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Caldeirão da Bolsa

Costa dá negociação do plano de retoma a um ‘paraministro’

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Re: Costa dá negociação do plano de retoma a um ‘paraministr

por mais_um » 24/7/2020 23:35

Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030

A Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030, elaborada pelo Prof. António Costa Silva, constitui um documento enquadrador das opções e prioridades que deverão nortear a recuperação dos efeitos económicos adversos causados pela atual pandemia. É a partir desta visão estratégica que será desenhado o Plano de Recuperação, a apresentar à Comissão Europeia, com vista à utilização dos fundos europeus disponíveis.

A alocação desses fundos deve assentar num pensamento estratégico sobre o futuro do país, que é fornecido pelo documento em anexo. Trata-se, pois, de formular uma visão para Portugal no horizonte de uma década, visão essa que enformará a estratégia de recuperação económica da crise provocada pelo novo coronavírus, servindo ainda de referencial para o modelo de desenvolvimento do país num contexto pós-Covid.

O documento apresenta 10 eixos estratégicos em torno de (i) uma Rede de Infraestruturas Indispensáveis, (ii) a Qualificação da População, a Aceleração da Transição Digital, as Infraestruturas Digitais, a Ciência e Tecnologia, (iii) o Setor da Saúde e o Futuro, (iv) Estado Social, (v) a Reindustrialização do País, (vi) a Reconversão Industrial, (vii) a Transição Energética e Eletrificação da Economia, (viii) a Coesão do Território, Agricultura e Floresta, (ix) um Novo Paradigma para as Cidades e a Mobilidade e (x) Cultura, Serviços, Turismo e Comércio.

Pretende-se que o debate em torno desta Visão Estratégica seja o mais abrangente e participado possível. Por isso convidam-se todos os interessados a enviar, até 21 de agosto de 2020, as suas ideias, sugestões, visões e contributos para o endereço eletrónico plano.recuperacao@pm.gov.pt

https://www.portugal.gov.pt/pt/gc22/com ... -2020-2030



o documento completo:
https://www.portugal.gov.pt/download-fi ... 080f914f5f
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Re: Costa dá negociação do plano de retoma a um ‘paraministr

por mais_um » 2/6/2020 12:14

Celsius-reloaded Escreveu:REcomendo a esclarecedora entrevista de António Costa Silva à tsf hoje de manhã.


Obrigado pela dica, gostei do que ouvi.

a entrevista na integra são cerca de 34 minutos

https://www.tsf.pt/portugal/economia/ac ... 66247.html
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Re: Costa dá negociação do plano de retoma a um ‘paraministr

por Optimiza » 2/6/2020 11:54

Celsius-reloaded Escreveu:REcomendo a esclarecedora entrevista de António Costa Silva à tsf hoje de manhã.


Não costumo entrar ou participar em tópicos uninominais, mas este tópico é relevante porque aborda um dos Portugueses (no top da Inteligentsia económica nacional) com mais sentido estratégico, financeiro e empresarial, visão de longo prazo (consegue antecipar sectores e impactos disruptivos a 10/20/30 anos), espírito independente - nunca vai ser coartado no seu ETHOS por um governo PS, porque é de facto com espírito de missão e Pro bono que assume funções. O Prof. António Costa Silva, não é nem nunca será um spin doctor do PS, tendo já atacado com JUSTIÇA decisões/opções político/económicas do actual governo.
Inteligente, experiente, reservado como poucos e um negociador duro e que faz desesperar alguns interlocutores com os timings e variáveis negociais (pressão, visão, jogo de cintura e calma).

Escolha inesperada mas uma Grande escolha do PM. Apenas com um senão de detalhe: Por ser pathfinder e trailblazer, em qualquer fase de conflito com o Governo por não seguir as suas recomendações centrais vai acabar por fechar a porta sem grandes demoras.

nota - Apesar (ou sobretudo) pelo lugar na Partex (originariamente gestão e participações decorrentes das indústrias de hidrocarbonetos), estará mais do que consciente que o Futuro passa pelas energias renováveis, economia verde e pelo declínio inexorável da combustão nos transportes.
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Re: Costa dá negociação do plano de retoma a um ‘paraministr

por Celsius-reloaded » 2/6/2020 10:44

REcomendo a esclarecedora entrevista de António Costa Silva à tsf hoje de manhã.
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Re: Costa dá negociação do plano de retoma a um ‘paraministr

por Opcard » 2/6/2020 10:26

O sempre me chocou ver alguém que ontem diz uma coisa e hoje o seu contrário ( lembro o que disse A. Costa sobre Antonio Borges o António Costa Silva de PPC )

Crónica bem humorada mas seria .

É uma espécie de remodelação, só que em vez de trocar os ministros velhos por ministros novos, Costa guarda-os numa arrecadação e substitui-os a todos por um faz-tudo, António Costa Silva

O primeiro-ministro convidou António Costa Silva, Presidente Executivo da Partex, para gizar o plano de recuperação económica do país. Obviamente, Portugal foi apanhado de surpresa. Não por António Costa convidar alguém de fora para tratar, na sombra, de um tema sensível da responsabilidade do Governo, isso já é costume. O que surpreende é esse alguém não ser do seu grupo de amigos, nem familiar de ninguém do PS. O facto de os dois não se conhecerem pessoalmente leva-me a assumir que Costa Silva foi convocado mesmo pela sua competência. O que, convenhamos, é de desconfiar.


As reacções foram imediatas e violentas. Uma deputada do PSD reagiu assim: “Como o Governo não tem noção do que é um Governo, do que é o sentido de Estado, do que é um Governo eleito, acha que tudo vale e qualquer um pode vir anunciar o que quiser, quando quiser, substituir quem quiser. A falta de consciência da importância das regras e de algum formalismo democrático é flagrante na forma de agir, de falar e até na forma de se fazer substituir”.

Outro deputado do PSD disse que a acção de Costa Silva “não cabe e não é aceitável num Estado de Direito [e] passa ao lado de todo e qualquer controlo democrático”. Interrogou-se em seguida “como é que alguém que exerce funções em instituições privadas, que não foi sufragado nem directa nem indirectamente pelos portugueses, pode ficar à frente de um processo (…) que mexe com toda a estrutura económica do país e põe em causa o futuro dos portugueses?”

Estou a brincar! É galhofa! Essas reacções não são do PSD a Costa Silva, nem são de agora. São de deputados do PS a António Borges, em 2012. António Borges, recorde-se, foi consultor do Governo de Passos Coelho para as privatizações. Na altura, o PS considerou um escândalo. Pelos vistos, trazer alguém de fora para fazer dinheiro é reprovável; se for para gastar dinheiro, passa a ser aceitável. O que é estranho, porque o trabalho nem é assim tão diferente, está só a montante: Costa Silva vai ajudar a recuperar empresas públicas que, um dia mais tarde, serão privatizadas.

Na sua primeira entrevista desde o anúncio, Costa Silva explicou as linhas gerais do seu plano. Tendo em conta os recursos financeiros existentes, pretende apostar na renovação das infraestruturas do país, tais como a rede viária, os portos, a rede eléctrica, os recursos de água; acelerar a transição digital nas Escolas, na Administração Pública e nas PME; reforçar o investimento no SNS; tratar da reconversão industrial e da transição energética.

Ou seja, administrar bem. No fundo, o primeiro-ministro trouxe alguém de fora do Governo para governar. O que significa que António Costa não está a fazer o trabalho para que foi eleito – uma novidade em relação ao primeiro mandato, em que Costa fez o trabalho para que não foi eleito.

É uma espécie de remodelação, só que em vez de trocar os ministros velhos por ministros novos, Costa guarda-os numa arrecadação e substitui-os a todos por um faz-tudo. António Costa Silva é uma espécie de canivete suíço do primeiro-ministro. Se o Conselho de Ministros fosse um restaurante, o que António Costa fez foi o equivalente a olhar para o menu, torcer o nariz e mandar vir qualquer coisa da Glovo. Mais do que paraministro, António Costa Silva é um Uber ministro.

Costa Silva vai delinear o programa de investimentos onde vão ser aplicados os 45 mil milhões de euros da União Europeia. Como qualquer novo rico, o PM tem muito dinheiro, mas não tem bom gosto. Daí ter arranjado um personal shopper para lhe indicar onde é que deve gastá-lo. Podia ter pedido a opinião de algum dos seus Ministros, mas, conhecendo a qualidade média dos membros do seu Governo, percebe-se que António Costa tenha querido retirar-lhes poder nesta altura. Sabe-se lá o que fariam com dinheiro vivo nas mãos. Apropriadamente, o primeiro-ministro optou por uma eminência parda para evitar a iminência parva.
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Re: Costa dá negociação do plano de retoma a um ‘paraministr

por Opcard » 2/6/2020 10:25

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Re: Costa dá negociação do plano de retoma a um ‘paraministr

por Opcard » 31/5/2020 23:24

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Editado pela última vez por Opcard em 2/6/2020 10:27, num total de 1 vez.
 
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Re: Costa dá negociação do plano de retoma a um ‘paraministr

por mais_um » 31/5/2020 23:13

A crise e os mundos possíveis

Isto não está para brincadeiras e se nada fizermos o futuro será sombrio. Para evitá-lo e pensar em soluções, devemos olhar para os mundos possíveis contidos na realidade que enfrentamos.

O filósofo americano Nelson Goodman chamou a atenção para os “mundos possíveis que estão dentro do mundo real”. Numa crise sistémica, mais importante do que prever o futuro, que ninguém sabe o que vai ser, é olharmos para esses mundos possíveis que estão dentro da realidade sombria que vivemos e encontrarmos formas de minimizar os riscos que se nos colocam.

Quando olhamos hoje para o mundo, os números da crise são devastadores. As pessoas com fome duplicaram em poucos meses; os desempregados crescem e só nos EUA, no último mês, foram 30 milhões; as perdas no PIB mundial passam os nove biliões de dólares, isto é, perdemos já uma Alemanha e um Japão juntos; o índice VIX, que mede a volatilidade dos mercados, bateu o recorde em Março; o mercado de equities caiu 30%; o PIB da UE vai cair este ano 7,4%, a maior queda da sua história; as previsões de Bruxelas para Portugal são de uma queda de 6,8%, uma das maiores de sempre e que se aproxima das quedas históricas de 1936 (7,6%) ou 1914 (8,4%).

Quer dizer: isto não está para brincadeiras. Se a UE não se apressar a encontrar com os Estados-membros um pacote significativo para salvar a economia e se estes não encontrarem as políticas macroeconómicas adequadas, o futuro será sombrio. Para evitar isso e pensar em soluções, devemos olhar para os mundos possíveis contidos na realidade que enfrentamos.

O primeiro é o da incerteza prolongada. Esta incerteza advém do coronavírus, das suas múltiplas faces, da possibilidade de novas vagas até uma vacina aparecer. O único refúgio para a incerteza é a ciência. Nos últimos três meses foram publicados cerca de 7000 artigos científicos só sobre a investigação deste vírus. Esta resposta é impressionante. O método científico exige rigor, confrontação de hipóteses, validação cruzada da investigação, humildade no trabalho e ambição nas respostas. Esta investigação vai marcar a história da ciência, torná-la mais aberta, com maior rapidez na disseminação da informação e maior cooperação e entreajuda dos cientistas a nível mundial.

O problema é que a ciência escolhe o caminho da colaboração, mas algumas lideranças políticas escolhem a confrontação, as guerras ideológicas e comerciais, o nacionalismo das vacinas, para poderem dizer que “ganharam”. Fazem um jogo de soma nula, num caso de saúde pública global, o que é irracional. E isso injecta mais incerteza num mundo já de si incerto. Como disse o filósofo alemão Kant: “O mundo é governado pela paixão, pela irracionalidade e por males periódicos.” Isto acontece hoje como há 200 anos atrás, mas também aqui há que mudar e o exemplo da UE, que construiu uma coligação internacional para financiar uma nova vacina, é um belo exemplo.

O segundo é que vivemos num mundo com excesso de informação e défice de pensamento. Nunca como hoje tivemos tanta informação acumulada. Só nos últimos cinco anos ela cresceu mais de 25 vezes. O problema é que não estamos a conseguir transformar a informação em pensamento e isso diz tudo. Fomos incapazes de prever a brutal erupção do terrorismo em 2001 com o ataque às torres gémeas de Nova Iorque; a crise financeira de 2007/8; a erupção das revoltas árabes de 2011; a covid-19. Há uma razão, entre outras, para isto: damos muita ênfase nas nossas sociedades à economia e às finanças, que são sem dúvida muito importantes. Mas há que dar a devida atenção às Ciências Sociais como a Sociologia, à Biologia, à Epidemiologia e às Ciências da Saúde e muitas mais. São vitais para pensarmos a complexidade do mundo e sermos capazes de identificar e antecipar os riscos. Bombardeados continuamente por uma informação massiva, temos que ser capazes de pensar e discernir as tendências estruturais que marcam a mudança.

O terceiro é a economia zombie. A covid-19 trouxe um colapso simultâneo da oferta e da procura como nunca tinha acontecido. O choque foi brutal para as empresas que operam no mundo físico, em especial a aviação, a indústria, os transportes, o turismo, a restauração. Ao mesmo tempo, esta crise potencia as companhias digitais que já antes estavam num processo de crescente valorização. A covid-19 trouxe o darwinismo em força para a economia, vai exterminar os menos capazes, os menos competentes, os mais vulneráveis e vai cavar um fosso entre ganhadores e perdedores, acentuando a divisão entre o mundo físico e digital. Isto não significa que todos os operadores do mundo físico perdem e os do digital ganham. Não será assim e um sistema híbrido vai evoluir. Mas é muito importante proteger as pessoas e o emprego, em particular os mais vulneráveis, porque a crise amplifica as desigualdades e numa sociedade democrática a desigualdade extrema é tóxica.

Mas o problema é que durante bastante tempo a economia será uma espécie de zombie, uma morta-viva que vai recuperar lentamente, a funcionar parcialmente, com a procura em baixa, o mercado semi-paralisado, o decrescimento antes do crescimento, a produtividade baixa e a dívida das empresas, das famílias e do Estado a subir. E como disse uma vez o economista Hyman Minsky: “A dívida causa fragilidade.” Se não existir um significativo pacote europeu para salvar a economia, proteger as empresas que são viáveis e proteger o emprego, os tempos vão ser difíceis. E isso é exponenciado pela queda do investimento e a fuga dos investidores, cada vez mais avessos ao risco causado pela incerteza global, e pela queda do comércio mundial e a sua fragmentação, o que torna a recuperação ainda mais difícil. Para responder a isso Portugal tem que fazer das tripas coração, pugnar pela ajuda europeia mas desenhar políticas públicas apropriadas para evitar que a economia entre em coma.

Neste sentido, o país tem que desenhar e pôr em funcionamento projectos-âncora capazes de evitar o colapso e transformar a economia. Isso passa por um grande projecto para completar as infra-estruturas físicas indispensáveis, que seja uma alavanca para a indústria da construção. Passa por completar as infra-estruturas digitais e acelerar a transição digital apoiando as Escolas, as Universidades e os Centros de Investigação, a Administração Pública e as empresas com um programa especial de apoio às PME. Precisa de um projecto para o sistema de saúde incluindo os equipamentos e recursos do SNS mas também o apoio às empresas que se reinventaram nesta crise e produzem equipamentos que podem capitalizar à escala global. Precisa de um projecto para a agricultura para apoiar as empresas, consolidar a economia e as redes logísticas locais e melhorar a nossa balança alimentar. Precisa de um grande projecto para a floresta e para o interior, baseado na construção de uma rede de centrais de biomassa, capaz de valorizar os lixos florestais, promover a limpeza da floresta, produzir bioenergia, criar emprego e aumentar a coesão territorial. Precisa de um projecto de reconversão industrial para explorar a capacidade de reinvenção das cadeias logísticas e apoiar as empresas nacionais de múltiplos sectores. Precisa de um projecto de reindustrialização explorando o potencial dos recursos minerais e energéticos nacionais como o lítio, o cobalto, o níquel, o nióbio, o tântalo, as terras raras, as energias renováveis como a solar, o gás e o hidrogénio. Precisa de um projecto para as Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto, transformando-as em macrorregiões inteligentes e competitivas à escala global investindo na integração dos sensores, dados e tecnologias digitais e mobilizando todo o ecossistema de inovação com as empresas, centros de investigação, universidades e autarquias.

Não voltemos à ladainha de que o país não tem recursos. Tem recursos e deve desenhar políticas públicas capazes de os produzir, criar valor, gerar riqueza e emprego e construir um futuro diferente.

https://www.publico.pt/2020/05/21/opini ... is-1917018
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Re: Costa dá negociação do plano de retoma a um ‘paraministr

por mais_um » 30/5/2020 12:02

Das críticas à ‘geringonça’ aos elogios. O que diz Costa Silva

Gestor, o novo conselheiro do primeiro-ministro tem andado pelos corredores de São Bento. Defende uma mudança estrutural da economia

O homem escolhido por António Costa para montar o plano de retoma não costuma entrar muito por questões político-partidárias. De perfil mais reservado, o professor do Instituto Superior Técnico, engenheiro de minas e CEO da Partex, concentra as suas intervenções naquilo que diz ser a falta de estratégia do país. Já criticou o Governo, dizendo que chegou a ser condicionado por “sectores mais extremistas”, já disse que a política económica “não é suficiente”, mas a pandemia alinhou ideias. Uma visão que o pode levar a outros voos?

Para já, tornou-se um dos conselheiros mais relevantes do primeiro-ministro. Tem pedido informações e ideias aos ministérios e chegou a fazer parte de uma reunião de Costa com empresários. Especialista no sector da energia, escreve com regularidade no “Público”, muitos dos seus artigos vão ao encontro do que defende o primeiro-ministro, mas nem sempre foi assim.

Em 2018, o CEO da petrolífera Partex criticava a opção do Governo de deixar cair a exploração de gás e petróleo no Algarve, em que perderia dinheiro, e chamava aos partidos que apoiaram o Governo de “sectores mais extremistas”, que têm no ataque às empresas “a base da sua política populista e oportunista”. Costa Silva desabafava que a empresa não investiria mais em Portugal “porque não vale a pena”. “As agendas mediáticas comandam o pensamento político e o que domina é o absolutismo do presente imediato”, escreveu. Para ele, o país “tem uma fraquíssima inteligência estratégica” que não é de hoje. O ministro da Economia mudaria nessa altura, com Siza Vieira em vez de Caldeira Cabral.

Agora, falará com esses partidos e em alguns pontos até vai ao seu encontro. Defende mais investimento, seja privado ou público, uma alteração no modelo empresarial que leve a uma mais justa distribuição de lucros, mais atenção às energias renováveis e às alterações climáticas e mais Estado na economia.

A impreparação do país

O Governo tem-lhe merecido reparos positivos, apesar de incluir um “mas”. Numa entrevista ao “Público”, chegou a dizer que o Governo “tem feito coisas positivas na redução do défice, do controlo das finanças públicas e da diminuição do desemprego”, mas apontou ser preciso “muito mais”. Na mesma lógica, escreveria que o Governo “devolveu rendimento” e “gerou uma nova esperança”, “tudo isto, que é muito, não é suficiente”. “O país não está preparado para enfrentar uma nova crise financeira e económica, e ela vai aparecer”, vaticinou.

Agora, com a nova crise, Costa chamou-o para estar ao leme, e nas últimas semanas, o empresário tem feito uma espécie de programa de ministro da economia nos seus artigos, que se concentram sobretudo em questões de geopolítica, de mudanças estruturais. Defende que Portugal não pode ficar longe da Nova Rota da Seda da China, que os portos e as plataformas logísticas têm de ser impulsionadas, que tem de se olhar para o transporte das mercadorias (e para o facto de muito deste se passar pelo mar e termos uma posição estratégica), mas também da necessidade de olhar para os recursos naturais do país. “Não voltemos à ladainha de falta de recursos”, escreveu. Uma economia com o turismo como rei é frágil, quer uma “reindustrialização” virada para o digital, mas também para uma redução das cadeias de produção.

Defende mais políticas sociais do que finanças, para que o mundo não seja de números. Vai pincelando as suas opiniões com poesia (de que é leitor assíduo), de romances, de livros políticos e de contos. O homem que Costa escolheu não se define politicamente se mais à esquerda se de direita; aparece como um defensor de políticas expansionistas e progressistas de longo prazo. “Temos de deixar de viver numa civilização em que a pressa é tudo, o movimento é tudo e o objetivo não é nada.”

https://leitor.expresso.pt/semanario/se ... osta-silva
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Costa dá negociação do plano de retoma a um ‘paraministro’

por mais_um » 30/5/2020 11:59

Mais um António Costa no governo?

António Costa Silva está a negociar com ministros. E vai falar com partidos e parceiros, em nome do primeiro-ministro. O objetivo é reconstruir a economia, criando a base do OE-2021. Centeno já não o fará: sairá em julho. Remodelação será mínima.

Há duas semanas, António Costa convidou um gestor, independente do PS, para uma missão imprevisível: preparar um programa de recuperação económica para o país. António Costa Silva, engenheiro de minas de formação, nunca antes se tinha metido na política, muito menos em assuntos de governação. É há muitos anos presidente executivo da Partex, a empresa petrolífera que durante décadas foi a principal financiadora da Fundação Gulbenkian (e que foi vendida há um ano). Nestes últimos 15 dias, Costa Silva tornou-se uma espécie de “paraministro”: o chefe de Governo falou com todos os membros do seu executivo e explicou-lhes que Costa Silva iria reunir com cada um deles para definirem os programas que estão previstos ou programados e que devem cair, ficar ou nascer.

Do ponto de vista político, a missão é de enorme sensibilidade: Costa Silva não faz oficialmente parte do Governo, mas já acompanhou Costa em reuniões com empresários e já começou as reuniões com cada um dos ministros, sabendo que vai condicionar toda a governação dos próximos anos. A primeira reunião foi com Matos Fernandes, ministro do Ambiente, para garantir que a sua posição (gestor de uma petrolífera) e currículo não seriam incompatíveis com a agenda de combate às alterações climáticas.

Tendo passado a prova, daqui a uma ou duas semanas Costa Silva vai falar em nome do Governo com os partidos da oposição, mas também com os parceiros sociais, para partilhar e colher ideias. “Facilitar consensos”, nas palavras de uma fonte próxima do chefe de Governo. Para alguém que não faz parte do elenco, é uma missão de enorme peso.

E o peso não é só simbólico: é que, quando todas as peças estiverem juntas, Costa Silva terá entregado ao primeiro-ministro o que este espera ser uma visão da nova economia do país, que nascerá depois de encerrada a crise desencadeada pela covid-19. E esse programa será a base central do Orçamento do Estado de 2021, mas seguramente também dos anos seguintes.

António Costa não foi o único a nomear alguém com essa função. Esta semana, também Emmanuel Macron, em França, pediu isso a um grupo de economistas liderado pelo ex-economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard e o Nobel Jean Tirole. É que só com propostas concretas (e alinhadas com as prioridades definidas em Bruxelas) haverá acesso, a partir de janeiro de 2021, aos mais de €26 mil milhões do novo Fundo de Recuperação da UE, a que Portugal pode ter direito para atacar a crise e preparar a reestruturação da economia.

Mas para não deitar fora a oportunidade apenas com a resposta de curto prazo, o país deverá direcionar esses apoios para escolher os sectores, ideias, projetos que podem ajudar a uma reestruturação modernizadora, que encaixe na prioridade identificada agora pela União Europeia: tornar o espaço económico único mais autónomo face a outras economias (à China, por exemplo), tecnologicamente avançado, baseado em energias limpas. O desafio é perceber qual será o papel do país nesse dia seguinte. Quais serão os nossos game changers, na expressão britânica tão usada pelos gestores. Seja na economia, na área social ou mesmo na administração pública.

Há cerca de duas semanas, Costa Silva impressionou António Costa numa entrevista televisiva. A sua experiência na Partex, onde a perspetiva geoestratégica da economia mundial guiou uma carreira de sucesso, deu-lhe (na visão do primeiro-ministro) uma perspetiva de como o país deve posicionar-se na nova globalização, com mais autonomia estratégica, valorização de recursos e reindustrialização. Na semana passada, já a trabalhar para o Governo, deu alguns inputs num artigo escrito no “Público”. Esta semana, António Costa já tinha na mesa um primeiro esboço — algumas dezenas de páginas que alinhavam as primeiras ideias.

Remodelação à vista (mas curta)

Com um Governo “assoberbado” a responder às exigências do dia a dia da crise, o primeiro-ministro escolheu alguém de fora, capaz de levantar a cabeça e pensar o país a longo prazo, para coordenar todo o trabalho prospetivo. E, estando fora do Governo, Costa Silva não tem (mesmo que inconscientemente), um interesse próprio a defender. Antes do verão este trabalho estará quase fechado — estará apenas dependente da negociação final da resposta europeia, que condiciona o financiamento e as áreas estratégicas a seguir.

Esta não é a primeira vez que António Costa pega num independente e o aproxima da órbita do Governo. Foi assim com Centeno, que foi buscar ao Banco de Portugal para ajudar o PS a fazer o seu programa económico (e que levou depois para as Finanças), e também com Siza Vieira, que presidiu a uma estrutura de missão que avaliou a forma de capitalização de empresas, ainda em dezembro 2015, passando a ministro da Economia em 2018 (agora é o número dois do Executivo).

Por coincidência, o primeiro-ministro tem pela frente uma mudança no Governo. Mário Centeno, confirmou o Expresso, deverá mesmo sair do Executivo depois do Orçamento suplementar e no fim da presidência do Eurogrupo, em meados de julho. Costa Silva não poderá ser uma opção para as Finanças — a sua área não são as finanças públicas —, mas poderia sê-lo para a Economia, caso Siza Vieira rumasse às Finanças. Apresentando-o sem mais explicações aos membros do Executivo, António Costa deixou alguns a pensar se não será mesmo essa a sua solução ou um teste.

Para já, a única coisa certa é esta: a remodelação será cirúrgica (António Costa é um conservador nas mexidas) e não deve obrigar a mudar a estrutura pensada para este Executivo: há um ministro de Estado para cada uma das prioridades do futuro e essas, por sorte ou engenho, já estão globalmente alinhadas com o que a presidente da Comissão Europeia quer para o futuro.

https://leitor.expresso.pt/semanario/se ... raministro
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