Escreveu o Senhor Engenheiro:
A aposta na energia eólica é a culpada do recente aumento dos preços grossistas da eletricidade para valores históricos superiores a €150/MWh.
Nada mais falso. O que seria do país neste momento, e após Portugal ter assinado o Acordo de Paris (que fez disparar o preços da energia elétrica a partir de combustíveis fósseis), se não tivesse investido em renováveis, nomeadamente em eólicas, oportunamente? A fatura da nossa conta da eletricidade iria mais que duplicar de valor.
A energia eólica foi remunerada em Portugal com uma
tarifa máxima garantida de €90/MWh (feed-in tariff, ou FIT). Atualmente, já há tarifas bem mais baixas do que esta.
Em 2010, com o preço médio ponderado do MIBEL em 40 euros, é óbvio que o Governo fixou um valor generoso para os produtores de energia eólica. Ganharam muito dinheiro? Não ganharam tanto dinheiro assim porque os custos de produção da energia eólica, nessa altura, eram muito elevados. Em 2011, com o preço médio ponderado do MIBEL em 51,8 euros já a diferença diminuiu bastante.
E quem é que suportou estes custos, este prémio generoso dado às empresas eólicas? O consumidor final.
Isto é um facto e quanto a isso não se pode escamotear a realidade. A aposta do Governo representou um pesado fardo para os portugueses. Ponto. Final. O Governo decidiu apoiar a produção de energia renovável por razões que explicou na altura: independência e autonomia energética do país (evitando a importação de petróleo), por razões de sustentabilidade ambiental, criação de emprego, criação de um cluster nacional ligado às energias renováveis e para incentivar a produção de energia eólica com vista à sua massificação e industrialização para se tornar cada vez mais competitiva com outras fontes de energia.
Estas foram as razões económicas que estiveram na base das decisões de natureza político-económica então tomadas. São criticáveis? São. Cada um é livre de criticar ou não criticar as Opções do Governo.
Por ironia do destino, em 2021, os preços do MIBEL superam em muito a tal tarifa máxima garantida de €90,00 MWh. E os consumidores portugueses podem respirar de alívio porque esta tarifa máxima garantida serve de almofada para evitar o crescimento desmesurado da sua fatura elétrica.
Acresce salientar o seguinte:
a) Com o apoio inicial dado pelo Governo português às empresas eólicas, o custo da energia a partir do vento tem vindo a diminuir, ano após ano, e há empresas a entregar energia ao sistema (REN) a preços sem subsídio algum e a preços bem mais baixos do que os tais famigerados €90,00 MWh.
b) Tanto quanto julgo saber, desde 2018, que deixou de haver subsídios aos produtores de energia eólica;
c) E para espanto de todos, nomeadamente dos governantes, os produtores (ou potenciais produtores) vencem concursos/leilões com propostas de entrega de energia aos sistema de €11,40MWh, como foi o caso de uma empresa sul-coreana no concurso de 2020;
d) Ironia das ironias, agora, são os produtores de energia renovável que suplicam aos governantes uma ligação à rede oferendo energia a preços da uva mijona.
A pergunta que eu gostaria de deixar era a seguinte:
se Portugal tivesse apostado mais em energia de fonte eólica e de fonte fotovoltaica (uma é complementar da outra) e em centrais de armazenamento (de baterias ou outras) não estaria agora numa situação bem mais confortável?O futuro a Deus pertence. Mas a situação irá estabilizar daqui a algum tempo com os incrementos da energia produzida de fonte hídrica (centrais do rio Tâmega e rio Torno), dos muitos projetos em construção ou em vias de construção de fotovoltaicas e do repowering de algumas centrais eólicas.
Portugal, contrariamente ao que diz o Senhor Engenheiro, estaria bem mais confortável se tivesse apostado mais, em tempo, em energias renováveis. Mas nem tudo está perdido e o país está bem melhor do que outros que se atrasaram neste setor.
By Nirvana