Compromisso (por) Portugal
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Compromisso (por) Portugal
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Sofia Galvão
Se um grupo de empresários e gestores tivesse feito uma convenção para discutir economia, nada haveria de extraordinário. Mesmo que fossem centenas. Mesmo que representassem os mais importantes grupos e empresas com actividade em Portugal.
Se um grupo de empresários e gestores tivesse feito uma convenção para discutir economia, nada haveria de extraordinário. Mesmo que fossem centenas. Mesmo que representassem os mais importantes grupos e empresas com actividade em Portugal.
Porém, ontem, no Convento do Beato, ocorreu algo muito diferente. E, por isso mesmo, especialmente significativo.
Em primeiro lugar, porque, mais do que a economia, esteve em causa o modelo de desenvolvimento do país. Em segundo lugar, porque foram convocados diversos sectores da sociedade civil, assumindo-se que a reflexão desafiava preocupações que iam muito para além do universo empresarial. Em terceiro lugar, porque uma e outra opções resultaram de um consenso consciente entre os promotores da iniciativa.
Portanto, como era imperativo, falou-se de política no Beato. E a relevância do que por lá se passou radica nesse facto incontornável.
No preciso momento em que a vida pública se revela incapaz de apresentar causas e de, em torno delas, agregar empenhos, um grupo de pessoas resolveu apelar à discussão. Em nome da urgência de encontrar perspectivas. Em nome de um sentido colectivo. Em nome de Portugal.
A evolução precisa de horizontes, de metas, de caminhos. Como precisa de esperança de determinação e de disciplina. Sem tudo isso, não há por que andar.
Num país que não estimula o pensamento, o simples acto de pensar já faz a diferença. E, portanto, não pode haver inconsequência neste exercício de propor a partilha de visões, de saberes, de experiências para daí retirar princípios de acção.
Ontem, no Beato, foi o que sucedeu. Uns e outros contribuíram para um debate que a sociedade civil terá que saber impor. Perante o vazio de ideias que marca o registo formal e institucional.
A história ensina que os países progridem quando perseguem desígnios claramente identificados. E que, pelo contrário, regridem e degradam na sua falta.
Em Portugal, também foi sempre assim.
Hoje, sente-se que o país está em perda. Há qualquer coisa que se dissolve, profunda e inexoravelmente. Já não somos o que fomos. Mas não temos nenhuma ideia acerca do que queremos ser. A vida vai acontecendo, um pouco por acaso, fruto das circunstâncias. Um país contingente. À deriva. Procurando por si próprio. Sem se encontrar.
Falta estratégia. Falta um quadro de desenvolvimento. E, a partir daí, falta a motivação, o entusiasmo e a emulação.
O país perde oportunidades irrepetíveis. Refém desta ausência de perspectiva. A economia sente a desorientação e, também ela, sofre o impacte de uma crónica incapacidade de estruturar respostas. Pode crescer, ciclicamente, mas não se consolida, não se refunda, não se reconverte. Mais tarde ou mais cedo, permite a recessão e, com ela, inevitável, a crise.
Mas, no Beato, não houve queixas. Nem diagnósticos estafados. Nem balanços de culpas. As atenções centraram-se no futuro. E no que fazer para o preparar.
A atitude foi construtiva e, portanto, promissora. As mensagens, essas, apesar da diversidade dos pretextos e dos registos, foram inequívocas.
A sociedade dirigiu-se ao poder político, exigindo mais e melhor. Por imperativo de cidadania. Assumindo o compromisso de fazer a sua parte. Mas anunciando uma atenção renovada à agenda da governação. Quando o país não pode esperar e a urgência é absoluta, a sindicância torna-se indeclinável.
E o importante, no Beato, foi isto. Um desconhecido sentido de emergência a mostrar-se capaz de congregar, de responsabilizar, de mobilizar. O que, num país entregue à indiferença, traduz a premência de recentrar a agenda pública na discussão do futuro.
No mais, as propostas concretas serão trabalhadas, desenvolvidas, discutidas a partir de uma imensa rede de contributos a veicular através do ‘site’ ou via e-mail.
Aliás, também nisso esta iniciativa revelou um arrojo incomum. Não se fechou no núcleo dos promotores e dos seus convidados, preferindo alargar a participação a todos os que comunguem esta mesma consciência de inadiabilidade. Não se resumiu ao êxito de um dia de convenção, aceitando o desafio de manter o debate vivo.
É claro que, pelo meio, surgiram as habituais más-vontades. Ora para desvirtuar o sentido objectivo deste Compromisso Portugal, tomando-o como reacção a manifestos anteriores, instrumentalizando-o a um inusitado tropismo geracional, acusando-o de servir os propósitos de putativas candidaturas associativas, colando-o a proselitismos neo-liberais. Ora para desacreditar as motivações profundas de alguns dos promotores que, em prol dos seus inconfessáveis sonhos de poder, estariam interessados, apenas, na sua autopromoção.
Porém, mesmo sem sermos cândidos, e admitindo que nem todos lá foram pelas mesmas genuínas razões, o essencial passou à margem desses eventuais aproveitamentos.
E o essencial foi o sentido de compromisso com Portugal. A responsabilidade pelo futuro. A exigência no presente.
Muita gente de recta intenção passou, ontem, no Beato. É desses que importa esperar algo. É nesses que há que confiar. Os outros sempre os houve, em qualquer lado e em todas as épocas. O tempo encarregar-se-á de separar o trigo do joio. Como sempre faz.
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Sofia Galvão
Se um grupo de empresários e gestores tivesse feito uma convenção para discutir economia, nada haveria de extraordinário. Mesmo que fossem centenas. Mesmo que representassem os mais importantes grupos e empresas com actividade em Portugal.
Se um grupo de empresários e gestores tivesse feito uma convenção para discutir economia, nada haveria de extraordinário. Mesmo que fossem centenas. Mesmo que representassem os mais importantes grupos e empresas com actividade em Portugal.
Porém, ontem, no Convento do Beato, ocorreu algo muito diferente. E, por isso mesmo, especialmente significativo.
Em primeiro lugar, porque, mais do que a economia, esteve em causa o modelo de desenvolvimento do país. Em segundo lugar, porque foram convocados diversos sectores da sociedade civil, assumindo-se que a reflexão desafiava preocupações que iam muito para além do universo empresarial. Em terceiro lugar, porque uma e outra opções resultaram de um consenso consciente entre os promotores da iniciativa.
Portanto, como era imperativo, falou-se de política no Beato. E a relevância do que por lá se passou radica nesse facto incontornável.
No preciso momento em que a vida pública se revela incapaz de apresentar causas e de, em torno delas, agregar empenhos, um grupo de pessoas resolveu apelar à discussão. Em nome da urgência de encontrar perspectivas. Em nome de um sentido colectivo. Em nome de Portugal.
A evolução precisa de horizontes, de metas, de caminhos. Como precisa de esperança de determinação e de disciplina. Sem tudo isso, não há por que andar.
Num país que não estimula o pensamento, o simples acto de pensar já faz a diferença. E, portanto, não pode haver inconsequência neste exercício de propor a partilha de visões, de saberes, de experiências para daí retirar princípios de acção.
Ontem, no Beato, foi o que sucedeu. Uns e outros contribuíram para um debate que a sociedade civil terá que saber impor. Perante o vazio de ideias que marca o registo formal e institucional.
A história ensina que os países progridem quando perseguem desígnios claramente identificados. E que, pelo contrário, regridem e degradam na sua falta.
Em Portugal, também foi sempre assim.
Hoje, sente-se que o país está em perda. Há qualquer coisa que se dissolve, profunda e inexoravelmente. Já não somos o que fomos. Mas não temos nenhuma ideia acerca do que queremos ser. A vida vai acontecendo, um pouco por acaso, fruto das circunstâncias. Um país contingente. À deriva. Procurando por si próprio. Sem se encontrar.
Falta estratégia. Falta um quadro de desenvolvimento. E, a partir daí, falta a motivação, o entusiasmo e a emulação.
O país perde oportunidades irrepetíveis. Refém desta ausência de perspectiva. A economia sente a desorientação e, também ela, sofre o impacte de uma crónica incapacidade de estruturar respostas. Pode crescer, ciclicamente, mas não se consolida, não se refunda, não se reconverte. Mais tarde ou mais cedo, permite a recessão e, com ela, inevitável, a crise.
Mas, no Beato, não houve queixas. Nem diagnósticos estafados. Nem balanços de culpas. As atenções centraram-se no futuro. E no que fazer para o preparar.
A atitude foi construtiva e, portanto, promissora. As mensagens, essas, apesar da diversidade dos pretextos e dos registos, foram inequívocas.
A sociedade dirigiu-se ao poder político, exigindo mais e melhor. Por imperativo de cidadania. Assumindo o compromisso de fazer a sua parte. Mas anunciando uma atenção renovada à agenda da governação. Quando o país não pode esperar e a urgência é absoluta, a sindicância torna-se indeclinável.
E o importante, no Beato, foi isto. Um desconhecido sentido de emergência a mostrar-se capaz de congregar, de responsabilizar, de mobilizar. O que, num país entregue à indiferença, traduz a premência de recentrar a agenda pública na discussão do futuro.
No mais, as propostas concretas serão trabalhadas, desenvolvidas, discutidas a partir de uma imensa rede de contributos a veicular através do ‘site’ ou via e-mail.
Aliás, também nisso esta iniciativa revelou um arrojo incomum. Não se fechou no núcleo dos promotores e dos seus convidados, preferindo alargar a participação a todos os que comunguem esta mesma consciência de inadiabilidade. Não se resumiu ao êxito de um dia de convenção, aceitando o desafio de manter o debate vivo.
É claro que, pelo meio, surgiram as habituais más-vontades. Ora para desvirtuar o sentido objectivo deste Compromisso Portugal, tomando-o como reacção a manifestos anteriores, instrumentalizando-o a um inusitado tropismo geracional, acusando-o de servir os propósitos de putativas candidaturas associativas, colando-o a proselitismos neo-liberais. Ora para desacreditar as motivações profundas de alguns dos promotores que, em prol dos seus inconfessáveis sonhos de poder, estariam interessados, apenas, na sua autopromoção.
Porém, mesmo sem sermos cândidos, e admitindo que nem todos lá foram pelas mesmas genuínas razões, o essencial passou à margem desses eventuais aproveitamentos.
E o essencial foi o sentido de compromisso com Portugal. A responsabilidade pelo futuro. A exigência no presente.
Muita gente de recta intenção passou, ontem, no Beato. É desses que importa esperar algo. É nesses que há que confiar. Os outros sempre os houve, em qualquer lado e em todas as épocas. O tempo encarregar-se-á de separar o trigo do joio. Como sempre faz.
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