Aconselho a ler o Manifesto elaborado e disponível no link abaixo, faz uma análise transversal com vários pontos, alguns dos quais já aqui apontados.
https://tertuliaenergia.pt/Um pequeno excerto com alguns pontos apresentados:
25. Até 2040 a EN-H2 prevê instalar 3 Gigawatts (GW) em eletrolisadores que se destinam sobretudo a substituir 50% do consumo em fuel e gás natural das centrais termoeléctricas, que se expandiria a 5 GW até 2050. Este projecto, de transformação da electricidade em gás para depois voltar a produzir electricidade é uma das formas de armazenar a energia produzida por fontes intermitentes, e que em Portugal já são largamente excedentárias em períodos de baixo consumo horário. É um custo faraónico, de cerca de 20 mil milhões de Euros, para apenas substituir 10% do consumo final de energia.
Mas a geração de eletricidade a partir desse hidrogénio terá ainda custos elevados. De facto, existe aqui uma dupla produção, comum custoelevado: primeiro utiliza-se a energia solar para produzir hidrogénio e depois volta a utilizar-se o hidrogénio para produzir electricidade.Tomemos um custo da energia renovável de 25 Euros por Megawatt-hora (MWh), como a EN-H2 refere. Num cenário futuro otimista, já depois de forte abaixamento de custos, suponhamos que comum factor de capacidade de 50% se consegue produzir hidrogénio, por eletrólise, a 1,70 Euros por kg (com a tecnologia atual é pelo menos 2 a 3 vezes superior). Armazenando este hidrogénio em cavernas no subsolo custa,pelo menos, mais 0,30 Euros. Se este hidrogénio for agora utilizado para produzir electricidade custa entre 100 e 200 Euros por MWh, o que é muito superior ao custo médio dos 40 a 50 Euros por MWh das fontes alternativas mais eficientes a operar actualmente em Portugal.
26. A localização da fábrica de hidrogénio em Sines também levanta dois problemas importantes, que não foram devidamente equacionados. O processo de eletrólise para fabricar hidrogénio, exige grandes quantidades de água pura, que não estão disponíveis na região. Para a produzir seria necessário instalar uma fábrica de dessalinização da água do mar, a um custo adicional de cerca de 20 Euros por MWh, que acresceria ao preço final acima referido. A EN-H2 refere a utilização de águas residuais, que não só também não existem na região, como a sua destilação exigiria acrescidos custos.
Há ainda outro problema que é o do transporte e armazenamento, pois as cavernas disponíveis para o fazer seriam as do Carriço/Pombal, que distam cerca de 300 km, onerando ainda mais o custo de produção.
27. A EN-H2 prevê investir 40 mil milhões de Euros, com a atribuição de subsídios diretos de fundos europeus ou de garantias do Estado a empréstimos, devido às incertezas existentes para os empresários, numa lógica de mercado. Trata-se não só de um montante extraordinário para um país muito endividado, como vai competir com necessidades urgentes de investimento que terão de ser adiadas ou abandonadas. E não se deve cair no erro e pensar que ao obter subsídios da União Europeia se melhora a sua viabilidade, pois esses fundos poderiam sempre ser utilizados para aplicações alternativas mais rentáveis, mesmo na área da energia. Foi esse o erro muitas vezes repetido nos grandes projetos dos anos 2000.
28. O EN-H2 não gera crescimento económico, pois aumenta os custos de produção para o País. A maioria dos investimentos seriam em equipamentos importados da Alemanha e de outros países, cujos produtores estariam evidentemente muito interessados na sua realização. Além disso, não cria emprego nem valor acrescentado nacional significativos.
29. Não podemos repetir o maior erro na introdução maciça das renováveis na década dos anos 2000 que foi o investimento em tecnologias que ainda estavam imaturas. Entrar na economia do hidrogénio em força como o Governo pretende é repetir, com custos ainda mais elevados, esse erro. Os grandes projectos de investigação e desenvolvimento (I&D) deste tipo são para as grandes economias, com grande capacidade financeira, e com indústria e sistemas de investigação como a Alemanha e os EUA. Até agora a Alemanha apenas planeia investir umas centenas de milhões de Euros em programas experimentais. Utilizando uma analogia, ninguém pensaria que Portugal pudesse entrar agora na corrida espacial para colocar um homem em Marte!
30. Não se compreende uma estratégia deste tipo num país com cerca de 20% de pobreza, e a necessitar de um forte investimento produtivo para poder aumentar o seu rendimento per capita. Não é de mais insistir que só com projectos viáveis, competitivos, com uma adequado equilíbrio no financiamento e na partilha de riscos entre os fundos públicos afectos ao projecto e o investimento privado, que aumentem a competitividade no sector dos bens transaccionáveis se poderá aumentar a nossa taxa de crescimento potencial, garantir empregos bem remunerados e fomentar a coesão económica e social.