http://escritosdodouro.blogspot.com/201 ... douro.html
FADO é PATRIMÓNIO! E o ALTO DOURO VINHATEIRO ameaçado?...
http://www.dodouro.com/noticia.asp?idEd ... on=noticia
http://www.dodouro.com/noticia.asp?idEd ... on=noticia
QUE ESTRANHA FORMA DE VIDA!
(Foi com alegria que o país recebeu a notícia da elevação do Fado a Património Imaterial da Humanidade. Ainda bem que assim foi. A nossa auto-estima colectiva andava muito em baixo, e tudo o que a faça elevar, é bem-vindo.
Mas somos um estranho país, que ao mesmo tempo que tenta conquistar mais um lugar de referência no mundo, deixa cair outro, aos bocadinhos, por desleixo.
O Douro, com os atentados que tem sido vítima, nomeadamente a falta de coesão no seu sistema produtivo, e com as cedências a planos suicidas de barragens, está a um passo de perder o galardão de Património da Humanidade)
Só há dois tipos de
património que o Homem pode preservar a muito longo prazo: o imaterial e o
ambiental. O património imobiliário, como sejam as cidades, acabarão um dia. Por exemplo, Veneza está condenada há muitos anos. É gozá-la enquanto está de pé. Outros pólos históricos, o tempo se encarregará de os fazer ruir, apesar de todos os esforços do Homem. Contudo, o património Imaterial, pode ser conservado porque esse está muito mais dependente da atitude do Homem e muito menos do tempo. Assim como o património Natural. Queira o Homem preservá-lo, e a Natureza não o defraudará.
Há cidades e partes de cidades no nosso país, bem como monumentos, que já são património mundial: Os centros históricos de Angra do Heroísmo, Évora, Guimarães e Porto. O Mosteiro dos Jerónimos, a Torre de Belém, o Convento de Cristo, o Mosteiro de Alcobaça, ou ainda a arte rupestre do Vale do Côa, a floresta Laurissilva da Madeira e a Paisagem da Vinha na Ilha do Pico.
Mas os Centros Históricos e Edifícios, sê-lo-ão, enquanto o tempo o permitir. Por muitos esforços que o Homem faça, ainda está longe de ter remédio para o avanço do tempo.
Por outro lado, o património natural é algo que sobrevive quase eternamente, bastando só que o Homem não o agrida. Ou melhor: que o Homem não atrapalhe. E é a este ponto que queria chegar. Vivemos tempos de grande dificuldade, mas também tempos de grande corrupção, onde se jogam grandes interesses, interesses de tal maneira poderosos que nada respeitam. A voragem do vil metal distorce a mente de muitos. O mal é quando os Governos alinham pela mesma bitola e abrem caminho a que esses interesses avancem sem problemas. E eu digo que, hoje em dia é mais difícil um cidadão conseguir uma licença para construir um galinheiro com 4 metros quadrados, do que um lobie conseguir construir uma abantesma de betão que irá destruir toda uma região, com todos os avales e mesinhas do Estado.
A região do Douro, que já era emblemática muito antes de ser considerada Património Mundial, pois foi a primeira região demarcada vinhateira do mundo, foi recentemente galardoada com o tal título da UNESCO que a consagrou definitivamente perante o mundo. Todos lucramos com isso, especialmente a região, que passou a ter publicidade gratuita, que passou a ser falada em todos os sítios onde se aconselhavam paisagens, que passou a andar em todos os roteiros da net, que começou a ser apetecida por turistas que a desconheciam.
O turismo no Douro deve a este facto o seu crescimento. E a mais nenhum. Tudo o que se fez depois, foi um enorme zero, dinheiro mal gasto por quem percebia pouco do assunto e tirou um curso acelerado nos corredores dos partidos. Foi o DOURO PATRIMÓNIO MUNDIAL, que arrastou para cá a curiosidade dos estrangeiros. Mas como tudo o que é belo e grandioso, é cobiçado.
E logo as empresas que necessitam deste tipo de relevo e hidrografia, para instalarem as suas centrais de produção, começaram a olhar o Douro com os olhos do Tio Patinhas. E não tinham dúvidas de que era neste Douro, nesta região, que tinham as condições naturais de excelência, que não encontravam em mais nenhuma parte do território.
Foi assim que o Plano Nacional de Barragens Com Elevado Potencial estipulou para o Douro a maior fatia e, consequentemente, a sua maior destruição. A Bacia Hidrográfica do Douro, para que se saiba, já possuía mais de 50 barragens antes deste Plano! Sendo que muitas são de terra e de enrocamento. As de gravidade (aquelas que habitualmente designamos como sendo de betão) são as maiores.
Mas não só. Este Plano Nacional de Barragens, prevê a devastação do Tâmega com inúmeras barragens, algumas dentro de um circulo de 10 Km, bem como a do Baixo Sabor (em construção) e polémica barragem do Tua, esta última que será, talvez, a razão próxima para a perde do título que o Douro ostenta de património mundial.
A barragem do Tua, para além de ser um monstro de betão à saída do Tua com vistas para o Douro, e a que nem a arte do arquitecto Souto Moura (inexplicável, ou explicavelmente envolvido neste processo) conseguirá amenizar, será também o caixão onde repousará parte de uma região de beleza sublime. Ainda por cima, com uma Barragem que será a desgraça das nossas Finanças Públicas, pois o que o Governo anterior contratualizou com a EDP e a IBERDROLA (relativamente às barragens do Tua e Sabor), equivale ao pagamento a estas empresas, de uma quantia que é três vezes superior ao nosso défice, pelo prazo de 70 anos!!!!!!!!!!
E o que é mais grave, é que estas barragens apenas vão contribuir com 0,5% da energia que consumimos!!!!!!!!!!
Tratou-se, evidentemente, de um mau negócio para o Estado, negociata que todos temos, vais uma vez, que pagar. Ou talvez não! Depende em muito do que este novo Governo entenda como sendo um mau negócio para o Estado.
Mas depois de ouvirmos a Snra Ministra dizer que, parar a obra do Tua daria mais prejuízo do que avançar com ela, ficamos esclarecidos: a grande máquina dos interesses também já sensibilizou o novo Governo!
Da mesma forma como parece que este Governo (ou faz tudo para o dar a entender), veio para continuar a pagar as PPPs, a sustentar as Empresas Públicas, a agraciar os gestores públicos com todas as mordomias e mais algumas etc., etc.
Para já, ficamos também esclarecidos de que o Sr. Ministro que andava de lambreta, já se cansou da modesta viatura que o celebrizou, e já a trocou por um AUDI A6, todo equipadinho, coisa para cerca de 80 mil! Diz o homem que o contrato vinha do Governo anterior. Pois sim, a gente acredita. Mas será que os contratos não se podem desfazer? Como o contrato de trabalho que o Estado tinha com os seus trabalhadores, a quem cortou já metade do subsídio de Natal, e se prepara para cortar todos os subsídios nos próximos anos? Então os contratos, podem ou não anular-se?
Mas, dizia eu, as barragens do Tua e o Sabor vão de vento em poupa. E com elas vai-se aos bocadinhos, este Douro.
Se for retirado ao Douro o galardão de Património Mundial, será uma vergonha tal para o país, que nem a classificação de património Imaterial da Humanidade do Fado, do Vira, do Malhão, de Camões, de Eça e do Infante D. Henrique, poderá superar.
É assim este país, que vive uma estranha forma de vida – como diz o fado – onde dá uma no cravo, outra na ferradura, que constrói num lado e destrói no outro.
Triste sina, triste fado.
Por Francisco Gouveia, Eng.º
(o autor escreve pela ortografia antiga)
gouveiafrancisco@hotmail.com