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Caldeirão da Bolsa

Se Portugal saísse do euro...

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por RiscoCalculado » 4/6/2010 20:16

Um artigo interessante do António Nogueira Leite:

http://albergueespanhol.blogs.sapo.pt/352864.html

Penso que ele se foca demasiado no Estado, sendo que eu considero que o problema não reside apenas aí, de qualquer forma vale a pena ler e sobretudo atentar na parte em que fala do défice da Balança de Bens e Serviços: parece que a OCDE tem uma previsão ainda mais catastrofista que eu em relação à evolução deste défice. Eu ainda admiti que este se pudesse contrair qq coisita :mrgreen:

Ao contrário do que diz a esquerda, a situação a que chegamos resulta, em boa medida, da progressiva estatização da economia portuguesa ao longo dos últimos 35 anos. É certo que após 1990 se iniciou a saída formal do Estado de muitos sectores produtivos que tinham sido por ele invadidos em 1975, mas a sua influência na economia, directa e indirecta, nunca parou de crescer.



Temos mais de metade da população dependente do Estado (entre funcionários, pensionistas, beneficiários de subsídio de desemprego e do rendimento social de inserção), a Despesa Pública representa metade da riqueza criada em cada ano (a despesa corrente primária cresceu quase 20 p.p. do PIB desde o início dos anos 80), ainda que formalmente de saída o Estado dirige pelas mais variadas vias (para além da legítima e necessária actividade de regulação e de defesa da concorrência) os sectores estruturantes da economia (energia, portos, telecomunicações, transportes aéreos e ferroviários), readquiriu um peso crescente no sector financeiro enquanto operador e, não satisfeito, transformou parte da nossa classe empresarial em meros exploradores de rendas económicas garantidas e nutridas pelos contribuintes actuais e futuros.



É normal, portanto, que um país tão colonizado pelo Estado, por via dos seus múltiplos braços, tenha um terrível problema de competitividade e tenha acumulado a sucessão de défices externos que coleccionou após a recessão de 1993, gerando uma dívida externa bruta de valor mais do que duplo da riqueza criada anualmente. Neste contexto, é normal que se fale de novo em exportar como um desígnio fundamental da nossa economia. Todos estamos de acordo que precisamos de reduzir significativamente o nosso défice da Balança de Bens e Serviços, que anda perto de 10% do PIB e se prevê (assim o faz a OCDE) se vá manter a esse nível (o que é, para mim, impossível, dado ser impensável continuar a assegurar o financiamento externo a uma economia que se comporte desse modo).



O próprio governo, abandonou, ainda que forçadamente e, alguns casos, rosnando um óbvio incómodo, a sua obsessão com o sector não-transaccionável, e passou a falar da importância da promoção das exportações. Ainda que tardiamente, avançou recentemente com a criação do Fundo de Apoio à Internacionalização e Exportação (FAIE), uma quase reincarnação do fracassado FIEP dos tempos de António Guterres. Embora não seja a panaceia para os problemas estruturais que afectam o sector de bens transaccionáveis da economia, o facto é que a medida é genericamente acertada. Na verdade, dado o actual momento de dificuldade de acesso ao crédito, a vontade e mobilização das empresas portuguesas para a entrada em mercados externos a disponibilização de 250M€ para empresas exportadoras é relevante e positivo.


O que já é francamente de evitar é a confusão de veículos através dos quais o Estado apoia e incentiva a economia e supre eventuais falhas do mercado do financiamento. Cria estes fundos, tem a AICEP capital, usa o grupo Caixa, nomeadamente a sua participada Caixa Capital, ainda tem os antigos fundos geridos na órbita do IAPMEI, enfim,… uma confusão. Não bastando a dificuldade conceptual que tenho com a noção indígena de “capital de risco público”, torna-se verdadeiramente incompreensível e fonte certa de desperdício e confusão, esta multiplicidade de instrumentos sobrepostos, a governação imprecisa com a decorrente possibilidade de futuros arbítrios e decisões por explicar. Igualmente grave é o sintoma que toda esta confusão revela: um Estado tentacular, descoordenado, desperdiçador….e, mais do que tudo, inviável.
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por RiscoCalculado » 4/6/2010 20:12

Ainda sobre este assunto (mais concretamente spreads de taxas de juro relativamente a países/zonas de baixo risco) alguns "slides" interessantes do Niall Fergunson que evidenciam como é bem possível ter spreads não muito elevados (0 - 200 bps) desde que se sigam políticas credíveis e que mantenham a inflação sob controle ( para comparação, neste momento mesmo inseridos na zona Euro, o nosso CDS a 5 anos está em 360 bps)

http://www.businessinsider.com/niall-ferguson-sovereign-debt-2010-5#-7

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por vitorigus » 27/5/2010 17:15

Wakaru Escreveu:Elucidem-me pff.

Imaginem que tenho uma conta grande em euros, tipo 100 mil. E que ela não é convertida em escudos (ou porque as contas ficam como estão pq é uma moeda que continua a existir ou porque o tenho no estranjeiro, tanto faz).

Nesse caso com uma desvalorização de 40% do escudo e consequente baixa dos preços (certo? senão ia haver fome), ia ficar 40% mais rico já que tinha dinheiro em euros, certo.

Ou seja, bom para quem tem poupanças, muito mau para quem tem dívida.


Wakaru,
Assim me parece, í. é, bom para quem tem poupanças, muito mau para quem tem dívida.

No entanto, não vejo como é que a conta não seria convertida em escudos imediatamente, se estiver em liquidez, num banco em Portugal.

Se estiver investido em Euros, acçoes ou outro activo, creio que se manterá na moeda do investimento.
 
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por Paulo21Gmr » 27/5/2010 13:32

bem, na minha opinião a saída do euro é impensável!

além dos casos já falados no tópico, a saída teria problemas diplomáticos para Portugal (e nós que já somos tão fortes na UE certo? :? )

depois, já se vão pagar portagens nas scuts, os espanhóis agora vão ter mais uma dificuldade em negociar com portugueses (falo na zona norte pois é do que sei) se ainda por cima tivessem problemas com o cambio monetário, era ainda mais um entrave.

mas eu já imagino que viveriamos com economias paralelas. seria como na época 2000-2002.

já li num sitio qualquer que a saída do euro é impossível, pois a UE não o permite. ja sei! eh eh, foi no jornal de negócios precisamente! la até diz que é mais fácil sair da UE do que sair do Euro.

Pensam que quê?, não é só em Portugal as burocracias! lol

Para Portugal subir a economia a olhos vistos, so havendo alguém que conseguisse obrigar Portugal Inteirinho a trabalhar! e trabalho haveria para todos lol!

podia-mos abris um tópico de forma a discutir se uma ditadura moderada e moderna seria o melhor para portugal... (eu não sou fascista ah?) lol.
O fruto do Trabalho é o nosso melhor prémio!
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por Mcmad » 27/5/2010 12:18

Se Portugal sair do euro vai à falência, palavras deste senhor, só significa que já estamos na falência dada a fraca competitividade\produtividade !
Confira as minhas opiniões

http://markoeconomico.blogspot.com/
 
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por Wakaru » 27/5/2010 11:15

Elucidem-me pff.

Imaginem que tenho uma conta grande em euros, tipo 100 mil. E que ela não é convertida em escudos (ou porque as contas ficam como estão pq é uma moeda que continua a existir ou porque o tenho no estranjeiro, tanto faz).

Nesse caso com uma desvalorização de 40% do escudo e consequente baixa dos preços (certo? senão ia haver fome), ia ficar 40% mais rico já que tinha dinheiro em euros, certo.

Ou seja, bom para quem tem poupanças, muito mau para quem tem dívida.
 
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por pdcarrico » 26/5/2010 22:51

Pata-Hari Escreveu:bom comentário, pcarrico :)

Brigado :)
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por Pata-Hari » 26/5/2010 20:45

bom comentário, pcarrico :)
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por pdcarrico » 26/5/2010 18:55

Já agora e para complementar uma coisa que eu escrevi sobre os juros no Brasil, diria o seguinte.

A diferença da yield da dívida em reais para uma yield de dívida soberana em euros ou dólares para o mesmo pagador (Estado Brasileiro) não é justificada só pelo risco de variação cambial ou pelo menos não na sua totalidade. O que eu quis dizer é que emissões em diferentes moedas têm cupões diferentes e se fosse indiferente para o investidor, ou pelo menos não houvesse grande risco de variação cambial, o juro seria o mesmo, ou muito parecido, porque afinal de contas o pagador é o mesmo e o risco de incumprimento igual.

Na verdade, o juro de referência do banco central apesar de ter vindo a descer continua bem mais alto (9,5%) do que o equivalente no BCE e no FED. E esse juro é a grande causa para que haja valor mais alto do CDI (equivalente à euribor) e também para a dívida soberana. E aqui há essencialmente uma questão de controle da inflação. E como historicamente o juro era mais alto, por força de um grande aumento no endividamento no passado (na década de 80), aconteceu este ter gradualmente descido, mas chegou a um ponto em que a oferta de crédito já estava a um nível alto o que fez com que o Banco Central do Brasil travasse essa queda do juro de forma a controlar o índice de inflação.

Esta é possivelmente a grande razão pela qual há essa disparidade de juros entre as moedas, no entanto e apesar de considerar que não é o risco de variação da taxa de câmbio o maior factor, é lógico pensar que se não houvesse risco de câmbio algum em deter uma aplicação em reais em vez de euros (ou dólares) o investidor preferiria sempre comprar as obrigações em reais. E não haveria colocação de dívida a baixa taxa em euros ou dólares.

Por isso eu digo, que para um investidor alemão ou holandês haverá sempre preferência, para uma taxa de retorno e risco de incumprimento iguais, por uma aplicação na sua moeda de origem, e uma aplicação diversa só se acompanhada por um aumento no prémio de risco. Ou seja se Portugal se mantiver no euro consegue colocar dívida a x% e se sair, coloca a (x+x')%.

A curva de rendimentos pode ser vista no site da bloomberg:
http://www.bloomberg.com/markets/rates/brazil.html
O juro pago em dólares pode ser calculado adicionando um spread (risco brasil) à taxa das bonds americanas, que dá um juro significativamente mais baixo que o juro pago em reais.
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por RiscoCalculado » 26/5/2010 18:39

Isso é na teoria quando aplicas modelos de paridade de taxas de juros ou de poder de compra para estimar câmbios futuros. Mas esses modelos tem desfasamentos muito reais em relação ao que realmente acontece.

Na prática a colocação de dívida é feita com agentes reais que ponderam o risco que correm e que inclui a possibilidade de incumprimento e o risco de desvalorização do investimento. Risco é incerteza, não é expectativa. Eu posso ter a melhor expectativa em relação a um activo mas o meu maior grau de conforto aparece na maior previsibilidade do meu CF futuro.


É claro que O risco de incumprimento é sp um factor a ter em conta nos preços da divida e logo na sua yield.
No entanto foste tu próprio a dizer quais as taxas que a mesma entidade paga quer em euro quer em real. O risco de incumprimento existe tanto num caso como no outro logo o spread nesse caso existe devido a expectativa ou risco de desvalorização cambial.
Não me parece muito importante prolongar uma discussão teórica sobre se é por causa do risco ou da expectativa. Parece-me que a ideia do nuno faustino que é um misto das duas deve ser a mais correcta.

No entanto volto a dizer, se a desvalorização inicial for bem calculada e as medidas de política económica forem sérias e responsáveis não há razão para o mercado esperar quer desvalorização (e/ou inflação) quer um maior risco do que aquele que já está incorporado nos actuais spreads da dívida portuguesa.
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Estaa quase tudo enterrado em

por bboniek33 » 26/5/2010 18:02

CONSTRUC,AO CIVIL:

Habitac,ao, asfalto e obras de arte de autoestradas.

Vendam o cimento, o ferro e os tijolos ao estrangeiro e encontram 80% do dinheiro que caa entrou nos ultimos 20 anos.

A malta nao tinha casa proopria, agora quase tudo tem uma ou duas ou trees.

Foi uma festa para os Pato-Bravos e para a Banca e tambeem para a canalha que comprou T3s e T4s...

Agora secou a mina e os fundos, que deviam ter sido canalizados para a produc,ao estao em cimento armado (aas vezes mal armado...).

Isto deu o berro. O que temos nao vale nada a nao ser para os que consumiram/consomem esses bens.

Tivemos Euro2004 e outras aberrac,oes prooprias de governantes incompetentes e de um povo essencialmente preocupado em consumir.

Eis o resultado.

Agarrem-se que isto vao abanar.
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por pdcarrico » 26/5/2010 17:48

RiscoCalculado Escreveu:não verifiquei as taxas vou assumir que estão correctas.
Se as taxas são essas, independentemente da situação macroeconómica , a expectativa do mercado é de uma depreciação (e/ou inflação) do real face ao euro.

Isso é na teoria quando aplicas modelos de paridade de taxas de juros ou de poder de compra para estimar câmbios futuros. Mas esses modelos tem desfasamentos muito reais em relação ao que realmente acontece.

Na prática a colocação de dívida é feita com agentes reais que ponderam o risco que correm e que inclui a possibilidade de incumprimento e o risco de desvalorização do investimento. Risco é incerteza, não é expectativa. Eu posso ter a melhor expectativa em relação a um activo mas o meu maior grau de conforto aparece na maior previsibilidade do meu CF futuro.

Na década de 90 desapareceu o risco de variação cambial em Portugal e por isso as colocações de OT's em Portugal já só incluiam um risco de crédito na óptica de um investidor na mesma moeda. E por isso os juros baixaram tanto porque o câmbio já estava fixo e a moeda na realidade já era o euro, apesar de ter aparecido no dia a dia apenas mais tarde.

Mas em relação ao teu raciocínio de que uma desvalorização de 40% não seria má de todo. Eu diria que seria uma calamidade de todo o tamanho. Não temos mais a economia de há 30 anos, onde por exemplo o sector textil e de calçado era forte e competitivo pelos factores estruturais de baixos salários. Onde havia sector agrícola que ocupava 1/3 da população. Esse Portugal acabou e dificilmente será resgatado. Hoje a economia é de serviços e muito dependente do exterior. E uma economia pequena e tão dependente como a nossa não se adapta assim facilmente a, de repente, ter os bens que tanto consome serem subitamente encarecidos em 40%. A economia entraria em colapso.

A única saída é um processo gradual que dê tempo para fazer o que nunca fizemos que é passar a produzir bens e serviços que se exportem e diminuir gradualmente o volume de importados. Vai doer e vai significar empobrecimento no curto prazo, mas não temos outra saída.
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por nunofaustino » 26/5/2010 17:33

RiscoCalculado Escreveu:
Dou-lhe um exemplo - a colocação de dívida soberana em euro do Brasil paga uma yield de 3/4% para um prazo de 5 anos, mas se for em reais pagará 12/13% para o mesmo prazo. Não existe expectativa macroeconómica de desvalorização futura do real, até porque a balança de pagamentos Brasileira é superavitária e as contas públicas estão de tal forma que o endividamento público líquido tem descido abaixo dos 40% do PIB. No entanto e por haver incerteza da taxa futura de câmbio, aparece uma remuneração maior em real, apesar de o agente pagador - o Estado Brasileiro - ser o mesmo.


não verifiquei as taxas vou assumir que estão correctas.
Se as taxas são essas, independentemente da situação macroeconómica , a expectativa do mercado é de uma depreciação (e/ou inflação) do real face ao euro.


Parcialmente devido a essa expectativa e parcialmente devido ao maior risco associado ao histórico do real.

Um abr
Nuno
Pluricanal... não obrigado. Serviço péssimo e enganador!!!
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por RiscoCalculado » 26/5/2010 17:20

Dou-lhe um exemplo - a colocação de dívida soberana em euro do Brasil paga uma yield de 3/4% para um prazo de 5 anos, mas se for em reais pagará 12/13% para o mesmo prazo. Não existe expectativa macroeconómica de desvalorização futura do real, até porque a balança de pagamentos Brasileira é superavitária e as contas públicas estão de tal forma que o endividamento público líquido tem descido abaixo dos 40% do PIB. No entanto e por haver incerteza da taxa futura de câmbio, aparece uma remuneração maior em real, apesar de o agente pagador - o Estado Brasileiro - ser o mesmo.


não verifiquei as taxas vou assumir que estão correctas.
Se as taxas são essas, independentemente da situação macroeconómica , a expectativa do mercado é de uma depreciação (e/ou inflação) do real face ao euro.
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por pdcarrico » 26/5/2010 17:05

E quanto à exposição dos bancos ao exterior, concerteza o entrevistado sabe mais do que todos nós.

E saberá que provavelmente boa parte do crédito que concedeu teve origem no interbancário europeu.

Se de um momento para o outro, o balanço dos bancos passa a registar um passivo aumentado em 40% (aquele atribuível ao estrangeiro) só mesmo com muita negociação é que não resultaria numa situação de falência.

Mas como isso é uma hipótese catastrófica, provavelmente nunca esteve na mesa. É por isso, que com a Grécia que tem défice e contas piores, ninguém colocou a questão de sairem do euro.
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por pdcarrico » 26/5/2010 16:57

RiscoCalculado Escreveu:

Esse é mais outro dos bichos papões que por aí circula.
Na realidade isso só aconteceria se a desvalorização inicial fosse insuficiente (ou pelo menos assim apercebida pelos mercados )
Se a desvalorização inicial for bem calculada (digamos uns 40%) e as medidas económicas tomadas forem responsáveis a expectativa subsequente será de valorização e não de desvalorização e logo a taxa de juro não terá que subir relativamente aos valores actuais.

Prémio de risco não decorre só pela expectativa de valorização/desvalorização cambial. Significa exigência de maior juro por incerteza no cash-flow futuro na moeda do financiador.

Dou-lhe um exemplo - a colocação de dívida soberana em euro do Brasil paga uma yield de 3/4% para um prazo de 5 anos, mas se for em reais pagará 12/13% para o mesmo prazo. Não existe expectativa macroeconómica de desvalorização futura do real, até porque a balança de pagamentos Brasileira é superavitária e as contas públicas estão de tal forma que o endividamento público líquido tem descido abaixo dos 40% do PIB. No entanto e por haver incerteza da taxa futura de câmbio, aparece uma remuneração maior em real, apesar de o agente pagador - o Estado Brasileiro - ser o mesmo.

Da mesma forma, se houvesse saída do euro, Portugal teria emissões com cupões diferenciados se fossem denominados em escudos ou em euros. Aliás quando os juros baixaram drasticamente em Portugal (década de 90), não foi por maior consolidação orçamental ou por melhoria em Balança de transacções correntes, mas sim porque o risco de variação cambial deixou de existir.
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por RiscoCalculado » 26/5/2010 16:31

Uma das consequências seria também o aumento das taxas de juro.


Porque o juro inclui um prémio de risco decorrente de possível incumprimento e um prémio pelo risco de variação cambial. Ora havendo uma expectativa de desvalorização cambial, só há possibilidade de captação de financiamento externo se ao financiador for pago um juro que lhe pague a expectativa negativa de variação cambial.



Esse é mais outro dos bichos papões que por aí circula.
Na realidade isso só aconteceria se a desvalorização inicial fosse insuficiente (ou pelo menos assim apercebida pelos mercados )
Se a desvalorização inicial for bem calculada (digamos uns 40%) e as medidas económicas tomadas forem responsáveis a expectativa subsequente será de valorização e não de desvalorização e logo a taxa de juro não terá que subir relativamente aos valores actuais.
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por RiscoCalculado » 26/5/2010 16:24

É preciso compreender que estas opiniões que se ouvem frequentemente sobre as consequências de uma possível saída do Euro não são mais do que mitos e/ou opções filosóficas e políticas e/ou interesses instalados e/ou uma possível tentativa de evitar uma corrida aos bancos ....

Em termos económicos, quando pensamos no país como um todo (e não neste ou naquele grupo de interesses) é impossível dizer com a convicção com que ouço algumas pessoas falar que uma (ou outra) opção é claramente superior.


Relativamente a esse argumento da "explosão" da dívida façamos algumas contas:

De acordo com o Banco de Portugal a posição de investimento internacional
em Dez 2009 era de cerca de 182 Mil Milhões de Euro.
Convertendo à taxa de 200.482 Escudos por Euro obtemos um valor
de cerca de 36 Triliões (sistema americano) de Escudos.

Suponhamos agora uma saída do Euro e uma desvalorização inicial de 40%
por forma a tornar as exportações portuguesas competitivas.
O novo câmbio Escudo Euro passaria para cerca de 280 Esc por Euro
e a dívida passaria a ser cerca de 51 Triliões de Escudos.
(portanto um aumento da dívida de 36 para 51 Triliões)


Agora consideremos a alternativa de permanência no Euro.
Actualmente o saldo negativo anual da nossa balança de Transacções correntes anda perto dos 15 Mil Milhões de Euro.
Já várias vezes referi que a relação entre o défice das contas públicas e o saldo negativo da BTC não é assim tão elevado como se possa pensar, no entanto
vamos supor que as medidas de contenção conseguem reduzir o défice da BTC de 15 para 10 Mil Milhões de Euro anuais.
Ora a um ritmo de 10 Mil Milhões de Euro ou cerca de 2 Triliões de Escudos anuais, a verdade é que a dívida externa crescerá dos actuais 36 Triliões para os mesmíssimos 51 Triliões em pouco mais de 7 anos...

Portanto deixemo-nos de demagogias e encaremos a realidade. Quer se opte por uma ou outra via a actual situação é Negra. A mesmíssima dívida que teremos se optarmos por uma saída do Euro acabará por se materializar em poucos anos num cenário de permanência no Euro (mesmo já considerando uma redução considerável no saldo anual negativo da BTC)



E já agora o aumento da dívida num cenário de saída do Euro não é inevitável.
Desde que a situação fosse bem negociada com os credores internacionais e os cenários alternativos que expus acima fossem bem explicados seria possível conseguir ou um perdão parcial da dívida (que compensasse a desvalorização) ou um empréstimo por parte da UE, ou BCE ou FMI que evitasse o cenário de caos.

Um dos grandes problemas está em que se por um lado é imprescindível uma negociação
das condições de saída por outro este processo teria que ser conduzido em total segredo pois qualquer rumor de que estaria a ser planeada uma saída do Euro teria como consequência uma corrida aos bancos ( a acontecer a saída não poderá ser anunciada terá que ocorrer de um momento para o outro ) .
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por pdcarrico » 26/5/2010 15:51

dvck Escreveu:
pdcarrico Escreveu:Se bem que a desvalorização cambial teria um efeito benéfico. A balança de pagamentos corrigiria por efeito de melhora na balança comercial. Também as transferências do exterior (participações e transferências directas) ganhariam maior peso.

Em relação a dívida antiga, ela seria provavelmente redenominada em escudos. Não faria muito sentido manter dívida em euros num processo de desvinculação do euro, pelo menos não a dívida pública ou privada colocada em Portugal.

Em relação a dívida pública ou privada colocada fora do País, não haveria outra hipótese senão a manutenção na moeda em que foi emitida. E essa seria muito penalizada numa saída do euro porque a desvalorização cambial aumentaria o peso da dívida e provavelmente "estrangularia" quem colocou dívida no estrangeiro e tem uma estrutura de proveitos nacional.


O problema é que a dívida, pública e privada, é quase toda externa. Os bancos financiaram-se lá fora para os empréstimos à habitação dos particulares. O Estado fez o mesmo.

Exactamente! Aliás quando eu falava de um lado positivo, falava com uma ponta de ironia. Estaremos falidos e por isso não importamos mais e então a balança comercial melhora.
Mas exactamente por isso é que o António de Sousa falou que toda a economia entraria em colapso no caso de sairmos do euro.
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por dvck » 26/5/2010 15:43

pdcarrico Escreveu:Se bem que a desvalorização cambial teria um efeito benéfico. A balança de pagamentos corrigiria por efeito de melhora na balança comercial. Também as transferências do exterior (participações e transferências directas) ganhariam maior peso.

Em relação a dívida antiga, ela seria provavelmente redenominada em escudos. Não faria muito sentido manter dívida em euros num processo de desvinculação do euro, pelo menos não a dívida pública ou privada colocada em Portugal.

Em relação a dívida pública ou privada colocada fora do País, não haveria outra hipótese senão a manutenção na moeda em que foi emitida. E essa seria muito penalizada numa saída do euro porque a desvalorização cambial aumentaria o peso da dívida e provavelmente "estrangularia" quem colocou dívida no estrangeiro e tem uma estrutura de proveitos nacional.


O problema é que a dívida, pública e privada, é quase toda externa. Os bancos financiaram-se lá fora para os empréstimos à habitação dos particulares. O Estado fez o mesmo.
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por pdcarrico » 26/5/2010 15:15

Se bem que a desvalorização cambial teria um efeito benéfico. A balança de pagamentos corrigiria por efeito de melhora na balança comercial. Também as transferências do exterior (participações e transferências directas) ganhariam maior peso.

Em relação a dívida antiga, ela seria provavelmente redenominada em escudos. Não faria muito sentido manter dívida em euros num processo de desvinculação do euro, pelo menos não a dívida pública ou privada colocada em Portugal.

Em relação a dívida pública ou privada colocada fora do País, não haveria outra hipótese senão a manutenção na moeda em que foi emitida. E essa seria muito penalizada numa saída do euro porque a desvalorização cambial aumentaria o peso da dívida e provavelmente "estrangularia" quem colocou dívida no estrangeiro e tem uma estrutura de proveitos nacional.
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por Opcard » 26/5/2010 15:10

"Hoje que tanto se fala em crise, quem não vê que, por toda a Europa, uma crise financeira está minando as nacionalidades? É disso que há-de vir a dissolução.

Quando os meios faltarem e um dia se perderem as fortunas nacionais, o regime estabelecido cairá para deixar o campo livre ao novo mundo económico"

Eça
 
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por ambgoncalves » 26/5/2010 15:09

yabadoo Escreveu:
Manu Escreveu:Uma das consequências seria também o aumento das taxas de juro.


Porque ?


Basta pensar na Islândia e Grécia, p.e.!

Digamos que ao estarmos integrados na moeda única o nosso risco é repartido pelas restantes empresas que constituem o Euro, logo, apesar do nosso risco subir, como aliás tem subido, subiria muito mais se não tivessemos "fiadores"...

ABG
 
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por pdcarrico » 26/5/2010 15:05

yabadoo Escreveu:
Manu Escreveu:Uma das consequências seria também o aumento das taxas de juro.


Porque ?

Porque o juro inclui um prémio de risco decorrente de possível incumprimento e um prémio pelo risco de variação cambial. Ora havendo uma expectativa de desvalorização cambial, só há possibilidade de captação de financiamento externo se ao financiador for pago um juro que lhe pague a expectativa negativa de variação cambial.
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por Manu » 26/5/2010 15:04

Deixavas de ter como referência a taxa do BCE e passarias a ter outra do BP.
 
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