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Caldeirão da Bolsa

GALP/combustiveis - Desmontando o mito (analise semanal)

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por majomo » 6/8/2008 0:44

Não há valores intermédios de actualização entre maio e julho?
Como se ganha dinheiro na bolsa?!
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por MarcoAntonio » 6/8/2008 0:39

Estão no post. Os valores utilizados são exactamente os da GALP.


Constam do post os 4 últimos preços e as datas das 3 últimas actualizações (para além de outros valores mais antigos para termo de comparação).
Imagem

FLOP - Fundamental Laws Of Profit

1. Mais vale perder um ganho que ganhar uma perda, a menos que se cumpra a Segunda Lei.
2. A expectativa de ganho deve superar a expectativa de perda, onde a expectativa mede a
__.amplitude média do ganho/perda contra a respectiva probabilidade.
3. A Primeira Lei não é mesmo necessária mas com Três Leis isto fica definitivamente mais giro.
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por majomo » 6/8/2008 0:30

Olá Marco,

regresso de férias e arranjaste logo trabalho para a malta se entreter... :)

Também ando a acompanhar os preços, mas faltam-me os preços da Galp... tens os preços semanais da galp?

Cumps. :wink:
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por vold » 5/8/2008 22:02

Marco, não sei se te lembras, mas digamos que me abriste os olhos há um tempo lolol

realmente é bem mais simples falar contra do que procurar compreender os movimentos.

agora sou eu, que a alguns amigos que têm a mesma atitude que tinha, tento demonstrar que de facto não existe uma orquestração dos preços para "roubar" o consumidor :mrgreen:

"ténquiuuuuu" very much
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por dvck » 5/8/2008 21:54

De louvar esta atitude pedagógica do Marco. :clap: O que é certo é que se fosse um post a chamar nomes às gasolineiras já teria imensas respostas. Assim...
Pior cego é aquele que não quer ver :wink:
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GALP/combustiveis - Desmontando o mito (analise semanal)

por MarcoAntonio » 5/8/2008 21:37

Solicitaram-me um post que sintetizasse a já longa e dispersa análise ao longo do tópico e que assim funcionasse como resumo. O conteúdo deste post-resumo ficará também no início do tópico (mantendo o texto original igualmente em separado).



Factores a considerar na comparação de preços


Antes de passar à análise e resposta às questões mais frequentes, é importante resumir os diversos factores a tomar em linha de conta para que qualquer comparação seja correcta e completa:

:arrow: Factor Cambial: o primeiro e mais evidente factor de todos a considerar é o factor cambial uma vez que o petróleo se encontra cotado em USD e por norma é em USD que o seu preço é divulgado junto da opinião pública. Contudo, o produto final é vendido em Euros pelo que é indispensável traduzir o seu valor em dolars para euros. Infelizmente, continuamos a ser premeados com "análises comparativas" veículadas pelos média baseadas nos valores em USD, com um efeito enviezante junto da opinião pública que nem sempre tem presente a questão cambial ou mesmo tendo presente, não lhe sendo fácil fazer a contabilidade do factor. Dado que existe uma correlação positiva entre o EURUSD e o Crude, as subidas e as descidas dos preços da matéria prima têm sido atenuados, sendo que as atenções se vão prender praticamente em exclusivo na atenuação das descidas.

:arrow: Factor Lag: é absolutamente indispensável para que a análise seja correcta/equilibrada que se considere um período de atraso na transposição dos preços da matéria-prima para os combustíveis na bomba. Os combustíveis que estão a ser vendidos hoje na "bomba" não são preçados com base nos preços de hoje do petróleo, nem tão pouco produzidos a partir desse petróleo, como é óbvio. Os preços de hoje só reflectirão em combustível que será vendido dias depois. Isto é válido nas subidas e nas descidas. Com a agravante de que se não considerarmos o lag, tenderemos a considerar durante a subida valores mais altos que o correcto e na descida valores mais baixos que o correcto. Exemplificando, quando a semana passada o petróleo cotava a 60USD e hoje cota a 55USD, se eu considero que os preços de hoje na bomba correspondem (ou deviam corresponder) ao preço de hoje - os 55 USD - estou a fazer uma análise totalmente incorrecta. Qualquer comparação deve passar pela determinação de qual o lag que existe na prática na transposição nos preços da matéria-prima para o preço de venda ao público nas bombas. Uma "irregularidade" neste capítulo terá de passar por "diferentes lags" entre subidas e descidas e não pela existência ou não do lag. Esse existe e tem de ser contabilizado. Se não for contabilizado, a análise comparativa simplesmente não tem qualquer valor por ser inadequada.

:arrow: Factor Impostos: na comparação de preços no longo-prazo ou entre diferentes países é pertinente descontar os valores dos impostos ao PVP obtendo assim o que neste tópico é designado por Preço Base (ou seja, preço antes de impostos). Também na comparação com a matéria prima será preferível/desejável que os mesmos sejam retirados (muito embora não seja absolutamente necessário, incluir os impostos é incluir um factor de distorção adicional completamente desnecessário quando o objectivo é comparar evoluções de preços). Mais uma vez, dado que existe uma forte componente fixa nos impostos (ISP), a variação do preço dos combustíveis sai atenuada seja nas subidas seja nas descidas. As atenções vão-se focar quase em exclusivo na atenuação das descidas.

:arrow: Factor Margem Bruta: de forma semelhante, as alterações na matéria prima bruta e/ou no combustível refinado nos mercados internacionais não tem grande impacto na margem bruta (que cobrirá as despesas correntes do negócio e outras); expectavelmente esta é uma parcela do preço que se deverá manter praticamente constante numa base semanal (afinal, os custos com salários dos colaboradores da petrolífera não seguem o petróleo, como não seguem o petróleo outros custos associados à actividade).

:arrow: Comparação descidas versus subidas: ao longo deste processo continua a assistir-se a análises francamente incompletas e com resultados obviamente enviezantes da opinião publica ao comparar as descidas dos preços dos combustíveis com as descidas do preço do petróleo sem contudo efectuar o mesmo exercício para o período de subida e assim ficando por verificar se o mesmo tipo de relação se verificou durante o período de subida. Ora, o preço dos combustíveis (mesmo antes de impostos) varia menos que o petróleo, seja nas subidas seja nas descidas. Quando um orgão de comunicação ou uma qualquer entidade apresenta as baixas dos preços dos combustíveis e a compara com os preços do petróleo "mostrando" que os combustíveis desceram menos que o petróleo sem contudo efectuar o mesmo exercício para a subida mostrando que o mesmo ocorreu durante as subidas, está a iludir a opinião pública por incompetência ou por má fé.

Em Resumo: uma análise completa e correcta terá de considerar o cambio, o lag, os impostos e quer períodos de subida quer períodos de descida. Uma análise onde algum destes factores esteja em falta corre o sério risco de estar totalmente incorrecta e mais do que um risco, por certo vai ter um efeito enviezante da opinião pública uma vez que, como é fácil de compreender e como já ficou explicado na descrição de cada um dos factores, qualquer um dos factores referidos, ao estar em falta, ajudará a tornar o processo de formação do preço "menos transparente" ou mesmo (aparentemente) "desonesto".

Até aqui, tentou-se apresentar de forma sucinta mas explícita os vários factores a considerar e o tipo de exercício a realizar para que uma análise à evolução do preço esteja correcta e não promova uma conclusão enviezada por falta de informação pertinente.


Posto isto, convém antes de passar à análise propriamente dita esclarecer que aqui não se pretende discutir de forma alguma se a GALP tem grandes ou pequenos lucros, se devia seguir esta ou aquela política de preços, se podia/devia vender mais caro ou mais barato mas apenas se os preços seguem os valores expectáveis tendo em conta os valores praticados noutros países (antes de impostos) e a evolução da matéria prima. Ou seja, o que se pretende saber é se os preços em Portugal seguem de alguma forma uma progressão desadequada que sugerisse um abuso de posição dominante por parte da GALP, isto é, a prática de um monopólio/cartel que levasse os preços para valores desadequados quando em comparação com o petróleo ou mesmo os preços dos combustíveis nos países mais próximos.

Neste contexto convém ainda sublinhar que não será adequado comparar preços com entidades cuja dimensão e objectivos sejam completamente diferenciados da GALP, nomeadamente postos que funcionem como "chamariz" como ocorre por exemplo em diversas redes de super/hiper-mercados. Tratam-se de empresas cujo "core business" não é vender combustíveis pelo que uma comparação de preços só pode ser injusta e inadequada. Essas empresas não montam postos isolados e muito menos com cobertura nacional, não instalam refinarias, não investem na extracção do petróleo, etc.

Por último, também convém referir e esclarecer que aqui não se pretende explicar o preço até "à terceira casa decimal". Isto é, não se pretende demonstrar que o preço é o certo o tempo todo e ao mais ínfimo pormenor pois tal é, admitamos, impossível. O que se pretende procurar/verificar é se existem desvios relevantes como aqueles que continuam a ser sugeridos pela opinião pública, pelos média e diversas entidades ligadas ao sector.




Os preços seguem a matéria-prima?

O primeiro exercício neste tópico foi o de verificar quando e quantas vezes os preços eram actualizados seja durante a fase altista do petróleo seja na fase descendente mais recente. Desde logo, buscando notícias passadas das subidas de preço se verificou que os preços afinal subiam sensivelmente uma vez por semana e por norma, na madrugada de terça para quarta-feira. Apesar da "noção popular" entender que os preços subiam todos os dias e reflectiam o preço do petróleo "ao minuto", tal noção é totalmente falsa e não corresponde à verdade. Desde as notícias independentes que notificavam cada uma das subidas até uma notícia que fazia a sumula das subidas de várias semanas (ver o post original mais abaixo), a verdade é que os preços subiam aproximadamente uma vez por semana. Ora, tem sido exactamente esse o procedimento durante a fase descendente do petróleo, nem mais nem menos como de resto se foi aqui confirmando ao longo de muitas semanas numa acompanhamento semanal e onde, a certa altura, tomei a liberdade de começar a "prever" os valores aproximados para a semana seguinte que foram estando sempre bastante próximos dos correctos.

Obviamente comparar a frequência das actualizações não chega pelo que teremos de comparar as amplitudes das actualizações. Quando comparamos o preço dos combustíveis refinados como a Gasolina ou o Gasóleo com o Crude ou o Brent, convém notar que se trata sempre de uma aproximação. Estes combustíveis são derivados do petróleo, apenas alguns dos seus produtos finais (embora dos mais importantes) e seguem curvas de preço próprias. Como é óbvio existe uma relação e essa relação é até por sinal bastante forte, mas obviamente não é perfeita e ainda mais importante, seja para subir seja para descer, as variações não se reflectem a 100% no preço final dos combustíveis pois existem componentes do preço (custos) que não acompanham a evolução do petróleo. Portanto, as variações saiem atenuadas.


Combustíveis versus Crude

Comparemos então a progressão dos preços dos combustíveis face ao petróleo em perto de 2 anos:

Imagem

Existe uma notável divergência do preço entre a Gasolina e o Gasóleo em virtude do fenómeno que dá pelo nome de "dieselização", a crescente percentagem de automóveis a Diesel nas estradas (a este propósito convém recordar que um barril de petróleo produz aproximadamente apenas metade de gasóleo do que produz de gasolina). Por essa razão, acrescentou-se um valor médio para os dois combustíveis permitindo uma comparação global dos preços mais clara, pois em termos gerais a gasolina está a embaratecer e o gasóleo a encarecer.

Como podemos verificar, à parte de pequenas e temporais divergências, a correlação de preços é bastante elevada e os preços actuais são perfeitamente comparáveis com os preços passados para os respectivos preços do petróleo. Não existe portanto um desnivelamento do preço com tendência a encarecer como é percepcionado pela opinião pública, pelo menos quando avaliados no seu conjunto.

No gráfico seguinte compara-se unicamente a média dos dois combustíveis com o preço do petroleo (em euros) tendo a escala sido ajustada verticalmente por forma a que os gráficos ficassem sobrepostos (a relação é de 2/3) e podemos assim avaliar quer a manutenção dessa relação quer os tempos de resposta às variações do crude em diferentes fases de mercado:

Imagem

Quanto ao encarecimento do gasóleo, mais adiante comparamos com a evolução do preço do gasóleo em Espanha e na Europa para assim verificarmos se este fenómeno é nacional ou global.

É importar sublinhar que se verifica uma correlação nos preços mas obviamente, seja para subir seja para descer, o preço base dos combustíveis não varia na mesma proporção do petróleo (nem tão pouco dos combustíveis já refinados) uma vez que até ao fim do processo, isto é, até abastecer um automóvel, existem custos fixos (por exemplo, com pessoal) ou praticamente fixos (como os custos de transporte) que não acompanham nem pouco mais ou menos a evolução do preço do petróleo. A verdadeira relação, na prática, é de aproximadamente 2/3 para a média dos dois combustíveis (ver gráfico anterior).

Com elevada frequência encontramos pseudo-análises comparativas de preços que inferem que os preços não estão correctos porque não decairam na mesma proporção do petróleo ou mesmo dos refinados nos mercados internacionais. Isto é um absurdo, porque não é suposto cairem na mesma proporção. Nem tão pouco subiram na mesma proporção quer como mostra o gráfico quer como adiante demosntraremos categoricamente para um prazo ainda mais alargado.


Gasolina versus Futuros Gasolina

Como aproximação ao preço da gasolina à saída da refinaria temos os Futuros da Gasolina cotados no NYMEX por exemplo. É portanto extremamente pertinente verificar se as divergências que se notam na comparação gasolina versus crude se verificam também quando comparamos o preço da gasolina nos postos de venda com o preço da gasolina nos mercados internacionais.

Imagem

O quadro compara o preço de venda dos combustíveis em Portugal com o valor dos Futuros da Gasolina cotados no NYMEX (média bi-semanal e convertida em euros). É bem evidente que a correlação é ainda maior, praticamente perfeita e explicando algumas das divergências mais notáveis na comparação directa com o Crude.

O que atrás se disse para o petróleo é válido para os combustíveis já refinados, uma vez que até chegarem aos veículos os combustíveis vão gerar uma série de custos praticamente fixos.



Como comparam os preços actuais e passados com o petróleo a valores semelhantes?


Podemos ainda efectuar o exercício (pontual) de comparar o preço dos combustíveis hoje com o preço dos combustíveis no passado para momentos em que o petróleo se encontrava a valores semelhantes aos actuais:

Data | Gasolina | Gasóleo | (Média) | Crude

20-10-06 | 0.447 | 0.493 | (0.470) | 46.88

05-01-07 | 0.467 | 0.490 | (0.478) | 46.61

16-03-07 | 0.472 | 0.485 | (0.478) | 46.42

20-04-07 | 0.510 | 0.508 | (0.509) | 46.61

25-05-07 | 0.553 | 0.509 | (0.531) | 46.82

18-11-08 | 0.416 | 0.569 | (0.492) | 46.60

______________________________________

Data | Gasolina | Gasóleo | (Média) | Crude

19-01-07 | 0.429 | 0.467 | (0.448) | 41.96

26-11-08 | 0.375 | 0.535 | (0.455) | 42.42




Todos os valores se encontram em euros. O valor entre parentisis é a média do preço entre a gasolina e o gasóleo. O que se verifica é que os valores actuais são comparáveis aos de 2006/2007 quando o petróleo se encontrava em níveis semelhantes, logo o suposto encarecimento não existe desde que se entre em linha de conta com o lag, o cambio e se efectue uma média de preços para a gasolina e o gasóleo.



Como têm evoluído as Margens entre os Refinados e o PVP?


Podemos estimar a evolução da margem de lucro dos combustíveis na Distribuição e Retalho por comparação com as Cotações Internacionais dos Combustíveis Refinados, nomeadamente as Cotações ARA:


Imagem


À parte de um ligeiro aumento da margem (estamos a falar de 1~2 centimos acima da média e parte desse aumento pode ser descontado via inflacção), a evolução das margens é bastante consistente ao longo do tempo.

Esta é uma estimativa muito aproximada das margens reais: o cambio é calculado numa base diária e desde Agosto o preço que estou a considerar é o preço GALP (faço isto por duas razões: primeiro, porque permite-me actualizar - e até antecipar - os preços muito mais em cima do acontecimento em detrimento de a aguardar pelos preços disponibilizados pela DGEG; segundo porque quem tem estado mais em xeque na opinião pública é claramente a GALP e de resto os restantes preços seguem de forma muito aproximada os preços GALP). De resto, essa é até uma das "acusações", que os preços praticamente não diferem...

Isto pode introduzir pequenos desvios mas são praticamente insignificantes.

Uma última nota: de acordo com o relatório da AdC e com o que eu já aqui tinha constatado neste mesmo tópico, utilizei um lag de duas semanas para 2007 e um lag de uma semana para 2008.

Naturalmente, as diversas análises que têm vindo a público com enorme projecção mediática e que apontam para aumentos da margem da ordem dos 10 centimos e até superior desde o Verão (e que caíriam algures no topo da escala no gráfico apresentado) estão totalmente erradas!



Como comparam os preços base em Portugal e em Espanha?


Comparar o preço com a matéria-prima não chegará: será também pertinente verificar como evoluiram os preços nos nossos países vizinhos, o que é feito neste e no ponto seguinte. Neste primeiro ponto comparamos a evolução dos preços com o nosso vizinho mais próximo, a Espanha:


Imagem

Este quadro é especialmente útil, não só para verificar que grosso modo os preços em Portugal antes dos impostos seguem semelhantes aos de outros países, mas também para verificar (tal como o quadro abaixo do ponto seguinte) que o fenómeno de encarecimento do Gasóleo é perfeitamente global.



A Evolução dos Impostos em Portugal e na Europa


Uma análise dos preços não estaria completa sem incluir a análise de uma componente tão importante no preço final quanto a carga fiscal: valores aproximados, cerca de 55% do preço no caso da gasolina e cerca de 45% do preço no caso do gasóleo são impostos, sendo ainda a maior parcela devida a uma componente fixa (normalmente actualizada anualmente em função da inflacção) - o ISP (imposto sobre produtos petrolíferos).

Nos dois quadros que se seguem podemos verificar qual foi o tipo de evolução que seguiu o ISP em Portugal e na Europa dos 15, quer para a Gasolina quer para o Gasóleo bem como a evolução do preço base dos combustíveis no mesmo período:

Gasolina

....................IMPOSTO ISP..................PETROLÍFERAS

2004: ..........0.52 vs 0.53....................0.38 vs 0.36
2005: ..........0.53 vs 0.53....................0.41 vs 0.42
2006: ..........0.56 vs 0.53....................0.55 vs 0.53
2007: ..........0.58 vs 0.54....................0.55 vs 0.53
2008: ..........0.58 vs 0.54....................0.65 vs 0.64

Aumento .......11% vs 3%....................71% vs 78%


Gasóleo

....................IMPOSTO ISP..................PETROLÍFERAS

2004: ..........0.31 vs 0.37....................0.35 vs 0.34
2005: ..........0.31 vs 0.37....................0.45 vs 0.47
2006: ..........0.34 vs 0.38....................0.54 vs 0.54
2007: ..........0.36 vs 0.39....................0.52 vs 0.51
2008: ..........0.36 vs 0.39....................0.80 vs 0.79

Aumento .......18% vs 4%..................129% vs 132%

Evolução do ISP em Portugal e na Europa dos 15. Valor em eur/litro, arredondado à décima. Preços na Bomba antes dos Impostos tirados no mês de Junho de cada ano. Fonte de todos os dados: Direcção Geral de Energia e Geologia.

Nesta comparação não está incluído o IVA que é um imposto genérico, não específico dos combustíveis e que se aplica sobre o Preço Base mais ISP.

Preço_Final = ( Preço_Base + ISP ) x IVA

Actualmente o IVA está em 20% (até Julho passado era de 21%) sendo a média europeia um pouco abaixo dos 20% (especial atenção para Espanha onde é de 16%)%. Vale a pena sublinhar que no prazo de 4 anos em questão na tabela acima o crude aumentou 160%.

Mais uma vez sublinhamos que o preço dos combustíveis sobe/desce menos do que o preço do petroleo dado que existem componentes do preço que não variam na mesma proporção nem seguem as mesmas tendências.

Em resumo: nos últimos 4 anos os impostos sobre os combustíveis cresceram significativamente mais em Portugal do que na Europa. Os combustíveis são ligeiramente mais caros em Portugal, quando em comparação com a média europeia (poderá explicar-se eventualmente por custos maiores de transporte num país periférico como o nosso) mas mantiveram contudo a relação sensivelmente constante, não se verificando em termos comparativos um encarecimento notável.



Uma questão de Percepção

A génese do mito tem por base por certo factores como memória selectiva (distorção dos factos entre subidas e descidas e como foram memorizados) e a utilização de referências próximas dos preços sem a devida consideração dos factores relevantes (cambio, lag, impostos, etc).

Por um lado, durante vários anos os preços foram subindo sem que os consumidores tomassem a devida atenção à forma como realmente subiam, nem tão pouco os média. Apenas subiam e quando se trata de subidas, qualquer subida "é sempre enorme e rápida". Quando a tendência inverteu, todas as descidas passam a ser "reduzidas e tardias".

Por outro lado, temos como país vizinho a Espanha onde os combustíveis apresentam preços abaixo da média europeia graças a uma carga fiscal mais reduzida. Desde o IVA (16%) ao ISP quer para o Gasóleo quer para a Gasolina, a carga fiscal em Espanha sobre os combustíveis é francamente inferior à nacional agravando a percepção de preços "altos" em Portugal.

A percepção pública do comportamento dos preços acabou ainda por ser amplificada por uma série de entidades, que com recurso a análises enviezadas ou francamente incompletas/desadequadas, alimentaram o mito até à exaustão. Por sistema, todas as análises veículadas nos média que tenha tido conhecimento "esquecem" pelo menos um dos factores atrás referidos, sendo que por vezes "esquecem" vários. A ajudar, desde há cerca de um ano atrás que correm e-mails em cadeia (posteriormente reproduzidos em foruns e blogs) com valores passados totalmente incorrectos do petróleo, que o utilizador comum não vai confirmar.

Em resumo: o público está já de si receptivo a considerar que "algo de anormal" se passa nos preços, apesar de não realizar uma análise cuidada, comparando registos e desmontando o preço nas suas componentes. Tende a acreditar naturalmente que "os preços sobem mais do que descem" e que os preços "sobem mais depressa do que descem". Como se não bastasse, não faltam factores adicionais como os atrás referidos a consolidar um mito com pés-de-barro.



Conclusão

Os preços dos combustíveis em Portugal seguem os preços da matéria-prima e seguem os preços dos combustíveis nos restantes países Europeus.

Os preços dos combustíveis antes dos impostos são ligeiramente superiores à média europeia, excesso de preço que se tem mantido sensivelmente constante ao longo do tempo não sendo recente.

A carga fiscal sobre os combustíveis tem nos últimos anos crescido mais em Portugal do que a média europeia.

Não se verifica uma prática significativamente diferente nas actualizações dos preços durante as descidas recentes do petróleo daquela que se verificou durante a fase de alta.






Fontes dos Dados

Para esta análise foram utilizadas diversas fontes: desde o portal da Direcção Geral de Energia e Geologia (http://www.dgge.pt), o Portal da Energia da União Europeia (http://ec.europa.eu/energy), o site governamental espanhol para os combustíveis (http://oficinavirtual.mityc.es/carburantes/index.aspx), históricos do crosse cambial eur-usd, históricos dos Futuros da Gasolina cotados no NYMEX e preços de referência da GALP conforme disponibilizados nos média (desde Agosto/2008). Para os valores da matéria prima, nas comparações mais recentes, foram consideradas médias semanais.



Tratamento dos Dados

Todos os valores cujos originais estão cotados em dolars são convertidos em euros tendo em conta o cambio eur-usd nas respectivas datas. Nas comparações entre matérias primas e produtos de venda ao publico, é aplicado um lag. Conforme os casos foram utilizados lags de 1 semana, 2 semanas e médias de 1 e 2 semanas conforme o lag que apresentasse a melhor correlação sendo que, obviamente, para cada caso o respectivo lag é aplicado a todo o período em análise. A dedução de impostos tem por base os valores respectivos nas respectivas datas e cujos valores podem ser confirmados quer no Portal da Energia da União Europeia quer no site da Direcção Geral de Energia e Geologia.



Segue o post original do tópico:


A GALP realizou 3 descidas nas últimas 3 semanas (uma descida por semana): dias 23 de Julho, 29 de Julho e 5 de Agosto.


Podemos recordar este tópico de Maio mais uma vez, para verificar que em 20 semanas a GALP tinha realizado 18 subidas (ou seja, aproximadamente uma subida por semana em média).

Portanto, o ritmo (frequência) das subidas e das descidas é perfeitamente semelhante e o mito de que as subidas se faziam "ao minuto" e que as descidas eram mais espaçadas não passa disso mesmo, um flagrante mito. A análise fria e cruel dos números mostra algo bem diferente!




Mas se de frequência estamos falados (e de que maneira), falemos da amplitude das subidas e das descidas. O outro mito...

No gráfico anexo do crude temos uma linha que marca o valor de referência do crude tomando em consideração um delay mínimo de uma semana. A linha começa com o valor correspondente ao primeiro preço da tabela abaixo (29 de Abril e termina com valor correspondente ao último preço da tabela, 5 de Agosto).

............. 29/04. 14/05 ...... 23/07. 29/07. 05/08

Gasolina 1.431 1.479 1.523 1.503 1.473 1.468
Gasoleo. 1.299 1.369 1.447 1.433 1.393 1.368

Vemos portanto, que tomando um delay mínimo da ordem de uma semana, os preços de referência do crude estão ainda acima dos preços para a actualização a 29 de Abril (o primeiro preço da tabela), pelo que é de esperar que os combustíveis estejam ainda ligeiramente mais caros.


Podemos ainda verificar que desde essa data aos máximos do crude a gasolina subiu 10 centimos até atingir o seu máximo de 1.53 euros. Desde os máximos a gasolina corrigiu 7 centimos então, o que está em linha com as respectivas variações do crude (116->145->125).

No caso do gasóleo há um pequeno desvio, ainda que nada de de terrivelmente flagrante mas é sabido que a relação do gasoleo e da gasolina não tem sido perfeitamente linear com prejuízo para aquele primeiro cujo preço tem tendido a aumentar nos mercados internacionais. Nada que diga respeito a Portugal ou à GALP em particular, é uma tendência geral do mercado e que já dura de resto há varios anos.




Conclusão:

1) A frequência com que se verificavam as subidas dos combustíveis durante a escalada do crude é semelhante à frequência com que os preços têm sido actualizados durante a correcção do crude;

2) A relação das amplitudes das descidas e das subidas são semelhantes nos combustíveis e no crude, portanto as gasolineiras não estão a aplicar uma regra diferente para as descidas daquela que aplicaram para as subidas.


Estas são as duas reclamações que surgem com elevada frequência. Contudo, nenhuma delas reflecte a realidade dos factos e dos números. É apenas mera percepção (distorcida) que deriva do quanto custa largar tanto euro na bomba...

E noutros casos (não sejamos ingénuos) existem também outros motivos por detrás dessa atitude crítica como por exemplo motivações políticas.



Nota: Neste período de vários meses em análise o cambio EURUSD tem-se mantido relativamente estável, a oscilar em torno dos 1.56 e por uma questão de simplificação, ignorei esse factor. De notar ainda que na tabela não estão incluídas todas as actualizações excepto as 3 últimas.
Anexos
Crude-galp.png
Crude-galp.png (13.38 KiB) Visualizado 64564 vezes
Editado pela última vez por MarcoAntonio em 3/12/2008 19:40, num total de 15 vezes.
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