BCP: Resultados de 2016 marcados por imparidades e pensõesÉ esperado um forte aumento de imparidades para crédito e outros ativos contrabalançado com um efeito positivo das responsabilidades com pensões, fruto da revisão do ACT.O Millennium BCP apresenta hoje os seus resultados anuais que com grande probabilidade serão prejuízos, tendo em conta os números do terceiro trimestre do ano (251 milhões de prejuízos versus 264 milhões de lucros um ano antes). Já nessa altura um aumento anual de 256,6 milhões de euros de imparidades para crédito e de 141,3 milhões de euros de imparidades para outros ativos financeiros justificaram as perdas.
Segundo os analistas, o BCP deverá no último trimestre do ano aproveitar para limpar o balanço, pelo que é expetável um aumento significativo das provisões para crédito e outro ativos (essencialmente imóveis e participações em fundos de reestruturação). Esse é o trimestre certo para afirmar o ano de 2017 como ano de viragem.
Por outro lado o BCP está a ser afetado pelas práticas que estão a ser desenvolvidas pelos bancos concorrentes ao nível de reforço de imparidades. Os bancos estão a reforçar a cobertura de NPE (crédito em risco), é por exemplo o caso da CGD, onde a auditora Deloitte (comum ao BCP), por recomendação da anterior administração de António Domingues, propõe um forte reforço das imparidades por perdas esperadas na carteira de crédito devido ao gap face ao valor dos colaterais. Isso afecta os bancos que têm créditos aos mesmos clientes. Um problema que tenderá a repetir-se no Novo Banco, quando e se o Lone Star adquirir o banco de transição.
Nuno Amado numa entrevista ao Expresso na edição de 11 de fevereiro veio reconhecer isso mesmo, quando diz que “a Caixa obrigou-nos a reforçar imparidades, e ainda bem”.
Os analistas contatados pelo Jornal Económico referem que o aumento de imparidades deverá ser compensado com um efeito positivo na conta de resultados: o acordo de revisão do ACT do grupo BCP.
O banco terá menos responsabilidades com pensões uma vez que a reforma por limite de idade (invalidez presumível) passa a ser de 66 anos e 3 meses em 2017, sendo, para o futuro, atualizada em mais 1 mês por cada ano, nunca podendo a mesma ser superior à da reforma no Regime Geral da Segurança Social. Será uma medida one-off, mas serve para atenuar o forte efeito negativo do custo com imparidades. O banco deverá assim apresentar no último trimestre um lucro baixo que não chega para inverter os prejuízos do acumulado do ano.
ImparidadesO custo do risco do crédito do BCP no terceiro trimestre do ano foi de 191 pontos base (1,91%), depois de no segundo trimestre ter sido de 346 pontos base (3,46%) e de no primeiro de 118 pontos base (1,18%). Isto traduz num custo do risco da carteira de crédito de cerca de 220 pontos base (2,2%) para o acumulado dos nove meses.
Isto quer dizer o quê? O custo do risco de crédito consiste na percentagem de imparidades no total da carteira de crédito, e traduz o quanto é que um banco perde num trimestre com imparidades para crédito.
De acordo com o BCP, o custo do risco do crédito normal (isto é, recorrente, sem imparidades extraordinárias) seria de 120 pontos base, ou seja 150 milhões de euros por trimestre (1,2% do total da carteira que está valorizada em cerca de 52 mil milhões de euros). Logo o BCP no terceiro trimestre registou 100 milhões de euros de imparidades a mais do que o esperado, o que soma a 400 milhões a mais do que o esperado no segundo trimestre. Portanto, até setembro o BCP registou 500 milhões de euros de imparidades acima do guidance (valor tido como recorrente). Isto podia ter engordado a conta de resultados.
No terceiro trimestre o BCP anunciou um aumento da cobertura total dos NPE (Non Performing Exposure) – conceito de crédito em risco para o BCE – para 99%, “num ano muito condicionado por dotações não habituais para imparidades relacionadas com a carteira legacy, com o objectivo de reforçar as coberturas para crédito”, disse a instituição.
Por outro lado, é também esperado que no quarto trimestre o BCP aumente as imparidades para outros activos (participações em fundos de reestruturação e imóveis), pois aqui estão com uma taxa de cobertura abaixo da média do sector.
Do lado da demonstração de resultados o BCP deverá ter mantido no quarto trimestre a subida da margem financeira por via da continuada redução dos custos dos depósitos.
O banco entrou num novo ciclo com o recente aumento de capital de 1,3 mil milhões de euros. “O aumento de capital visava o pagamento ao Estado e neste preciso momento então a ser pagos os 700 milhões que faltava devolver da ajuda estatal”, explicou Miguel de Bragança, CFO do banco, na sessão comemorativa de entrada em bolsa das acções do aumento de capital do BCP.
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