recessão não seria grave num primeiro momento, havendo consenso político.
Os juros aumentaram até 1980 ao ponto do yield da nota do Tesouro a 10 anos ter atingido cerca de 20%.
Mas os efeitos benéficos começaram pouco depois: a cotação do Ouro (e muitos outros itens) caiu a pique e a inflação começou também a cair com força. E nessa época, a dívida americana era bem menor.
Tudo isto criou as condições para o novo ciclo de crescimento de longo prazo que a América vive até ao presente.
Os juros atingiram um pique mas voltaram a baixar devido ao bom comportamento da inflação e do USD. Assim, houve condições para o rally accionista que começou em 1982, voltando o mercado de capitais a atrair start-ups.
O mercado de dívida entrou em Bull logo em 1981 - esse rally permitiu a queda dos juros de mercado, o que foi decisivo para que os EUA conseguissem aumentar o endividamento.
Foi o que Reagan fez para dinamizar a Economia.
Assim, em poucos anos, a inflação continuava bem controlada e a América voltava a crescer, o que foi decisivo para a retomada na Europa e para a queda do muro de Berlim. Para não falar da Globalização.

No final da era Reagan, Volcher sai e entra AG, pela mão do Secretário de Estado James Baker. Este tinha cozinhado em 1985 o Acordo do Plaza Hotel em NY. A ideia era reverter a subida fulgurante do USD (outros tempos), o que conseguiram.
Como a reacção foi muito forte, em 1987, foi feito o Acordo do Louvre, em Paris, para parar essa inversão, procurando estabilizar o mercado sem pôr em causa o espírito do Plaza Accord.

Acontece, porém, que houve uma falha e o USD continuou ainda a cair, seguindo a nova tendência inaugurada em 1985.
Entretanto, AG, acabado de chegar, cometeu um erro. Com medo de uma bolha dos activos, incluindo em Wall Street que estava a ter um ano louco em 1987, e achando que ia suportar o USD, decidiu subir os juros. Nesse momento, os mercados de obrigações e acções assustaram-se com o novo homem do FED e começaram em queda, que acabou naquele dia de outubro num violento crash.

O resto, é o que todos sabemos. AG prometeu dar aos mercados a liquidez necessária para impedir uma crise profunda. No fundo, resolveu um problema que ele mesmo junto com Baker criaram.

Com o tempo, tornou-se mais e mais monetarista e os seus discursos eram dúbios.
Falou de irracionalidade em 1996, mas alimentou-a com brutais niveis de liquidez - até hoje.

O episódio mais interessante foi a cedência recorde de liquidez por causa do Y2K, a qual foi inteirinha para alimentar a gula de Wally. Mas antes já havia sido assim por causa das ameaças de crise nos mercados emergentes. Por outro lado, ainda em 1999, aumentava a liquidez ao mesmo tempo que subia os juros, situação que se tornou complexa no ano 2000, uma vez que os juros reais ficaram demasiado elevados para a real ameaça de inflação, que era pequena. Assim, Wall Street foi ao tapete, o dólar entrou em sobreaquecimento, os défices externos avolumaram-se e a recessão começou.
De lá até aos dias de hoje, tem sido um problema para corrigir esses excessos, tentando reinflacionar as bolhas que ele mesmo criou e esvaziou.

As histórias que a História terá para contar valerão o tempo gasto na sua leitura.


Um abraço

djovarius
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por Ulisses Pereira » 12/2/2004 13:06

Didi,

Um dos grandes problemas tem mesmo a ver com o objectivo da FED e do BCE. Ao contrário da FED, o BCE está - na minha opinião - demasiado focalizado no controle da inflacção e menos no crescimento económico.

Ou seja, Greenspan, usa todos os meios que tem ao seu dispor para fazer mover a economia americana, enquanto o BCE fica demasiado preso à questão da inflação. Dizem os seus responsáveis que é esse o objectivo definido pelos políticos e que apenas se têm que limitar a cumprir os objectivos.

Lá chegará a hora em que a Europa irá redefinir o papel do BCE...

Beijos,
Ulisses
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O Maestro é

por Thomas Hobbes » 12/2/2004 11:49

Um exemplo de como um banco central deve ser gerido.

O que o Maestro tem a mais, falta ao presidente do BCE.

Pior é que o BCE neste momento não passa de uma sucursal do Bundesbank.

Assim o projecto europeu de uma economia forte e competitiva arrica-se a ser adiado.

A europa continua a ser uma das carruagens a ser puxada pela locomotiva americana.

Quando é que a Europa terá a sua própria locomotiva?
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por Visitante » 12/2/2004 11:39

Allan G e as reacções às suas políticas lembram-me os treinadores da bola,oscilam entre o bestial e o besta consoante a maré sobe ou desce...
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A valsa...

por Dark » 12/2/2004 10:32

Ulisses,

Parabéns pelo artigo.

Depois de ler atentamente o discurso de Alan Greenspan, (cujo link o info deixou no Caldeirão e pelo facto lhe agradeço), o que mais me impressionou foi a clareza da análise tocando em todos os pontos fudamentais, mas nem sempre evidentes, motores da economia americana.

Além de um excelente economista (macro), o Sr. Green é um observador atento da sociedade americana, dos seus hábitos, dos seus defeitos e virtudes, e manda tocar a orquestra, sabendo bem que acompanhamento poderá vir a ter.

Os seus 80 anos dão-lhe a sabedoria que ele demonstra na sua actuação.

"Long live Mr. Greenspan".

Possam os nossos bur(r)ocratas europeus aprender algo com ele.

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maestro

por didi » 12/2/2004 10:17

Ulisses,

Como sempre com toda a atenção li o teu artigo. Já não é a primeira vez que coloco esta dúvida, mas com este exemplo americano de novo me assalta a incógnita:
Será que o problema da Europa é a falta dum maestro capaz ou a inexistência total de orquestra mas apenas um conjunto de instrumentos que tocam isoladamente e, pontualmente, parecem tocar a mesma melodia :?:

Naturalmente que a maturidade atingida pela união dos estados norte americanos permite uma actuação mais uniforme, porém, tal situação também só será atingida se na direcção da orquestra estiver alguém capaz e, com poderes de facto para tal, não será?

Nem sempre o exemplo americano é o melhor, mas no caso em concreto talvez fosse bom o resto do mundo aprender com este senhor não é verdade?

beijinhos
didi
 
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Novo artigo: "O Maestro"

por Ulisses Pereira » 12/2/2004 3:03

Acabei de colocar na Primeira Página o artigo "O maestro":

http://www.caldeiraodebolsa.com/

Ulisses
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