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Caldeirão da Bolsa

Legolandia

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Legolandia

por Thomas Hobbes » 13/1/2004 16:35

É uma desgraça que os nossos governantes se fechem nos seus gabinetes em Lisboa, reféns dos burocratas e distantes dos problemas reais do país. Pior que isto só há mesmo uma atitude: é quando eles decidem sair. Porque essas digressões custam normalmente caro.

Também Durão Barroso não resistiu à tentação. Em nome da descentralização, conclui amanhã quatro dias de visita a dois distritos do Norte. Desde que começou, só anunciou mais despesa pública. No primeiro dia, as estradas para o Porto. No segundo, os comboios para o país. Com uma nova «regionalização» à mistura.

É uma atitude racional de um profissional da política. Justificar os votos dos eleitores. Os ‘stafs’ não organizam uma viagem, pelo país ou no exterior, para o político anunciar coisas impopulares.

Não é, porém, um comportamento aceitável para quem sabe que herdou uma crise orçamental, sabe que a gravidade dessa crise permanece intacta e sabe, porque já foi avisado, de que os sacrifícios mais sérios ainda estão para vir.

Pois a tal «regionalização» em curso, por mais sedutor que seja o princípio em que foi embrulhada, a livre escolha dos municípios em associarem- se, também deve ser avaliada a partir desta emergência nacional, a apertada restrição financeira do país.

Antes de aplaudir a criação da primeira comunidade urbana do país, no Vale do Sousa, é preciso chamar a atenção da realidade que estamos a tratar: os municípios portugueses estão com a corda à garganta.

É um problema estrutural. Porque 64% dos orçamentos camarários dependem das transferências do Orçamento de Estado e dos fundos comunitários. E porque dois terços das receitas próprias dependem do sector imobiliário, que está próximo da saturação.

E este problema de fundo está agravado pelas condições financeiras gerais que o país vive, como se pode ver no levantamento feito pela jornalista Marta M. Oliveira junto dos maiores concelhos, que publicamos em manchete, e conclui que os respectivos autarcas estão ainda mais dependentes de receitas extraordinárias que a própria ministra das Finanças.

Portanto, é uma evidência que as finanças locais não suportam mais encargos. E não é evidente, porque não está explicado, como serão financiadas estas pequenas comunidades urbanas ou as grandes áreas metropolitanas a constituir.

É verdade que a valorização do nosso território já foi, até por mais de uma vez, considerada por este jornal como decisiva para evitar que Portugal «descole» do mapa da Europa, quando este se virar para o Leste, com o alargamento da União. Também já aqui se defendeu que, para tornar o território mais competitivo, é preciso dotá-lo com infra-estrutura. Como o TGV, porque a nossa afirmação a prazo depende da rapidez a que se deslocam bens e pessoas dentro da Península Ibérica, e desta para o centro da Europa.

Mas isto não se faz com profissões de fé. E sobretudo não se faz no ar. E, mais importante ainda, deve ser explicado que outra prioridade é preciso deixar cair, para viabilizar esta. Boas ideias todos têm. Guterres tinha boas ideias. Não gostava era de fazer contas.

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