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Caldeirão da Bolsa

Pensando ao contrário

Colecção de Artigos Didácticos do Caldeirão de Bolsa.

Re: Pensando ao contrário

por RaposoTavares » 27/2/2014 1:43

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Pensando ao contrário

por Ulisses Pereira » 30/5/2011 16:13

"Quando todos pensam da mesma maneira, ninguém está realmente a pensar"
Walter Lippman

Quando a esmagadora maioria dos investidores acredita que o mercado vai portar-se de uma determinada forma, o mais provável é que aconteça exactamente o oposto. É por isso que o mercado parece tantas vezes cruel.

Em face disto, são cada vez mais os adeptos da Teoria da Opinião Contrária. Os defensores desta tese negoceiam tentando contrariar a opinião prevalecente no mercado. Para que possam perceber melhor a Teoria da Opinião Contrária, julgo ser interessante dar um pequeno exemplo de como a unanimidade costuma trazer dissabores.

Recuemos no tempo e relembremos o que aconteceu com a vitória do Sporting no Campeonato de Futebol. Sim, é preciso mesmo recuarmos uma década até à época de 2001/2002! À medida que a prova ia caminhando para o seu final, começou a ser cada vez mais provável que o Sporting vencesse aquele campeonato. Isso levou a que a cotação da SAD leonina se valorizasse 100% no último mês do campeonato. Todos acreditavam que a vitória previsível do Sporting no campeonato iria provocar um disparo nas cotações e na véspera desse acontecimento, muitos foram aqueles que foram comprar acções. Para todos, parecia o negócio mais fácil e óbvio do ano.

Já estão, por certo, a imaginar o que sucedeu... O Sporting conquista o campeonato e uma multidão de investidores está à espera das tais subidas para vender as suas acções. Contudo, já todos estavam na acção e quem poderia aparecer para empurrar a cotação para cima? Ninguém. E, perante o espanto de milhares de investidores, nas semanas que se seguiram à conquista do título a acção caiu mais de 50%! Aquilo que parecia óbvio e o negócio mais seguro do ano transformou-se num autêntico pesadelo.

Ou, por exemplo, a Guerra do Iraque. À medida que ia acabando o prazo dado pelos Estados Unidos ao Iraque para retirar do Kuwait, as Bolsas mundiais afundavam-se com medo do início da Guerra. Quando a Guerra se iniciou todos já esperavam esse início. E onde estavam os vendedores que fariam o mercado cair? Em lado nenhum, já todos tinham vendido. Iniciou-se aí uma forte subida, dada a ausência de vendedores fortes.

Ao longo dos anos, são cada vez mais os adeptos da Teoria da Opinião Contrária que, quando bem aplicada, pode produzir resultados extraordinários. Contudo, numa altura em que esta Teoria começa a espalhar-se e a tornar-se quase uma "moda" julgo ser importante recordar algumas vulnerabilidades da mesma.

Não é nada fácil aplicá-la porque "medir" o sentimento reinante é extremamente difícil. Claro que podemos sempre recorrer a alguns indicadores existentes, mas mesmo esses estão carregados de uma subjectividade muito grande. Mas o aspecto que gostaria de sublinhar é que a Teoria da Opinião Contrária resulta apenas nos extremos. A maioria das pessoas está correcta na fase intermédia das tendências, ajudando na criação dessa onda gigante a que se costuma chamar de "tendência" mas, no final dessas tendências - quando a onda se torna demasiado grande - essa enorme maioria que se formou é completamente atirada por terra.

Não resisto a citar o Dr. Fernando Braga de Matos no seu livro "Ganhar em Bolsa": "No investimento em acções, as pessoas comportam-se sistematicamente como os automobilistas portugueses em relação aos semáforos: Quando abre o verde, está tudo a olhar para o lado, mas no amarelo passa-se desabridamente."

Ou seja, não basta que a maioria das pessoas esteja optimista sobre o mercado para concluirmos que ele vai cair. É necessário que uma esmagadora maioria (quase unanimidade) pense dessa forma para que possamos tirar essa conclusão. É por isso que é tão difícil medir o sentimento reinante, porque é preciso que ele chegue a valores extremos (de pessimismo ou de optimismo) para que seja claro que o mercado vá contrariar as expectativas de todas as essas pessoas.

É tal a adesão dos investidores à Teoria da Opinião Contrária que começa a crescer o número daqueles que querem contrariar os movimentos dos adeptos dessa teoria. Ou seja, chega-se à paradoxal situação da Teoria da Opinião Contrária se tornar refém de si própria, perdendo parte da sua eficácia.

Não é fácil ser-se adepto da Teoria da Opinião Contrária. Em momentos de extrema euforia ou pessimismo, tomarmos uma posição contrária a esse sentimento quase parece sinónimo de falta de inteligência. Mas é precisamente nessas alturas que a teoria produz efeitos práticos. Contudo, não se entusiasmem - a aplicação prática da Teoria da Opinião Contrária é bem mais difícil do que parece. Interdita a principiantes.

Ulisses
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