O Expresso online agora é pago?
11 mensagens
|Página 1 de 1
Obrigadissimo, Ulisses. Tal como o Nuno era exactamente o artigo que eu estava em pulgas para ler.... e para o PTC man, eu também prefiro o papel nas mãos, a qualidade fotográfica do papel... mas como não posso ter, a edição na net tem que servir.
Concordo totalmente com o Nuno. É uma enorme desilusão. Para quem se quer inspirar de um texto em inglês, faz um paste na lingua, e nem se dá ao trabalho de traduzir para poder exactamente fazer de forma mais livre quando se inspirar e não ficar preso aos termos usados. Mais, nos meios académicos o plágio é das piores coisinhas..... é falta de gravidade extrema que dá direito a expulsões de alunos nas universidades decentes. Ainda por cima os estados unidos são EXTREMAMENTE rigidos nisso. A batotice não é desporto nacional e é considerada execrável.
Mas pronto... sem desculpa, mas é da Clara Pinto Correia. Termino com estes 3 parágrafos que me reconquistam totalmente por auto- identificação, apesar de tudo.
"«A explosão do 'e-mail' é um regresso ao romantismo. As pessoas estão outra vez a escrever cartas».
No seu «mail» pessoal usa como logótipo uma passagem das Confissões de Santo Agostinho, em inglês: «Senhor, dai-me castidade e abstinência. Mas não ainda». Clara e o computador: um caso de amor, portanto. Uma dependência. Uma armadilha, como nos amores e noutras dependências... "
«É importante recordar às pessoas que o mundo não é a preto e branco, que as coisas não são sim ou não e que a vida e a alma humana são impossivelmente mais complexas».
Concordo totalmente com o Nuno. É uma enorme desilusão. Para quem se quer inspirar de um texto em inglês, faz um paste na lingua, e nem se dá ao trabalho de traduzir para poder exactamente fazer de forma mais livre quando se inspirar e não ficar preso aos termos usados. Mais, nos meios académicos o plágio é das piores coisinhas..... é falta de gravidade extrema que dá direito a expulsões de alunos nas universidades decentes. Ainda por cima os estados unidos são EXTREMAMENTE rigidos nisso. A batotice não é desporto nacional e é considerada execrável.
Mas pronto... sem desculpa, mas é da Clara Pinto Correia. Termino com estes 3 parágrafos que me reconquistam totalmente por auto- identificação, apesar de tudo.
"«A explosão do 'e-mail' é um regresso ao romantismo. As pessoas estão outra vez a escrever cartas».
No seu «mail» pessoal usa como logótipo uma passagem das Confissões de Santo Agostinho, em inglês: «Senhor, dai-me castidade e abstinência. Mas não ainda». Clara e o computador: um caso de amor, portanto. Uma dependência. Uma armadilha, como nos amores e noutras dependências... "
«É importante recordar às pessoas que o mundo não é a preto e branco, que as coisas não são sim ou não e que a vida e a alma humana são impossivelmente mais complexas».
obrigado Ulisses
De facto fiquei muito desiludido com a Clara Pinto Correia... foi mais ou menos uma queda de um mito... em especial por terem sido dois artigos seguidos... as razoes que ela da para um deles (filho doente, pouco tempo, viagem para os Estdos Unidos, pressao deitorial, ...) sao perfeitamente aceitaveis... ela disse
"Se eu, na noite fatídica das três crónicas, me tivesse apercebido de que o que restava da minha crónica original era a transcrição da peça da «New Yorker», teria escrito apenas «a este respeito fulano escreveu um texto notável na ‘New Yorker’», e posto o resto do texto entre aspas. Já fiz isso com outros textos, quando acho que são bons."
A minha principal critica e mesmo sobre este ponto... porque e que ela nao fez isso enquanto escrevia... se fez a cronica utilizando as suas palavras e tb ao do New Yorker (e nao new york times como eu tinha dito) devia ter citado o New Yorker, pois pensava desde o inicio em utilizar as palavras do New Yorker. E uma regra basica da investigacao cientifica... a partir do momento que nao se faz, induz o leitor a pensar que essas palavras sao suas...
Mas como a Clara Pinto Correia diz, toda a gente merece uma segunda oportunidade...
"Se eu, na noite fatídica das três crónicas, me tivesse apercebido de que o que restava da minha crónica original era a transcrição da peça da «New Yorker», teria escrito apenas «a este respeito fulano escreveu um texto notável na ‘New Yorker’», e posto o resto do texto entre aspas. Já fiz isso com outros textos, quando acho que são bons."
A minha principal critica e mesmo sobre este ponto... porque e que ela nao fez isso enquanto escrevia... se fez a cronica utilizando as suas palavras e tb ao do New Yorker (e nao new york times como eu tinha dito) devia ter citado o New Yorker, pois pensava desde o inicio em utilizar as palavras do New Yorker. E uma regra basica da investigacao cientifica... a partir do momento que nao se faz, induz o leitor a pensar que essas palavras sao suas...
Mas como a Clara Pinto Correia diz, toda a gente merece uma segunda oportunidade...
Pluricanal... não obrigado. Serviço péssimo e enganador!!!
Aqui fica a entrevista à Clara Pinto Correia, na última edição do Expresso:
"Copiei com carinho "
Clara Pinto Correia explica-se sobre o plágio de que é acusada e fala das reacções de amigos e inimigos. Reconhece o erro, mas diz que é um «fait-divers»
RUI OCHÔA
"Os factos são conhecidos: a revista «Visão» suspendeu no dia 5 de Fevereiro as crónicas que Clara Pinto Correia ali publicava, depois de detectar que uma delas, intitulada «O Castelo» (29/1/03), sobre o final do mandato do Presidente checo Vacláv Havel, era a cópia de um texto publicado na revista norte-americana «The New Yorker» em 6 de Janeiro. Posteriormente, uma nota da direcção da «Visão» dava conta de que também a derradeira crónica de Clara, «O Eixo do Mal» (6/2/03), «configurava um plágio, embora de menor dimensão», de outro texto da «New Yorker», de 13 de Janeiro.
Clara Pinto Correia, que passou a tempestade nos Estados Unidos, em afazeres profissionais, aceitou, mal regressou a Portugal, ser entrevistada sobre o sucedido. Admite ter cometido um erro «grave», embora só reconheça a cópia num dos textos; mas insurge-se contra «o circo de feras» à volta do caso. A entrevista foi feita por «mail», com as limitações daí resultantes — embora até acabe por ser um meio de comunicação em sintonia com o tema.
Afinal o que aconteceu com as suas crónicas? Copiou a «New Yorker» ou não?
Na crónica relativa ao Vacláv Havel, sim. Com muito amor e carinho.
Quando aconteceu o primeiro caso, disse que colou o outro texto para se inspirar e que se enganou nas partes a apagar no fim. Mas como é que as passagens da «New Yorker» aparecem num português perfeito?
A crónica «O Castelo»: a «New Yorker» traduzida na «Visão»
Ironicamente, tinha estado a escrever um texto sobre a desolação completa que reina neste momento na nossa vida pública, no Ocidente em geral e em Portugal em especial — o abandono de ideais e de ideias em favor do simplismo de todo e qualquer «fait-divers» que possa ser transformado em escândalo (aconteceu a mesma coisa nos Estados Unidos com o Trent Lott [líder do Partido Republicano no Senado, obrigado a demitir-se do cargo por ter elogiado um político segregacionista, N.R.], político por quem não tenho nenhuma simpatia, mas não deixo por isso de achar sinistro o processo que levou à sua demissão). Neste contexto, e com o Havel quase a abandonar o governo, era bom recordar a ocasião e a figura para nos lembrarmos de que há sempre alguém que pode dar-nos esperança. O artigo da «New Yorker» a este respeito era magnífico, e resolvi usá-lo como base de trabalho. Copiei as partes que achei relevantes com muito cuidado (o português estar «perfeito» só revela que tenho muito treino a fazer traduções inglês-português e português-inglês, o mínimo que se espera de quem viveu dez anos na América, com um americano), para depois, na revisão, utilizar como notas. Quando cheguei ao fim e me preparei para o «editing», a crónica estava com o dobro do tamanho máximo permitido. Aqui entra a parte da falibilidade humana, que partilho com qualquer mortal: era tarde, eu estava muito cansada, estava de partida para o Massachusetts e ainda tinha mais duas crónicas para escrever; e o meu filho mais novo não parava de levantar-se da cama a pedir-me ajuda porque estava com vómitos. Sem dar por isso, no meio de todas estas preocupações, cortei a minha parte a pensar que era intemporal e podia ser usada em qualquer altura e deixei ficar a do Havel porque essa tinha que ser mesmo para Fevereiro. Já tinha fechado a revista, precisava de passar à crónica seguinte, e nunca mais me lembrei de que o que ia mandar para a «Visão» era uma repetição quase ipsis verbis do que vinha na «New Yorker». Foi um erro? Claro que foi. É grave? É. Foi premeditado? De todo em todo, não. Pode acontecer a qualquer um? Com as vidas que nós temos, pode.
O seu editor desistiu mesmo do livro com a colectânea das suas crónicas, ou apenas o suspendeu para investigação?
O meu editor é o Francisco Vale, da Relógio d’Água, e foi dos primeiros a manifestar-me a sua solidariedade. O livro de crónicas, por outro lado, está entregue à Oficina do Livro, de onde não recebi qualquer contacto (só cheguei há dois dias dos EUA).
Recebeu alguma reacção da «New Yorker» ou dos cronistas transcritos?
Era só um cronista. De qualquer maneira, a resposta é não. Portugal é um país muito pequenino, mas o mesmo não se aplica aos Estados Unidos.
Como é que tem lido os comentários, bastante críticos para si, na imprensa portuguesa? Se não os leu, certamente ouviu falar neles...
Não li nada, nem vou ler tão cedo. Tenho pedido aos meus amigos que me transmitam apenas o estritamente necessário. Vivo sozinha, tenho dois filhos pequenos, e não posso dar-me ao luxo de ficar menos bem.
A impressão que fica de um incidente deste tipo é que, num ápice, a credibilidade de uma vida de intervenção nos «media» e de investigação científica fica em cacos. É só uma amolgadela na imagem, ou mói lá dentro? Como jogam, aqui, a emoção e a razão?
Bom. Vamos lá ver. Parece-me evidente que algumas pessoas gostariam imenso que a minha vida ficasse toda em cacos. Mas confundir uma crónica com um padrão já é um exagero um bocado ridículo (escrevo crónicas há doze anos, todas as semanas, e isto aconteceu apenas agora, apenas uma vez); e tentar estender um «fait-divers» absolutamente trivial a um escândalo que abala todas as minhas actividades é absolutamente disparatado. Tenho anos e anos de trabalho investido em dezenas de milhar de páginas publicadas, em Portugal e na imprensa académica americana, sem contar os artigos científicos, e nada disto perde o valor que tem por causa do que aconteceu, por muito que a comunicação social portuguesa tenha tentado fazer um casaco a partir de um botão. Mas, claro, a sensação de ver os abutres a abaterem-se para cima da carcaça (que ainda por cima era eu) foi horrível. A sede de sangue sempre me fez muita impressão. Tive a sensação nítida de que estavam a tentar tirar-me tudo o que eu tinha, e andei muito triste. Não contando a morte do meu pai, não me lembro de alguma vez me ter acontecido outra coisa assim tão devastadora.
Vê-se a dar a volta por cima?
Com certeza. Aliás, eu não parei de trabalhar um único dia enquanto durou o circo de feras.
Como reagiram os seus amigos? E os seus inimigos, ou afins?
Os meus amigos e a minha família não podiam ter sido mais carinhosos e disponíveis. E fiquei a saber que tenho muitos amigos que nem sabia que tinha, o que sabe sempre muito bem. Os inimigos, nunca os vi terem coluna vertebral para me dizerem fosse o que fosse olhos nos olhos. Portanto, uma vez mais, passaram-me ao lado.
E os seus colegas? E os seus alunos? O seu quotidiano na Universidade mudou?
Os meus colegas e os meus alunos conhecem-me, conhecem o meu trabalho, e não confundem um jogo de massacre nos «media» com a minha actividade académica. Foi muito bom chegar da América, voltar para a Universidade e retomar a vida normal. E fiquei muito comovida com a solidariedade manifestada pela reitoria.
Como é que vai justificar agora aos seus alunos a sua severidade anterior para com o «copianço» da Internet?
Voltamos à questão do «fait-divers» e do padrão. Uma crónica é um espaço muito pessoal: não é um trabalho académico, não é um artigo científico, não é sequer um exercício de investigação jornalística: é, pura e simplesmente, a nossa voz, a falar daquilo que nos interessa e a partilhá-lo com as outras pessoas. Se eu, na noite fatídica das três crónicas, me tivesse apercebido de que o que restava da minha crónica original era a transcrição da peça da «New Yorker», teria escrito apenas «a este respeito fulano escreveu um texto notável na ‘New Yorker’», e posto o resto do texto entre aspas. Já fiz isso com outros textos, quando acho que são bons. Mas o mesmo não se aplica a um trabalho de investigação que o professor manda os alunos fazerem, que se destina a incentivar a sua aprendizagem. Quando os alunos copiam directamente da Internet com um mínimo de corta-e-cola, estão a prejudicar-se gravemente a si próprios, porque não estão a ler, não estão a pensar, não estão a digerir, ou seja, não estão a estudar, e portanto não progridem. Há muito tempo que me preocupo com isto, e continuarei a preocupar-me exactamente da mesma maneira. Mesmo assim, se um aluno fizesse uma coisa destas por uma única vez e me explicasse as circunstâncias que levaram ao erro, eu dava-lhe uma segunda oportunidade: ou um novo trabalho, ou, se não houvesse tempo, uma oral. Toda a gente faz erros uma vez, e toda a gente merece uma segunda oportunidade.
Perante a voragem de um quotidiano altamente mediatizado e comentado, há mesmo espaço para o comentador não-genial produzir argumentos originais? Ou temos que nos resignar a ler, na maioria das vezes, argumentos reciclados, sem conhecermos o original?
Não. Desde que a pessoa se interesse e esteja atenta, há sempre coisas originais para dizermos aos outros. O que não impede que, enquanto cronistas, encontremos por vezes nas nossas deambulações pequenos textos que nos parecem pequenas jóias e que ficamos com vontade de partilhar com o público (o último desses que eu encontrei chamava-se «Dez regras de ouro para ter sucesso na nossa Faculdade» e fez as delícias de muitos universitários portugueses).
O anteriormente dito aplica-se à investigação e à divulgação científicas?
Bom, a divulgação científica é, regra geral, divulgação de trabalho de outrem, portanto aqui a originalidade daquilo que se divulga não é uma pedra basilar. Em investigação científica, pelo contrário, o trabalho ou é original ou não vale nada. E não há qualquer perigo de deixarem de existir perguntas excitantes à espera de resposta.
Da experiência deste caso, que lições tira quanto às suas fontes e inspirações?
A «New Yorker» é uma óptima fonte. Na minha opinião, é a melhor revista do mundo. Os outros materiais de base que uso são muito variados, e há várias pessoas que sempre que encontram alguma coisa que acham que daria uma boa crónica me mandam. Infelizmente, a grande lição que tirei deste caso é que, na nossa comunicação social, a vacuidade de boas ideias, a definição da escala de prioridades e a voragem de tentar demolir pessoas visíveis ainda são piores do que o que eu pensava.
O «sampling» na música, a manipulação digital da imagem, a cópia na Internet, o clone biológico... O mundo globalizado é uma colagem de fragmentos?
O mundo globalizado é extremamente desinteressante, mas eu pessoalmente considero o «sampling» musical e a manipulação digital de imagens, quando bem feitos e assumidos como tal, formas de arte novas, tão legítimas como qualquer outra.
Voltando à vaca fria: pode garantir que não há mais cópias nos seus escritos anteriores?
Não só não houve como não volta a haver. Mesmo com o ónus da falibilidade humana, depois do que aconteceu esta é uma área em que vou ter cuidado ao ponto de ter medo da própria sombra...
Entrevista de Frederico Carvalho
Há três anos, Clara Pinto Correia publicou uma biografia da pintora moçambicana Celeste Maia, As Festas Secretas. A particularidade do livro foi ter resultado de uma intensa troca de «mails» que durou mais de um ano: biógrafa e biografada só se conheceram pessoalmente depois de a obra estar pronta. Na altura, Clara disse ao EXPRESSO: «A explosão do 'e-mail' é um regresso ao romantismo. As pessoas estão outra vez a escrever cartas».
No seu «mail» pessoal usa como logótipo uma passagem das Confissões de Santo Agostinho, em inglês: «Senhor, dai-me castidade e abstinência. Mas não ainda». Clara e o computador: um caso de amor, portanto. Uma dependência. Uma armadilha, como nos amores e noutras dependências...
As pessoas perguntam: como tem ela tempo para tudo? Vista de fora, a sua existência parece um turbilhão, um trânsito permanente. Nascida em Lisboa, em 1960, passou a infância em Angola e tem repartido a vida adulta, pessoal e profissional, entre Portugal e os Estados Unidos. Jornalista entre 1980 e 1985, na imprensa e na televisão, actriz de teatro esporádica, doutorou-se em biologia e lançou-se numa carreira académica e de investigação em universidades portuguesas e norte-americanas. O primeiro livro publicou-o aos 23 anos; vinte anos depois, tem mais de 30 obras editadas, numa profusão de géneros: ciência e divulgação científica, ficção (com uma adaptação a cinema, Adeus, Princesa), crónicas, biografia, infantil.
Entretanto, fez vários programas de televisão com conteúdos variados, desde a ciência do «Rumo à Lua», na RTP, às conversas de travesseiro do «Morfina», no cabo. Mas, mesmo escrevendo incessantemente para a imprensa e frequentando estúdios de televisão, diz que vive, e vive bem, sem jornais e sem televisão.
Com dois filhos, teve ainda tempo para vários «pequenos toquezinhos» na estética corporal. Para completar o leque, foi candidata do Bloco de Esquerda nas legislativas de 1999.
No início de 2003, a revista «Cosmopolitan» incluiu uma frase de Clara nas «100 máximas para um novo ano»: «É importante recordar às pessoas que o mundo não é a preto e branco, que as coisas não são sim ou não e que a vida e a alma humana são impossivelmente mais complexas». Foi premonição. "
(in www.expresso.pt)
"Copiei com carinho "
Clara Pinto Correia explica-se sobre o plágio de que é acusada e fala das reacções de amigos e inimigos. Reconhece o erro, mas diz que é um «fait-divers»
RUI OCHÔA
"Os factos são conhecidos: a revista «Visão» suspendeu no dia 5 de Fevereiro as crónicas que Clara Pinto Correia ali publicava, depois de detectar que uma delas, intitulada «O Castelo» (29/1/03), sobre o final do mandato do Presidente checo Vacláv Havel, era a cópia de um texto publicado na revista norte-americana «The New Yorker» em 6 de Janeiro. Posteriormente, uma nota da direcção da «Visão» dava conta de que também a derradeira crónica de Clara, «O Eixo do Mal» (6/2/03), «configurava um plágio, embora de menor dimensão», de outro texto da «New Yorker», de 13 de Janeiro.
Clara Pinto Correia, que passou a tempestade nos Estados Unidos, em afazeres profissionais, aceitou, mal regressou a Portugal, ser entrevistada sobre o sucedido. Admite ter cometido um erro «grave», embora só reconheça a cópia num dos textos; mas insurge-se contra «o circo de feras» à volta do caso. A entrevista foi feita por «mail», com as limitações daí resultantes — embora até acabe por ser um meio de comunicação em sintonia com o tema.
Afinal o que aconteceu com as suas crónicas? Copiou a «New Yorker» ou não?
Na crónica relativa ao Vacláv Havel, sim. Com muito amor e carinho.
Quando aconteceu o primeiro caso, disse que colou o outro texto para se inspirar e que se enganou nas partes a apagar no fim. Mas como é que as passagens da «New Yorker» aparecem num português perfeito?
A crónica «O Castelo»: a «New Yorker» traduzida na «Visão»
Ironicamente, tinha estado a escrever um texto sobre a desolação completa que reina neste momento na nossa vida pública, no Ocidente em geral e em Portugal em especial — o abandono de ideais e de ideias em favor do simplismo de todo e qualquer «fait-divers» que possa ser transformado em escândalo (aconteceu a mesma coisa nos Estados Unidos com o Trent Lott [líder do Partido Republicano no Senado, obrigado a demitir-se do cargo por ter elogiado um político segregacionista, N.R.], político por quem não tenho nenhuma simpatia, mas não deixo por isso de achar sinistro o processo que levou à sua demissão). Neste contexto, e com o Havel quase a abandonar o governo, era bom recordar a ocasião e a figura para nos lembrarmos de que há sempre alguém que pode dar-nos esperança. O artigo da «New Yorker» a este respeito era magnífico, e resolvi usá-lo como base de trabalho. Copiei as partes que achei relevantes com muito cuidado (o português estar «perfeito» só revela que tenho muito treino a fazer traduções inglês-português e português-inglês, o mínimo que se espera de quem viveu dez anos na América, com um americano), para depois, na revisão, utilizar como notas. Quando cheguei ao fim e me preparei para o «editing», a crónica estava com o dobro do tamanho máximo permitido. Aqui entra a parte da falibilidade humana, que partilho com qualquer mortal: era tarde, eu estava muito cansada, estava de partida para o Massachusetts e ainda tinha mais duas crónicas para escrever; e o meu filho mais novo não parava de levantar-se da cama a pedir-me ajuda porque estava com vómitos. Sem dar por isso, no meio de todas estas preocupações, cortei a minha parte a pensar que era intemporal e podia ser usada em qualquer altura e deixei ficar a do Havel porque essa tinha que ser mesmo para Fevereiro. Já tinha fechado a revista, precisava de passar à crónica seguinte, e nunca mais me lembrei de que o que ia mandar para a «Visão» era uma repetição quase ipsis verbis do que vinha na «New Yorker». Foi um erro? Claro que foi. É grave? É. Foi premeditado? De todo em todo, não. Pode acontecer a qualquer um? Com as vidas que nós temos, pode.
O seu editor desistiu mesmo do livro com a colectânea das suas crónicas, ou apenas o suspendeu para investigação?
O meu editor é o Francisco Vale, da Relógio d’Água, e foi dos primeiros a manifestar-me a sua solidariedade. O livro de crónicas, por outro lado, está entregue à Oficina do Livro, de onde não recebi qualquer contacto (só cheguei há dois dias dos EUA).
Recebeu alguma reacção da «New Yorker» ou dos cronistas transcritos?
Era só um cronista. De qualquer maneira, a resposta é não. Portugal é um país muito pequenino, mas o mesmo não se aplica aos Estados Unidos.
Como é que tem lido os comentários, bastante críticos para si, na imprensa portuguesa? Se não os leu, certamente ouviu falar neles...
Não li nada, nem vou ler tão cedo. Tenho pedido aos meus amigos que me transmitam apenas o estritamente necessário. Vivo sozinha, tenho dois filhos pequenos, e não posso dar-me ao luxo de ficar menos bem.
A impressão que fica de um incidente deste tipo é que, num ápice, a credibilidade de uma vida de intervenção nos «media» e de investigação científica fica em cacos. É só uma amolgadela na imagem, ou mói lá dentro? Como jogam, aqui, a emoção e a razão?
Bom. Vamos lá ver. Parece-me evidente que algumas pessoas gostariam imenso que a minha vida ficasse toda em cacos. Mas confundir uma crónica com um padrão já é um exagero um bocado ridículo (escrevo crónicas há doze anos, todas as semanas, e isto aconteceu apenas agora, apenas uma vez); e tentar estender um «fait-divers» absolutamente trivial a um escândalo que abala todas as minhas actividades é absolutamente disparatado. Tenho anos e anos de trabalho investido em dezenas de milhar de páginas publicadas, em Portugal e na imprensa académica americana, sem contar os artigos científicos, e nada disto perde o valor que tem por causa do que aconteceu, por muito que a comunicação social portuguesa tenha tentado fazer um casaco a partir de um botão. Mas, claro, a sensação de ver os abutres a abaterem-se para cima da carcaça (que ainda por cima era eu) foi horrível. A sede de sangue sempre me fez muita impressão. Tive a sensação nítida de que estavam a tentar tirar-me tudo o que eu tinha, e andei muito triste. Não contando a morte do meu pai, não me lembro de alguma vez me ter acontecido outra coisa assim tão devastadora.
Vê-se a dar a volta por cima?
Com certeza. Aliás, eu não parei de trabalhar um único dia enquanto durou o circo de feras.
Como reagiram os seus amigos? E os seus inimigos, ou afins?
Os meus amigos e a minha família não podiam ter sido mais carinhosos e disponíveis. E fiquei a saber que tenho muitos amigos que nem sabia que tinha, o que sabe sempre muito bem. Os inimigos, nunca os vi terem coluna vertebral para me dizerem fosse o que fosse olhos nos olhos. Portanto, uma vez mais, passaram-me ao lado.
E os seus colegas? E os seus alunos? O seu quotidiano na Universidade mudou?
Os meus colegas e os meus alunos conhecem-me, conhecem o meu trabalho, e não confundem um jogo de massacre nos «media» com a minha actividade académica. Foi muito bom chegar da América, voltar para a Universidade e retomar a vida normal. E fiquei muito comovida com a solidariedade manifestada pela reitoria.
Como é que vai justificar agora aos seus alunos a sua severidade anterior para com o «copianço» da Internet?
Voltamos à questão do «fait-divers» e do padrão. Uma crónica é um espaço muito pessoal: não é um trabalho académico, não é um artigo científico, não é sequer um exercício de investigação jornalística: é, pura e simplesmente, a nossa voz, a falar daquilo que nos interessa e a partilhá-lo com as outras pessoas. Se eu, na noite fatídica das três crónicas, me tivesse apercebido de que o que restava da minha crónica original era a transcrição da peça da «New Yorker», teria escrito apenas «a este respeito fulano escreveu um texto notável na ‘New Yorker’», e posto o resto do texto entre aspas. Já fiz isso com outros textos, quando acho que são bons. Mas o mesmo não se aplica a um trabalho de investigação que o professor manda os alunos fazerem, que se destina a incentivar a sua aprendizagem. Quando os alunos copiam directamente da Internet com um mínimo de corta-e-cola, estão a prejudicar-se gravemente a si próprios, porque não estão a ler, não estão a pensar, não estão a digerir, ou seja, não estão a estudar, e portanto não progridem. Há muito tempo que me preocupo com isto, e continuarei a preocupar-me exactamente da mesma maneira. Mesmo assim, se um aluno fizesse uma coisa destas por uma única vez e me explicasse as circunstâncias que levaram ao erro, eu dava-lhe uma segunda oportunidade: ou um novo trabalho, ou, se não houvesse tempo, uma oral. Toda a gente faz erros uma vez, e toda a gente merece uma segunda oportunidade.
Perante a voragem de um quotidiano altamente mediatizado e comentado, há mesmo espaço para o comentador não-genial produzir argumentos originais? Ou temos que nos resignar a ler, na maioria das vezes, argumentos reciclados, sem conhecermos o original?
Não. Desde que a pessoa se interesse e esteja atenta, há sempre coisas originais para dizermos aos outros. O que não impede que, enquanto cronistas, encontremos por vezes nas nossas deambulações pequenos textos que nos parecem pequenas jóias e que ficamos com vontade de partilhar com o público (o último desses que eu encontrei chamava-se «Dez regras de ouro para ter sucesso na nossa Faculdade» e fez as delícias de muitos universitários portugueses).
O anteriormente dito aplica-se à investigação e à divulgação científicas?
Bom, a divulgação científica é, regra geral, divulgação de trabalho de outrem, portanto aqui a originalidade daquilo que se divulga não é uma pedra basilar. Em investigação científica, pelo contrário, o trabalho ou é original ou não vale nada. E não há qualquer perigo de deixarem de existir perguntas excitantes à espera de resposta.
Da experiência deste caso, que lições tira quanto às suas fontes e inspirações?
A «New Yorker» é uma óptima fonte. Na minha opinião, é a melhor revista do mundo. Os outros materiais de base que uso são muito variados, e há várias pessoas que sempre que encontram alguma coisa que acham que daria uma boa crónica me mandam. Infelizmente, a grande lição que tirei deste caso é que, na nossa comunicação social, a vacuidade de boas ideias, a definição da escala de prioridades e a voragem de tentar demolir pessoas visíveis ainda são piores do que o que eu pensava.
O «sampling» na música, a manipulação digital da imagem, a cópia na Internet, o clone biológico... O mundo globalizado é uma colagem de fragmentos?
O mundo globalizado é extremamente desinteressante, mas eu pessoalmente considero o «sampling» musical e a manipulação digital de imagens, quando bem feitos e assumidos como tal, formas de arte novas, tão legítimas como qualquer outra.
Voltando à vaca fria: pode garantir que não há mais cópias nos seus escritos anteriores?
Não só não houve como não volta a haver. Mesmo com o ónus da falibilidade humana, depois do que aconteceu esta é uma área em que vou ter cuidado ao ponto de ter medo da própria sombra...
Entrevista de Frederico Carvalho
Há três anos, Clara Pinto Correia publicou uma biografia da pintora moçambicana Celeste Maia, As Festas Secretas. A particularidade do livro foi ter resultado de uma intensa troca de «mails» que durou mais de um ano: biógrafa e biografada só se conheceram pessoalmente depois de a obra estar pronta. Na altura, Clara disse ao EXPRESSO: «A explosão do 'e-mail' é um regresso ao romantismo. As pessoas estão outra vez a escrever cartas».
No seu «mail» pessoal usa como logótipo uma passagem das Confissões de Santo Agostinho, em inglês: «Senhor, dai-me castidade e abstinência. Mas não ainda». Clara e o computador: um caso de amor, portanto. Uma dependência. Uma armadilha, como nos amores e noutras dependências...
As pessoas perguntam: como tem ela tempo para tudo? Vista de fora, a sua existência parece um turbilhão, um trânsito permanente. Nascida em Lisboa, em 1960, passou a infância em Angola e tem repartido a vida adulta, pessoal e profissional, entre Portugal e os Estados Unidos. Jornalista entre 1980 e 1985, na imprensa e na televisão, actriz de teatro esporádica, doutorou-se em biologia e lançou-se numa carreira académica e de investigação em universidades portuguesas e norte-americanas. O primeiro livro publicou-o aos 23 anos; vinte anos depois, tem mais de 30 obras editadas, numa profusão de géneros: ciência e divulgação científica, ficção (com uma adaptação a cinema, Adeus, Princesa), crónicas, biografia, infantil.
Entretanto, fez vários programas de televisão com conteúdos variados, desde a ciência do «Rumo à Lua», na RTP, às conversas de travesseiro do «Morfina», no cabo. Mas, mesmo escrevendo incessantemente para a imprensa e frequentando estúdios de televisão, diz que vive, e vive bem, sem jornais e sem televisão.
Com dois filhos, teve ainda tempo para vários «pequenos toquezinhos» na estética corporal. Para completar o leque, foi candidata do Bloco de Esquerda nas legislativas de 1999.
No início de 2003, a revista «Cosmopolitan» incluiu uma frase de Clara nas «100 máximas para um novo ano»: «É importante recordar às pessoas que o mundo não é a preto e branco, que as coisas não são sim ou não e que a vida e a alma humana são impossivelmente mais complexas». Foi premonição. "
(in www.expresso.pt)
PTCman
pois nao tinha reparado que o site do expresso era pago a algumas semanas... eu costumava la ir ver alguns artigos (como os da Clara Pinto Correia) e tenho la ido ver se ela escrevia qquer coisa...
Concordo contigo em que e muito dificil ler gds textos do ecra de um computador... mas se nao tens acesso a edicao em papel...
Concordo contigo em que e muito dificil ler gds textos do ecra de um computador... mas se nao tens acesso a edicao em papel...

Pluricanal... não obrigado. Serviço péssimo e enganador!!!
à já algumas semanas que é pago
deu uma reportagem sobre o assunto (sites de informação pagos) no canal2 à umas semanas atrás
Mas não é só o unico, mais jornais já possuem ou estão em fase de finalização dos conteudos pagos.
Apesar de ser a favor do pagamento de serviços, quem quiser usufruir de algo tem que obrigatoriamente pagar por ela, tenho pessoalmente alguns problemas em ler grandes textos no monitor do PC.
Em termos de leitura, tenham paciência, mas quem me tira uma folha de papel, tira-me tudo.
Uma coisa é ler um pequeno artigo e outra é ler reportagens que ocupam 2 ou 3 páginas.
cumprimentos
deu uma reportagem sobre o assunto (sites de informação pagos) no canal2 à umas semanas atrás
Mas não é só o unico, mais jornais já possuem ou estão em fase de finalização dos conteudos pagos.
Apesar de ser a favor do pagamento de serviços, quem quiser usufruir de algo tem que obrigatoriamente pagar por ela, tenho pessoalmente alguns problemas em ler grandes textos no monitor do PC.
Em termos de leitura, tenham paciência, mas quem me tira uma folha de papel, tira-me tudo.
Uma coisa é ler um pequeno artigo e outra é ler reportagens que ocupam 2 ou 3 páginas.
cumprimentos
- Mensagens: 197
- Registado: 9/12/2002 22:58
azar nitido...
E verdade pata... ainda por cima esta modalidade comeca esta semana... e esta semana tem a enterevista da Clara Pinto Correia a desculpar-se das acusacoes de plagio de dois artigos do NYTimes... raios e coriscos...
Nunofaustino

Nunofaustino
Pluricanal... não obrigado. Serviço péssimo e enganador!!!
Comigo isto é sempre um carnaval pegado.... mascarada é o meu segundo nome, lol. Cá em casa a minha máscara mais habitual é de d´artagnan. O meu filho anda sempre a perseguir-me de espada em punho e como não se podem desiludir as crianças, coitadinhas, eu tenho que andar a correr atrás dele, a atacar e a defender-me como posso. Ora é a espada, ora é aquela coisa da star wars que deita luz e faz barulho e que mede duas vezes a altura do puto
. Imaginas os estragos... pelo menos o puto lembrar-se-à certamente das figuras da mãe para todo sempre, lol!

Olá Marta
Tb não sabia dessa
Mas eventualmente eles verificaram que o Jornal deve ter tido uma quebra nas vendas, consequência lógica da Internet
Resolveram o problema do seguinte modo:
Já que a montanha não vem a Maomé, vai Maomé á montanha, né????
jinhos e um bom Domingo de carnaval
É verdade????
Já te mascaraste????
, ou não "precisas"?????
TRSM
Tb não sabia dessa



Mas eventualmente eles verificaram que o Jornal deve ter tido uma quebra nas vendas, consequência lógica da Internet



Resolveram o problema do seguinte modo:
Já que a montanha não vem a Maomé, vai Maomé á montanha, né????
jinhos e um bom Domingo de carnaval
É verdade????
Já te mascaraste????











TRSM
- Mensagens: 23939
- Registado: 5/11/2002 11:30
- Localização: 4
O Expresso online agora é pago?
Chiuf.... acho que estamos a chegar ao inevitável. Os conteúdos têm um preço and there is no free lunch.
Claro que à boa portuguesa e na boa tradição do desenrasca, haverá sempre quem faça a assinatura e partilhe com os amigos. Mas é de qualquer modo um passo natural na direcção da viabilização da info online.
Já agora, custa 1.9 euros. Quanto custa a edição em papel? é que só faz sentido comprar se o o preço for significativamente menor, ou então para quem não pode chegar à banca dos jornais com facilidade.
Claro que à boa portuguesa e na boa tradição do desenrasca, haverá sempre quem faça a assinatura e partilhe com os amigos. Mas é de qualquer modo um passo natural na direcção da viabilização da info online.
Já agora, custa 1.9 euros. Quanto custa a edição em papel? é que só faz sentido comprar se o o preço for significativamente menor, ou então para quem não pode chegar à banca dos jornais com facilidade.
11 mensagens
|Página 1 de 1
Quem está ligado:
Utilizadores a ver este Fórum: Bar38, danielme1962, iniciado1, J.f.vieira, Luzemburg, nbms2012, PAULOJOAO, Shimazaki_2, tami, trilhos2006, yggy e 229 visitantes