AmLat - resumo da semana

Olá, tudo bem? Esta semana, o resumo sai atrasado, devido ao fim de semana prolongado. Mesmo assim, vamos lá, hoje directo do Rio de Janeiro, a antiga cidade maravilhosa, hoje vilipendiada pelo crime organizado, o que é de lamentar em todos os sentidos.
Uma semana com feriado e ponte (aqui diz-se enforcar o feriado), mas mesmo assim com a polémica a subir de tom no Brasil – deve o Governo intervir no mercado financeiro ?
Lá fora, fala-se do bull market e até da volta da Bolha aos mercados accionistas. As posições estão ao rubro: a discórdia voltou às discussões entre ursos e touros de serviço. Se o seguinte exemplo serve de alguma coisa em relação a isso, ele aí vai: na segunda-feira, o índice Merval da Bolsa de Buenos Aires caiu mais de 8%. Um mini-crash que foi, acredito, motivado pelo “cair na real”. Vejamos: desde os mínimos do fim de 2001, dos tempos da recessão, do encurralar dos depósitos bancários, da crise política até agora, passado um ano e meio apenas, o Merval já subiu cerca de 50%, com altos e baixos (poucos) pelo meio, sendo que só em 2003 já levava mais de 22% de valorização, a qual era ainda maior para os investidores sediados nos países do Euro e sobretudo do dólar, devido à recuperação do peso Argentino. Este movimento especulativo já descontava a perspectiva de melhorias após uma recessão de 4 anos e o factor de confiança num novo Governo saído das eleições que vão agora para a 2ª volta. Na segunda-feira passada, além do habitual e rotineiro “vender na notícia”, o mercado acordou para a realidade – são os velhos políticos e a velha política que ainda dominam, os problemas são tão graves na presente situação que as conjecturas que se possam fazer não deverão ultrapassar os limites da prudência e do bom senso. Os próximos tempos dirão se há ou não uma bolha ou mesmo se houve uma tentativa de a inflar.
O curioso desta história é que o mercado de São Paulo demonstrou sempre uma euforia mais contida, mesmo com uma realidade macro económica mais favorável no Brasil, quando comparada com a do seu hispânico vizinho. A fase das euforias seguidas de fortes correcções já passou por aqui e parece ter ensinado uma importante lição. Hoje, vemos valorizações e correcções mais suaves e mais condicentes com o momento e perspectivas futuras.
Como não há bela sem senão, bolha é a palavra certa para a taxa de câmbio USD/Real. Há quem não aprenda com a história. Após desvalorizações especulativas sem sentido, segue-se o percurso ao contrário, eufórico e sem suporte em indicadores de espécie alguma. O assunto é tão sério que continua a causar discussões internas no Governo Lula. O Presidente foi praticamente obrigado, ontem, a colocar água na fervura. Antes, ele afirmara que o mercado haveria de encontrar uma taxa de câmbio estável e equilibrada, pelo que o Governo não interviria no mercado. Esta semana, o Real começou por disparar, num mercado convencido que não haveria intervenção, tendo ido mesmo aos 2,90 por dólar, apenas. A partir daí, a confusão: enquanto o ministro da Fazenda afirmava que o salário mínimo ainda valeria 100 dólares (sinalizando o à vontade com um câmbio de apenas 2,40), o “lobby” exportador afirmava que, continuando a queda do dólar, as exportações não poderiam mais continuar a bater recordes sucessivos como até agora. Ontem, enquanto o “intraday” do USD/Real mais parecia uma montanha russa (não é isso afinal o mercado como um todo?), Lula, numa visita a uma feira agrícola, teve que discursar novamente sobre o assunto, para agradar a gregos e troianos. Nem Real em queda, nem dólar excessivamente baixo. O mercado vai mesmo achar um ponto de equilíbrio sem intervenção estatal e essa estabilidade vai dar a tranquilidade para que o país trabalhe e volte a crescer a níveis que permitam criar mais riqueza e mais empregos (nunca pensei em ver um tal acto de veneração de um ex-sindicalista pelas virtudes do mercado aberto, defendendo implicitamente que esse mercado tem razão, para o bem e para o mal). Seja como for, este tema não é recorrente, ainda será polémico nos próximos tempos, sobretudo se a euforia actual do Hemisfério norte persistir por muito tempo.
Não é alheia a esta euforia do câmbio, a constante entrada de capitais, embora mais pela via do crédito do que pela do investimento directo. Também se assiste a um “stock picking” selectivo, procurando valor, e sobretudo assiste-se à forte compra de papéis da dívida pública pelos grandes investidores internacionais. O C-Bond, que já valeu menos de metade do valor de face, vale agora quase 90% desse valor. O risco – país do Brasil já caiu a menos de 800 pontos e deverá cair mais ainda. A Standard & Poors elevou a notação da dívida pública e o FMI afirmou que a política económica do Brasil é um exemplo para os países emergentes. Finalmente, o superavit comercial já vai em US$ 5.500 milhões, o que é notável em apenas 4 meses do ano. Não esquecer, porém, que um Real mais elevado pode comprometer este sucesso. As taxas de juro não baixarão enquanto a inflação mensal não cair. Esta ainda atinge quase 1%, mas deverá cair agora com a baixa do gás, gasolina e diesel, situação que compensará outro tipo de aumentos. Se isso acontecer, os juros começam a baixar e o rally da Bovespa tem porta aberta para prosseguir, até porque, em 2003, a valorização só há pouco passou dos 10% após um ano de 17% de perdas...
Vamos lá então aos números da semana e para a próxima, é claro que vamos ficar juntos de novo, de volta a São Paulo, de volta também ao “trading”. Amigos, será que a bolha está por todos os lados?
Ficam os câmbios médios indicativos do Real – hoje, sexta-feira e do BOVESPA (números finais)
IBOVESPA – 12.810 pts – o índice subiu 5,9 % na semana
US$ 1 = R$ 2,96 – o dólar desceu 1,2 % na semana
€ 1 = R$ 3,33 – o Euro subiu 0,1 % na semana
Obs.) Para quem está a chegar ao Brasil, de férias ou negócios, o câmbio turismo aponta para um valor de R$ 3,26 aprox.
Um abraço, bom fds
djovarius
Uma semana com feriado e ponte (aqui diz-se enforcar o feriado), mas mesmo assim com a polémica a subir de tom no Brasil – deve o Governo intervir no mercado financeiro ?
Lá fora, fala-se do bull market e até da volta da Bolha aos mercados accionistas. As posições estão ao rubro: a discórdia voltou às discussões entre ursos e touros de serviço. Se o seguinte exemplo serve de alguma coisa em relação a isso, ele aí vai: na segunda-feira, o índice Merval da Bolsa de Buenos Aires caiu mais de 8%. Um mini-crash que foi, acredito, motivado pelo “cair na real”. Vejamos: desde os mínimos do fim de 2001, dos tempos da recessão, do encurralar dos depósitos bancários, da crise política até agora, passado um ano e meio apenas, o Merval já subiu cerca de 50%, com altos e baixos (poucos) pelo meio, sendo que só em 2003 já levava mais de 22% de valorização, a qual era ainda maior para os investidores sediados nos países do Euro e sobretudo do dólar, devido à recuperação do peso Argentino. Este movimento especulativo já descontava a perspectiva de melhorias após uma recessão de 4 anos e o factor de confiança num novo Governo saído das eleições que vão agora para a 2ª volta. Na segunda-feira passada, além do habitual e rotineiro “vender na notícia”, o mercado acordou para a realidade – são os velhos políticos e a velha política que ainda dominam, os problemas são tão graves na presente situação que as conjecturas que se possam fazer não deverão ultrapassar os limites da prudência e do bom senso. Os próximos tempos dirão se há ou não uma bolha ou mesmo se houve uma tentativa de a inflar.
O curioso desta história é que o mercado de São Paulo demonstrou sempre uma euforia mais contida, mesmo com uma realidade macro económica mais favorável no Brasil, quando comparada com a do seu hispânico vizinho. A fase das euforias seguidas de fortes correcções já passou por aqui e parece ter ensinado uma importante lição. Hoje, vemos valorizações e correcções mais suaves e mais condicentes com o momento e perspectivas futuras.
Como não há bela sem senão, bolha é a palavra certa para a taxa de câmbio USD/Real. Há quem não aprenda com a história. Após desvalorizações especulativas sem sentido, segue-se o percurso ao contrário, eufórico e sem suporte em indicadores de espécie alguma. O assunto é tão sério que continua a causar discussões internas no Governo Lula. O Presidente foi praticamente obrigado, ontem, a colocar água na fervura. Antes, ele afirmara que o mercado haveria de encontrar uma taxa de câmbio estável e equilibrada, pelo que o Governo não interviria no mercado. Esta semana, o Real começou por disparar, num mercado convencido que não haveria intervenção, tendo ido mesmo aos 2,90 por dólar, apenas. A partir daí, a confusão: enquanto o ministro da Fazenda afirmava que o salário mínimo ainda valeria 100 dólares (sinalizando o à vontade com um câmbio de apenas 2,40), o “lobby” exportador afirmava que, continuando a queda do dólar, as exportações não poderiam mais continuar a bater recordes sucessivos como até agora. Ontem, enquanto o “intraday” do USD/Real mais parecia uma montanha russa (não é isso afinal o mercado como um todo?), Lula, numa visita a uma feira agrícola, teve que discursar novamente sobre o assunto, para agradar a gregos e troianos. Nem Real em queda, nem dólar excessivamente baixo. O mercado vai mesmo achar um ponto de equilíbrio sem intervenção estatal e essa estabilidade vai dar a tranquilidade para que o país trabalhe e volte a crescer a níveis que permitam criar mais riqueza e mais empregos (nunca pensei em ver um tal acto de veneração de um ex-sindicalista pelas virtudes do mercado aberto, defendendo implicitamente que esse mercado tem razão, para o bem e para o mal). Seja como for, este tema não é recorrente, ainda será polémico nos próximos tempos, sobretudo se a euforia actual do Hemisfério norte persistir por muito tempo.
Não é alheia a esta euforia do câmbio, a constante entrada de capitais, embora mais pela via do crédito do que pela do investimento directo. Também se assiste a um “stock picking” selectivo, procurando valor, e sobretudo assiste-se à forte compra de papéis da dívida pública pelos grandes investidores internacionais. O C-Bond, que já valeu menos de metade do valor de face, vale agora quase 90% desse valor. O risco – país do Brasil já caiu a menos de 800 pontos e deverá cair mais ainda. A Standard & Poors elevou a notação da dívida pública e o FMI afirmou que a política económica do Brasil é um exemplo para os países emergentes. Finalmente, o superavit comercial já vai em US$ 5.500 milhões, o que é notável em apenas 4 meses do ano. Não esquecer, porém, que um Real mais elevado pode comprometer este sucesso. As taxas de juro não baixarão enquanto a inflação mensal não cair. Esta ainda atinge quase 1%, mas deverá cair agora com a baixa do gás, gasolina e diesel, situação que compensará outro tipo de aumentos. Se isso acontecer, os juros começam a baixar e o rally da Bovespa tem porta aberta para prosseguir, até porque, em 2003, a valorização só há pouco passou dos 10% após um ano de 17% de perdas...
Vamos lá então aos números da semana e para a próxima, é claro que vamos ficar juntos de novo, de volta a São Paulo, de volta também ao “trading”. Amigos, será que a bolha está por todos os lados?
Ficam os câmbios médios indicativos do Real – hoje, sexta-feira e do BOVESPA (números finais)
IBOVESPA – 12.810 pts – o índice subiu 5,9 % na semana
US$ 1 = R$ 2,96 – o dólar desceu 1,2 % na semana
€ 1 = R$ 3,33 – o Euro subiu 0,1 % na semana
Obs.) Para quem está a chegar ao Brasil, de férias ou negócios, o câmbio turismo aponta para um valor de R$ 3,26 aprox.
Um abraço, bom fds
djovarius