Pata-Hari Escreveu:Eu partilho da tua opinião e por isso mesmo coloquei aqui a opinião. Acho uma vergonha alheia o tom inacreditável em que o Medina se refere aos países responsáveis e que não estão a deixar dívidas aos seus filhos como nós. Quem está mal somos nós, nós é que estamos a pedir e assumimos o tom de tudo nos ser devido e dos outros serem ignóbeis e forretas porque sempre aplicámos mal o que nos foi dado e não conseguimos nunca crescer ao ritmo dos outros. Eu gostava de poder ter esta superiormente moral mas nem essa temos. Quanto mais ser arrogante quando estamos a pedir. De facto deveríamos ser paternalisticamente orientados em como gastar porque claramente não o sabemos fazer nem temos ideia da modéstia que é necessária para aceitar bons conselhos de quem faz melhor que nós e de quem tem o pão para nos alimentar na sua mão.
Cara Pata,
Concordo que Portugal, ao longo da sua longa História, mais vezes não soube gerir o seu capital do que soube, e isso, a par de outras questões políticas, geopolíticas, militares e comerciais, conduziram-nos ao estado em que estamos. Mas será que somos, nós do sul, os únicos que alguma vez pediram apoio em tempos difíceis? Nos pós-guerras mundiais, como foi? Bom, adiante. Percebo também, tendo por base a nossa tradicional busca por um "papá" que nos guie na nossa vida, no nosso destino, da nossa idealização de um D. Sebastião que nos venha salvar, ou quiçá um Salazar. Percebo, mas não aceito, e luto contra isso. Luto porque Portugal é soberano e não deve fazer outra coisa que não seja lutar pelos seus interesses, neste caso diplomaticamente. Vai ser jorrado dinheiro na Europa, e se não lutarmos pelo nosso quinhão, ficamos a ver navios. Nem vou desenvolver acerca da importância geoestratética de Portugal na relação da Europa com o Atlântico e com África e Brasil, ou até mais que Portugal, acerca da importância das economias espanhola e italiana para os PIBs holandês e alemão.
Apenas me fico pela necessidade que sinto de contrariar essa desresponsabilização que é querer que venha alguém de fora governar-nos. Não, o nosso dever é ser mais exigente com quem nos governa, votar em consciência, e na nossa vida profissional tentar ser melhor e mais competente, criando o máximo valor possível. Não é atirar com o bébé (o país) para os braços dos outros "porque não somos capazes de nos governar". Mais, neste mundo estamos sempre em competição com toda a gente. Incluindo com aqueles a quem gostaríamos de entregar o nosso destino. Como fizemos nos anos 90, em que aceitámos a troco de fundos a desindustrialização. Eu sou projectista de obras marítimas, por exemplo. Achas mesmo que os holandeses ou os dinamarqueses querem que o meu trabalho seja melhor, para competir com os engenheiros holandeses e dinamarqueses e roubar-lhes os trabalhos? Claro que não. Mas nós queremos. Portanto vamos mas é focar-nos naquilo que queremos ser, cada um de nós, e fazer o melhor que pudermos para ser melhores e criarmos valor. Todo o dinheiro que vier é bem-vindo, e ainda bem que temos alguém a chorar por mais algum (como ser´a aplicado é uma discussão posterior). Bem melhor isso que ter alguém que acha que o problema do país é ganharmos demasiado (quando temos dos salários médios mais baixos da Europa em PPC (nem falo da UE)), vivermos acima das nossas possibilidades, e que o melhor é vir alguém de fora, alguém cujo interesse primeiro é defender as pessoas e empresas dos seus países que competem directamente connosco num mundo globalizado, decidir o nosso futuro. Lamento, mas por mim, não.