Re: Ucrânia vs Rússia - Escalada de tensão
Enviado: 13/12/2022 11:27
mais_um Escreveu:Continuo a não entender a palavra "natural" na tua afirmação, se bem me recordo e corrijam-me se estou enganado, o pais europeu que ganhou mais com a Rússia de Putin foi a Alemanha.
Estás a ver a situação com uma visão de túnel, para se entenderem as relações entre a França e a Rússia dos últimos 20 anos, tem que se ir mais atrás e a outros pontos do globo.
Vou tentar ser muito sucinto.
No pós guerra fria, a França e a Rússia colaboram activamente, especialmente em duas áreas onde têm interesses comuns, e que são a base da economia francesa, a indústria petrolífera e militar.
Começando pela indústria petrolífera, a Total que é umas das maiores petrolíferas do mundo (está no top 4) e está presente em mais de 100 países do mundo, incluindo a Rússia, nomeadamente no gás natural (Sibéria).
A Total Energies tem sido acusada publicamente, e julgo que já judicialmente, por estar a fornecer combustível aos aviões russos que bombardeiam as cidades ucranianas, ou seja, uma empresa francesa continua a operar na Rússia e a contribuir para o esforço de guerra desta.
https://www.lemonde.fr/idees/article/2022/08/24/totalenergies-en-russie-il-faut-cesser-de-fermer-les-yeux_6138869_3232.html
Em África na mesma área e onde os franceses não têm meios militares, a protecção das suas operações é feita por forças ruandeses do Gen. Kabandana e pelo Grupo Wagner, nomeadamente em Palma/Cabo Delgado, no norte de Moçambique.
Na vertente da indústria militar, a França continua a ser um dos maiores produtores mundiais (top 5), e partilha com a Rússia o mercado africano, tendo presença militar em diversos países como o Senegal, Djibuti, Chade, Gabão, República Centro-Africana, sendo que em alguns coabitam com os mercenários do Grupo Wagner.
Se nos recordarmos, em 2019 a Rússia juntou em Sochi na cimeira Rússia-África mais de 30 líderes africanos e mais de 40 países de todo o continente Africano.
Em relação à Rússia, a França é (era) um dos maiores fornecedores de equipamentos militares (top 3), e mesmo depois do embargo de 2014, continuou (contina) a fornecer equipamentos militares, apesar dos embargos pós anexação da Crimeia.
Desde a invasão, que têm havidos acusações contra empresas francesas, como a Thales, por alegadamente estarem a fornecer os russos, nomeadamente material altamente sofisticado, como câmaras térmicas.
É uma questão de semântica, a própria Ucrânia inicialmente acusou as forças russas e não diretamente o Putin dos crimes de guerra. Não dou relevância a isso, já agora e os outros países europeus, também têm acusado o Putin?
Pessoalmente, acho-o muito brando para Putin, e pior, acho que o tenta branquear e acha que pode haver um futuro com Putuin.
Considerando que a França tem (ou tinha) 77 canhões de 155m Caesar e cedeu 18 ou seja 23% da sua capacidade operacional parece-me um esforço bastante significativo, diz-me qual foi o país das grande potências que fez um esforço na mesma ordem grandeza neste tipo de equipamento?
Não sei se a França tem 77 Caesars, com uma capacidade de produção de 10/ano, durante 25 anos, dá 250, mas não sei quantos têm na realidade e não discuto o teu número.
Eu não critico os 18 Caesars, mais, concordo contigo, é um esforço enorme e de uma importância inestimável para a Ucrânia, mesmo que a França tenha o dobro. O que critico é a ausência de outros equipamentos que a França produz, nomeadamente alguns de tecnologia de ponta.
Parece-me inteligente manter canais abertos, especialmente quando do outro lado está um país com capacidade de destruir o planeta várias vezes. Sobre a França fazer o contrário não percebi.
Concordo contigo, que os canais nunca devem ser fechados, nem que seja a um nível inferior, mas não vejo como é possível negociar com Putin.
Estava a referir-me ao Tratado de Versalhes de 1919, nomeadamente a alguns dos seus artigos que levaram ao fim da República de Weimar, e ao crescimento do partido nazi.
Essa humilhação teve o seu expoente máximo na Alsácia-Lorena.
Minar? Podes explicar como?
Os ucranianos e os russos vão ter que negociar o fim da guerra, de momento só os russos o querem fazer, vamos ver depois de passar o inverno como está a situação, no fim são os ucranianos a decidirem e não o Macron.
Olha, estou mais apreensivo com as ameaças do "sultão" turco em relação à Grécia, não conhecendo o contexto em que foram preferidas parecem-me de uma gravidade enorme fazerem aquele tipo de ameaças a um aliado, enfim.
Como tu é só a minha opinião, mas não me parece que a França de Macron seja uma aliada natural da Russia de Putin, dai a minha questão
Concordo que não há saída para esta guerra, e que muitas vezes a guerra serve para dar tempo para se negociar. No entanto, acho que é impossível negociar algo de aceitável com Putin, até porque já tivemos o Minsk 1 e 2.
Para terminar, esta guerra dura enquanto os EUA e o RU quiserem, e parece-me que a França está a tratar de pressionar a Ucrânia a negociar, fazendo lobby junto dos EUA.
Pedro