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Caldeirão da Bolsa

Desenvolvimento economico portugues desde 1950

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Parabéns. Belo texto que eu não conhecia. (eom)

por Dwer » 5/11/2002 19:40

...
Abraço,
Dwer

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Desenvolvimento economico portugues desde 1950

por nunofaustino » 5/11/2002 19:06

Hoje recebi este recorte de jornal por email. Apesar de ser de 2000 acho q vale a pena ler.

Diário de Notícias, 27 de Março de 2000
João César das Neves

O sucesso da asneira

Portugal fez tudo errado, mas correu tudo bem." Esta é a conclusão de
um relatório internacional recente sobre o desenvolvimento português.
Havia até agora no mundo países desenvolvidos, subdesenvolvidos e em
vias de desenvolvimento. Mas acabou de ser criada uma nova categoria:
os países que não deveriam ser desenvolvidos. Trata-se de regiões que
fizeram tudo o que podiam para estragar o seu processo de
desenvolvimento e... falharam. Hoje são países industrializados e
modernos, mas por engano. Segundo a fundação europeia que criou esta
nova classificação, no estudo a que o DN teve acesso, este grupo de
países especiais é muito pequeno. Aliás, tem mesmo um só elemento:
Portugal. A Fundação Richard Zwentzerg (FRZ), que se tornou famosa no
ano passado pelo estudo que fez dos "bananas da república", iniciou há
uns meses um grande trabalho sobre a estratégia económica de longo
prazo. Tomando a evolução global da segunda metade do século XX, os
cientistas da FRZ procuraram isolar as razões que motivavam os grandes
falhanços no progresso. O estudo, naturalmente, pensava centrar-se nos
países em decadência. Mas, para grande surpresa dos investigadores, os
mais altos índices de azelhice económica foram detectados em Portugal,
um dos países que tinham também uma das mais elevadas dinâmicas de
progresso.

Desconcertados, acabam de publicar, à margem da cimeira de Lisboa, os
seus resultados num pequeno relatório bem eloquente, intitulado: "O
País Que não Devia Ser Desenvolvido - O Sucesso Inesperado dos
Incríveis Erros Económicos Portugueses." Num primeiro capítulo, o
relatório documenta o notável comportamento da economia portuguesa no
último meio século. De 1950 a 2000, o nosso produto aumentou quase
nove vezes, com uma taxa de crescimento anual sustentada de 4,5 por
cento durante os longos 50 anos. Esse crescimento aproximou-nos
decisivamente do nível dos países ricos. Em 1950, o produto de
Portugal tinha uma posição a cerca de 35 por cento do valor médio das
regiões desenvolvidas. Hoje ultrapassa o dobro desse nível, estando
acima dos 70 por cento, apesar do forte crescimento que essas
economias também registaram no período. Na generalidade dos outros
indicadores de bem-estar, a evolução portuguesa foi também notável.
Temos mais médicos por habitante que muitos países ricos. A
mortalidade infantil caiu de quase 90 por mil, em 1960, para menos de
sete por mil agora. A taxa de analfabetismo reduziu-se de 40 por cento
em 1950 para dez por cento actualmente e a esperança de vida ao nascer
dos portugueses aumentou 18 anos no período. O relatório refere que
esta evolução é uma das mais impressionantes, sustentadas e sólidas do
século XX. Ela só foi ultrapassada por um punhado de países que, para
mais, estão agora alguns deles em graves dificuldades no Extremo
Oriente. Portugal, pelo contrário, é membro activo e empenhado da
União Europeia, com grande estabilidade democrática e solidez
institucional. Segundo a FRZ, o nosso país tem um dos processos de
desenvolvimento mais bem-sucedidos no mundo actual. Mas, quando se
olha para a estratégia económica portuguesa, tudo parece ser ao
contrário do que deveria ser. Segundo a Fundação, Portugal, com as
políticas e orientações que seguiu nas últimas décadas, deveria agora
estar na miséria. O nosso país não pode ser desenvolvido.

Quais são os factores que, segundo os especialistas, criam um
desenvolvimento equilibrado e saudável? Um dos mais importantes é, sem
dúvida, a educação. Ora Portugal tem, segundo o relatório, um sistema
educativo horrível e que tem piorado com o tempo. O nível de formação
dos portugueses é ridículo quando comparado com qualquer outro país
sério. As crianças portuguesas revelam níveis de conhecimentos
semelhante às de países miseráveis. Há falta gritante de quadros
qualificados. É evidente que, com educação como esta, Portugal não
pode ter tido o desenvolvimento que teve.

Um outro elemento muito referido nas análises é a liberdade económica
e a estabilidade institucional. Portugal tem, tradicionalmente, um dos
sectores públicos mais paternalista, interventor e instável do mundo,
segundo a FRZ. Desde o "condicionamento industrial" salazarista às
negociações com grupos económicos actuais, as empresas portuguesas
vivem num clima de intensa discricionariedade, manipulação, burocracia
e clientelismo. O sistema fiscal português é injusto, paralisante e
está em crescimento explosivo. A regulamentação económica é
arbitrária, omnipresente e bloqueante. É óbvio que, com autoridades
económicas deste calibre, diz o relatório, o crescimento português
tinha de estar irremediavelmente condenado desde o início. O estudo da
Fundação continua o rol de aselhices, deficiências e incapacidades da
nossa economia. Da falta de sentido de mercado dos empresários e
gestores à reduzida integração externa das empresas; da paralisia do
sistema judicial à inoperância financeira; do sistema arcaico de
distribuição à ausência de investigação em tecnologias. Em todos estes
casos, e em muitos outros, a conclusão óbvia é sempre a mesma:
Portugal não pode ser um país em forte desenvolvimento. Os cientistas
da Fundação não escondem a sua perplexidade. Citando as próprias
palavras do texto: "Como conseguiu Portugal, no meio de tanta asneira,
tolice e desperdício, um tal nível de desenvolvimento? A resposta,
simples, é que ninguém sabe. Há anos que os intelectuais portugueses
têm dito que o País está a ir por mau caminho. E estão carregados de
razão. Só que, todos os anos, o País cresce mais um bocadinho." A
única explicação adiantada pelo texto, mas que não é satisfatória, é a
incrível capacidade de improvisação, engenho e "desenrascanço" do povo
português. "No meio de condições que, para qualquer outra sociedade,
criariam o desastre, os portugueses conseguem desembrulhar-se de forma
incrível e inexplicável." O texto termina dizendo: "O que este povo
não faria se tivesse uma estratégia certa?".
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