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Caldeirão da Bolsa

Preços dos alimentos / Ética dos especuladores em bolsa

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por karnuss » 9/5/2008 14:28

Leis do mercado (oferta e procura), caro trial... Se você for um agricultor em África, e não conseguir vender os seus produtos no mercado porque tem de competir com produtos agrícolas excedentários europeus e norte-americanos a custo zero ou próximo disso, que incentivo terá você para se dedicar à agricultura?

Nunca mais me esquecerei de uma frase de um agricultor Africano, num documentário da SIC-N e que era qualquer coisa assim: "A Europa terá a breve prazo de fazer uma opção: ou importa os nossos produtos e nos deixa competir com eles, ou nos importa a nós".
 
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por trial » 9/5/2008 14:24

Fica bem condenar os ocidentais de todo o mal que há neste mundo ‘é politicamente correcto e milhares de activista anti-ocidentais agradecem.

Há algo que nenhum anti-ocidental me consegui explicar .
Havendo terrenos agricultas disponíveis mão de obra abundante e barata , porque razão a agricultura em Africa não é hoje um caso de sucesso.



karnuss Escreveu:O que não invalida o facto de ser uma verdadeira catástrofe a existência da PAC e barreiras alfandegárias na UE e outras políticas semelhantes nos EUA, que acabam por "invadir" os mercados de países em desenvolvimento com produtos excedentários e altamente subsidiados ao preço da uva mijona, aniquilando qualquer veleidade dos produtores locais em poder rentabilizar os frutos do seu trabalho, e provocando desastres como aquele a que se assistiu no Haiti...
 
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por karnuss » 9/5/2008 13:26

O que não invalida o facto de ser uma verdadeira catástrofe a existência da PAC e barreiras alfandegárias na UE e outras políticas semelhantes nos EUA, que acabam por "invadir" os mercados de países em desenvolvimento com produtos excedentários e altamente subsidiados ao preço da uva mijona, aniquilando qualquer veleidade dos produtores locais em poder rentabilizar os frutos do seu trabalho, e provocando desastres como aquele a que se assistiu no Haiti...
 
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por karnuss » 9/5/2008 12:22

Caro camisa, a invasão de produtos mais baratos provenientes do 3º mundo só seria viável se os preços dos combustíveis não estivessem a aumentar continuamente, devido aso efeitos do PO... Chegará uma altura em que pura e simplesmente não será viável economicamente transportar os alimentos de uma ponta do globo para a outra, sem ter qualquer tipo de produção local.

Citando Hubert Sauper, "É incrível como seja lá onde for que sejam descobertas matérias-primas os habitantes locais morram na miséria, os seus filhos se tornem soldados e as suas filhas prostitutas"
 
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por Camisa Roxa » 7/5/2008 15:56

A big round of applause
Arquivado como: Comentário, Economia, Política, União Europeia — João Luís Pinto @ 6:49 pm

Article 39 1. The common agricultural policy shall have as its objectives:

(a) to increase agricultural productivity by developing technical progress and by ensuring the rational development of agricultural production and the optimum utilisation of the factors of production, particularly labour;

(b) to ensure thereby a fair standard of living for the agricultural population, particularly by the increasing of the individual earnings of persons engaged in agriculture;

(c) to stabilise markets;

(d) to guarantee regular supplies; and

(e) to ensure reasonable prices in supplies to consumers.


2. In working out the common agricultural policy and the special methods which it may involve, due account shall be taken of:

(a) the particular character of agricultural activities, arising from the social structure of agriculture and from structural and natural disparities between the various agricultural regions;

(b) the need to make the appropriate adjustments gradually; and

(c) the fact that in Member States agriculture constitutes a sector which is closely linked with the economy as a whole.

Tratado de Roma (com negritos meus).

A megalomania que se conhece como PAC - Política Agrícola Comum - tem origens que remontam à própria génese do que hoje conhecemos como União Europeia, aliás como está bem expresso no próprio Tratado de Roma citado acima.

Desde há mais de 50 anos temos tido todo um sector económico submetido a gestão essencialmente centralizada e planificada, com estabelecimento de subsídios e quotas, e de tarifas aduaneiras em relação ao fluxo extra-comunitário de produtos agrícolas.

Durante décadas esse monstro consumiu em torno de 60% de todo o orçamento comunitário e, apesar da sucessiva diminuição desse peso, este vai ainda ser de 32% no ano de 2013 (assistindo-se em contrapartida a um brutal aumento das despesas associadas ao desenvolvimento regional - que muitas vezes funcionam como mecanismos encapotados de apoio à agricultura).

Os avisos foram sendo mais que muitos: desde os cíclicos anúncios de “escassez de leite” ou de cereais (repercurtidos em anúncios catastróficos ligados ao preço do pão e aos seus sucessivos aumentos). Mas a culpa, estranhamente, parece ser sistematicamente atirada para os mais diversos factores externos, consumando-se em grande parte o ditado do “pior cego”.

Entretanto, a planificação continua e os exemplos de que nada se aprendeu continuam.

É portanto particularmente revelador todo o alarme em curso relativamente à anunciada escassez de alimentos e do retorno da fome ao espaço europeu. Depois de 50 anos de planificação, de milhares de milhões de euros despendidos na implementação das suas resoluções, aquilo que as cabeças pensantes da União têm para apresentar como resultado dessa política é o espectro do regresso ao espaço europeu de um flagelo que há muito se esperava arredado das suas fronteiras.

Mas para os eurófilos, tudo vai bem. Qualquer noção de accountability em relação a este processo é rapidamente descartada em nome da nova solução, ou do apontar baterias para os responsáveis certos. Já se vai ouvindo que a culpa vai desde a Globalização e a “ausência de regras”, aos biocombustíveis (que parece que subitamente passaram a ser feitos de arroz), até à especulação virada para a transferência de capitais do “escaldado” mercado financeiro para o de commodities.

Mais uma vez teima-se em ignorar o óbvio, e como de costume a culpa é no neoliberalismo, do capitalismo selvagem e da falta de intervenção e de regulação.

Pois.
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por Camisa Roxa » 7/5/2008 13:38

Já agora, atenção às notícias sensacionalistas pois muitas vezes a realidade é outra; senão vejamos o real aumento do preço dos alimentos face ao apocalipse declarado pela imprensa:

Índice de Preços no Consumidor, Taxa de Variação Homóloga, Março de 2008

Total : 3,1%
Total excepto produtos alimentares não transformados : 3,5%
Produtos alimentares não transformados : 0,3%.


A culpa não é dos especuladores e a solução todos sabem qual é, mas é mais fácil culpar os outros para distrair das verdadeiras causas abstraindo-se assim os governos dos países desenvolvidos de corrigir as porcarias que têm vindo a fazer:


Não é preciso complicar muito nem criar task forces que se eternizariam à custa de todos. Bastaria:

* Extinguir a PAC e os subsídios à agricultura americana;
* Extinguir os subsídios públicos aos biocombustíveis;
* Acabar com as restrições aos organismos geneticamente modificados;
* Abrir por completo os mercados do ocidente aos produtos agrícolas do 3º Mundo;
* Abertura completa dos países do 3º Mundo ao investimento estrangeiro, permitindo deslocalizar para eles os agricultores europeus e americanos e todo o respectivo know-how.

Em pouco tempo, a oferta de produtos agrícolas multiplicar-se-ia, os preços baixariam e milhões de pessoas deixariam de morrer à fome.
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por Camisa Roxa » 7/5/2008 13:03

Já agora, sobre o Prós & Contras de 2ª(que não vi), o blogue Blasfémias compilou algumas pérolas que alguns convidados vomitaram e que me fazem suar só de pensar que o país está entregue a ignorantes desta estirpe.

Se não percebem nada de economia e de leis económicas mais vale estarem caladinhos e não continuarem a mandar estas bojardas com ar de entendidos no assunto!


Onde é que está o nosso representante do leite esta noite?

O representante do leite orgulha-se por vender leite a preços baixos. Estranho negócio este. Não parece muito interessado em vender o seu produto a preços elevados. Parece mais interessado em subsídios e incentivos. Este é o 11º post sobre o Prós & Prós. Por esta altura o leitor já deve ter percebido que na agricultura o preço não funciona com um incentivo para o agricultor. O subsídio sim.

Um agricultor aceita o fim dos subsídios desde que os preços de mercado remunerem os agricultores. Não terá percebido que o problema levantado pelo programa de hoje é o dos preços de mercado elevados.

Ainda mais difícil é tentar compatibilizar os preços elevados dos produtos agrícolas no mercado com a urgente necessidade de subsidiar os agricultores. Suspeito que essa urgente necessidade ocorre apenas em três situações: quando os preços estão elevados, quando os preços estão baixos e quando os preços estão mais ou menos.

O grande desafio dos intervenientes do Prós & Prós é compatibilizar os subsídios à agricultura com a salvação dos famintos do terceiro mundo. Para isso é necessário fazer um triplo mortal empranchado com dupla pirueta e meia seguido de trés mortais à retaguarda.

Um senhor, com cara de ex-ministro da agricultura, refere-se agora a outro interveniente como o “representante do milho”.

Um senhor, que eu creio que é ministro, defende que a melhor resposta a um aumento de preços no mercado é um aumento de stocks.

Mais um. Este exige electricidade subsidiada. Não ouviu António Guterres. Estamos a atravessar uma crise energética e a sofrer os efeitos das alterações climáticas. Electricidade subsidiada estimula o desperdício de energia e as emissões de CO2.

Cada vez percebo menos. Está um novo interveniente a explicar que o problema é o dumping. Ah, e para responder ao aumento dos preços no mercado internacional defende que deve ser desviada produção para stock.

Está ali um senhor que tem a solução para um eventual aumento do preço da carne. Se ao menos os portugueses ignorassem a carne estrangeira. Parece que o preço da carne é elevado por causa de um excesso de oferta de carne estrangeira no mercado nacional.

Estou quase a perceber esta coisa da crise alimentar. A política agrícola comum e as políticas agrícolas dos EUA inundaram deliberadamente os mercados internacionais fazendo baixar os preços e levando os países do terceiro mundo à miséria. Depois desta fase, a falta de produção do terceiro mundo causou escassez nos mercados mundiais, a subida dos preços e a miséria no terceiro mundo.

Estão ali os representantes dos agricultores a explicar que a causa dos alto preços dos bens alimentares é dos baixos preços dos bens alimentares . A coisa funciona assim: os baixos preços dos bens alimentares causam redução da produção e a baixa de produção causa preços elevados. O que eu não percebo é porque é que os representantes dos agricultores estão zangados. Preços elevados é bom para os agricultores. Ah, e os preços elevados incentivam a produção.
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por Camisa Roxa » 7/5/2008 12:37

sim, por favor deixem as acusações pessoais para mensagens privadas e deixem o tópico fluir porque parece que muitas pessoas precisam de ser esclarecidas sobre os monstros dos especuladores responsáveis quiçá pelas derrotas do benfica esta época

«… the real cause of continually rising food prices is the printing of money by world governments. And the real cause of actual food shortages is the prevention of profitable global trade in food by the ill-advised policies of the governments of the very people who are starving. To the extent that any other reasons proposed contribute to a reduced supply more than temporarily, it is likely because governments prevent the market from working. To ignore these primary drivers of current world food shortages is either willfully to dismiss economic logic, or to be unaware of it.»
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por pedrom » 7/5/2008 12:30

JAM Escreveu:Antes de mais devo um pedido de desculpas ao Cromio por causa desta confusão. É tão complexa que até eu demorei a perceber o que se passou. :roll:

Ontem às 00.35 gravei um post citando o meu post do dia 3/5. Após gravar vi que o post não apareceu, fiz "back" no browser gravei o texto para o clipboard para voltar a postar. À segunda o post já ficou no tópico.

Só agora me apercebi que afinal ontem na primeira tentativa não postei uma mensagem nova... escrevi na mensagem onde fui buscar a citação :shock: Por isso é que essa mensagem do dia 3/5 às 23.28 (ou 4/5 às 00.28 quando o relógio se passa) não aperece com o conteudo original mas sim com o meu post de ontem!

A mensagem original era um post de 7 pontos a uma mensagem do Quico... por lapso escrevi por cima :?

Claro que o que estava lá escrito foi-se, nem eu tenho isso guardado.

Espero que tenham ficado esclarecidos e desculpem lá esta confusão toda.


Idependente do que se defende e da razão que se tem, é com atitudes como esta que se constroi um forum de excelência!!!
De que vale a pena correr quando estamos na estrada errada?
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por Sei lá » 7/5/2008 10:41

Antes de mais devo um pedido de desculpas ao Cromio por causa desta confusão. É tão complexa que até eu demorei a perceber o que se passou. :roll:

Ontem às 00.35 gravei um post citando o meu post do dia 3/5. Após gravar vi que o post não apareceu, fiz "back" no browser gravei o texto para o clipboard para voltar a postar. À segunda o post já ficou no tópico.

Só agora me apercebi que afinal ontem na primeira tentativa não postei uma mensagem nova... escrevi na mensagem onde fui buscar a citação :shock: Por isso é que essa mensagem do dia 3/5 às 23.28 (ou 4/5 às 00.28 quando o relógio se passa) não aperece com o conteudo original mas sim com o meu post de ontem!

A mensagem original era um post de 7 pontos a uma mensagem do Quico... por lapso escrevi por cima :?

Claro que o que estava lá escrito foi-se, nem eu tenho isso guardado.

Espero que tenham ficado esclarecidos e desculpem lá esta confusão toda.
O mercado cega... nem uma ida a Cuba resolve. Cuba?!? :shock: Phone-ix!! Eles são socialistas pá!!!!
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por Elias » 7/5/2008 10:21

JAM Escreveu:Crómio

Agradeço que me expliques onde foste descobrir essa mentira.

Já andas aqui há tempo suficiente para perceber que os posts editados ficam com o registo da data e hora de edição. Penso que só os dos admins é que não deixam esse registo.


Não deixa de ser curioso que tenhas editado este post às 0h35 e tenhas colocado a tua resposta às 0h36.

Depois de ver isto, compreendi finalmente a tua assinatura: "tiveste um azar do caraças..." :twisted:
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por Crómio » 7/5/2008 10:19

EDIT: Da minha parte a discussão acabou.

Aqui:
Anexos
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Editado pela última vez por Crómio em 7/5/2008 10:24, num total de 2 vezes.
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por pedrom » 7/5/2008 10:00

JAM Escreveu:
Crómio Escreveu:JAM,

Que engraçado... editaste os posts onde te contradizes...


Crómio

Agradeço que me expliques onde foste descobrir essa mentira.

Já andas aqui há tempo suficiente para perceber que os posts editados ficam com o registo da data e hora de edição. Penso que só os dos admins é que não deixam esse registo.


Não sei o que estava escrito antes, nem me interessa, mas que editas-te um post neste tópico lá isso edistas-te!!!

Não vale é a pena estarem a chatear-se por isso, senão vamos a caminhar num tunel com o fim à vista: Um cadeado!!! :mrgreen:
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por Sei lá » 7/5/2008 9:36

Crómio Escreveu:JAM,

Que engraçado... editaste os posts onde te contradizes...


Crómio

Agradeço que me expliques onde foste descobrir essa mentira.

Já andas aqui há tempo suficiente para perceber que os posts editados ficam com o registo da data e hora de edição. Penso que só os dos admins é que não deixam esse registo.
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por Crómio » 7/5/2008 0:55

JAM,

Que engraçado... editaste os posts onde te contradizes...

Que engraçado... agora passaste a ser coerente, depois de editados os posts...

Que engraçado, não consegues editar a minha memória...

EDIT: eu disse mas nunca disse, conforme podem ver no dia em que disse... disse. No outro dia em que disse outra coisa... editei

Ai... mundo cruel... porque é que me perseguem...

Felizmente esta não podes editar...
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por Sei lá » 7/5/2008 0:36

Visto que me continuam a acusar-me de ser contra o mercado de futuros, vou colocar aqui algo que escrevi a 3 de Maio:

4º Não é necessário ser um profundo conhecedor do mercado de futuros para se poder criticar a situação actual relativa ao disparo do preço dos cereais. Não me manifestei contra a existência de mercados de futuros. Também não propus medidas, porque além de ainda estarmos a discutir a profundidade ética do que se está a passar, não sou a pessoa adequada para falar em medidas dada o meu reduzido conhecimento do funcionamento dos mercados.


Espero que de uma vez por todas parem de escrever que eu sou contra o mercado de futuros. Pela 154587ª vez vou escrever que a especulação é uma das componentes que tem pressionado os preços que já se encontram fortemente pressionados.

Se não concordam comigo, estão no vosso direito, aliás isto nem teria "sumo" se tivéssemos todos a mesma opinião. Agora parem de escrever coisas sobre que eu não escrevi nem defendi.

Até a administradora recém chegada de férias leu coisas que eu não escrevi... :mrgreen:
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por pedrom » 7/5/2008 0:36

RandomWalk Escreveu:
pedrom Escreveu:Não acompanhei a discussão desde o inicio, mas aproveito para fazer a seguinte questã: se aqueles que são contra a especulação, tivessem a oportunidade de ganhar muito dinheiro com uma matéria prima, ou com um bem essencial qualquer o que fariam?

- Não fariam o negócio?
- Fariam o negócio e davam os lucros aos pobres?

Não me venham com histórias!!!!


Eu não faria o negócio.
O bem estar dos mais pobres é demasiado caro á minha consciência (e de muitos mais).

A questão ética é precisamente essa.


Ganhar dinheiro a fazer bons negócios é falta de ética???

Seja o que for que se venda o preço é sempre ditado entre a oferta e a procura!!!

Até pode ser que alguns dos nossos agricultores que compraram jipes com os dinheiro que vinha para a agricultura, os vendam agora para comprar milho e trigo e que os campos possam ser novamente cultivados!!!

Conheço milhares e milhares de hectares de terras em pousio por não serem "rentáveis", mas parece que o futuro está na agricultura!!! :mrgreen:
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por Crómio » 6/5/2008 20:15

JAM,

Antes de mais, obrigado por teres respondido às questões.

Continuo sem saber porque razão afirmas que sou simplesmente do contra.

Porque és contra estruturas que basicamente desconheces e nunca conseguirás argumentos validos acerca de algo que desconheces.

THEN
És do contra porque sim.


Aliás, duvido que tivesses feito as tuas afirmações se soubesses o que sabes hoje.

Graças a este pessoal que tem mesmo muita paciência e saber, podemos todos incluindo eu e tu, perceber melhor a gota de água que o nosso conhecimento é dos mercados.

No fundo até te agradeço a teimosia, pois foi semente de maior esclarecimento.

Agora tu lá sabes... continuas a teimar que tens razão e que são todos uns maus que andam a matar as criancinhas à fome para fazerem uns trocos, ou admites que o mundo não é a preto e branco e afinal as coisas não eram assim tão pretas como inicialmente julgavas.

Afinal, se descobrires que existem tons de cinza e "qui save" algumas côres, talvez tenhas dado um passo em frente na aventura do conhecimento.


Thunder,
Desconhecia este texto do Fogueiro, como de costume muito elucidativo e enriquecedor.
Obrigado a ti e claro ao Grande Fogueiro.

Um abraço a todos
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por Pata-Hari » 6/5/2008 20:13

hehe, voltei mas ao fim do segundo dia de trabalho já me comecei a esquecer das férias maravilhosassssss, a perder o entusiasmo e o bom humor de agora ser uma mergulhadora encartada :D:D buá!

Sabes o que é engraçado? é que se poderia estar a discutir o não se querer investir em instrumentos que sejam passiveis de valorizar com a desgraça dos outros (neste caso com o aumento da fome no mundo no caso de alongar preço de cereais) mas não, discute-se o mal de existirem os instrumentos e a razão pela qual efectivamente existem.
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por Thunder » 6/5/2008 20:00

Pata-Hari Escreveu:Thunder, eu tinha-me lembrado disso mas não tinha ainda procurado :). Bom trabalho!

E, olhando para o movimento que o trigo está a fazer, se calhar já se está a provar o que dizia o fogueiro: que quem especula eventualmente consegue mesmo perder dinheiro.


Olá Pata, seja bem-vinda das merecidas férias! :P

As lições do mestre fogueiro são muito valiosas... como é que eu poderia ter esquecido? :P :wink: deu um bocadinho de trabalho a procurar, mas acabei por encontrar :mrgreen:

Beijinhos e espero que tenhas voltado com energia pra por em ordem os meninos mal comportados do caldeirão (eu incluído! :mrgreen: )
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por Pata-Hari » 6/5/2008 19:48

Thunder, eu tinha-me lembrado disso mas não tinha ainda procurado :). Bom trabalho!

E, olhando para o movimento que o trigo está a fazer, se calhar já se está a provar o que dizia o fogueiro: que quem especula eventualmente consegue mesmo perder dinheiro.
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por RandomWalk » 6/5/2008 18:29

pedrom Escreveu:Não acompanhei a discussão desde o inicio, mas aproveito para fazer a seguinte questã: se aqueles que são contra a especulação, tivessem a oportunidade de ganhar muito dinheiro com uma matéria prima, ou com um bem essencial qualquer o que fariam?

- Não fariam o negócio?
- Fariam o negócio e davam os lucros aos pobres?

Não me venham com histórias!!!!


Eu não faria o negócio.
O bem estar dos mais pobres é demasiado caro á minha consciência (e de muitos mais).

A questão ética é precisamente essa.
Editado pela última vez por RandomWalk em 6/5/2008 18:33, num total de 1 vez.
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por Madeirense » 6/5/2008 18:06

Acredito que investidores individuais não possam por si só manipular o mercado, mas nações poderosas podem e fazem-no.
É só promover uma guerrazinha no Iraque (EUA), pagar aos agricultores para não produzirem (EUA e EU) etc etc.
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por Thunder » 6/5/2008 18:05

Já agora, deixo um gráfico interessante:


Source: http://www.oftwominds.com/blogoct07/wheat.html

Colocado por um forista chamado hermes num forum "concorrente" :mrgreen: ... o seu ao seu dono :wink:
Anexos
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por Thunder » 6/5/2008 17:46

Olá a todos 8-)

Fui buscar estes excelentes posts do colega fogueiro que acho que tem bastante importância para este tópico:

Fogueiro Escreveu:
2.1.2006

Durante vários anos trabalhei numa das maiores Tradings europeias tendo a meu cargo físicos e futuros de milho e complexo de soja (grão, farinha e óleo).

Simplificando, as coisas funcionam assim: está-se diariamente em contacto com os clientes (no meu caso, fábricas de rações e de óleo) negociando entregas entre 6 meses e um ano. Quando se fecha uma venda compra-se imediatamente o equivalente em contratos de futuros e está feita a cobertura.

O equivalente? Não, e aqui está porque as Tradings podem vender ao custo ou mesmo abaixo, e ganhar dinheiro.

É que vamos mantendo contacto com os fornecedores (cooperativas, grandes agricultores) e auscultando as previsões de colheitas, stocks em armazém, etc etc.

Por outro lado a negociação com os clientes dá-nos a percepção da pressão compradora.
É aqui que entra a especulação – toda esta informação diariamente actualizada indica-nos a direcção do mercado no curto prazo.

Se a tendência é de queda fazemos a cobertura a 80% e esperamos que caia para comprar os restantes 20%. Se é de subida, cobrimos a 120% e aguardamos para vender os 20% sobrantes. Como temos no mínimo seis meses para “brincar” ganha-se tanto mais quanto maior for a
volatilidade que ocorrer.

Adicionalmente, no complexo de soja, arbitram-se os futuros em grão, farinha e óleo – exemplo: se a venda é de grão mas (de acordo com as formulas de transformação) os futuros da farinha estão baratos por ineficiência do mercado, faz-se a cobertura na farinha e também aqui se ganha quando os preços voltarem à normalidade, vendendo os futuros da farinha e comprando os de grão.

Só se começa a desfazer a cobertura dois ou três meses antes da entrega – à medida que compramos aos fornecedores vamos vendendo os contratos equivalentes à quantidade comprada. Se o mercado subiu ganhamos nos futuros o que perdemos no físico e vice-versa.
Mas o importante é que tivemos 6 meses para especular e arbitrar. Sempre com informação permanente do Mercado Real – o dos físicos.

Muitos clientes, por mais que lhes explicasse, não conseguíam perceber como é que as Tradings conseguíam vender mais barato do que pagavam ao produtor!

Quando deixei a Trading e voltei para Portugal, muitos amigos portugueses estranharam nunca mais ter feito commodities, depois de ter negociado milhões de toneladas. Mas aqueles com quem trabalhava diariamente (operadores de pit, em Chicago) perceberam perfeitamente. Sem acesso à informação a que estava habituado, seria como conduzir à noite um carro sem faróis nem travões…

Conheci vários milionários, a começar pelo meu patrão, que fizeram enormes fortunas em commodities. Mas nenhum apenas a especular, sem ligação aos físicos. Só a especular, conheço vários que se arruinaram. Porque lutaram contra os que têm uma vantagem competitiva incontornável.
Fogueiro





Fogueiro Escreveu:Trading em Commodities

Os primeiros Brokers e Traders

Já com o CBOT (1848) a dar segurança às transacções, passou-se dos contratos (lembrete: 1 contrato = 1 barcaça = 5.000 baldes) para entrega quando chegassem as barcaças, poucas semanas depois, para contratos a maiores prazos (1851) que foram sendo alargados, e já há muito tempo vão até 3 anos.

Para verem os contratos de trigo actuais (ultima entrega em Julho de 2010):

http://www.cbot.com/cbot/pub/page/0,3181,1322,00.html

Os agricultores viram então uma forma de financiar os seus investimentos em mais terras, alfaias, sementes – e os moageiros uma forma de fixar o preço da mais importante componente do seu custeio: a matéria prima.

Mas, logo que começaram a fazerem-se as transacções no CBOT viu-se que era preciso por ordem nas discussões entre vendedores e compradores, e foi limitado o acesso ao espaço onde se negociava (Floor) a pessoas mais preparadas para isso (os Brokers) que os agricultores e moageiros.

Por outro lado a quantidade que um agricultor tinha para vender ou excedia ou era insuficiente para um só moageiro.

Surgem então intermediários (Traders) que actuam como “principais”, isto é, enquanto os brokers compram e vendem para outros, os traders compram, assumindo o risco, para depois vender.

Simplesmente, muito depressa, esta ordem inverteu-se.

Com a existência de contratos futuros, os traders perceberam que o melhor era vender primeiro o físico (trigo) mas só para os meses em que há contratos, e, simultaneamente, comprar contratos futuros para a data de entrega.

Desta forma põem-se a salvo das variações do preço do trigo pois se este sobe ganham nos futuros o preço a mais que irão pagar pelo físico (neste exemplo, o grão de trigo).

Inversamente, se o preço desce, recuperam a perda dos futuros no preço inferior que pagam pelo físico.

Uma vez fechada a venda e esta coberta (hedged) o trader, que entretanto foi assumindo funções logísticas desde a origem até Chicago se vedeu FOB (Free On Bord) ou no destino final se vendeu CIF (Cost, Insurance and Freight) não precisa de comprar logo o físico desfazendo o hedge antes de tempo.

No próximo capítulo veremos como se tira vantagens da posse dos contratos de compra durante o período em que se mantém o hedge.

As Tradings foram crescendo e algumas possuem navios graneleiros, vagões de CF, frota de camiões e armazéns ou silos em zonas de compra e em portos de embarque.

Os contratos de compra podem não corresponder à quantidade que efectivamente se tem de entregar – se a informação que o trader tem aponta para variações de curto prazo nos preços: se vê que o preço vai cair, não compra logo todos os contratos para o full-hedge (under-hedging)– aguarda uma correcção e compra depois mais abaixo, até completar.
Inversamente, se prevê uma subida no preço do trigo, compra mais contratos (over-hedging) e, quando o preço subir vende o excesso de contratos.

É uma das decisões que distingue os bons traders dos outros e que, dados os valores em jogo, proporciona aos primeiros chorudos bónus anuais.

Evidentemente que estas decisões são tomadas com base num trabalho intenso de recolha de informações para o que é necessário cultivar muito boas relações pessoais com agricultores (hoje importantes sociedades agrícolas e cooperativas) e com os industriais, além de um profundo conhecimento da actividade (já falei do meu curso de meteorologia), e capacidade de integrar todos os imputs e concluir acertadamente. Ter uma memória numérica boa e cálculo mental espontâneo, ajuda muito.
Acompanhar a geopolítica, as tarifas alfandegárias, o money market para cobertura do risco cambial via swaps – e tudo o que tenha a ver com a oferta-procura do físico que estamos a transaccionar – é também necessário.

A seguir tratarei das arbitragens.

...


Estes posts mostram a real importância dos contratos de futuros. A estabilização financeira dos grandes produtores em caso de uma época agrícola abaixo das espectatívas (ou em caso de catástrofe). Todos nós beneficiamos disto.

Existirão especuladores a ganhar no meio disto tudo (situação actual) ? Aposto que sim, mas acho que não serão tantos quanto isso...

Reparem na frase do Fogueiro : "Mas nenhum apenas a especular, sem ligação aos físicos. Só a especular, conheço vários que se arruinaram. Porque lutaram contra os que têm uma vantagem competitiva incontornável"

E acho que esta frase tem todo o sentido. Pensar que especular sobre futuros são favas contadas e que lucros mirabolantes estão ao virar da esquina acho que é uma visão simplista sobre o problema. O que será neste momento dos especuladores que entraram longo no trigo aos 12,50/ 12,80 USD... estão a levar com um rombo de 35% na carteira ..... isto se não alavancaram.....
Logo a frase do fogueiro faz muito sentido.

Um abraço a todos :)
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