Boa tarde,
Coloco aqui algumas informações/opiniões a quem se interessa por esta acção:
1) No dia 15/11/2018, foi votada em Assembleia Especial de detentores de acções preferenciais (uma vez que a Inapa esteve sem distribuir dividendos durante vários anos, os detentores destas acções passaram a conferir de direito de voto nos mesmos termos das acções ordinárias) a conversão das acções preferenciais da Inapa em acções ordinárias (até então, o capital social era representado por 450 980 441 acções, das quais 150 000 000 eram ordinárias e 300 980 441 eram preferenciais). Votou de vencida a Nova Expressão, que viu a sua posição na Inapa ser bastante diluída. O rácio de conversão foi de 1,25, ou seja, cada detentor de uma acção preferencial viu-a convertida em 1,25 acções ordinárias. Assim, decorrente dessa conversão, chegou-se ao actual número de acções outstanding de 526 225 508. Assim, sendo, para se apurar o valor de mercado da Inapa a um dado momento, basta multiplicar este número pela cotação do momento (à hora a que escrevo, vale aproximadamente € 25,8m);
2) No mesmo dia 15/11/2018, foi votada em AG, na sequência da celebração de um contrato de compra e venda com a Papyrus AB e Papyrys GmbH com vista à compra pela Inapa da participação da Papyrus AB e Papyrys GmbH nas empresas Papyrus Deutschland GmbH & Co. KG e na Papyrus Deutschland Verwaltungs-GmbH, a aprovação de emissão de um empréstimo obrigacionista convertível em acções ordinárias no valor de €15.000.000 a ser 100% subscrito pela Papyrus AB e Papyrys GmbH. Assim, parte do preço de aquisição destas duas empresas alemães foi pago através da emissão deste empréstimo que foi subscrito pela empresa vendedora. Ora, a emissão de obrigações convertíveis implica (mesmo que não se venha a realizar) a um aumento de capital (no mesmo valor do empréstimo). Assim, foi também aprovado o aumento de capital da Inapa de € 180 135 111,43 para € 195 135 111,43 (diferença precisamente igual ao valor do empréstimo). Nota que assim fica já autorizado o aumento de capital na eventualidade (mesmo que não venha a acontecer) de ocorrer a opção de conversão por parte da Papyrus AB e Papyrys GmbH. Este empréstimo dá a possibilidade de o seu detentor, no caso de exercer a conversão, de deter 23% do capital da sociedade após a conversão das obrigações em acções ordinárias, implicando que a Papyrus AB e Papyrys GmbH irá deter cerca de 157 184 242 acções se converter, por forma a que este número representa 23% do novo número de acções (683 409 750) caso haja esse exercício. Ora, como o empréstimo vale € 15 000 000, implicitamente só compensa o exercício da conversão caso as acções da Inapa valham mais de 0.0954 (opção está in-the-money), ou seja, quase o dobro da cotação actual. Assim, até este valor, não existe o risco de diluição da Inapa, pois não compensa à Papyrus AB e Papyrys GmbH estar a converter as obrigações em acções ordinárias. Este empréstimo vence juros à taxa de 5%/ano, e a sua amortização ocorre em 5 tranches de € 3 000 000, com início a Julho de 2022, terminando em julho de 2026. (Assim, e se não tiver ocorrido nada em contrário, aquando da apresentação dos resultados anuais da Inapa, o valor em dívida deste empréstimo irá diminuir para € 12 000 000). Com esta primeira amortização, o risco de diluição da Inapa diminui-se em cerca de 31,4 milhões de acções.
3) Aproveito para colocar também aqui um pequeno resumo da dívida desde Dez-2018. Decidi também dar “destaque” ao Trade Finance pois é nesta rubrica que alguns assumem que a empresa embeleza as contas. Sem querer entrar muito em especulações sobre contabilidade criativa, o certo é que no ano de 2021, houve alterações aos contratos de factoring que permitiram classificar os montantes de dívida de clientes que eram recebidos através destes contratos de factoring como “true sales”, ou seja, os contratos de factoring passaram a ser sem recurso, pelo que o risco de não pagamento por parte dos clientes da Inapa passou para a instituição de crédito, pelo que faz sentido que seja desclassificado de dívida Trade Finance, pois uma vez recebido o pagamento por parte da instituição financeira, a Inapa já não tem que se preocupar com o pagamento ou não da dívida do cliente. Trade Finance à parte, a verdade é que a Inapa tem reduzido de forma considerável a sua dívida líquida (claro que podemos argumentar, e eu concordo, que a dívida passou de altíssima para alta, mas o importante também é ver a tendência – desde 2019, a dívida abateu-se em € 85 milhões exc. Trade Finance / € 111 milhões incluindo).
4) Quanto às perspectivas do sector do papel, não sendo especialista, aproveito para colocar aqui uma análise que achei interessante. A Inapa de facto ainda tem muito para diversificar, pois o packging ainda representa um valor residual dadas as perspectivas do sector papeleiro.
https://jornaleconomico.pt/noticias/o-f ... tao-9720615) Na minha opinião, acho que a empresa está subavaliada (um simples P/E mostra isso), no entanto tem que se atender ao enorme valor da dívida, pois, apesar do Equity value ser muito baixo, o enterprise value já é um valor mais respeitável. O importante seria a empresa alterar a composição do enterprise value, dando mais peso obviamente ao Equity Value. Para isso terá mesmo que baixar significativamente a dívida (e com mais uma motivação, visto que a subida dos juros vai fazer moça dado o stock muito elevado). Só mais uma pequeno opinião, acredito mesmo que faltava à gestão deter acções da Inapa, pois assim os interesses estavam verdadeiramente mais alinhados, e eles poderiam notar o potencial de valorização caso a gestão da empresa siga a bom porto – o que já deu para ter uma ideia, visto que desde a apresentação dos resultados semestrais, a acção praticamente triplicou.
Atenção, não tomem isto como conselhos de investimento, apenas puramente didático. Quero apenas deixar o meu contributo para um debate construtivo sobre esta empresa.
Bem haja!