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Caldeirão da Bolsa

Off Topic - Os novos Escravos(mais um artigo da marca Jument

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por Pata-Hari » 12/2/2004 14:55

conformista? tenho ar de conformista pelo que digo? não... é que eu também já fui escrava e assisto todos dias a isso.

Aliás, a constatação que faço é que o pessoal que foi excelente onde passou e que está com excelentes carreiras, é exactamente este pessoal descrito: os que trabalham 15 horas por dia/7 dias por semana. Sim, são bem pagos, sim, são golden boys, mas "sai-lhes do pelo"...
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Ainda há algumas pessoas lucidas!

por Serrano » 12/2/2004 14:51

E é bom dar por isso. Felicito o autor do "artigo", que evidência como a moda do pensamento-único-liberal, que tantos seguidores tem na nossa terra, é um monstro medonho e anti-humano.
Parabéns.
Um abraço (mesmo desconhecendo o autor...)

PS - Estimada Pata, penso que não és assim tão conformista.
 
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por Pata-Hari » 12/2/2004 13:33

Essa é uma realidade que já não é de hoje.... já tem pelo menos década e meia. E sim, é bastante fiel, só peca por falta de detalhes porque é uma realidade já muito comum...
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Off Topic - Os novos Escravos(mais um artigo da marca Jument

por mod » 12/2/2004 13:23

in http://jumento.blogdrive.com
Os novos Escravos

Não têm aspecto andrajoso, nem usam lantejoulas em casas de alterne em
obscuros bairros suburbanos de desconhecidas vilas espanholas; usam fatos
da Marks & Spancer, andam com o passe L1 ou com o carro da mãe e
estudaram que nem uns desalmados durante mais de dezasseis anos.

São os novos escravos dos bancos, das factorings, do crédito instantâneo,
das seguradoras, das distribuidoras, dos escritórios de anafados
advogados, dos ateliers de arquitectura bem sucedidos; ganham à hora ou à
peça por horas intermináveis de auto-cad, ambicionam o prémio exibido por
uma meta inalcançável ou, muito simplesmente, trabalham de borla a troco
de um estágio que lhes abra as portas da ilusão.

São jovens que adiaram a juventude ou a afogm em meia dúzia de shots de
fim de semana, nascidos e criados tendo em vista a competição de uma
vida.


Marraram que se fartaram e foram forçados a olhar para o seu amigo como
o primeiro competidor; não tiveram o prazer de copiar ou de dar a copiar
(e se o fizeram correram um sério risco de serem denunciados), nunca
faltaram a uma aula nem imaginam a sensação de estarem "tapados de
faltas". Uma 'nega' a matemática que dantes dava direito a um raspanete
é para eles o fim de uma carreira gloriosa, e já ninguém consegue dormir
em casa.

Passada a ressaca da queima das fitas ora aí está mais uma vaga de
doutores, engenheiros e arquitectos. Agora toca a arranjar trabalho, se
já não foram alvo de ofertas por algum banco ou por um escritório de
advocacia.

São novos estagiários em escritórios onde nada ganham, arquitectos à hora
em ateliers de arquitectura, analistas dos mais variados tipos nas
consultoras ou nas financeiras, gestores de conta, gestores de produto
ou, muito simplesmente, trabalham numa empresa de crédito instantâneo
onde passam horas intermináveis atrás de esposas fugidias, que praticaram
"adultério" económico para comprarem uns anéis à vendedora ambulante de
ouros. Uma boa parte deles ganha menos que a mulher-a-dias que vais todos
os dias duas horas lá a casa.

Trabalham horas a fio em ambiente de open space onde têm direito a uma
mesa, um telefone e um computador; tentam a todo o custo atingir metas
que são permanentes miragens e o seu grande objectivo é sobreviver até ao
próximo ano. Para além da miragem do x% de aumento de um qualquer
indicador está um carro, um aumento e uma subida de categoria ou o
despedimento sumário, porque há uma nova vaga de licenciados a sair da
universidade; até lá, não há horários e até estão proibidos de namorar
com alguém da empresa... Como a corredores da Corrida do Pálio, na bela
cidade de Siena, só o primeiro lugar interessa, e o segundo é o mais
humilhante.

Alguns, os mais bem sucedidos na universidade, até podem ir para uma
financeira na City de Londres e aí, em troca de um estatuto
invejável para os da sua geração, trabalham dezanove horas por dia, sem
sábados ou domingos, comem pizas e o sono é sobressaltado pelas
conclusões do relatório que ficou aberto em cima da secretária. E vivem
um segredo que não contam a ninguém: o seu maior desejo deixou de ser o
BMW oito ponto não sei quantos, é um simples jantar quente feito pelas
mãos da mãe.

Há poucos dias uma amiga deu-me a saber um diálogo que teve com uma das
personalidades mais distinta da nossa tecnocracia emigrante.

Um jovem português, cidadão deste pobre país, havia recusado um lugar
numa financeira, ambicionado por tudo quanto é aluno das grandes
universidades de todo o mundo, muito prosaicamente, porque não queria ser
escravo; a tal justificação o referido senhor comentou que já não sabemos
educar os nossos filhos, eles já não têm espírito de sacrifício. A
resposta que levou da mãe foi muito simplesmente que para ela o
importante era o filho ser feliz; será assim tão difícil de compreender?
mod
 


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