Análise Negócios
Dificuldades e facilidades de uma possível fusão entre Zon e Sonaecom
A expectativa de uma fusão entre a Sonaecom e a Zon aumentou nos últimos dias com as declarações dos accionistas de ambas as partes, mas que as administrações das operadoras tentaram esfriar. Veja aqui a análise do Negócios à possível operação.
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Alexandra Machado
amachado@negocios.pt
A expectativa de uma fusão entre a Sonaecom e a Zon aumentou nos últimos dias com as declarações dos accionistas de ambas as partes, mas que as administrações das operadoras tentaram esfriar.
O travão às declarações que dão conta de uma aproximação maior nos últimos tempos entre os accionistas está, hoje, a levar à queda das cotações de ambas as empresas.
Mas o que facilita e dificulta uma fusão entre o segundo e terceiro operador português? E o que ganhariam cada uma das empresas com essa junção?
Uma das dificuldades, eventualmente a maior, para a concretização desta operação encontra-se na estrutura accionista da Zon.
Por um lado, tem um conjunto de accionistas comum com a Portugal Telecom e que são nesta empresa accionistas pertencentes ao núcleo duro e que poderiam ser força bloqueadora da operação. Isto porque uma fusão poderia tornar a Zon num concorrente ainda mais forte, já que juntaria uma operação móvel ao seu negócio. Neste conjunto de accionistas estão o grupo Espírito Santo (que através de várias empresas detém 12,98%), a Visabeira, com 2,15% e a Ongoing com 3,16%. Ou seja, juntos têm uma parcela de 18,29%.
Depois há um outro grupo de accionistas que têm ambição de controlo da Zon, ainda que não detenham uma posição maioritária. Trata-se da Controlinveste, com 3,71%, e a Cofina, com 4,91%. A quem se poderá juntar Pereira Coutinho, que através da SGC, detém 2%. Os três totalizam 10,62%.
Só estes dois grupos serão suficientes para chumbar um desbloquear dos estatutos e a possibilidade de um concorrente da Zon ter mais de 10%. É que para aprovar qualquer destas alterações estatutárias é necessário a aprovação em assembleia geral por dois terços do capital presente. Ou seja, para chumbar basta um terço do capital (33% se tivesse 100% do capital presente). Se tivesse presente 70% do capital bastaria 23% para bloquear a operação.
Mesmo que o grupo de accionistas que são comuns à Portugal Telecom não estivesse contra a desblindagem dos estatutos, esta poderia ser chumbada se a Caixa Geral de Depósitos se opuser. O papel do banco público, que detém cerca de 15% da Zon, é, pois, essencial e é por isso que as palavras de Faria de Oliveira, presidente da Caixa, são para ser lidas com cuidado.
Faria de Oliveira revelou ao “Diário Económico” que o assunto estava em cima da mesa, para depois à Lusa dizer que tinha sido mal interpretado. A Caixa Geral de Depósitos, no entanto, não terá uma palavra independente. O que pensa o seu accionista é importante. E o Governo não gosta da ideia da fusão entre Zon e Sonaecom e nem as aproximações que Paulo Azevedo tem feito parecem ser suficientes.
Paulo Azevedo, presidente da Sonae, tem mostrado abertura para ser accionista minoritário numa parceria Zon-Sonaecom e tem feito elogios ao Governo.
Ao Negócios, Paulo Azevedo havia declarado estar empenhado em demonstrar “quer aos accionistas quer ao Governo que saberemos ser um accionista que sabe partilhar poder, sentar-se à volta da mesa e gerir as coisas com bom senso. Penso que um dos problemas é que há uma certa crença que a Sonae só tem actividades que controla e em que quer mandar sozinha”. E na entrevista que deu em Novembro ao Negócios admitia que “muitas pessoas no Governo ainda têm dúvidas se a Sonae se juntará realmente à volta da mesa para ser um sócio com outros sócios. Acho que ainda há pessoas que duvidam disso”.
Também dizia que não lançaria uma Oferta Pública de aquisição (OPA) à Zon sem ser convidado. A fusão poderia não acontecer por via da OPA, mas de um entendimento com alguns dos accionistas da Zon para que a Sonae entrasse no seu capital. A Sonae terá aliados na estrutura accionista da Zon. O BPI, que tem 7,74% da Zon, não esconde a sua aliança de longe com a Sonae. Também Joe Berardo tem sido o accionista mais dinâmico na procura dessa fusão. E a Telefónica, que se aliou à Sonae na OPA sobre a PT, poderia ser um outro aliado na fusão. Juntos, estes accionistas têm 18,83%. A Cinveste é uma incógnita neste processo.
Mas não é só neste contar de espingardas que a fusão se joga. A Sonae poderia entrar sem qualquer desblindagem de estatutos, mas aí estaria condicionada aos 10% de limitação de votos. Nesse cenário teria de reunir aliados na própria estrutura accionista e, como tal, interessar-lhe-ia que os aliados se mantivesse no capital para poderem votar em conjunto.
Um outro cenário seria o da Sonae integrar os seus activos de telecomunicações na Zon, sem que quisesse qualquer posição de gestão. Ou seja, é o cenário em que a Sonae, aos poucos, se retira do negócio de telecomunicações. Não será a opção mais provável para Paulo Azevedo.
O papel da gestão da Zon, nestas eventuais negociações, pode, também, ser importante. Rodrigo Costa e a sua equipa não parecem dispostos a ceder a operadora, tendo, por isso, aliados nos accionistas. O mandato deste conselho de administração termina no final deste ano.
Uma coisa é certa. A fusão não existe sem consensos. E já houve alturas em que o processo esteve mais adiantado. É comum considerar-se que a Sonaecom precisaria mais desta fusão do que a Zon.
Líder na banda larga fixa
Uma operação deste calibre não teria muitas dificuldades em passar na Autoridade da Concorrência, ainda que pudesse obrigar a alguns remédios, mas nenhum que impedisse o negócio. O mercado português ficaria, à mesma, com três operadores móveis. Mas reduziria o número de operadores fixos. No entanto, onde a Sonaecom tem maior quota – no segmento empresarial – é onde a Zon tem menos expressão.
O reforço maior seria no segmento de acesso à Internet de banda larga. Juntas, segundo os últimos dados da Anacom, ficariam com 43,3% de quota, mais do que os 42% da Portugal Telecom. No mercado de televisão, a liderança já pertence à Zon e o ponteiro não mexe muito com a integração da Sonaecom. Este é talvez o maior argumento a favor da fusão, que é vista por alguns analistas como uma possibilidade para se captar sinergias de mil milhões de euros. O número não deixará indiferente o mercado. Paulo Azevedo já tinha estimado sinergias entre 650 e 700 milhões de euros.
Mas, tal como aconteceu na OPA sobre a Portugal Telecom, o tempo pode matar esta aproximação e a Sonaecom poderá virar-se para outros operadores. Uma coisa é certa. As consolidações no mercado português de telecomunicações ainda agora começaram.