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Caldeirão da Bolsa

Entrevista a K. - aquele que me fez escrever sobre Bolsa

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por Ulisses Pereira » 1/9/2009 14:35

Tal como disse, estás à vontade para me fazeres uma entrevista ou alguém que indiques. Terei todo o gosto em responder a todas as questões que não tenham a ver com o actual momento dos mercados.

Um abraço,
Ulisses
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por Quimporta » 1/9/2009 14:28

Ulisses Pereira Escreveu:Quim Porta, eu não costumo responder a todas as questões que me colocam no Caldeirão? A entrevista vai-se fazendo aos poucos...

Mas se me quiseres fazer uma entrevista, não tenho qualquer problema nisso, sendo certo que - por força da situação já exposta no Caldeirão - por agora não posso fazer qualquer comentário sobre o momento actual do mercado.

Um abraço,
Ulisses


A minha pergunta tem mais ou menos o sentido da tua ao K.... Precisamente andas também um pouco afastado das análises e talvez mais reflexivo em relação aos mercados e à vida económica.

Pessoalmente, e como eu talvez outros, também foi sobretudo com o Caldeirão (onde és o Panoramix...), que comecei a interessar-me por saber algo sobre os mercados antes de me meter em alhadas.

Mas não fazia a pergunta se não achasse que tens algo mais de interessante a dizer...
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por Ulisses Pereira » 1/9/2009 14:17

Quim Porta, eu não costumo responder a todas as questões que me colocam no Caldeirão? A entrevista vai-se fazendo aos poucos...

Mas se me quiseres fazer uma entrevista, não tenho qualquer problema nisso, sendo certo que - por força da situação já exposta no Caldeirão - por agora não posso fazer qualquer comentário sobre o momento actual do mercado.

Um abraço,
Ulisses
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por LCTN » 1/9/2009 14:13

Não conheci a pessoa em questão, mas como já foi dito parece uma pessoa bastante lúcida e sensata. Gostava de ver essa pessoa de volta aos fóruns e aqui ao Caldeirão em particular, era sem dúvida uma "aquisição" de peso :mrgreen: .

Cumprimentos.
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por Quimporta » 1/9/2009 14:09

Ulisses,

podemos fazer-te uma entrevista?
Falo a sério...

Abraço,
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por tugatuga11 » 1/9/2009 13:22

Bons velhos tempos sem duvida!
Alguém sabe o que é feito do maquinista?
Bons trades.
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por Razao_Pura » 1/9/2009 12:56

Eu nem acredito que o K demorou 6 anos a responder ao teu pedido de entrevista.
Lembro-me dele e de outros que andavam pelos poucos espaços que existiam na net dedicados à bolsa e que eram frequentados por alguns especuladores caseiros, alguns curiosos, e muitos pequenos investidores das operações de re-privatização.
Eram outros tempos sem dúvida.
Trade the trend.
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por Bokas » 1/9/2009 12:54

Ulisses Pereira Escreveu:Em 2003, escrevi-lhe a perguntar se dava uma entrevista para o Caldeirão. Seis anos depois, recebi um mail a dizer que sim...


Bem mais vale tarde que nunca :mrgreen:.

Acima de tudo o que retiro desta a entrevista é a forma sensata, simplicidade e lucidez incriveis de como as respostas são dadas, de certo fruto de muitos anos de experiência nos mercados.

Sem nunca ter lido nada do K, os meus parabéns ao Entrevistado e ao Entrevistador
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Entrevista a K. - aquele que me fez escrever sobre Bolsa

por Ulisses Pereira » 1/9/2009 12:29

Se eu disser que a primeira vez que escrevi num fórum de Bolsa, há 11 anos atrás, o fiz por causa do K. , talvez percebam o significado que esta entrevista tem para mim.

Nessa altura, o K. (nick que sempre fez questão de preservar salvaguardando a sua identidade) era talvez a grande estrela dos fóruns de Bolsa que começavam a dar os primeiros passos, em simultâneo com o "boom" da net em Portugal. Certo dia, foi alvo de violentos ataques num fórum e eu achei que, como leitor fiel, tinha que sair em sua defesa. E foi esse o meu primeiro post nos fóruns...

Quem frequentava os fóruns nessa altura, decerto que não esquece o K. Eu considero-o um pequeno génio com todas as virtudes e defeitos que isso implica. Era difícil alguém ficar-lhe indiferente.

Em 2003, escrevi-lhe a perguntar se dava uma entrevista para o Caldeirão. Seis anos depois, recebi um mail a dizer que sim...


Ulisses Pereira: De 1999 a 2001 foste um dos mais aclamados analistas de mercados nos sites nacionais. De repente, deixámos de te poder ler. A que se ficou a dever essa tua ausência?

K: Podia juntar aqui uma lista de motivos…a minha opção pelo sossego da vida académica…a procura da lucidez que o analista por vezes perde ao exprimir uma opinião…a verdade é que houve algo forte dentro de mim que me fez parar. Enfim, como nos mercados, a maior parte das coisas simplesmente acontece. Tentar perceber porquê pode deixar-nos ainda mais confusos…

Ulisses: Não sei se acompanhas actualmente os fóruns sobre bolsa. Se o fazes, que comparação fazes com aquilo que eles eram em 2001?

K: Acompanho muito esporadicamente. Estão mais civilizados, talvez devido ao papel dos moderadores. Também, talvez pelo mesmo motivo, estão menos espontâneos e menos divertidos. Mas mais sérios. Provavelmente são dos poucos locais onde se podem encontrar informações úteis sobre os mercados financeiros. Os participantes estão bem preparados, conhecem Análise Técnica e os fundamentais e muitos parecem ter uma verdadeira paixão pelo assunto em geral.


Ulisses: Mas voltemos à tua experiência nos mercados. Lembras-te quando e porque razão começaste a investir?

K: Comecei a investir da forma mais comum que pode existir, numa privatização em meados dos anos 90. A razão foi também a mais comum possível: tentar ganhar algum.

Ulisses: O teu primeiro negócio foi rentável?

K: Foi.

Ulisses:O que é que os mercados te davam?

K: A principio dinheiro, ganhos e perdas, e uma modulação das minhas emoções que acompanhava esses ciclos. Mais tarde começaram a levantar-me questões filosóficas sobre a natureza das pessoas, das massas, da consciência humana, da arquitectura da informação… Acabei por me dedicar à Ciência e a dar-lhe mais valor por causa disso. Um teorema não deixa de ser válido ao ser quebrada uma linha de tendência ou uma média móvel. Só depois dos mercados consegui dar o devido valor a isso.

Ulisses: E quais eram os aspectos mais negativos que os mercados exerciam em ti?

K: Como já disse acima, os ciclos de perdas e ganhos exerciam uma influência que se sobrepunha a outros acontecimentos da minha vida. Isso não era bom. Hoje ainda negoceio, mas em menor escala e de uma forma que elimina todas essas flutuações emocionais.


Ulisses: Quais são os maiores erros que os investidores cometem?

K: Talvez o maior erro seja não investir. Ou talvez investir com vistas curtas. Deixa-me elaborar este ponto:
Investir com uma longa perspectiva de futuro é muito benéfico para as nossas vidas. Se quisermos enriquecer em 30 anos, também vamos querer manter-nos saudáveis, e segue-se uma cadeia de coisas positivas muito boa…
Do mesmo modo, investir com uma curta perspectiva de futuro onde nos poderá levar?

Ulisses: Quais são as qualidades que consideras mais fundamentais para que alguém tenha sucesso nos mercados?

K: Um profundo amor pelo dinheiro e muita inteligência.

Ulisses: É necessário ter-se um talento especial para o “trading” ou isso pode-se adquirir ao longo do tempo?

K: Talvez o trading, com o tempo, nos leve a criar o tal amor ao dinheiro.

Ulisses: Continuas a defender a análise técnica como a melhor forma de se ganhar dinheiro em Bolsa?

K: Sim, mas quem lia as minhas análises sabe que existem muitas considerações por detrás da análise técnica que faço. Psicológicas, fundamentais, históricas, macroeconómicas. Mas para responder à pergunta…sou hoje muito mais eclético do que há 8 anos atrás.

Ulisses:Achas que há algumas instituições que tentam mover as cotações de forma a produzir falsos sinais nos gráficos?

K: Depois do que vi nos últimos anos, não há nada que eu ache que as instituições não possam fazer.

Ulisses: Que valor se deve dar a um rumor? É uma porta para os ganhos fáceis ou um convite para uma escorregadela fácil?

K: É informação. Só a inteligência e o amor ao dinheiro podem decidir se é útil ou não.

Ulisses: Como reagias depois de grandes perdas ou de grandes ganhos?

K: Depois de grandes ganhos tornava-me um pouco extravagante, fazia grandes gastos, um pouco tolo até, mais criativo, escrevia imenso. Não me lembro do que fazia nas perdas, a memória é selectiva. A forma como negoceio hoje em dia eliminou esses grandes desvios da média.

Ulisses: Lembras-te de qual foi o teu pior negócio de sempre?

K: Não.

Ulisses: Qual o livro sobre mercados que mais gostaste de ler?

K:"Traders, Guns & Money", Satyajid Das. Quando li o livro em 2007 (é de 2006), pensei, que havia belos romances à mistura com as descrições. Gostei muito. Agora, quando aconteceram estas coisas todas no sector financeiro, apercebi-me que o homem estava mesmo a contar a verdade….Numa das histórias, uma empresa de fundos contratou uma sueca com formação em cosméticos para um lugar de topo, pois havia um gestor incorruptível de um gigantesco fundo de pensões oriental que tinha uma fraqueza por moças altas e loiras…

Ulisses: O “money management” é essencial para ganhar dinheiro consistentemente nos mercados? Como o aplicavas nos teus negócios?

K:É essencial sim. Apliquei de formas diferentes, até encontrar algo que se ajustasse ao tamanho da minha riqueza e ao meu perfil de emoções.

Ulisses: É possível ter-se uma opinião imparcial quando se tem uma posição no mercado, ou a nossa visão é sempre distorcida por essa posição?

K: Não, não é possível. Isso é uma consequência de uma verdade mais forte, a que chamo “o princípio da incerteza dos mercados financeiros“ (que me perdoem os físicos pela heresia, mas isto tem todo o sabor da mecânica quãntica…):
Teorema: É impossível ter uma opinião imparcial sobre o mercado depois de já ter tido uma opinião sobre o mesmo mercado.

Ulisses: Apesar de desligado dos mercados, que opinião tens sobre eles. Acreditas que este “bear market” já terminou ou as mais recentes subidas são apenas um ressalto que antecedem novos mínimos nas principais Bolsas mundiais?

K: Acho que estamos em Bull market.

Ulisses: Eras um “fanático” das Ondas de Elliott. Uma vez até te vir aplicar as ondas de Elliott à evolução das mini-saias ao longo do tempo… 8-) Agora mais a sério, acreditas que é possível ganhar dinheiro a sério nos mercados com base nas ondas? E que erros normalmente os aprendizes das ondas de Elliott fazem nas suas contagens?

K: As ondas de Elliott são como as bruxas, ninguém acredita nelas, mas toda a gente sabe que existem. Eu adoro-as. Em certas situações, funcionam mesmo bem. Mas atenção: Elas são um apoio visual a um método totalmente discricionário; um mapa para uma visão humana do mercado. E, como eu costumava dizer, o mercado dá razão a todos. Basta que cada um espere pela sua vez.

Ulisses: Que conselhos darias a alguém que está a dar agora os primeiros passos nos mercados?

K: Que pense em tudo o que quer da vida nos próximos 30 anos e na forma como está a pensar obter essas coisas. E que perca muitas horas por dia a pensar nisso.

Ulisses:Após tanto tempo de ausência dos fóruns, depois de teres alcançado o estatuto de “guru”, que imagem é que achas que as pessoas guardam de ti?

K: Talvez a mesma que eu guardo de vocês: saudades de uns bons velhos tempos.
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Ulisses Pereira

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