Confesso que me desiludiram estes resultados. Esperava bem mais do que 9 milhões.
A um preço médio calculado para todo o trimestre de 550euros/tonelada, que calculei com os valores médios do BHKP do foex (
www.foex.fi), e já admitindo a produção de 220m mil/toneladas que corresponde à capacidade instalada, teria havido receita acima de 120 milhões de euros, um EBDITA de pouco mais de 40 milhões e um resultado líquido de pelo menos 15 milhões.
Com este resultado não chega a haver sequer reforço de capitais próprios porque terão aumentado os valores negativos de reservas de cobertura por efeito do hedge cambial e do hedge de cerca de 100mil toneladas de pasta que tem maturidades para este a para o próximo ano.
Para além disso, houve um efeito nos resultados que decorre da venda do que era considerado um stock estratégico de pasta. Na verdade apenas se produziram 170 mil toneladas e a diferença para as vendas de 194 foi à custa de um stock avaliado a preço abaixo do preço de venda. Ou seja foi a venda de um activo não produzido no trimestre que se não sido feita, praticamente teria deixado o lucro a zeros. Porque nesta altura e para a pasta, venda e mercado não é problema. O problema é a garantia de eficácia da capacidade instalada. E isso infelizmente não ocorreu.
Da análise de resultados deu para perceber que o preço médio de venda de pasta ter-se-á aproximado do valor médio do foex. Para quem não sabe, a foex é uma entidade independente que centraliza preços e ofertas de players no mercado e divulga um preço médio semanal que serve de indicador de preços fiável. Não existe preço específico para o BEKP (pasta kraft branqueada de eucalipto), mas existe o BHKP que dá quase no mesmo.
O custo das vendas disparou, mas provavelmente trata-se apenas de uma correção de inventário – as tais 24 toneladas, vendidas e não produzidas, de pasta sairam do balanço, e a diminuição do stock aparece nesta rubrica. Equilibrando este custo, está a receita que inclui vendas de 194mil toneladas. Aparece um custo anormalmente alto – 3 milhões em outros custos – que eu arriscaria a dizer que poderá ter que ver com o fechamento antecipado de contratos de hedge de pasta. Se for isso, até que é um custo bom, porque a pasta está a valores mais altos agora e portanto este fecho antecipado aumenta o lucro futuro. Existem quatro contratos de hedge de pasta, com pequenas quantidades vendidas por mês. O volume é relativamente pequeno e eu estimaria que no máximo, e caso não tenha sido abertos novos contratos, a empresa tem ainda compromisso de venda, a preço pré-determinado, de cerca de 70 mil toneladas de pasta. Não me parece muito, muito preocupante, até porque a capacidade de produção é de 900 mil por ano, mas é interessante saber para melhor prever os resultados.
Nos resultados financeiros, é importante ir monitorando os resultados com atenção. O Kd médio de ano passado foi de 3,7%, o que é um valor muito bom, mesmo tendo em conta que a euribor está em baixa e boa parte do financiamento é a taxa variável. Acontece que a empresa tem swaps para taxa fixa equivalentes a boa parte do financiamento. Ou seja, se é verdade que com estes swaps perde oportunidade de pagar menos juros pela euribor mais baixa, estará no entanto mais preparada para manter um Kd baixo se os juros subirem. Mas o passivo é enorme, a empresa tem um rácio muito baixo de Capital próprio/activo e isso é sempre motivo de preocupação para um possível aumento do custo da dívida. As obrigações (+/- 375milhões) têm maturidades muito lá na frente, e por isso não me parecem consituir um problema, existe um empréstimo de 150 milhões a reembolsar até 2013 que me parece poder entrar no cash gerado até lá. Restam uns passivos de curto prazo e ainda 265 milhões de papel comercial. Estes passivos parece-me que sairão mais caros do que até aqui. Os custos financeiros vieram um pouquinho mais altos no trimestre, mas na comparação com o 1ºtrimestre de 2009 até cairam. Atentemos aos próximos capítulos.
Mas adiante ... passado é passado, futuro é futuro. Neste próximo trimestre vamos tirar a prova dos nove em relação à produção. E claro, acompanhando semana a semana (cada 3ªfeira) o que diz o foex sobre o preço da BHKP.
A produção pode ficar abaixo das 225mil toneldas (1/4 de 900) por duas razões:
1 – mais paragens de turbinas e afins;
2 – Insuficiência de madeira.
Na segunda não me parece que aconteça, os preços de madeira ainda estão em baixa o que possivelmente significa que a oferta agregada de matéria-prima junta ao auto-fornecimento talvez ainda esteja a níveis acima da produção.
Se a produção for mesmo de 220 mil ton/trimestre, e o preço não cair, o que parece provável porque a procura na China “não tá nem aí” para os problemas da Grécia, então o 2º trimestre poderá ser bom. E quando digo bom, falo de resultados líquidos no trimestre acima de 20 milhões e um EBDITA acima de 50.
Para uma empresa com uma capitalização bolsista de 400 milhões, este cenário optimista parece-me claramente um buy. Mas a análise técnica deve dizer algo diferente.
Abraços a todos