Boas,
Vamos começar os nossos apontamentos sobre a década que ora termina:
Vamos começar pela renda fixa, que na verdade não tem sido nada fixa, o mercado da dívida soberana, mais conhecido pelo mercado das Obrigações do Tesouro, usando como guia os títulos a dez anos, pois são os que mais interessam numa perspetiva de análise a este mercado:
Do ponto de vista dos EUA, trata-se de um "bull market" com 35 anos, que parece eterno, mas não será assim. Um dia as coisas vão inverter.
Seja como for, foi uma década, mais uma, claramente positiva para estes títulos, dado que quem tivesse entrado no título há dez anos, teria um ganho importante já que os juros vieram de 3.6 para 1.8% (números redondos) ao longo da década. Os ganhos estão em linha com os da década anterior. Tenho sérias dúvidas de que isto volte a ocorrer no nosso tempo de vida, mas... nunca se sabe !!
Para quem investiu na zona EUR, nomeadamente em títulos alemães a dez anos, os ganhos foram bons, porque o papel que rendia 3.2% foi a juros negativos. Uma hipótese para mais que duplicar o valor dum título de renda fixa não se vê todos os dias. Dado o radicalismo do preço, é de crer que este cenário não se repetirá. Só se houver uma crise que não desejamos a ninguém...
Curiosamente, mesmo quem tivesse adquirido títulos equivalentes dos PIGS há 10 anos atrás, só teria que esperar pela maturidade (agora) para ganhar cerca de 43%. Tenho dúvidas de que muitos tenham esperado isso tudo, graças ao pânico de 2011. Seja como for, quem comprou lá para 2015/16 (no regresso dessas emissões) está agora a ganhar muito dinheiro.
Estes exemplos mostram bem a influência dos Bancos Centrais nestes ativos. Sem a liquidez que todos conhecemos, é óbvio que não teria sido possível. O mais provável é que títulos como o alemão tivessem ido a -2% (alto refúgio) e que os dos PIGS tivessem ido a 50% a la Argentina.
A esse propósito, enquanto o Brasil teve uma década fabulosa na renda fixa, fabulosa no sentido em que deu dinheiro a quem manteve os papéis e deu hipótese de o ganhar em prazos mais curtos, já a tal Argentina deu azedume. No início da época, havia problemas, mas quem tivesse mantido o investimento até ao fim, teria de amargar fortes perdas.
Em resumo: a renda fixa não é nada fixa. Os grandes tiveram uma década bem melhor que os restantes, a liquidez procurou maior segurança e eficácia. As circunstâncias obrigam a concordar que dificilmente as condições se vão repetir na próxima década. Nalgum momento dos anos vinte, o mercado touro que abrangeu a maioria destes papéis terá de inverter, criando oportunidades para o futuro mais distante.
Agora a década de algumas das mais marcantes "commodities":
O ano do petróleo foi excelente com mais de 20% de ganhos (em USD), mas a década acabou por ser negativa, após a ressaca de 2008 e as fortes perdas pós-2015. Felizmente para os investidores, este tipo de ativo não é algo que se invista por dez anos sem mexer...
O gás natural (EUA) está hoje a metade do que estava há dez anos. Não se admirem que o pessoal goste do produto (no contexto da migração das energias).
O Ouro: pois é, o ourinho tinha tido uma década (anterior) de sonho, em que quadruplicou de valor (em USD), fruto das crises variadas da década. Quem diria que, depois disso, a década corrente haveria de devolver mais ganhos (mesmo longe do "peak" do preço), neste caso de cerca de 40% ???? Dos melhores investimentos do século, até ver...
Já a Prata foi uma tristeza, exceto pra quem vendeu logo no início da década, pois ao longo da mesma, temos um total de ganhos que dá para beber um café... o cobre, por exemplo, até perdeu nestes dez anos algum terreno.
Quero destacar aqui o "rally" do paládio, mais um ativo com uma década fabulosa (ao contrário da platina), pois quadruplicou o preço. Há quem diga que é uma bolha, mas o preço está lá. Quem poderia adivinhar...????
No caso das agrícolas, é impressionante como a soja perde terreno na década, enquanto o trigo ganha muito pouco, estando longe dos máximos da década. Parece haver potencial de subida para a próxima década, mas ainda há que aguardar maiores sinais. Do milho, pode-se dizer o mesmo que o trigo. Coisas como o café e o açúcar não conseguiram impressionar. Demasiada volatilidade para tão poucos ganhos, quando não perdas... já o gado vivo teve alguns ganhos na década, mas longe do "peak" de preços. É caso para dizer que as "commodities" alimentares não se comparam a outras, mais "douradas"
Para já, é tudo, vamos continuar em brece, bom fds e ainda mais Festas Alegres
dj