Re: Entrevista ao ativo
Enviado: 13/10/2019 14:40
Ultra interessante! Nunca soube onde procurar e sempre ouvi falar nessas oportunidades
Obrigada pela partilha .
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Fórum dedicado à discussão sobre os Mercados Financeiros - Bolsas de Valores
http://caldeiraodebolsa.jornaldenegocios.pt/
http://caldeiraodebolsa.jornaldenegocios.pt/viewtopic.php?f=3&t=89626
pata-hari Escreveu:Ativo, falaste num tema sobre o qual tenho muita curiosidade: a compra de imobiliario em leiloes e hastas-públicas. Não queres explicar um pouco melhor como isso funciona, como se encontram as oportunidades, onde se procura, etc? Acho isso muito interessante mas não tenho qualquer experiência nem sei a quem perguntar . Estou certa que é algo interesante para mais leitores.
Ulisses Pereira Escreveu:Mais de 3 mil posts no Caldeirão. Por isso, o nick está bem adequado à sua presença no nosso fórum e era indispensável entrevistarmos o Ativo neste ciclo de entrevistas aos participantes do Caldeirão que temos vindo a fazer.
Ulisses: Como descobriste este Caldeirão mágico?
Ativo: Tal como outros descobrimentos realizados no século XV, o “descobrimento”, por mim, do Caldeirão do druida Ulisses, durante uma navegação na “internet”, foi um acaso.
Ulisses: Recordas-te do teu primeiro post?
Ativo: Não, não me recordo. O Caldeirão de Bolsa foi o primeiro fórum da “internet” em que intervim. Tenho ideia de que me registei no Caldeirão de Bolsa mas não comecei logo a participar nele.
Ulisses: O teu primeiro negócio foi rentável?
Ativo: Não me lembro de qual foi o meu primeiro negócio na Bolsa, já foi há mais de 25 anos! Mas tenho ideia de que os meus primeiros negócios na Bolsa foram rentáveis.
Ulisses: Lembras-te de qual foi o teu pior negócio de sempre? E o melhor?
Ativo: Do melhor negócio, em Bolsa, francamente não me lembro, foram vários os negócios na Bolsa em que ganhei bom dinheiro.
Do pior negócio lembro-me bem. Acho que relativamente a certas coisas tende-se a recordar melhor o que correu mal do que o que correu bem, talvez pelas lições que tal proporcionou.
O meu pior negócio foi um investimento que fiz na Portugal Telecom. Investi na Portugal Telecom, bastante tempo depois da OPA falhada da Sonae à Portugal Telecom, tendo em consideração o setor de atividade onde se inseria a empresa e se tratar de uma das três melhores empresas portuguesas.
O que veio a acontecer com a Portugal Telecom é uma história muito triste e ainda hoje a acho incrível!!!
Como se sabe, a Portugal Telecom armou-se em Banco e emprestou, de uma assentada, cerca de 900 milhões de euros ao Grupo Espírito Santo, que depois não reembolsou!!! Como se isso não chegasse, para derrubar a Portugal Telecom, esta, desgraçadamente, no âmbito de uma negociata com a empresa brasileira OI, transferiu os seus ativos para esta, a qual os vendeu logo depois, sem dar um cêntimo do produto da venda à Portugal Telecom!!! Como foi possível a Portugal Telecom emprestar cerca de 900 milhões de euros, atuando com se fosse um banco, e ficar sem eles e, ainda, transferir os seus ativos para outra empresa, que os vendeu, pouco tempo depois, sem a Portugal Telecom e os seus acionistas verem a cor do dinheiro recebido pela venda? Como foi possível tal? É simplesmente inacreditável, em Portugal é caso único, internacionalmente desconheço se há algum caso semelhante.
Já agora, e para o fórum ficar a conhecer-me melhor, aproveito para dizer que já levei a cabo bastantes negócios, bem lucrativos, no ramo imobiliário. Na década de 90, por exemplo, levei a cabo a aquisição, em hasta pública ou por proposta em carta fechada, de várias frações prediais, no âmbito de processos de execução. Mais recentemente, comprei três frações prediais, arrendadas há já bastantes anos, cujas rendas pagarão o valor investido em cerca de 10 anos.
Mas o melhor investimento que realizei não foi propriamente um negócio. Foi uma aplicação financeira, de um montante considerável, em Certificados do Tesouro, emitidos durante o segundo governo de José Sócrates, a 10 anos, com taxa de juro de 6 e tal e 7 e tal, por cento. Estes Certificados do Tesouro (títulos de dívida pública) renderam nos primeiros 4 anos de vida juro a uma taxa de 1 e tal por cento. No vencimento de juros do quinto ano de vida desses Certificados, pagaram juro a uma taxa de 5 e tal por cento e ainda juro, digamos, retroativo, relativo a cada um dos 4 primeiros anos de vida dos certificados, correspondente à diferença entre a taxa de juro de 5 e tal por cento e a taxa de juro de 1 e tal por cento, de cada um dos 4 primeiros anos de vida dos Certificados. No seu sexto, sétimo, oitavo e nono ano de vida pagaram e vão pagar juro a uma taxa de, também, 5 e tal por cento. No final do seu décimo ano de vida, no momento do reembolso do capital aplicado, pagarão juro a uma taxa de 6 e tal ou sete e tal, por cento, consoante os certificados, e ainda juro, digamos, retroativo, relativo a cada um dos 9 anos de vida, anteriores, dos Certificados, correspondente à diferença entre a taxa de 6 e tal ou 7 e tal, por cento, e a taxa de 5 e tal por cento, de juro, paga relativamente a cada um dos 9 primeiros anos de vida dos Certificados.
Foi e é (os certificados ainda não chegaram ao final do seu tempo de vida) uma excelente aplicação financeira. Dado o elevado montante aplicado, a segurança da mesma e a sua elevada taxa de rendimento durante 10 anos, foi, sem dúvida, o meu melhor “negócio”!
Ulisses: O que é aquilo que mais te irrita nos mercados?
Ativo: O que me irrita nos mercados é a sensação, que muitas vezes tenho, de que alguém, anteriormente, teve acesso a informação privilegiada, junto do Governo, do setor financeiro ou do meio empresarial. Quanto ao resto, os mercados refletem apenas o que a natureza humana tem de melhor e de pior.
Ulisses: Que valor se deve dar a um rumor? É uma porta para os ganhos fáceis ou um convite para uma escorregadela fácil?
Ativo: Tudo o que seja suscetível de influenciar o comportamento dos mercados financeiros deve merecer a atenção de quem invista neles. Nesse sentido, um rumor, não importa se fundamentado ou não, deve ser devidamente considerado. Não o fazer pode custar bem caro! Na verdade, pode ser as duas coisas: uma porta para ganhos fáceis ou um convite para uma escorregadela fácil. É sobejamente conhecido o aforismo: comprar no rumor e vender na notícia ou vender no rumor e comprar na notícia (consoante o rumor). Este aforismo diz bem da importância do rumor no funcionamento dos mercados.
Ulisses: O teu saldo nos mercados financeiros é positivo ou negativo?
Ativo: Depois da perda registada no investimento na Portugal Telecom, que já referi, o meu saldo na Bolsa de Valores dificilmente poderia ser positivo.
Escapei ao desastre do BES, escapei ao desastre do Banif, escapei às enormes perdas de valor em certas empresas, como por exemplo, Impresa, BCP, e mais recentemente, CTT (é só ver os gráficos da cotação dos respetivos títulos, de longo prazo, para se comprovar tal), nos quais tenho um saldo largamente positivo, sobretudo nos dois últimos títulos, mas fui “apanhado” na Portugal Telecom. De certo modo, considero-me também lesado pelo BES e pelo Grupo Espírito Santo, na medida em que a Portugal Telecom foi vítima do BES, enquanto acionista de referência da Portugal Telecom, e do Grupo Espírito Santo, porque não pagou à Portugal Telecom 900 milhões de euros que lhe havia emprestado.
Tendo em conta os casos tristes ocorridos com alguns títulos da Bolsa de Valores portuguesa, que mencionei, será muito difícil encontrar um investidor na Bolsa portuguesa, há já bastantes anos, com saldo positivo na Bolsa portuguesa.
Desde o desaire com a Portugal Telecom tenho investido com sucesso na Bolsa portuguesa, tendo ganho mais de 20 000 euros. Em mercados financeiros só invisto no mercado acionista português. Penso que para perder e ganhar a Bolsa de Valores portuguesa chega bem, não é preciso procurar outros mercados financeiros. Prefiro investir no que me é próximo, no que de algum modo conheço melhor.
Ulisses: Quais achas que são os principais erros que os investidores cometem?
Ativo: A meu ver os principais erros dos investidores são:
- investirem sem conhecimento adequado do funcionamento e do comportamento do mercado;
- investirem na Bolsa mais do que é aconselhável (no meu entender, não se deve alocar aos mercados financeiros mais de 20 % do património pessoal). Caso o mercado vá contra eles, facilmente ficam numa situação desconfortável, o que faz com que também facilmente cometam erros ditados pela emotividade;
- falta de disciplina, decorrente da situação antes referida ou por se deixarem dominar pelo medo/ganância;
- desejo de recuperar rapidamente perdas anteriores;
- excesso de confiança após um ou mais negócios bem sucedidos;
- incapacidade em estar fora do mercado; Há alturas em que o correto é estar fora do mercado: ganha-se em não se perder! Não há oportunidades, dignas desse nome, todos os dias, a toda a hora, na Bolsa. Quando falo em oportunidades refiro-me a ocasiões em que as probabilidades de sucesso estejam realmente a nosso favor!
- “apostarem” em empresas em muito má situação financeira.
Ulisses: Profissionalmente, qual é a tua ocupação?
Ativo: Fui professor. Tenho mais de 28 anos de Função Pública. Em 2014 pedi uma Licença sem Vencimento de Longa Duração, estando, por isso, afastado da docência desde esse ano. Não tenciono regressar à docência em virtude de ter rendimentos prediais (cerca de 3500 euros, por mês) e de capital (juros) que me proporcionam uma excelente situação financeira. Mais tarde terei ainda uma pensão de reforma.
Ulisses: O que é que gostas de fazer, longe dos mercados?
Ativo: O que a maioria das pessoas também gosta de fazer: viajar, comer fora, passear, ver cinema, teatro (gosto muito), bailado, assistir a concertos de música (de música rock a música sinfónica).
Ulisses: Qual é o filme, livro e música da tua vida?
Ativo: Penso ser excessivo dizer de um filme, de uma música, de um livro, que são, “o tal” de uma vida humana. Limito-me a indicar um ente especial, para mim, nessas três categorias. Filme: “A Lista de Schindler”. Música: “Who wants to live forever” (Queen). Livro: “O ano da morte de Ricardo Reis” (José Saramago).
Ulisses: Quem é que gostas de ler no Caldeirão?
Ativo: Gosto, especialmente, de ler os “posts” do Artista Romeno (lamentavelmente a sua escrita nem sempre permite uma compreensão total do texto escrito), do Dr. Tretas, os teus, os do Marco António, os do Djovarius …
Revelei mais do que aquilo a que estava “obrigado”, para que esta entrevista contribuísse para um melhor conhecimento de mim (suponho que é o objetivo dela), nomeadamente na qualidade de investidor.
Ulisses: Muito obrigado pela entrevista. E que continues ativo nesta nossa casa!