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Caldeirão da Bolsa

O militar mais condecorado no Exército português

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Re: O militar mais condecorado no Exército português

por mario s carvaho » 24/2/2021 13:39

com uma grande vénia à autora

Realmente, neste país ... honra seja feita a muitas mulheres , que ao longo da História salvaram Portugal ... enquanto os varões amocham


https://observador.pt/opiniao/a-proposi ... -historia/




A propósito dos insultos de Mamadou Ba ao povo português e à sua História
Mantenho gravado o choro de despedida de quem me criou e a isso, sr. Mamadou, chama-se amor. Nós, Africanos brancos, sentimos amor pelos nossos conterrâneos, mas sei que para si não é amor, é racismo.

24 fev 2021, 00:00
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Tal como o Sr. Mamadou, nasci em África. Não me corre sangue africano nas veias, mas a alma moçambicana habita em mim.


Fui expulsa do meu país sem hipótese de escolha, sem justificação, tão somente pela cor da pele, arrancada à força da minha família, da minha casa, dos meus conterrâneos.

Fui expulsa por pessoas como o senhor e os seus comparsas do SOS Racismo.

Roubaram-me o resto da infância e da adolescência, forçada a viver em hábitos e costumes diferentes onde só a língua me unia.

Durante décadas, senti-me deslocada, fui barbaramente vítima de bullying, mandada para a minha terra vezes sem conta apenas e só por ser retornada…

A ignorância não tem limites e retornada não sou, refugiada talvez, pois a nada retornei. Nasci em África com muito orgulho e mantenho orgulho na História que me proporcionou que assim fosse.

Nasci na maravilhosa cidade de Lourenço Marques, a pérola do Índico, no fantástico continente africano, rico nas gentes e nos recursos, destruído por décadas de governos ditatoriais que o senhor tanto defende.

O senhor não sabe, mas em 1974, Moçambique era o produtor número um do mundo de algodão e cana de açúcar.

Hoje, é um dos países mais pobres do mundo!

Os retornados foram a maior lufada de ar fresco a entrar em Portugal.

Ao contrário de si, os retornados e refugiados das ex-colónias, apesar de apenas trazerem a roupa do corpo e a alma carregada de tristeza e mágoa, trouxeram também a resiliência e transformaram a mágoa em trabalho e não em ódio e raros são os que não singraram.

Nada trouxemos na bagagem a não ser memórias. Tudo foi confiscado, queimado, dizimado. Mas ao contrário de si, a quem tudo foi dado de mão beijada, não nos vitimizámos, não nos encolerizámos, apenas trabalhámos! Trabalhámos e honrámos a Terra e as gentes que nos acolheu!


Não hostilizámos, não ridicularizámos, não confrontámos os Portugueses da metrópole! Apenas trabalhámos, com a resiliência que nos caracteriza, porque ao contrário de si, as nossas feridas não estão putrefactas e não destilam ódio, antes pelo contrário, emanam tolerância e compaixão.

Ao contrário do senhor, não recebemos subsídios, não recebemos apoios, o único apoio foram e continuam a ser as doces memórias.

Memórias de países maravilhosos ao qual um dia ansiávamos voltar, de gente humilde de sorriso largo e alegria sem fim, memórias do cheiro da terra molhada, do cheiro das gentes, das cores, de vidas simples.

Mantenho gravado o dia da partida e do choro de despedida de quem me criou e amparou e a isso, senhor Mamadou, chama-se Amor. Nós, Africanos brancos, sentimos amor pelos nossos conterrâneos, mas sei que para si não é amor, é racismo.


Sim, senhor Mamadou, ainda hoje sinto amor pelos meus conterrâneos, choro por eles e pelos vis ataques que sofrem em Cabo Delgado, que curiosamente nunca o ouvi defender.

Em si só vejo ódio, intriga e difamação.

O racismo não se combate com racismo!

O ódio não se combate com ódio!

Humildade e gratidão é coisa que não lhe assiste. E trabalho Sr. Mamadou? Não será por interesse que move esse ódio? É que esse ódio dá-lhe tachos e tachinhos e trabalho? As suas mãos não parecem ter calos e o seu sobretudo de caxemira não me parece second hand.

Senhor Mamadou, o senhor pode ter instrução, mas não tem educação.

Sou de uma geração em que fui educada a respeitar o meu país, Portugal, a minha bandeira, o meu hino, as minhas gentes, os meus heróis.

Tenho orgulho em Afonso Henriques, Vasco da Gama, Luiz Vaz de Camões, Padre António Vieira, Pedro Álvares Cabral e tantos outros que escreveram a nossa História.


A História não se apaga, não se reescreve, é um legado dos nossos antepassados, goste-se ou não, é a nossa História.

Quem é o senhor para a destratar? Ou será que pertence ao grupo daqueles, que por não gostarem dos pais e avós também os apagam?

Respeito senhor Mamadou! Respeito! Em casa alheia não se diz mal do pão que é oferecido, porque, um dia, o pão pode acabar.
 
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Re: O militar mais condecorado no Exército português

por mario s carvaho » 24/2/2021 11:11

se calhar ... a descolonização e as guerras tribais pela preponderancia, mataram muito mais que o colonialismo!!!!
 
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Re: O militar mais condecorado no Exército português

por Marco Martins » 24/2/2021 11:00

mais_um Escreveu:

O colonialismo matou muito mais que o Holocausto



Não creio que as comparações possam ser feitas assim...
Senão teriamos de comparar também quantos mortos as monarquias fizeram na europa...
Quantos escravos e mortos foram feitos no Egipto e na construção das pirâmides...
Quantos mortos custaram as guerras na Península Ibérica...
Etc....
Acho que são comparações diferentes, apesar de em todas existirem vidas em jogo!!

Se pusermos em causa o colonialismo, teremos também de por em causa os descobrimentos de qualquer país a começar por Portugal... pois isso logo à partida, envolve a exploração de pessoas que não sabiam minimamente os perigos que iriam ter... e qualquer acto de conquista de terras envolve sempre o ganho de uns e a perda de outros!

Os meus bisavós em 1900 foram para Angola... e o meu avô saiu de casa com 12 anos e contava e também escreveu nas suas memórias a luta da sua vida, onde toda a vida trabalhou sem roubar terras a ninguém... e contava muitas vezes, que se todos aqueles colonos que foram para Angola fossem roubar o que quer que fosse, ficariam todos ricos... mas não era isso que acontecia! Chegaram sem nada, e morreram com pouco mais... e muitos morreram como chegaram, sem nada!

Uma parte das mortes do colonialismo foram feitas no final dos anos 60 nas guerras do ultramar, onde outros países (europeus, americanos, russos) tentavam criar instabilidade nas colonias portugues e armavam as populações!! Nesse período, Portugal não estava a colonizar mais... estava sim a defender os seus interesses e territórios.

Não digo que atrocidades não existiram... existem em todas as conquistas ao longo do mundo, mas devem ser analisadas com todo um contexto e não apenas com os números..
Hoje temos o país que temos, mas ninguém nos deu... será que teremos também de por os nossos reis em causa e ensinar a nossa história de outra maneira?
Editado pela última vez por Marco Martins em 24/2/2021 11:11, num total de 1 vez.
 
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Re: O militar mais condecorado no Exército português

por Carrancho_ » 24/2/2021 10:47

mais_um Escreveu:

O colonialismo matou muito mais que o Holocausto


Rui Diogo*

João Miguel Tavares escreveu, na última pagina da edição de quinta-feira (dia 18) do "Público", o qual leio diariamente desde há anos, um artigo com o titulo: "Mais uma comparação com o nazismo e eu grito." É preciso notar que o artigo estava na última página do jornal, a qual é facilmente visionada por todos os que compram este jornal, ou outros.

Sendo eu português, especialista em temas ligados ao racismo e colonialismo - que são o tema principal do meu último livro -, e professor na Howard University, uma universidade mundial constituída principalmente por alunos descendentes de africanos e com prestígio e influência mundiais precisamente por chamar a atenção para estes temas - é preciso lembrar que Kamala Harris, agora vice-Presidente dos E.U.A., foi aluna de Howard -, este artigo parece-me totalmente indigno de um jornal de prestígio internacional como o "Público". Por ser não só uma falta de respeito para as centenas de milhões de mortos resultantes do colonialismo europeu - muitíssimos mais que o número atroz e horripilante de mortos de judeus - e também ciganos, e pessoas com deficiência, não podemos esquecer - causados pelo horrível Holocausto, mas também para os sobreviventes e descendentes dos que foram colonizados, como os meus alunos em Howard, e muitos milhares de alunos, professores e outras pessoas a viver em Portugal.

Que o colonialismo europeu matou muito mais que o Holocausto é um facto histórico consensualmente reconhecido por historiadores internacionais. Mas na Europa, e sobretudo em Portugal - contrariamente ao que se faz por exemplo na Alemanha, em que se reconhecem muito mais, a nível público, as atrocidades feitas pelos nazis e também pelo colonialismo alemão - continua a nem querer sequer fazer uma comparação entre o Holocausto e o colonialismo. Isto porque o primeiro é visto como o 'mal absoluto', e o segundo como algo que no fundo "não foi tão mau" - ou, como escreveu João Miguel Tavares, que foi muito mais "rico" do que simplesmente "brutalidade e opressão".

Não há dúvida que o Holocausto é um dos eventos mais horríveis da humanidade: entre 1941 e 1945, os nazis e os seus colaboradores mataram cerca de 6 milhões de judeus, ou mesmo mais, segundo os números consensualmente aceites hoje em dia, e isso envolveu um planeamento frio, totalmente inumano, desde tirar as pessoas das suas casas, construir linhas de caminho de ferro e ter comboios para as transportar, e criar campos de concentração, de extermínio para os matar, e câmaras de gás para as gazear: o mal absoluto, sem dúvida - cerca dois terços dos judeus Europeus foram mortos, nesses 4 anos.

No realidade, o facto de pessoas como João Miguel Tavares, e no fundo uma grande maioria dos portugueses, continuarem a nem aceitar que se façam comparações entre o colonialismo europeu e o Holocausto, tem precisamente a ver com este último ponto: porque o Holocausto afetou-nos sobretudo a "nós", os europeus, enquanto o colonialismo afetou os "outros". Porque na realidade, uma comparação factual revela que não só o colonialismo matou muito mais que o Holocausto, mas que também envolveu planeamento igualmente horripilante e inumano: como construir barcos para levar escravos, aglomerados, acorrentados, em viagens de meses, sabendo de antemão que em muitos casos um terço, ou mesmo dois terços, deles iriam morrer nessas viagens. Nesse sentido, essas condições foram ainda mais horríveis que aquelas terrivelmente inumanas que ocorreram nos comboios usados pelos nazis para transportar judeus durante o Holocausto.

E, sim, acima de tudo, temos os dados mais nefastos de todos: o colonialismo matou mais, muito mais - entre 10 e 20 vezes mais, no mínimo - que o Holocausto. Por exemplo: consensualmente aceita-se que só em relação aos povos indígenas das Américas, entre 1492 e as primeiras décadas de 1600 morreram cerca de 56 milhões de indígenas, devido às armas usadas e aos germes levados pelos colonizadores europeus. Esse número é, por si só, 10 vezes maior que o número horrivelmente atroz de mortos do Holocausto. E se compararmos em números relativos as coisas são ainda piores: enquanto a chamada "grande morte" desses indígenas representa a morte de cerca de 10% da população total do planeta, nesse tempo, o Holocausto causou a morte de cerca de 0,2% da população global, no meio do século passado: 50 vezes pior, em termos comparativos.

E o colonialismo foi, infelizmente, muitíssimo mais que a "grande morte" indígena. É consensualmente aceite que, entre os séculos XV e XIX, morreram cerca de 18 milhões de escravos africanos, ou mais. Mais: dezenas de milhões de africanos morreram em África devido ao colonialismo, não só em inúmeras guerras coloniais, mas por outros fatores, incluíndo a existência de campos de concentração.

Na verdade, se João Miguel Tavares realmente quisesse saber de verdade sobre História, saberia que as comparações entre colonialismo europeu e Holocausto são totalmente justificadas: é um facto histórico reconhecido internacionalmente que o genocídio dos hererós e namaquas, que ocorreu no Sudoeste Africano Alemão onde hoje se localiza a Namíbia, entre 1904 e 1907, foi precisamente onde se criaram muitos dos métodos atrozes que os alemães usaram depois durante o Holocausto.

E não foram só os alemães que usaram campos de concentração: durante a "partilha de África" foram usados por vários países europeus, como ocorreu no "Estado Livre do Congo", onde, em apenas 23 anos, entre 1885 e 1908, morreram cerca de 10 milhões de africanos - ou seja, mais que o número horrível de mortos de todo o Holocausto. Repito, num único país africano. Isto tudo quer dizer que é consensualmente aceite, por peritos internacionais, que no total o colonialismo europeu matou mais de 100 milhões de pessoas, ou seja, efetivamente, cerca de 20 vezes mais que o Holocausto em termos absolutos - e, ademais, levou a um número ainda maior de gente a viver vidas oprimidas, em condições de extrema pobreza, e de fome.

Claro que, em Portugal, pessoas como João Miguel Tavares dirão, em resposta a este artigo: mas o colonialismo português não tem nada a ver com o do resto dos países europeus, nós não somos como os alemães ou os belgas - ou, como ele escreveu, o "colonialismo (português ou outro)" não foi simplesmente uma "história de brutalidade e opressão", pois não se pode "roubar ao passado a sua riqueza, a sua complexidade e a sua espessura".

Não se pode reduzir a brutalidade e opressão, e esquecer a "riqueza, complexidade e espessura" do colonialismo? Então o que foi o colonialismo? Tentemos os antónimos: foi liberdade, e brandura, um termo tão usado pelos portugueses para descrever o colonialismo do "povo dos brandos costumes"? Vejamos então o que fez este povo de "brandos costumes", em termos factuais. Por exemplo, na região que é hoje o Brasil, segundo estimativas oficiais, havia pelo menos entre 3 e 5 milhões - e segundo dados mais recentes, até 11 milhões - de indígenas antes do colonialismo: em pouco mais de um século, no princípio de 1600, já eram só uns 900 mil. Ou seja, se usamos a estimativa de 11 milhões da Survival-International, uma respeitada organização internacional que trabalha especificamente sobre estes temas, a presença dos - ou seja, as armas, e os germes levados pelos - portugueses no Brasil levou a um extermínio de cerca de 9,9 milhões de indígenas, ou seja, mais que todo o Holocausto.

E, mesmo que o número eventualmente seja menor, é preciso notar que isto é só no Brasil, uma das muitas colónias de Portugal, e sem contar com os milhões de mortes de escravos africanos que também morreram aí, e de africanos que morreram nas colónias portuguesas em África, e sobretudo, sem ter em conta que, como referi acima, os portugueses foram os grandes catalisadores, originalmente, do colonialismo europeu e da escravatura transatlântica que, sem dúvida nenhuma, mataram pelo menos 20 vezes mais, e provavelmente muito mais, do que o horrível, horripilante, indesculpável Holocausto.

Como salientou Ignacio Ellacuria, há cinco séculos com a 'descoberta' do chamado 'novo mundo' o que realmente se descobriu foi a realidade da Europa, a sua verdadeira cara - "a realidade da cultura ocidental, colonizadora e dominadora": factos são factos, por mais que eles sejam difíceis de aceitar para o nosso país, que terá de ter a ousadia de se olhar ao espelho e 'descobrir' - ou seja, aceitar, de uma vez por todas, em vez de "gritar", olhar para o lado, e negar factos históricos inegáveis - o que realmente foi, e fez, o nosso país durante tantos séculos.

* Rui Diogo é professor na Universidade de Howard, em Washington D.C., EUA

https://expresso.pt/opiniao/2021-02-23- ... Holocausto



Que texto mais absurdo, ignorante e faccioso. :shock: :shock: :shock:
Um abraço,

Carrancho
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Re: O militar mais condecorado no Exército português

por rsacramento » 24/2/2021 4:45

rjam12 Escreveu:Porque está este tópico num fórum destes???!!! Não entendo... Será que influencia o PSI-20 ou o Nasdaq?

de vez em quando sabe bem descontrair, seja falando de música, astrofísica, inteligência artificial ou outro assunto alheio aos mercados

o que falta é o prefixo off-topic, mas isso já incumbe à moderação a chamada de atenção para esse facto

mas se verificares encontrarás esse prefixo frequentemente aposto ao título
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Re: O militar mais condecorado no Exército português

por rjam12 » 24/2/2021 0:52

Porque está este tópico num fórum destes???!!! Não entendo... Será que influencia o PSI-20 ou o Nasdaq?
 
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Re: O militar mais condecorado no Exército português

por Opcard » 24/2/2021 0:46

O que não é de acordo com os novos donos da verdade é escondido é secreto não se estuda .
Os grandes genocídios em África são feitos antes dos europeus chegaram, a sua chegada até acalma esses combates entre tribos , como a história não era escrita em África é a partir do ADN que se pode saber que muitos povos foram exterminados , é nisto de matanças temos a guerra dos trinta anos a quem vao acusar os decendentes dos protestantes ?

“Relatório das Sevícias” sobre violências e torturas praticados em 1974 e 1975 pelo Estado, obra editada em novembro de 1976 em livro, pela Presidência da República e produzido por uma Comissão nomeada pelo Conselho da Revolução.

O livro esgotado, nunca foi reeditado, pelo que o tentou ler na biblioteca da Presidência da República. Enviou-me o documento que surge nos vossos écrans, que revela que existe, mas está classificado como “Secreto” e não pode ser consultado:



O atual Presidente nada tem a ver isso, mas para ele a pergunta: quando deixará de ser “Secreto”? E para quando uma reedição do livro pela Presidência da República?
 
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Re: O militar mais condecorado no Exército português

por mais_um » 24/2/2021 0:20


O colonialismo matou muito mais que o Holocausto


Rui Diogo*

João Miguel Tavares escreveu, na última pagina da edição de quinta-feira (dia 18) do "Público", o qual leio diariamente desde há anos, um artigo com o titulo: "Mais uma comparação com o nazismo e eu grito." É preciso notar que o artigo estava na última página do jornal, a qual é facilmente visionada por todos os que compram este jornal, ou outros.

Sendo eu português, especialista em temas ligados ao racismo e colonialismo - que são o tema principal do meu último livro -, e professor na Howard University, uma universidade mundial constituída principalmente por alunos descendentes de africanos e com prestígio e influência mundiais precisamente por chamar a atenção para estes temas - é preciso lembrar que Kamala Harris, agora vice-Presidente dos E.U.A., foi aluna de Howard -, este artigo parece-me totalmente indigno de um jornal de prestígio internacional como o "Público". Por ser não só uma falta de respeito para as centenas de milhões de mortos resultantes do colonialismo europeu - muitíssimos mais que o número atroz e horripilante de mortos de judeus - e também ciganos, e pessoas com deficiência, não podemos esquecer - causados pelo horrível Holocausto, mas também para os sobreviventes e descendentes dos que foram colonizados, como os meus alunos em Howard, e muitos milhares de alunos, professores e outras pessoas a viver em Portugal.

Que o colonialismo europeu matou muito mais que o Holocausto é um facto histórico consensualmente reconhecido por historiadores internacionais. Mas na Europa, e sobretudo em Portugal - contrariamente ao que se faz por exemplo na Alemanha, em que se reconhecem muito mais, a nível público, as atrocidades feitas pelos nazis e também pelo colonialismo alemão - continua a nem querer sequer fazer uma comparação entre o Holocausto e o colonialismo. Isto porque o primeiro é visto como o 'mal absoluto', e o segundo como algo que no fundo "não foi tão mau" - ou, como escreveu João Miguel Tavares, que foi muito mais "rico" do que simplesmente "brutalidade e opressão".

Não há dúvida que o Holocausto é um dos eventos mais horríveis da humanidade: entre 1941 e 1945, os nazis e os seus colaboradores mataram cerca de 6 milhões de judeus, ou mesmo mais, segundo os números consensualmente aceites hoje em dia, e isso envolveu um planeamento frio, totalmente inumano, desde tirar as pessoas das suas casas, construir linhas de caminho de ferro e ter comboios para as transportar, e criar campos de concentração, de extermínio para os matar, e câmaras de gás para as gazear: o mal absoluto, sem dúvida - cerca dois terços dos judeus Europeus foram mortos, nesses 4 anos.

No realidade, o facto de pessoas como João Miguel Tavares, e no fundo uma grande maioria dos portugueses, continuarem a nem aceitar que se façam comparações entre o colonialismo europeu e o Holocausto, tem precisamente a ver com este último ponto: porque o Holocausto afetou-nos sobretudo a "nós", os europeus, enquanto o colonialismo afetou os "outros". Porque na realidade, uma comparação factual revela que não só o colonialismo matou muito mais que o Holocausto, mas que também envolveu planeamento igualmente horripilante e inumano: como construir barcos para levar escravos, aglomerados, acorrentados, em viagens de meses, sabendo de antemão que em muitos casos um terço, ou mesmo dois terços, deles iriam morrer nessas viagens. Nesse sentido, essas condições foram ainda mais horríveis que aquelas terrivelmente inumanas que ocorreram nos comboios usados pelos nazis para transportar judeus durante o Holocausto.

E, sim, acima de tudo, temos os dados mais nefastos de todos: o colonialismo matou mais, muito mais - entre 10 e 20 vezes mais, no mínimo - que o Holocausto. Por exemplo: consensualmente aceita-se que só em relação aos povos indígenas das Américas, entre 1492 e as primeiras décadas de 1600 morreram cerca de 56 milhões de indígenas, devido às armas usadas e aos germes levados pelos colonizadores europeus. Esse número é, por si só, 10 vezes maior que o número horrivelmente atroz de mortos do Holocausto. E se compararmos em números relativos as coisas são ainda piores: enquanto a chamada "grande morte" desses indígenas representa a morte de cerca de 10% da população total do planeta, nesse tempo, o Holocausto causou a morte de cerca de 0,2% da população global, no meio do século passado: 50 vezes pior, em termos comparativos.

E o colonialismo foi, infelizmente, muitíssimo mais que a "grande morte" indígena. É consensualmente aceite que, entre os séculos XV e XIX, morreram cerca de 18 milhões de escravos africanos, ou mais. Mais: dezenas de milhões de africanos morreram em África devido ao colonialismo, não só em inúmeras guerras coloniais, mas por outros fatores, incluíndo a existência de campos de concentração.

Na verdade, se João Miguel Tavares realmente quisesse saber de verdade sobre História, saberia que as comparações entre colonialismo europeu e Holocausto são totalmente justificadas: é um facto histórico reconhecido internacionalmente que o genocídio dos hererós e namaquas, que ocorreu no Sudoeste Africano Alemão onde hoje se localiza a Namíbia, entre 1904 e 1907, foi precisamente onde se criaram muitos dos métodos atrozes que os alemães usaram depois durante o Holocausto.

E não foram só os alemães que usaram campos de concentração: durante a "partilha de África" foram usados por vários países europeus, como ocorreu no "Estado Livre do Congo", onde, em apenas 23 anos, entre 1885 e 1908, morreram cerca de 10 milhões de africanos - ou seja, mais que o número horrível de mortos de todo o Holocausto. Repito, num único país africano. Isto tudo quer dizer que é consensualmente aceite, por peritos internacionais, que no total o colonialismo europeu matou mais de 100 milhões de pessoas, ou seja, efetivamente, cerca de 20 vezes mais que o Holocausto em termos absolutos - e, ademais, levou a um número ainda maior de gente a viver vidas oprimidas, em condições de extrema pobreza, e de fome.

Claro que, em Portugal, pessoas como João Miguel Tavares dirão, em resposta a este artigo: mas o colonialismo português não tem nada a ver com o do resto dos países europeus, nós não somos como os alemães ou os belgas - ou, como ele escreveu, o "colonialismo (português ou outro)" não foi simplesmente uma "história de brutalidade e opressão", pois não se pode "roubar ao passado a sua riqueza, a sua complexidade e a sua espessura".

Não se pode reduzir a brutalidade e opressão, e esquecer a "riqueza, complexidade e espessura" do colonialismo? Então o que foi o colonialismo? Tentemos os antónimos: foi liberdade, e brandura, um termo tão usado pelos portugueses para descrever o colonialismo do "povo dos brandos costumes"? Vejamos então o que fez este povo de "brandos costumes", em termos factuais. Por exemplo, na região que é hoje o Brasil, segundo estimativas oficiais, havia pelo menos entre 3 e 5 milhões - e segundo dados mais recentes, até 11 milhões - de indígenas antes do colonialismo: em pouco mais de um século, no princípio de 1600, já eram só uns 900 mil. Ou seja, se usamos a estimativa de 11 milhões da Survival-International, uma respeitada organização internacional que trabalha especificamente sobre estes temas, a presença dos - ou seja, as armas, e os germes levados pelos - portugueses no Brasil levou a um extermínio de cerca de 9,9 milhões de indígenas, ou seja, mais que todo o Holocausto.

E, mesmo que o número eventualmente seja menor, é preciso notar que isto é só no Brasil, uma das muitas colónias de Portugal, e sem contar com os milhões de mortes de escravos africanos que também morreram aí, e de africanos que morreram nas colónias portuguesas em África, e sobretudo, sem ter em conta que, como referi acima, os portugueses foram os grandes catalisadores, originalmente, do colonialismo europeu e da escravatura transatlântica que, sem dúvida nenhuma, mataram pelo menos 20 vezes mais, e provavelmente muito mais, do que o horrível, horripilante, indesculpável Holocausto.

Como salientou Ignacio Ellacuria, há cinco séculos com a 'descoberta' do chamado 'novo mundo' o que realmente se descobriu foi a realidade da Europa, a sua verdadeira cara - "a realidade da cultura ocidental, colonizadora e dominadora": factos são factos, por mais que eles sejam difíceis de aceitar para o nosso país, que terá de ter a ousadia de se olhar ao espelho e 'descobrir' - ou seja, aceitar, de uma vez por todas, em vez de "gritar", olhar para o lado, e negar factos históricos inegáveis - o que realmente foi, e fez, o nosso país durante tantos séculos.

* Rui Diogo é professor na Universidade de Howard, em Washington D.C., EUA

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Re: O militar mais condecorado no Exército português

por Opcard » 23/2/2021 21:35

Como até o Eça de Queiroz é acusado ... ( que eu muito gosto) está em maus lençóis temo pela sua campa :
“ “ Pedro da Maia tem “crises de melancolia negra”, Maria Monforte, que tem olhos azuis, encoleriza-se e estes passam a parecer “negros de cólera” e há uma “escada escura e feia” e quartos “alegres, forrados de papéis claros”.

Só o humor para viver:

“ “ Mamadou Ba é tão português quanto eu. Temos cores diferentes, origens diferentes, opiniões diferentes, mas a cidadania é a mesma. Somos ambos cidadãos de Portugal, unidos por uma História comum. Como diariamente nos lembram, todos os Portugueses descendem de alguém que beneficiou com o iníquo comércio de escravos. É impossível que um qualquer antepassado meu não tenha ido a África buscar escravos; e é igualmente impossível que não tenha sido um qualquer antepassado de Mamadou Ba a capturá-los e a vendê-los.

É que Ba nasceu no Senegal, uma das regiões de onde os Portugueses traziam escravos. Se nas Américas estão os descendentes de escravos daquela área, em África estão os descendentes dos africanos que aprisionavam inimigos de outras tribos e os vendiam aos Portugueses como escravos. É provável que um avô Quintela tenha feito negócio com um avô Ba. Os nossos avoengos eram sócios. O meu era retalhista, o dele fornecedor. Ba & Quintela, Lda. Une-nos mais do que nos separa.

Tenho noção de que o que acabo de escrever é inaceitável. Pelos padrões actuais não se pode, nunca, insinuar que há negros que fazem parte das chamadas estruturas de poder racistas. Esta semana, num debate na TVI, Joana Cabral, dirigente do SOS Racismo, afirmou que está cientificamente provado que não pode haver negros racistas. E a ciência é para respeitar! Sucede que, há dias, Mamadou Ba disse que Marcelino da Mata era fascista. No entendimento vigente do “fascismo” – sobretudo na corrente em que Ba e o SOS Racismo se inserem – um fascista é, por inerência, um racista. Significa que, sendo Marcelino da Mata negro, afinal há negros racistas.

É possível que Joana Cabral discorde. Mas, ao fazê-lo, estará a discordar de Mamadou Ba. Ora, sucede que Joana Cabral é branca. Como postula a Teoria que ela subscreve, em questões de decidir o que é ou não racismo, os negros é que sabem. Ou seja, ou Joana amocha, ou diverge abertamente de Ba, apoiando-se na ciência (uma criação do Ocidente branco) para dizer a um homem negro o que ele pode ou não pode ser. Isso é tão racista.

Portanto, se um negro – que é quem decide o que é racismo – diz que outro negro é racista – apesar de ser impossível haver negros racistas – estamos perante um berbicacho. A impossibilidade de haver negros racistas, conjugada com a autoridade máxima de negros em questões de racismo, coloca-nos perante o Paradoxo do Negro Racista, também conhecido como o Paradoxo da Seriedade Conferida a Uma Teoria Ilógica Que Não Faz Qualquer Tipo de Sentido, Mas Faz Doer a Cabeça.

Mas isso agora é irrelevante. O que interessa é que, neste país, não deportamos Portugueses. Muito menos por delito de opinião. Portugal é uma democracia desde 25 de Abril de 1974, quando um grupo de oficiais revoltosos derrubou o Estado Novo. Eram militares corajosos, temperados por anos de guerra em… África. Ups. Cala-te, boca. Não queremos que os anti-racistas, de repente, descubram que vivem num regime instaurado por militares que combateram africanos na Guerra Colonial. Ainda querem acabar com a Democracia, por ter sido fundada por opressores racistas. Afinal, só na metrópole é que as armas tinham cravos. Pelo sim, pelo não, se fosse à PSP de Santarém montava guarda à estátua do Salgueiro Maia, não vão aparecer activistas a querer pichar “supremacista branco!” na chaimite. Ui, o que fui lembrar! A chaimite deve o nome à povoação moçambicana onde Mouzinho de Albuquerque prendeu Gungunhana. Caraças, quanto mais escrevo, mais o 25 de Abril fica racista. É melhor terminar por aqui.
José Quintela
 
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Re: O militar mais condecorado no Exército português

por mario s carvaho » 23/2/2021 20:45

Tenho a certeza que o MRPP não o foi torturar ...

Heróis são os que se ultrapassam no cumprimento de ideais

agora os que têm e incutem essas ideias... são os cobardes que se escondem e se adaptam-- quando as coisas dão para o torto..

tal como os tais reis de espanha... que destruiram civilizações... evoluidas e não bárbaras...

mas.. pronto se há quem se sinta feliz assim ... mas até ao ponto em que se arrepende de tudo o que fez e disse ...e aí não tem retorno..



Ps .. Há quem se preocupe com Universo .. e não se apercebe que o ser humano que tem ao lado , é mais importante que o Universo ..

Esse sim , é o Estúpido
 
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Re: O militar mais condecorado no Exército português

por mais_um » 23/2/2021 20:21


Crimes de guerra e tortura colonial – por que não homenageamos Karl Schümers


Em ditadura, há condecorações que pesam, e que arrastam os seus condecorados para as profundidades mais turvas da memória, escreve o jurista, professor universitário e ex-secretário de Estado Miguel Prata Roque, que conta o caso do nazi das SS Karl Schümers, responsável pelo assassínio de muitas centenas de gregos e que, apesar de todas as atrocidades pelas quais foi responsável, também foi um dos militares mais medalhados pelo III Reich



Argyris Sfountouris tinha 4 anos. Escondido, viu a sua mãe ser violada. E depois degolada. Assistiu à violação e assassínio de 186 vizinhas e vizinhos e de 32 familiares seus. Ouviu, ao longe, o desespero rezado do padre (ortodoxo) da aldeia. Foi milagrosamente salvo, à última hora, pela sua irmã, da própria casa, consumida em chamas.

Estávamos em 10 de junho de 1944, quando, durante cerca de duas horas, a 4ª Divisão das “SS Polizei Panzergrenadier” nazis, sob o comando de Karl Schümers e de Fritz Lautenbach, foi de porta em porta, ao longo da pequena aldeia de Distomo, perto de Delphi (Grécia), chacinando 218 homens, mulheres e crianças, no recato dos seus lares. Segundo vários sobreviventes, as forças nazis chegaram a assassinar, à força de baionetas, vários bebés no próprio berço, bem como mulheres grávidas, não poupando sequer o padre local, que foi selvaticamente decapitado. Tudo por uma vingança fútil contra alguns corajosos resistentes antinazis que, sendo originários de Distomo, mataram 7 soldados alemães.

E o mesmo aconteceu em Batepá (São Tomé e Príncipe), em 3 de fevereiro de 1953, quando os esbirros do regime carregaram sobre a população local desarmada, incendiando casas e lojas, disparando indiscriminadamente, violando mulheres e crianças, entrando pelas casas adentro, fazendo prisões arbitrárias, espancando e submetendo seres humanos benzidos por Cristo a torturas várias, entre as quais choques elétricos e, até, matando-os de asfixia em celas imundas de prisões sobrelotadas. Desta vez, o nome do carrasco é português: Carlos Gorgulho, governador da antiga província. Tudo porque os executados se recusavam a aceitar o trabalho escravo imposto para realizar as obras públicas do arquipélago.

E repetiu-se em Pidjiguiti (Guiné-Bissau), em 03 de agosto de 1959, quando a PIDE, o administrador do porto de Bissau, António Barbosa Carreira e o cabo de mar Nicolau decidiram disparar sobre uma multidão de trabalhadores grevistas, que reclamavam pela melhoria da sua qualidade de vida, assassinando, pelo menos, cerca de 40 pessoas e ferindo mais de uma centena. Entre os grevistas estava o jovem Carlos Correia – recentemente primeiro-ministro da Guiné-Bissau –, que assistiu, revoltado, à recolha dos corpos dos assassinados e acabou preso. Tudo porque um dos trabalhadores, atacado por um dos cães de guarda do administrador, matou o cão, em legítima defesa, espoletando, depois, o massacre.

Os massacres não ficaram por aqui, porém. Em 16 de junho de 1960, em Mueda (Moçambique), foram atraídos cerca de 5.000 membros de tribos, prévia e completamente desarmados, a uma “banja” (isto é, uma reunião geral), sob o pretexto de (alegadas) negociações pacíficas com o governador da província de Cabo Delgado, Almirante Teixeira da Silva. Porém, descontente com as conversações, ordenou a prisão de vários líderes dos macondes e, face ao cerco do jipe dos que foram arbitrariamente presos, os seus guardas dispararam indiscriminadamente sobre a multidão, provocando um massacre em que morreram entre 14 (segundo a versão da ditadura salazarista) e 600 dos participantes das “negociações” (de acordo com os membros do movimento de libertação nacional moçambicano).

Os massacres não ficaram por aqui. Conduzido pela 6ª Companhia de Comandos da Zona Operacional de Tete e pelo torturador-mor da PIDE, Francisco Landa, negro imponente (também apelidado de Chico Kavachi ou Chico Feio), que atuava na prisão de Tete, liderou, em 16 de dezembro de 1972, um verdadeiro genocídio em Wiriyamu (Moçambique), com o massacre de mais de 1/3 dos 1.350 habitantes de cinco pequenas povoações, que davam pelo nome de “triângulo de Wiriyamu”. Desta vez, em retaliação pela morte de 2 militares portugueses, cujo jipe tinha sido destruído por uma mina explosiva. Não só várias aldeias foram bombardeadas, à hora do almoço de um sábado, por quatro caças-bombardeiros que largaram várias bombas que incendiaram povoações inteiras, como vários comandos, grupos especiais de paraquedistas, agentes da PIDE e até mercenários desembarcaram de 5 helicópteros, cercando as aldeias, atirando granadas e metralhando todos os que procuraram refúgio no mato; incluindo velhos, mulheres e crianças, que foram obrigados a bater palmas, enquanto eram fuzilados. Várias crianças, entre elas Olinda, Rosa e Zeca (porque as vítimas também têm nomes), foram atiradas pelos agressores contra o solo ou contra as árvores, morrendo do impacto dos seus crânios no chão. O massacre de Wiriyamu foi denunciado pelo padre católico britânico Adrian Hastings e por dois padres missionários espanhóis, Vicente Berenguer e Julio Moure, através do jornal “London Times”, na sua edição de 10 de julho de 1973.

Durante anos, Chico Feio, auxiliado por 79 milicianos africanas, estabeleceu o terror nas aldeias da província de Tete a mando da PIDE, assassinando sem dó nem piedade, cometendo violações em massa e torturas bárbaras. A mais conhecida delas consistia em furar as pessoas com facas, preencher os buracos com pólvora e lançar-lhes fogo. Na prisão de Tete, Francisco Feio torturava as suas vítimas na “Kula”, uma sala sem qualquer janela e com o chão pintado de vermelho, para disfarçar o sangue que nele jorrava. Por volta de 1967, qualquer opositor ao regime de Salazar era despido e torturado com palmatórias, cavalos-marinhos secos, chicote e paus. Depois de ser sovados, eram obrigados a ajoelhar-se em cima de um cabo de vassoura com pregos espetados e obrigados a suportar pedras ou outros objetos pesados. Estas sessões de tortura prolongavam-se por três e quatro horas, até que os torturados caíssem, inanimados.

E, claro, estes massacres desumanos também foram praticados pelos que lutavam pelo fim da opressão e pela independência. Por exemplo, também aconteceu em Luanda, em 1961, quando um movimento de rebeldes pertencente à União dos Povos de Angola (UPA) espalhou o terror por todo o norte de Angola, durante largos meses, até que Salazar deu voz ao início da Guerra do Ultramar: "Para Angola, Rapidamente e em Força!".

Tantos outros meninos, como Argyris, assistiram, portanto, à barbárie que lhes destruiu a vida e marcou, para não mais esquecer, os dias restantes.

O Direito Internacional rejeita a guerra e promove a solução pacífica de conflitos. Mas admite que o assassinato de outrem, num cenário de guerra, possa não ser objeto de prisão, porque a atuação em cenário de guerra excluiu a ilicitude (ou a censurabilidade) do ato.

Mas, sejamos claros: uma coisa é matar outrem quando a única opção é matar ou morrer; outra, bem diferente, é quando se utiliza o pretexto da guerra para se libertar as mais ignóbeis pulsões (des)humanas, humilhando, seviciando, torturando e degradando o outro.

Karl Schümers, comandante da 4ª Divisão das “SS Polizei Panzergrenadier” foi o responsável, na Grécia, por:

Massacre de Distomo, com 218 vítimas;
Assassinato de 277 velhos, mulheres e crianças, em Kleisoura, em 5 de abril de 1944;
Assassinato de 368 crianças no massacre de Pyrgoi, em 24 de abril de 1944;
Destruição da aldeia de Ipati e morte de 28 civis;
Incêndio de Sperchiada e morte de 35 civis, em 17 de junho de 1944;
Massacre de Roumeli, durante o qual foram destruídas várias povoações e mortos 170 civis desarmados.

Apesar de todas estas atrocidades também foi – claro (!) – um dos militares mais medalhados pelo III Reich alemão, tendo até recebido a Cruz de Cavaleiro da Ordem do Ferro, uma das mais altas condecorações do regime nazi alemão. É o que fazem as ditaduras. Condecorar os torcionários.

Mas nem por isso o Parlamento alemão o homenageou. Nem o Presidente alemão democrático teria comparecido às suas cerimónias fúnebres. Nem o ministro da Defesa alemão o elogiaria.

É que há condecorações, em ditadura, que pesam. E arrastam os seus condecorados para as profundidades mais turvas da memória.

Honrar a História de Portugal é, também, reconhecer os seus erros. Respeitar as Olindas, Rosas e Zecas que morreram às mãos de torturadores e de meros criminosos de guerra. Era bom que pudéssemos, todos, ter a maturidade e a serenidade suficientes para refletir sobre os nossos erros. Mesmo quando eles se resumem a termos sido forçados – como tantos foram –, a combater numa guerra injusta e desleal, de um regime sanguinário e decadente que lutava pela sua sobrevivência, até que esses jovens Capitães, que nela lutaram, lhe puseram termo.

Felizmente, houve sempre quem não calasse. Como os corajosos 150 padres e missionários católicos que, em plena ditadura, denunciavam as atrocidades cometidas pela ditadura salazarista e tentavam esconder e proteger os perseguidos. Ou como o incansável advogado Manuel João da Palma Carlos, cuja perigosa deslocação ao arquipélago de São Tomé e Príncipe, para defesa das vítimas do massacre de Bapetá, contribuiu para diminuir a onda de terror lá verificada.

Não se trata de reescrever a História.

Trata-se, apenas, de garantir que ela não se repetirá.

https://expresso.pt/opiniao/2021-02-23- ... l-Schumers
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Re: O militar mais condecorado no Exército português

por mario s carvaho » 20/2/2021 21:28

https://sol.sapo.pt/artigo/725481/marce ... -resgatada


há pouco mais de uma semana, muitos portugueses não sabiam quem era Marcelino da Mata. Não sabiam que o militar português mais condecorado era um negro, nascido na Guiné-Bissau, que lutou sob a bandeira portuguesa na Guerra de África.

Hoje, já depois da sua morte a 11 de fevereiro, devido à covid-19, o seu nome, mas não a sua história, parece ter sido objecto de resgate e serve agora de pregão – político e ideológico – para uma nova polémica. A controvérsia à volta de Marcelino da Mata só prova que as feridas da história recente do país continuam por sarar, numa sociedade que parece não saber nem querer fazer as pazes com o seu passado colonial.

A figura de Marcelino da Mata está longe de ser consensual. Há quem o aclame como herói e elogie a sua bravura e coragem, mas há também quem o considere um criminoso de guerra capaz das maiores atrocidades. Ideologias à parte, certo é que é o mais condecorado oficial português de sempre – recebeu a Torre e Espada, três Cruzes de Guerra de 1ª classe, uma de 2ª e outra de 3ª – e não teve honras militares no seu funeral, que, no entanto, contou com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa; do chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, almirante Silva Ribeiro, e do chefe do Estado-Maior do Exército, general Nunes da Fonseca.

A ausência de honras militares no funeral foi justificada ao Nascer do SOL com o atual contexto pandémico. «De acordo com o Plano de Contingência covid-19 do Exército, e no rigoroso cumprimento das orientações sanitárias das autoridades de saúde, o Exército informa que se encontram suspensas as honras militares fúnebres, constantes no Regulamento de Continências e Honras Militares (Decreto-Lei n.º 331/80, de 28 de agosto), entre outras cerimónias militares», justificou por escrito o gabinete do chefe do Estado-Maior do Exército.

Apesar de não ter havido honras militares, foram vários os ex-camaradas, muitos com a boina vermelha dos Comandos, que quiseram despedir-se do tenente-coronel. Entre eles estava o coronel Raul Folques, um dos oficiais vivos mais condecorados do Exército português e que, à semelhança de Marcelino da Mata, também recebeu a Torre e Espada. O oficial dos Comandos diz perceber a natureza das restrições face à covid-19, mas acredita que as boas práticas sanitárias poderiam ter sido cumpridas. «A guarda de honra poderia ser de uma só secção e em vez de virem num autocarro vinham em três», exemplificou ao Nascer do SOL.

Sobre Marcelino da Mata – com quem participou na operação histórica ‘Ametista Real’, levada a cabo pelo Batalhão dos Comandos da Guiné na região de Guidaje-Bigene, em maio de 1973 –, o coronel Folques recorda um soldado exemplar: «Portou-se como sempre se portava. Portou-se muito bem».

«É preciso perceber e enquadrar o que Marcelino da Mata fez durante toda a Guerra do Ultramar, ele foi dos poucos militares que esteve sempre presente desde que na Guiné começou a guerra até que ela terminou», sublinha o militar que chefiou um dos três agrupamentos que executou o ataque contra as forças do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde).

«Foi o único militar que esteve sempre operacional, não teve nenhum descanso, não teve nenhuma pausa, esteve presente durante os 13 anos de guerra que houve na Guiné», destaca o coronel Folques, acrescentando: «Ele era português e assim continuou, fiel, como muitos. Aliás, o batalhão de Comandos da Guiné tinha à volta de 500 africanos, que sentiam, e que eram portugueses, e combatiam como portugueses».

É por tudo isto que, para o oficial dos Comandos, Marcelino da Mata é «uma pessoa que pode ser um paradigma, não só pela persistência como pela força e pela firmeza».

Mas a ‘Ametista Real’ não foi a única operação histórica em que Marcelino da Mata foi posto à prova. A lista estende-se por mais de duas mil missões, incluindo a famosa ‘Mar Verde’, em 1970, na qual foram libertados 26 prisioneiros de guerra portugueses, entre eles o tenente António Lobato, hoje major, que foi resgatado após sete anos de cativeiro, o mais longo de um militar português na guerra colonial.



‘Fica na história, quer queiram quer não’

«É um prazer falar do Marcelino, conheci-o justamente na Operação Mar Verde onde foram libertados 26 prisioneiros de guerra, entre os quais eu me encontrava», começa por dizer ao Nascer do SOL o major António Lobato. «A primeira vez que eu o vi foi quando ele chegou ao navio que nos recolheu, ao largo de Conacry, reparei que foi o último a chegar, depois de ter executado talvez a missão mais difícil da Operação Mar Verde. É que ele tinha sido incumbido de entrar na prisão que se dizia ser a mais tenebrosa de Conacry, onde se torturavam e matavam os que eram vistos como traidores por Sékou Touré».

«Ele impressionou-me. Não estava eufórico, não vinha com aquele ar marcial de quem acaba uma operação complicada da qual foi bem-sucedido e nem sequer estava apressado», sublinha.

Depois da guerra, o major da Força Aérea e o tenente-coronel dos Comandos encontravam-se uma vez por ano no 10 de Junho, na homenagem aos ex-combatentes em Belém, a que Marcelino da Mata sempre assistiu. «Que eu saiba, não houve um único ano que ele tivesse faltado a essa homenagem», frisa o major Lobato. «É preciso dizer que são homens como o Marcelino que têm coragem e altruísmo bastantes para pôr a sua vida em risco, ao serviço de um conceito de pátria à prova de ideologias», recorda. Para o major, o tenente-coronel «não foi apenas um soldado exemplar», foi também «um cidadão que honra todos os portugueses e que envergonha todos os seus detratores». «Marcelino não vai morrer, nem ele nem os comandos vão morrer. E vão ficar na história, quer queira quem diz mal dele ou não», frisa.

Sobre a ausência de honras militares fúnebres, o militar português que esteve mais tempo em cativeiro – mais tempo do que o falecido e tantas vezes referido senador norte-americano John McCain – diz compreender a limitação imposta pelas medidas de combate à pandemia e acha que isso não deve ser uma questão. Por outro lado, considera que «quem poderia ter dito duas ou três palavras era o Presidente da República, que é o Comandante Supremo das Forças Armadas».

O Nascer do SOL tentou recolher um depoimento do Presidente da República sobre Marcelino da Mata, em vão.

Jorge Sanhá, também dos Batalhão de Comandos Africanos da Guiné, diz que «não há ninguém igual a Marcelino. Fazia operações de grande envergadura só com 15 homens». «Era também um homem que gostava muito dos seus soldados», recorda.

O furriel Jaquité, comando africano que serviu em várias missões com Marcelino da Mata, também lhe dedica os maiores elogios e recorda-o como «um grande homem, um homem sensacional». Guarda na memória o empenho com que o tenente-coronel se apressava a chamar «o helicóptero para tratar da evacuação dos inimigos feridos». Sobre as críticas que agora lhe fazem, o furriel não hesita: «Nunca vi e não acredito».



Héroi ou vilão?

Quem serviu ou participou em operações militares com Marcelino da Mata louva-lhe a bravura nas ‘trincheiras’ e não deixa de lamentar que as cerimónias fúnebres não tivessem tido honras militares, mas a controvérsia mediática que lhe resgatou o nome do quase anonimato não se limita ao facto de ter havido ou não guarda de honra e salvas de tiros no funeral, em Queluz.

Recorde-se que o presidente da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço, acusa Marcelino da Mata de ter cometido «crimes de guerra» na Guiné, com «especial relevo» na ‘Operação Mar Verde’.

A mesma expressão foi usada pelo historiador Fernando Rosas, que considera que Marcelino da Mata só não foi chamado à justiça «porque foi protegido quer pela ditadura, quer pelos comandos militares». Para Rosas, o tenente-coronel foi «um homem que traiu a causa nacional do seu país através de uma ação dentro de um corpo de tropa especial, os Comandos, onde é acusado de cometer crimes gravíssimos».

Mamadou Ba foi outras das vozes críticas do tenente-coronel. «O CDS quer que se decrete luto-nacional pelo falecimento do sanguinário Marcelino da Mata que confessara o seguinte: ‘Nunca entreguei um turra à PIDE, cortava-lhes os tomates, enfiava-lhos na boca, e ficava ali a vê-los morrer’. É a assunção de uma desavergonhada filiação ideológica ao horror colonial», escreveu o ativista do SOS Racismo no primeiro texto nas redes sociais em que abordou o tema e que lançou a polémica. «Queixam-se do uso displicente do qualificativo ‘fascista’ e refutam a filiação ideológica ao fascismo. Mas investem na homenagem a figuras sinistras como Cónego Melo, Kaúlza de Arriaga e Marcelino da Mata. Marcelino da Mata é um criminoso de guerra que não merece respeito nenhum», acrescentou.

Em reação às palavras de Mamadou Ba, o CDS veio exigir a sua «saída imediata» do Grupo de Trabalho para a Prevenção e o Combate ao Racismo e à Discriminação, criado pelo Governo em janeiro, por «insultar» o tenente-coronel Marcelino da Mata. «Mamadou Ba destila e incita ao ódio impunemente, beneficiando da passividade e ‘vista grossa’ das autoridades, despreza os principais referenciais da nossa cultura, insulta as nossas instituições, as nossas leis, e, mais recentemente, um dos maiores heróis do nosso tempo – também ele alvo de discriminação – o tenente-coronel Marcelino da Mata, falecido esta semana, vítima de covid-19», sublinhou o CDS, num comunicado assinado pelo vice-presidente do partido Miguel Barbosa.

«O racista Mamadou Ba não pretende apenas ‘matar o homem branco’, o seu ativismo fanático dispõe-no também a ‘matar o homem negro’ se leal e patriota. Refere-se a Marcelino da Mata em termos inaceitáveis: ‘figura sinistra’, ‘criminoso de guerra’ ou ‘malogrado sanguinário’», continuou o dirigente centrista, lembrando ainda que o partido pediu, «perante o silêncio ensurdecedor das principais figuras do Estado», luto nacional e funeral de Estado para o tenente-coronel, defendendo que «Portugal deve a Marcelino da Mata a homenagem que em vida nunca lhe prestou».

O Chega, de André Ventura, também criticou Mamadou Ba, anunciando mesmo que apresentará queixa contra o ativista junto da Procuradoria-Geral da República, por «ofender gravemente a memória de pessoa falecida», um crime previsto e punível com pena até seis meses de prisão. O partido acusa ainda o ativista de ser «notoriamente racista» e de «desrespeitar os cidadãos e instituições portuguesas e continuar impune (...), mais uma vez, ao insultar aquele que foi e sempre será um exemplo de lealdade à bandeira nacional, de amor à nação portuguesa e de respeito pelos princípios de uma democracia constitucional».

Entretanto, foi também lançada uma petição pública, que terá sido já assinada por quase 30 mil pessoas, para a expulsão de Mamadou Ba, de origem senegalesa, de Portugal. O SOS Racismo já veio repudiar a iniciativa, sublinhando que as declarações de Mamadou Ba estão «assentes no pleno exercício de uma democracia plural, têm sido alvo frequente de ataques que excedem o contraditório legítimo, para se instalarem no insulto, no ataque difamatório quando não da ameaça pessoal».

A polémica está assim mais do que instalada e as televisões, cujos telejornais quase ignoraram na altura a morte de Marcelino da Mata, promovem agora debates sobre se o tenente-coronel era um herói ou um vilão. Foi, aliás, um desses debates que motivou novo texto de Mamadou Ba. «Há pouco, na TVI [quarta-feira à noite], houve basicamente um debate entre o CDS (representado pelo Sebastião Bugalho e pelo inefável Nuno Melo) e o SOS Racismo, na pessoa da Joana Cabral», começou por escrever. «Nuno Melo, foi igual a si próprio, ou seja, um marialva trafulha que mente com todos os dentes. Ainda assim, mostrou-se um cobardola que, ao mesmo tempo que exaltava a coragem do criminoso de guerra». E continuou no mesmo tom: «E, a dada altura, revelou o verdadeiro fascitoide que é, quando falou nas ‘pessoas de bem’, copiando o Ventura. Assina assim a certidão de óbito do CDS, entregando o espólio que resta ao Chega».



Socialistas divididos

Mas a controvérsia não se fica pelas discussões nas redes sociais, petições infrutíferas ou trocas de argumentos de comentadores televisivos, e já chegou ao Parlamento. O voto de pesar pela morte de Marcelino da Mata, cujo texto foi consensualizado previamente na comissão de Defesa, com o apoio do PS, não foi do agrado de toda a bancada socialista.

«Marcelino da Mata destacou-se pela sua coragem e bravura individual, sem se ter ferido alguma vez com gravidade. Ao longo do seu percurso, obteve um elevado número de louvores e diversas condecorações», referia o texto do voto de pesar, aprovado na Assembleia da República, na quinta-feira, com votos a favor da maioria do PS e da totalidade dos deputados do PSD, do CDS, do Chega e do Iniciativa Liberal. Contra votaram o BE, o PCP, os Verdes, o PAN, a deputada não-inscrita Joacine Katar Moreira e três socialistas: Ascenso Simões, Paulo Pisco e Eduardo Barroco de Melo. Já a deputada não-inscrita Cristina Rodrigues e os deputados do PS Porfírio Silva, Miguel Matos, Maria Begonha, Cláudia Santos, Joana Sá Pereira, Tiago Barbosa Ribeiro e Bruno Aragão abstiveram-se.

A discordância entre os socialistas ficou mais do que evidente, e alguns deputados anunciaram declarações de voto.



Dores fantasma e memória seletiva

Quem olhasse para a vida de Marcelino da Mata em retrospetiva, poderia adivinhar que a sua morte só iria alimentar a polémica e adensar a ambígua relação que Portugal tem com os ex-combatentes da guerra em África em geral, e com Marcelino da Mata em particular.

Ora veja-se: o mesmo país por quem lutou e que tanto o condecorou foi o mesmo que permitiu que fosse torturado em maio de 1975 por militares de extrema-esquerda ligados ao MRPP no Regimento de Artilharia Ligeira de Lisboa (RALIS), quartel símbolo do PREC, e que mais tarde o obrigou ao exílio em Espanha.

A polémica está, intencionalmente, mais centrada na figura do tenente-coronel dos Comandos: se era um herói digno de luto nacional, como pediu o CDS; um criminoso de guerra, como acusou Mamadou Ba; ou ainda um traidor, como foi tratado pelo MRPP em 75. Mas o que, em última análise, acaba por estar em discussão é a forma como os portugueses escolhem olhar para a sua História, que como a de tantos outros países, com passados coloniais, tem dores que ainda assombram.

As novas abordagens recomendadas sobre o lecionamento dos Descobrimentos em sala de aula e os nomes rasurados ou despidos de importância dos manuais escolares, mostram que tivesse Marcelino da Mata direito a uma estátua e esta seria provavelmente vandalizada em poucas horas.



a outra parte

https://www.publico.pt/2021/02/20/polit ... es-1951395

https://observador.pt/2021/02/19/deputa ... brimentos/

Ascsnso Simões... enfim..




Deputado do PS defende demolição do Padrão dos Descobrimentos
Deputado defende que as "revoluções servem para fazer cortes" e sugere que "devia ter havido sangue" no 25 de abril. Não é literal, diz ao Observador. Mas demolição do Padrão dos Descobrimentos sim.


Rita Dinis
Texto
19 fev 2021, 21:21 434

56179
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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Quando, esta semana, o Parlamento aprovou um voto de pesar pela morte do tenente-coronel Marcelino da Mata, Ascenso Simões (e outros dois deputados do PS) votou contra, contrariando o sentido de voto indicado pela sua bancada. Um dia depois, num artigo publicado no jornal Público, defendeu que “o país esquece rápido o seu passado” e que, nesse sentido, o Padrão dos Descobrimentos “devia ter sido destruído”. Mais: no 25 de Abril “devia ter havido sangue, devia ter havido mortos”.


Ao Observador, o deputado socialista explica que não foi literal quando escreveu que “devia ter havido mortos” no 25 de Abril, mas sim “simbólico”. “Não se trata de mortos físicos nem de sangue derramado nas ruas, mas de cortes epistemológicos. Cortes verdadeiros do ponto de vista da política, da transformação da sociedade”, diz. Quanto ao Padrão dos Descobrimentos, mantém o que disse: da mesma forma que estátuas foram derrubadas e que a ponte Salazar mudou de nome para ponte 25 de Abril, também o Padrão devia ser destruído enquanto “monumento do regime ditatorial” que é.



“Quando não temos leitura da história achamos que a normalidade é passar por um qualquer momento sem nos questionarmos. Mas se nos questionássemos, enquanto sociedade, perguntaríamos porque é que não derrubamos aquele que é um dos grandes monumentos do regime ditatorial”, diz em declarações ao Observador, afirmando que as revoluções servem para “fazer cortes” e que, nesse sentido, o 25 de Abril não “fez os cortes suficientes para limpar da nossa memória elementos que são danosos da construção de uma democracia plena”.

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No artigo publicado no jornal Público, Ascenso Simões afirma que, “em Portugal, o salazarismo foi muito eficaz na construção de uma história privativa, garantindo, até hoje, a perenidade dos mitos do desígnio português, dos descobrimentos, ou do império”. Mas, no entender do deputado socialista, não existiu império nenhum. Esse império foi apenas uma construção do salazarismo e, mantendo de pé monumentos como o Padrão dos Descobrimentos, faz com que essa construção permaneça viva.

“Falta o conhecimento da história. Falta perceber verdadeiramente que não tivemos império nenhum. Que os tempos que vivemos desde o século XV até ao 25 e Abril foram tempos de grande instabilidade que nunca consolidaram império nenhum, mas esse império que está na nossa cabeça é o império salazarista. É uma construção simbólica do império salazarista”, diz o deputado ao Observador, sublinhando que ao fim de 40 anos de democracia ainda “não nos queremos confrontar com o passado” e que a primeira vez que a Constituição da República Portuguesa fala de império é a Constituição de 1933, a “Constituição Salazarista”.

Sobre a morte de Marcelino da Mata, o deputado socialista — que se opôs a que o PS votasse a favor de um voto de pesar — afirma que as condecorações de Marcelino da Mata que “serviram para aprovar um voto de pesar pela sua morte” não são mais do que “cruzes de ferro da nossa doméstica vida das décadas de 1960 e 1970”. “O ser humano, todo ele, merece o maior respeito na morte. Porém, são os que se aproveitaram e aproveitam de Mata, do seu passado e das suas medalhas fascistas, quem o desrespeita, quem lhe nega a paz eterna como salvação do seu passado abusador”, afirma.

quem é este artista?..

https://observador.pt/seccao/politica/ascenso-simoes/

https://www.sabado.pt/portugal/detalhe/ ... tado-do-ps



https://twitter.com/arquivo_pt/status/1 ... 6167955456

https://www.youtube.com/watch?v=eL40ms30HbA

etc etc

sugestão..

deitar abaixo tudo o que foi preservado... A ponte Salazar...é uma vergonha... o ouro que resta .. é uma vergonha devia ser queimado e deitado ao rio .. e aqueles mamarrachos onde está este palerma e outros a ganhar fortunas para dizerem asneiras e nada fazerem?
 
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Re: O militar mais condecorado no Exército português

por mario s carvaho » 19/2/2021 22:22

Por muito que tenha de me conter.. caros amigos .. não comento mais

Já me parece a guiné ... tentamos dar a nossa opinião lutamos . tentamos a conciliação ... conhecem-nos-- cativam-nos e depois abatem-nos

não vou cair na mesma ingenuidade

os mamadus, mais alguns e o seu covil .. é que explicam, bem .. acabo , sem querer, de dar dar razão ao opcard







https://sicnoticias.pt/programas/eixodo ... ao-Caupers


http://www1.ci.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=th6


Mamadu é um escroque

https://ionline.sapo.pt/artigo/725399/m ... i%C3%A3o_i
 
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Re: O militar mais condecorado no Exército português

por PMP69 » 19/2/2021 20:52

https://www.dw.com/pt-002/otelo-aconselhou-fidel-castro-a-avan%C3%A7ar-rumo-a-angola/a-17507318

Como alguém já mencionou, o ENLA entrou em Angola via Ambriz com os Comandos do Gilberto Santos e Castro, e na véspera da declaração da independência em Luanda, pelo MPLA, esteve no Morro da Cal e ia tomar Luanda. Foi traído pela retirada dos artilheiros Sul Africanos, que juntamente levaram as culatras das peças de artilharia, a pedido da CIA, dado que queriam que fosse a UNITA, apoiada pelas SADF, a entrar pelo sul.

O Otelo Saraiva de Carvalho e o Rosa Coutinho, foram os obreiros da entrega de Angola à URSS.

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Re: O militar mais condecorado no Exército português

por Opcard » 19/2/2021 11:17

O meu espanto absoluto é encontrar a deputada Cláudia Santos no grupo das abstencionistas com as suas certezas ela é uma castigadora mesmo para inocentes como presidente do conselho de disciplina , aqui ela é uma empata.

A abstenção é o clube dos fracos e quem é fraco não pode presidir .
 
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Re: O militar mais condecorado no Exército português

por soso » 19/2/2021 11:03

https://www.cmjornal.pt/sociedade/detal ... oTematico6

A Assembleia da República aprovou esta quinta-feira um voto de "profundo pesar" pela morte do tenente-coronel Marcelino da Mata, vitimado há uma semana pela covid-19, mas BE, PCP, PAN, "Os Verdes", Joacine Katar Moreira e três socialistas votaram contra.
1886 – Estátua da Liberdade; oferecida pelos Franceses como aniversário do 1º século de independência dos EUA
A estátua era um símbolo da democracia e das leis
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Re: O militar mais condecorado no Exército português

por Opcard » 19/2/2021 9:35

Boa explicação :

“ Mas a sua morte, a sua figura, a sua memória ou foram caladas ou levantaram polémica. E porquê?

Porque para a esquerda de variante americana que anda agora por aí, homens como Marcelino da Mata não podem existir. Incomodam. Desassossegam. Baralham. Não cabem na narrativa simplista e maniqueísta adoptada. Não se encaixam no paradigma. Não cumprem o papel de “negros úteis”; um papel que outrora seria, paternalisticamente, a docilidade e a gratidão mas que agora parece ser, também paternalisticamente, a insurreição ou, mais precisamente, o “activismo anti-racista”. É este o guião – também ocidental e caucasiano – com que os actuais comissários políticos das minorias oprimidas querem perpetuar o racismo. Um negro que tem a ousadia de não se cingir àquilo a que a raça o obriga? Um negro que não se deixa “empoderar” e não quer cumprir o seu destino de minoria oprimida? Um negro da Guiné que combate no Exército Português, nas Forças Especiais, que se distingue em combate, que é condecorado? Um negro que depois do 25 de Abril, no período do PREC, é preso, insultado e torturado no RALIS por oficiais do MFA e maoístas à paisana? Nada disto pode existir e terá, por isso, de ser rapidamente eliminado ou branqueado: Marcelino foi um “traidor” e cometeu “crimes de guerra”; os oficiais do MFA e os ajudantes maoístas foram “corajosos e determinados”, ou mesmo “heroicos”. “
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Re: O militar mais condecorado no Exército português

por forza algarve » 19/2/2021 1:51

Sou estrangeiro por tanto só cabe a mim respeitar tudo o que é português...
Mas nas guerras os Soldados cumprem ordens e este soldado era eficaz e na guerra se mata(mais ainda nesses anos).Ele lutava por Portugal e fez o que ele era mandado fazer.. Também entendo que para os guineenses deve ser um traidor ou assassino..

Analizar os anos 60 (e o passado) com a mentalidade atual não faz sentido
 
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Re: O militar mais condecorado no Exército português

por mais_um » 19/2/2021 1:12

“Os heróis têm um ideal, Marcelino da Mata não tinha”

Morte reabriu a ferida colonial. Eanes apela: “O que se deve discutir é a guerra”

Foi incorporado no serviço militar no lugar do irmão, em janeiro de 1960 e, 51 anos depois, não resistiu à pandemia da covid-19, doença que o vitimou. Teve direito a funeral com a presença do chefe de Estado, voto de pesar na Assembleia da República e uma polémica que polarizou extremos. “Nunca foi herói. Os heróis têm um ideal, Marcelino da Mata não o tinha”, disse ao Expresso o coronel Carlos Matos Gomes, militar da revolução de Abril, que combateu na Guiné durante a Guerra Colonial, alertando que a polémica que se gerou em torno deste homem, apresentado como o militar mais condecorado do Exército português, é uma tentativa de “reescrita da História”.

Marcelino da Mata era “muito sereno. Mas era violento. Media muito bem os riscos, fazia uma análise muito ponderada das situações. Sabia sempre como sair das operações” em que participava cumprindo ordens das então autoridades portuguesas, diz Carlos Matos Gomes.

As guerras não são bonitas de se ver e muito menos de se viver e lembrar. Mesmo quando vivemos num país em que a democracia recauchutou o luso-tropicalismo. “Os exércitos regulares precisam de fazer operações irregulares, que não são feitas pelas leis da guerra”, diz o coronel Matos Gomes.

Eanes rejeita “simplificação radical“

Em Portugal, a revolução que acabou com a ditadura, a censura e a polícia política foi feita por militares que combateram na Guerra Colonial, o que faz com que os “heróis dessa revolução sejam, em grande parte, os militares que estiveram na Guerra Colonial e participaram na descolonização”, explica o historiador e politólogo António Costa Pinto: “A transição democrática acertou contas com o passado ditatorial, mas não as ajustou com o passado colonial e com o colonialismo tardio.”

Para o ex-Presidente da República, António Ramalho Eanes, a polémica que se levantou em torno da presença do atual Chefe de Estado no funeral de Marcelino da Mata é uma “simplificação radical”. “Marcelino da Mata foi envolvido numa discussão de esquerda versus direita, quando o que deve ser discutido é a guerra, que é extremamente complexa. Esta fórmula maniqueísta [de abordar o assunto] não contribui para um esclarecimento sobre a Guerra Colonial, as suas razões e motivações, e as suas consequências”, diz o ex-Presidente. Também na opinião do ex-ministro da Defesa e historiador Nuno Severiano Teixeira, este debate “não deve ser visto com um problema de esquerda-direita, mas como uma questão de política da memória”.

A crescente afirmação do Chega e os 11,9% de votos obtidos por André Ventura nas presidenciais de 24 de janeiro não são indiferentes à gestão política da memória que envolveu o funeral de Marcelino da Mata. Até aqui “a chamada dinâmica associativa dos antigos combatentes foi naturalmente apropriada pela extrema-direita, como acontece em [quase] todos os regimes políticos e países que tiveram guerras coloniais”.

A diferença é que “no caso português houve uma dupla dinâmica, e nos últimos 30 anos surgiram monumentos aos antigos combatentes em todo o país”, diz Costa Pinto, lembrando que o antigo Presidente Jorge Sampaio também “esteve presente na inauguração monumento” aos antigos combatentes da Guerra Colonial em Belém [2000]. Agora, o que está verdadeiramente em causa é evitar que a memória da Guerra Colonial fique refém da extrema-direita e seja usada como mais uma bandeira deste sector radical.

“Figuras como a de Marcelino da Mata são clássicas nas guerras coloniais. Houve-as na Guerra da Argélia, houve-as noutros cenários. No caso português, mais de metade dos combatentes na Guerra Colonial eram de origem africana. As tropas recrutadas localmente conheciam melhor o terreno, falavam as línguas nativas”, explica Costa Pinto.

Marcelino da Mata “cumpria as ordens que lhe eram dadas”, diz Carlos Matos Gomes: “Era eficaz” nas operações irregulares em que participava, um facto tão pesado e paradoxal para a memória histórica da Guerra Colonial que o fez somar condecorações. “Era necessário promovê-lo e para o promover era preciso condecorá-lo”, explica Matos Gomes, lembrando que financeiramente não ficou “tão mal” como alguns querem fazer, crer: “Só que tinha 14 filhos. Fui ao funeral porque era amigo dele”, acrescenta o capitão de Abril.

https://leitor.expresso.pt/semanario/se ... -nao-tinha
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Re: O militar mais condecorado no Exército português

por PMP69 » 18/2/2021 20:43

E chegaram ao Biafra, via Guiné.

Lê que vale a pena.

Pedro
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Re: O militar mais condecorado no Exército português

por PIKAS » 18/2/2021 20:22

PMP69 Escreveu:
Fica aqui mais um, que relata o envolvinento de Portugal no Biafra.

Os Falcões do Biafra, Fernando Cavaleiro Ângelo.

Pedro
Já mo tinham referido, não li mas quero lê-lo quanto antes.
Curiosamente, o meu gosto pelos aviões e depois seguir por aí durante boa parte da minha vida profissional tem alguma coisa a ver com essa história.
Quando tinha 8 e 9 anos ia com um grupo de putos brincar para o aeródromo de Tires. Ficavamos do lado de fora da rede a ver as descolagens e aterragens quase sempre até perto de ficar escuro e, apesar de morar razoavelmente perto, chegava a casa já noite escura e ainda levava da minha mãe.
Quando por ali estavamos e não havia movimentos, havia 2 brincadeiras que nos deliciavam: brincar num F86 Sabre ( ex-USAF ) que estava num relvado mais ou menos onde hoje é o restaurante do aerodromo. A outra era, do lado de fora da rede, brincar perto de 3 ou 4 T6Harvard que ali estavam, muito maltratados e que por ali ficaram abandonados quando se destinavam ao Biafra. E sabiamos que eram T6 e que se destinavam à guerra do Biafra.
Cumprimentos,
 
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Re: O militar mais condecorado no Exército português

por Opcard » 18/2/2021 20:00

 
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Re: O militar mais condecorado no Exército português

por mario s carvaho » 18/2/2021 19:57

PIKAS Escreveu:
mcarvalho++ Escreveu:A posição de Spinola e de Costa Gomes , deu mais força a quem estava cansado, a quem se sentia menospresado (os capitães.. que por falta de majores e coroneis eram ultrapassados em graduação e em vencimento pelos "barrigudos" oficiais milicianos do chamado CPC ( curso para capitaes) ...

Não penses assim porque estás profundamente enganado e és muito injusto.
Os oficiais milicianos, capitães milicianos incluidos, foram a partir do meio dos anos sessenta a alma da guerra nas 3 frentes. Digo-te que se não fossem os milicianos, a guerra tinha acabado antes do fim dessa década.
Os milicianos eram putos de 20, 21 ou 24 anos de idade e com essa idade ninguém é barrigudo.
Nesta guerra os oficiais superiores, majores e coronéis, não tinham nenhum interesse. Faziam a guerra do " ar condicionado ".
Quem fazia a guerra era a companhia e daí a falta de capitães que a Academia Militar não conseguia formar por falta de candidatos. É por isso que em 1973 surge o decreto-lei que estabelecia as condições para a passagem dos oficiais milicianos ao quadro permanente, ocupando o seu lugar na antiguidade à frente de oficiais mais novos, mas oriundos da AM.
Pronto, mexeram na corporação, deu bota. É sempre assim.
Cumprimentos,


Caro Pikas

só respondo agora porque estive ausente

eu fui miliciano de Cavalaria , e tirei a especialidade em 1970. tina 21 anos e um curso "partido". o Comandante de Esquadrão era o então Tenente Salgueiro Maia, pessoa com quem tive o prazer de conviver e admirar, como Homem, militar e amigo

mas isto não vem muito ao caso

...Talvez a forma como escrevi desse aso à interpretação que fizeste, pelo que te agradeço a oportunidade que me dás de clarificar, e louvo a tua atitude


cito :

A posição de Spinola e de Costa Gomes , deu mais força a quem estava cansado, a quem se sentia menospresado (os capitães.. que por falta de majores e coroneis eram ultrapassados em graduação e em vencimento pelos "barrigudos" oficiais milicianos do chamado CPC ( curso para capitaes)

o que queria dizer era que havia um grande descontentamento dos tenentes e sobretudo capitães do quadro




poor falta de oficiais superiores , principalmente major e tenente coronel, aproveitaram os os que tinham pedido para terminar o curso superior, em vez da incorporação, para os convidar a frequentar o chamado CPC (curso para capitães).. que onstava de uma recruta aligeirada e depois uma especialidade.. sendo promovidos a capitão passado 6 meses, já não me recordo e depois frequentarem o curso para of superior

o PMP faz uma óptima refencia a esse facto que cito:

"3ª O 25 de Abril tem na sua génese no decreto-lei 353/73, que permitia aos oficiais melicianos (abaixo de capitão) passarem para o quadro permanente, mediante um curso intensivo na AM, concorrendo directamente com os ofíciais que vinham da AM (já reconhecido pelo Otelo)."[b]
[/b]
os capitães do quadro , eram assim ultrapassados pelos "barrigudos, como alguns do quadro lhes chamavam ( já tinham 26 ou 27 anos, eram médicos, engenheiros. economistas , sem grande preparação física mas iriam suprir a tal lacuna

o descontentamento dos capitães do quadro , foi aproveitado por estruturas politicas organizadas, como não conseguiam ganhar a guerra no terreno (em angola e Moçambique) para mudar o regime em Portugal e assim cumprir a missão para que aliciados pelas potencias entrangeiras que já referi

Os milicianos, quer soldados, furriéis , alferes tenetes e capitães foram os grandes herois.. HOMENS COM 18, 19, 20, 21 , 22, ANOS
ERA ISTO QUE QUERIA DIZER

...
Editado pela última vez por mario s carvaho em 18/2/2021 20:01, num total de 2 vezes.
 
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Re: O militar mais condecorado no Exército português

por PMP69 » 18/2/2021 19:33

PIKAS Escreveu:
PMP69 Escreveu:
Deserções sempre houveram, de lado a lado, e se alguma vez foram negociadas, nunca foram a este nível.

A base do acordo estava aceite por Amílcar Cabral, e baseava-se em:

- decreto de um cessar-fogo seguido de negociações sem condições;
- implementação de um período de autonomia interna na Guiné com limites e prazos a discutir em conferência entre o Governo português e os partidos políticos guineenses;
- concessão da independência numa perspetiva de integração numa comunidade luso-africana.

Essas mortes dão-se na sequência do acima exposto, que o início era do conhecimento de um grupo muito restrito, e que quando foi partilhado provocou uma divisão na direcção do PAIG, que já era frágil.

Tanto mais que o Amílcar Cabral é assassinado em Conakri em 1973, por elementos do PAIGC.

Pedro
Caro Pedro,
O chamado massacre no chão manjaco aconteceu na tarde de 20 de abril de 1970. Amilcar Cabral é assassinado em janeiro de 1973.
Eu relatei o que aconteceu baseado no testemunho de quem viveu tudo isto, em 1970.
Cheguei ao serviço militar em 1980 e estive lá 20 anos durante os quais muitos destes homens que viveram isto trabalharam e conviveram comigo todos os dias. Numa altura, o meu camarada de quarto tinha estado na Guiné de 68 a 71 e em Moçambique de 74 a 75.
Passei meses e meses, anos, dia após dia, a ouvi-los contar como fizeram a guerra, o que aconteceu e o que viram. Jantávamos, quase sempre descia-mos para o café e ao primeiro whisky dizia-se mal do Mário Soares ( era inevitável ) e ao segundo e seguintes o tema era a guerra. Estavamos nisto até às onze, meia-noite.
Portanto, não vale a pena estar aqui a dizer-te que não foi assim. Procura esclarecer-te melhor
Quanto aos livros que referes, acrescento mais um: " Portugal e as guerrilhas de áfrica " tradução de Isabel Jardim do original " Portugal's guerrilla wars in africa - Lisbon's three wars in Angola, Mozambique and Portuguese Guinea ", de Al J. Venter, editado pelo Clube do Autor em 2013.
O autor era um jornalista sul-africano que se dedicou a cobrir as 3 frentes de guerra e, talvez pela amizade com os " primos ", foi-lhe permitido acompanhar bastantes operações integrado nas tropas, sendo assim um dos pouquissimos jornalistas a quem tal era permitido. São mais de 500 páginas que vale a pena ler.
Cumprimentos,



Tens razão, estava indevidamente a ligar os dois acontecimentos. O episódio que falas deu-se em 1970, enquanto o início dos contactos com o PAIGC dá-se em 1971.

Não conheço, mas fui ver e já está na lista de compras.

Há uns anos o Corte Inglês tinha uma excelente livraria, com muitos livros de história militar.

Fica aqui mais um, que relata o envolvinento de Portugal no Biafra.

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Re: O militar mais condecorado no Exército português

por djovarius » 18/2/2021 18:50

Por interesse histórico, imagens raras a cores da Guiné, numa reportagem da INA (França)

https://www.youtube.com/watch?v=DAvTElaKz7k
Cuidado com o que desejas pois todo o Universo pode se conjugar para a sua realização.
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