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Caldeirão da Bolsa

Liberalismo com Euros ou Socialismo com Escudos?

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Re: Liberalismo com Euros ou Socialismo com Escudos?

por JohnyRobaz » 11/4/2017 1:21

Ocioso Escreveu:
A questão da reforma do Estado e dos serviços públicos, e da necessária redução da despesa corrente primária, tem estado afastada do debate público nos últimos tempos. Talvez por algum cansaço, dado que durante muito tempo falou-se demasiado e fez-se pouco. Creio que aquilo que disse a semana passada, numa entrevista ao Jornal de Negócios, talvez contenha parte do problema: “a direita não é capaz de fazer a reforma do Estado, a esquerda não o quer fazer”. Mas em que consiste, de facto, em linhas gerais, uma reforma do Estado?

O que deve ser discutido é o modelo de sociedade que pretendemos. Não é possível conciliar o atual Estado com saldos orçamentais positivos e com a participação na zona Euro. Pelo que temos três hipóteses: mudar de modelo, abandonar o Euro ou continuar em “morte lenta” à espera de um milagre. Apesar de Católico, não creio que tenhamos um milagre à nossa espera. Por outro lado, a saída do Euro é um desastre económico, social e político. É regredir 30 anos. É matar a minha geração, a anterior, e as seguintes.

Desta forma, temos de centrar o Estado de novo nas funções de soberania e nas funções de regulação e supervisão. É aqui que tem de começar o processo de mudança. Um Estado de excelência nestas áreas, com instituições fortes, mas controladas por um sistema judicial isento, transparente e célere. Adicionalmente, compete ao Estado a função de redistribuição. Esse é o pilar fundamental: garantir que nenhum Português deixa de ter acesso aos serviços públicos por insuficiência económica.

Tudo o resto, serviços sociais (Educação e Saúde), ou o investimento público podem ser realizados pelo público ou pelo privado. Para o utente é irrelevante quem o faz. O que interessa é a qualidade e o custo do serviço.

Esta mudança e reforma deve servir para proteger e melhorar o nosso Estado Social. É condição inequívoca que nenhum Português, por motivos de ordem económica, pode deixar de ter acesso aos cuidados de saúde, à educação e a uma existência digna. Adicionalmente, temos de manter os instrumentos de correção das desigualdades sociais. E aí, o SNS é porventura o instrumento mais eficaz na redução das assimetrias sociais. Mas também as prestações sociais não contributivas, tipo RSI, são extremamente eficientes. Ou seja, a reforma do Estado não consiste necessariamente, numa primeira fase, em gastar menos, mas passa sobretudo por gastar melhor.

Mas o processo de redução da despesa pública é também ele bastante relevante, embora deva ser visto numa perspetiva de médio e longo prazo. As experiências internacionais de consolidação orçamental nos últimos 30 anos mostram que se a receita (sobretudo fiscal) é importante num primeiro momento (pela maior rapidez na sua execução), é a despesa (sobretudo a corrente primária), que tem um papel determinante no sucesso a médio prazo. Não há consolidação orçamental sustentável se, no final, o grande esforço, ao invés de ter sido feito por via da despesa, tiver sido realizado pelo lado da receita. Contudo, as experiências internacionais apontam para uma solução mista: aumento de impostos e redução de despesa. Dificilmente poderia ser de outra maneira, dado o tempo de resposta de cada medida.

A organização e gestão do setor público consiste num enquadramento que permite finanças públicas equilibradas e sustentáveis e uma utilização mais racional dos recursos públicos. A organização do setor público não depende da sua dimensão e atuação. As decisões políticas sobre os bens e serviços aos quais o Estado garante acesso, ou sobre quais as falhas de mercado a regular estão numa esfera diferente das decisões relativas ao modelo de governo das entidades encarregadas do fornecimento desses bens e serviços ou das tarefas de regulação.

Contudo, no processo de redução do Estado, e consequente redução de custos, há um aspeto que muito raramente é abordado. Como se realiza este processo?
Creio que existem aspetos que têm de ser profundamente pensados e acautelados.

Em primeiro lugar, as instituições públicas que prestam serviços devem ter as mesmas condições de competição das congéneres privadas. O que implica separar a função de redistribuição da função de prestação de serviços.

Em segundo lugar, importa aferir de forma rigorosa o custo atual dos serviços públicos. Sem essa avaliação não será possível negociar eficazmente com o privado. Veja-se o péssimo exemplo de muitas PPP.

Em terceiro, importa reforçar a capacidade de análise e negociação por parte do sector público. Parece-me que esta capacidade se encontra fortemente reduzida.

Por último, este processo não termina no momento da concessão ao privado. O Estado vai assinar contratos que terão impacto por muitos anos e que têm de ser monitorizados. Senão, corremos o risco do volume e qualidade do serviço cair ao fim de algum tempo. Ou ainda pior, o que agora sai mais barato, vem a mostrar-se mais caro no futuro. Mais uma vez o exemplo das PPP.

Se estes aspetos não forem acautelados, corremos o risco de assistir a uma “canibalização” do sector público. Com uma fatura pesada a ser paga passados alguns anos. Convinha não multiplicar os erros do passado por 10. Assim, é necessário gastar menos e gastar melhor. Isso passa por uma reforma que vise por um lado, as funções do Estado, e por outro a organização e a gestão financeira da Administração Penal.

É necessário reinventar a estrutura organizativa da Administração Penal, passar de uma estrutura em pirâmide para uma estrutura em rede. Apostar nos Recursos Humanos e no potencial das novas tecnologias de informação. Com uma profunda mudança da organização e da estrutura da Administração Pública, com o aumento do nível de competências dos Recursos Humanos, com a reengenharia de processos e procedimentos e a redefinição de normas legais em vigor.

Por último, isto só se faz com um largo consenso político e social.

https://eco.pt/opiniao/como-e-que-se-muda-o-estado/


Tenho que concordar com o sr. :wink:
“E assim como sonho, raciocino se quero, porque isso é apenas uma outra espécie de sonho.”, Fernando Pessoa
“Nothing good ever comes of love. What comes of love is always something better” , Roberto Bolaño
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Re: Liberalismo com Euros ou Socialismo com Escudos?

por Ocioso » 10/4/2017 18:40

A questão da reforma do Estado e dos serviços públicos, e da necessária redução da despesa corrente primária, tem estado afastada do debate público nos últimos tempos. Talvez por algum cansaço, dado que durante muito tempo falou-se demasiado e fez-se pouco. Creio que aquilo que disse a semana passada, numa entrevista ao Jornal de Negócios, talvez contenha parte do problema: “a direita não é capaz de fazer a reforma do Estado, a esquerda não o quer fazer”. Mas em que consiste, de facto, em linhas gerais, uma reforma do Estado?

O que deve ser discutido é o modelo de sociedade que pretendemos. Não é possível conciliar o atual Estado com saldos orçamentais positivos e com a participação na zona Euro. Pelo que temos três hipóteses: mudar de modelo, abandonar o Euro ou continuar em “morte lenta” à espera de um milagre. Apesar de Católico, não creio que tenhamos um milagre à nossa espera. Por outro lado, a saída do Euro é um desastre económico, social e político. É regredir 30 anos. É matar a minha geração, a anterior, e as seguintes.

Desta forma, temos de centrar o Estado de novo nas funções de soberania e nas funções de regulação e supervisão. É aqui que tem de começar o processo de mudança. Um Estado de excelência nestas áreas, com instituições fortes, mas controladas por um sistema judicial isento, transparente e célere. Adicionalmente, compete ao Estado a função de redistribuição. Esse é o pilar fundamental: garantir que nenhum Português deixa de ter acesso aos serviços públicos por insuficiência económica.

Tudo o resto, serviços sociais (Educação e Saúde), ou o investimento público podem ser realizados pelo público ou pelo privado. Para o utente é irrelevante quem o faz. O que interessa é a qualidade e o custo do serviço.

Esta mudança e reforma deve servir para proteger e melhorar o nosso Estado Social. É condição inequívoca que nenhum Português, por motivos de ordem económica, pode deixar de ter acesso aos cuidados de saúde, à educação e a uma existência digna. Adicionalmente, temos de manter os instrumentos de correção das desigualdades sociais. E aí, o SNS é porventura o instrumento mais eficaz na redução das assimetrias sociais. Mas também as prestações sociais não contributivas, tipo RSI, são extremamente eficientes. Ou seja, a reforma do Estado não consiste necessariamente, numa primeira fase, em gastar menos, mas passa sobretudo por gastar melhor.

Mas o processo de redução da despesa pública é também ele bastante relevante, embora deva ser visto numa perspetiva de médio e longo prazo. As experiências internacionais de consolidação orçamental nos últimos 30 anos mostram que se a receita (sobretudo fiscal) é importante num primeiro momento (pela maior rapidez na sua execução), é a despesa (sobretudo a corrente primária), que tem um papel determinante no sucesso a médio prazo. Não há consolidação orçamental sustentável se, no final, o grande esforço, ao invés de ter sido feito por via da despesa, tiver sido realizado pelo lado da receita. Contudo, as experiências internacionais apontam para uma solução mista: aumento de impostos e redução de despesa. Dificilmente poderia ser de outra maneira, dado o tempo de resposta de cada medida.

A organização e gestão do setor público consiste num enquadramento que permite finanças públicas equilibradas e sustentáveis e uma utilização mais racional dos recursos públicos. A organização do setor público não depende da sua dimensão e atuação. As decisões políticas sobre os bens e serviços aos quais o Estado garante acesso, ou sobre quais as falhas de mercado a regular estão numa esfera diferente das decisões relativas ao modelo de governo das entidades encarregadas do fornecimento desses bens e serviços ou das tarefas de regulação.

Contudo, no processo de redução do Estado, e consequente redução de custos, há um aspeto que muito raramente é abordado. Como se realiza este processo?
Creio que existem aspetos que têm de ser profundamente pensados e acautelados.

Em primeiro lugar, as instituições públicas que prestam serviços devem ter as mesmas condições de competição das congéneres privadas. O que implica separar a função de redistribuição da função de prestação de serviços.

Em segundo lugar, importa aferir de forma rigorosa o custo atual dos serviços públicos. Sem essa avaliação não será possível negociar eficazmente com o privado. Veja-se o péssimo exemplo de muitas PPP.

Em terceiro, importa reforçar a capacidade de análise e negociação por parte do sector público. Parece-me que esta capacidade se encontra fortemente reduzida.

Por último, este processo não termina no momento da concessão ao privado. O Estado vai assinar contratos que terão impacto por muitos anos e que têm de ser monitorizados. Senão, corremos o risco do volume e qualidade do serviço cair ao fim de algum tempo. Ou ainda pior, o que agora sai mais barato, vem a mostrar-se mais caro no futuro. Mais uma vez o exemplo das PPP.

Se estes aspetos não forem acautelados, corremos o risco de assistir a uma “canibalização” do sector público. Com uma fatura pesada a ser paga passados alguns anos. Convinha não multiplicar os erros do passado por 10. Assim, é necessário gastar menos e gastar melhor. Isso passa por uma reforma que vise por um lado, as funções do Estado, e por outro a organização e a gestão financeira da Administração Penal.

É necessário reinventar a estrutura organizativa da Administração Penal, passar de uma estrutura em pirâmide para uma estrutura em rede. Apostar nos Recursos Humanos e no potencial das novas tecnologias de informação. Com uma profunda mudança da organização e da estrutura da Administração Pública, com o aumento do nível de competências dos Recursos Humanos, com a reengenharia de processos e procedimentos e a redefinição de normas legais em vigor.

Por último, isto só se faz com um largo consenso político e social.

https://eco.pt/opiniao/como-e-que-se-muda-o-estado/
 
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Re: Liberalismo com Euros ou Socialismo com Escudos?

por Ocioso » 8/4/2017 0:03

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Re: Liberalismo com Euros ou Socialismo com Escudos?

por Ocioso » 26/3/2017 1:45

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Re: Liberalismo com Euros ou Socialismo com Escudos?

por Ocioso » 24/3/2017 21:29

O regime de valorização profissional dos trabalhadores da administração pública – que vem pôr um fim à requalificação (ex-mobilidade especial) – foi aprovado esta tarde no Parlamento com os votos da esquerda. PSD e CDS votaram contra.

Quando o diploma entrar em vigor, o que deverá acontecer em maio, os cerca de 500 trabalhadores do Estado que estão em inatividade, com cortes de 60% no salário, poderão regressar ao serviço e voltar a ter a sua remuneração sem reduções.

Quem não quiser voltar ao trabalho pode rescindir o vínculo por mútuo acordo, com direito a indemnização, ou pedir licença sem vencimento. Já os trabalhadores com 55 anos de idade ou mais podem optar por permanecer em inatividade a receber o salário com os atuais cortes até à reforma.

A decisão terá de ser comunicada nos 60 dias a seguir à data de entrada em vigor do novo regime de valorização. Quem não o fizer passa automaticamente para licença sem vencimento.

O diploma altera ainda os incentivos à mobilidade territorial: quem for colocado a mais de 60 quilómetros do local de residência terá direito a subsídios.

Ao contrário da requalificação, modelo aprovado pelo anterior Executivo, o regime de valorização profissional da administração pública não prevê a possibilidade de despedimentos nem cortes salariais para os trabalhadores abrangidos.

http://www.jornaleconomico.sapo.pt/noti ... ica-137792
 
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Re: Liberalismo com Euros ou Socialismo com Escudos?

por Ocioso » 12/3/2017 3:52

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Re: Liberalismo com Euros ou Socialismo com Escudos?

por Ocioso » 28/2/2017 0:51

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Re: Liberalismo com Euros ou Socialismo com Escudos?

por soseiquenadasei » 26/2/2017 5:03

eu colocava a questão noutro stermos:

moeda fraca e brutal inflação,mas economia a crescer, ou moeda forte baixa inflação e economia a definhar....o que escolher ?
 
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Re: Liberalismo com Euros ou Socialismo com Escudos?

por Ocioso » 25/2/2017 23:20

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Re: Liberalismo com Euros ou Socialismo com Escudos?

por Ocioso » 21/2/2017 2:07

Para João Duque, daqui a 15 anos vamos assistir a um grave problema social quando os jovens tiverem de sustentar “um exército de população envelhecida” e o Estado não tiver dinheiro para pagar as reformas. No entender do economista vai ser impossível o segmento mais novo da população não se revoltar. O professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) critica ainda a criação de um banco mau para resolver o problema do malparado e mostra-se espantado por essa ideia ter partido do governo. Já em relação ao Novo Banco, defende que o executivo negoceie com Bruxelas de forma a injetar dinheiro na instituição financeira para que possa ser vendido daqui a uns anos sem perder dinheiro; caso contrário, a única solução é a venda ao desbarato.

A economia portuguesa cresceu 1,4% em 2016, superando todas as previsões. O que acha deste crescimento?

Nem vamos falar de previsões porque aquilo que o Partido Socialista previa era bastante superior ao que se verificou. Mas, face às expetativas, a partir de determinada altura acabou por ser um resultado simpático. Às tantas comecei a prever que, face ao andamento da economia, que era tão fraco, muito dificilmente iríamos superar 1% ou 1,2%. Por isso, acabar o ano com 1,4% acaba por ser uma evolução simpática, mas longe de ser boa. No entanto, este crescimento contém aspetos muito negativos. Por exemplo, a diferença entre importações e exportações caiu e foi o consumo que, mais uma vez, veio animar o quarto trimestre. Termos crescimentos com base em consumo e em aumentos de importações não me parece que seja muito saudável.

E já seguimos esse caminho num passado recente…

Sim, e este crescimento tem de ser associado ao défice e à forma como se consegue este défice, com um aumento de impostos indiretos muito significativo que retirou o rendimento líquido que foi dado às famílias. Na prática temos, no mínimo, uma manutenção da carga fiscal e uma baixíssima taxa de poupança das famílias, que está quase ao nível dos valores mais baixos dos últimos 20 anos. Em termos de poupança batemos no fundo no primeiro trimestre de 2016 ao atingir 3,8% e agora estamos nos 4%. Isto também não me parece muito saudável, porque vai-nos obrigar, mais uma vez, a chegar quase ao cúmulo de financiar aumentos de consumo com poupança externa, e isso obriga a economia a endividar-se mais externamente. Ainda se fosse para fazer investimento... agora, endividarmo-nos para consumir e importar é meio caminho andado para o desastre.

Aliás, os últimos dados revelam que as exportações apresentaram o pior desempenho desde 2009.

Há sinais muito preocupantes dentro desta barriga de crescimento de onde aquilo que eu prevejo que venha a nascer é muito mau. Ou se muda completamente este tipo de caminho ou isso vai dar um sério revés.

Mas a curto prazo?

Há um amigo meu que diz que somos tão desorganizados que não conseguimos destruir o país em muito curto espaço de tempo e, por isso, estas coisas demoram um certo tempo. Em boa verdade, quando olhamos para o mercado financeiro, particularmente para o mercado das taxas de juro, e lemos aquilo que o mercado nos diz e a apreciação que faz sobre Portugal, é uma apreciação muito diferente a curto prazo e a longo prazo. E esta diferença espelha-se nas taxas a curto prazo que, para Portugal, ainda são simpáticas, em que a República Portuguesa não tem aparentemente um problema de liquidez a curto prazo, mas os agentes económicos não nos veem com bons olhos porque estamos a afastar-nos daquilo que são as taxas de referência-base da Europa. Outra questão: fala-se agora que Portugal tem potencialmente muita matéria-prima para a construção de baterias para cabos elétricos, mas é uma coisa que nos caiu do céu agora. Temos também o turismo e não sabemos se temos ou não petróleo. Mas devíamos, pelo menos, saber o que temos em matéria de petróleo para potencialmente volatilizar os empréstimos. É como se estivéssemos muito endividados e descobríssemos que, debaixo da casa, temos uma mina de ouro, e aí podemos chegar aos credores e dizer que temos uma solução para resolver o problema. Ou seja, até podemos não explorar, até podemos esperar calmamente, mas temos de saber se há ou não petróleo. Além disso, temos uma população que, do ponto de vista de potenciação do futuro, é um desastre, porque tem desequilíbrios brutais e vai trazer-nos problemas dificílimos de resolver. Como é que, com muito menos gente e sem investimentos aparentes, vamos conseguir aumentar a produtividade para estas pessoas poderem sustentar exércitos de uma população envelhecida, aposentada, a quem têm de pagar as aposentações e os cuidados de saúde, que vão ser cada vez mais pesados na sociedade?

Não vai haver dinheiro para tudo...

Exato. E o que é terrível é pensar que este longo prazo não é assim tão longo: daqui a 15 anos, o número de jovens com 18 anos vai ser metade dos que vão fazer 66. Ou seja, aqueles que vão chegar ao mercado de trabalho vão ser metade dos que vão ser aposentados. Serão os jovens que vão aguentar o esforço. Como é que eles vão viver? Vai ser impossível eles não se revoltarem, mas vão ser a minoria. Estou para ver o que é que vai dar, vai dar um problema social gravíssimo.

Poderemos assistir a uma “guerra civil”?

Vai criar um problema social gravíssimo.

Como se pode explicar a uma pessoa que fez descontos durante toda a sua vida ativa que não vai ter direito à reforma?

As pessoas vão fazer as contas e vão dizer que descontaram xis e, como tal, têm direito a esse valor. As pessoas vão dizer que não têm culpa de o dinheiro ter sido mal gasto. Mas nessa altura também se pode mudar a idade da aposentação para os 70, 80 anos ou até nunca mais. E essas pessoas, que são a maioria dos votantes, como é que vão votar? Vamos ter um potencial problema demográfico que já deu mau resultado quando o governo de Passos Coelho atacou as pensões e os funcionários públicos. Atacou dois universos populacionais muito significativos que se zangaram seriamente com ele e lhe retiraram a confiança. Portanto, no futuro é facílimo termos situações que, face à impossibilidade de distribuir para mantermos os compromissos, para mantermos os pagamentos das dívidas que temos, etc., ou pagamos os juros ou não pagamos os juros e a dívida para servir o interesse das pessoas. Eu olho para aquilo que têm sido os resultados eleitorais e pergunto o que isto vai dar. Vai dar sarilho, foi o que aconteceu com o Brexit.

Uma decisão que criou e continua a criar uma grande instabilidade para a Europa...

O Brexit é o reflexo de uma clivagem na sociedade assente na faixa etária. Os jovens são mais integracionistas do que a classe mais idosa, e esta, receosa e olhando a curto prazo para as suas pensões e para os seus cuidados de saúde, e acenando-se-lhes que lhes podem dar mais se deixarem de pagar aos europeus, principalmente aos do sul da Europa, preferem ficar com o dinheiro para usarem em seu benefício. Se transpuser esta situação para Portugal daqui a dez ou 15 anos, não sei o que isto vai dar.

Disse há pouco que temos o turismo. Pode chegar a uma altura em que deixa de crescer a este ritmo?

O antigo responsável pelo instituto de turismo disse que não podemos aspirar a sucessivas taxas de crescimento com dois dígitos porque isso, além de ser impossível, também cria saturação do ponto de vista de quem recebe. E quando um povo deixa de receber bem, começa a estragar. E umas das características que nós, portugueses, temos é que gostamos de receber bem, tentamos falar uma língua que não é a nossa e gostamos de mostrar aquilo que é bom. Corremos o risco é de criar um problema de saturação mas, ao que parece, e de acordo com os recentes dados do turismo, isso ainda não acontece. Isso é bom sinal e é sinal que temos a capacidade de acomodar ainda mais gente e, por essa via, conseguirmos reequilibrar a nossa diferença entre importações e exportações. Há muito espaço para crescer, espero que cresça sem sobressaltos e de forma organizada, e não da forma desorganizada como chegou a ocorrer em determinadas zonas do litoral do país. Os jovens é que começam a sentir que têm um problema, nomeadamente quando querem arrendar uma casa e têm uma grande dificuldade em conseguirem uma casa relativamente pequena a um preço acomodável com os baixos salários que recebem nos primeiros empregos. Em Portugal, os salários reduziram-se nominalmente, nos últimos anos, para os jovens.

A OCDE voltou a chamar a atenção para os riscos a médio prazo tanto externos como internos. Um desses riscos são as eleições em França e a ameaça de esse país sair do euro caso Marine Le Pen vença?

Isso seria um rombo e pode corresponder ao rombo do Titanic. Acho que é muito difícil sobreviver a uma Europa sem a França, e não percebo qual é o seu benefício em sair do euro. E é uma situação distinta da do Reino Unido. Admito que os britânicos sempre tiveram um enquadramento diferente, tinham uma comunidade que achavam que era muito próspera, com relações comerciais fortíssimas, e sempre mantiveram a sua moeda. E saem para uma comunidade que sentem que é muito sua, o Canadá, a Austrália, etc., ou seja, antigas colónias que têm uma implementação muito grande dentro do Reino Unido. O que não acontece com a França. Também teve colónias, nomeadamente em África, mas não sei se se querem virar para aí e proteger essas relações. Mas olhando para o discurso de Le Pen, o que vemos menos é a integração dessas pessoas. O que me parece é que querem restringir a França ao seu espaço natural, e isso é muito perigoso para os franceses.

E também para os restantes europeus...

Claro que há esse risco e também representa um risco muito grande para Portugal porque, neste momento, até estamos a aumentar a concentração das relações comerciais com a Europa. Com a Europa a fechar-se e a usar medidas semelhantes às que Trump quer ter nos EUA, temo que nós tenhamos mais dificuldades numa área que ocupa três quartos das nossas exportações. Mas há mais riscos para Portugal além da Europa. É o caso de Angola, que é um parceiro comercial português muito importante, assim como os Estados Unidos. Dos nossos grandes parceiros comerciais, o único que está aparentemente estável é a Espanha.

A OCDE também fala em riscos internos, em que um deles é a instabilidade financeira e o malparado. Concorda com a criação do banco mau?

Não vejo nenhuma necessidade de criar esse tipo de instituição até porque, para aliviar os ativos dos bancos, já existem instituições que o fazem. Os bancos já estão a vender carteiras de malparado a preço que se pode chamar de liquidação total. São valores muito baixos, mas existem instituições que compram esse tipo de créditos e depois fazem a sua gestão, assumindo eles a perda total, a recuperação ou o ganho imenso. Por isso, desse ponto de vista, não é necessário, pode é, se calhar, não ser em quantidade suficiente para a limpeza total, mas isso é uma questão de tempo.

E quem é que o financia?

O problema que se põe é esse e a que preço é que esse banco vai comprar os ativos. Se comprar a preço de mercado, o que vai fazer é concorrência aos outros; eventualmente faz um bocadinho de pressão na compra e, se houver interesse dos outros, podem disputar um bocadinho o preço dos ativos. Portanto, de alguma maneira, o que este banco vai fazer é valorizar um pouco os ativos dos bancos e estes agradecem, porque vão vender a um preço um pouco melhor. Mas quem vai financiar os privados? Então os privados já existem para fazer isso, mas aí não há qualquer diferença entre quem já faz isso e um novo player. A menos que este banco venha para comprar créditos a preços que não são de mercado.

E aí estaria a fazer um mau negócio?

Claro. Por exemplo, uma empresa falida a quem o banco concedeu um empréstimo de 100 milhões e esta não tem ativos, então o que é que a empresa vale? Na melhor das hipóteses vale um milhão, e agora vem este banco novo e vai comprar a tal empresa falida por 100 milhões. Não há nenhum privado que vá entrar nesse jogo, pois não vai comprar por 100 o que vale um milhão. Então quem sobra? Os bancos públicos, o Estado a financiar este banco? Isso não faz sentido. Então o Estado vai pedir dinheiro emprestado porque não tem para constituir um banco para comprar ativos ao valor nominal ou a qualquer outro valor acima do preço do mercado? E se for a um preço acima do mercado é meio caminho andado para a perda. Então, o que vamos fazer é transferir dinheiro do público para os ativos e assim valorizar os bancos. Mas só a Caixa Geral de Depósitos é que é pública. Mas é isso que se quer? Não consigo perceber onde está a beleza do negócio. Até entendia que os bancos privados sugerissem uma saída destas; agora, quem está à frente das instituições públicas propor um negócio destes? Não entendo.

Então qual é a solução?

O que os bancos têm de fazer é fechar rapidamente as imparidades. As auditoras que os auditam têm de ser rigorosas e imporem que os valores que lá estão são, de facto, verdadeiros para que isso seja refletido de uma vez por todas nas suas contas. Caso contrário, andamos sempre com estes problemas e depois descobrimos de um momento para o outro que, afinal, a Caixa tem milhares de milhões de euros em imparidades e o Novo Banco também. Isto quando houve oportunidade anteriormente de reconhecer todas as imparidades, até porque houve aumentos de capital e até era mais fácil de resolver a recapitalização dos bancos com dinheiros públicos. Essa maquilhagem, esse disfarce e essa “gestão” daquilo que é a forma de reconhecer as imparidades é sempre empurrar com a barriga uma questão que, mais tarde ou mais cedo, acaba por se revelar e não representa nada de bom. E depois fica sempre a suspeita de que os bancos portugueses têm muitas imparidades. Vamos então lá saber de uma vez por todas quais são essas imparidades. Então só quando existir um banco mau é vão reconhecer as imparidades? E saem a que valor? Se estão encapotadas, transferir para alguém a um valor superior aquilo que realmente é é estarmos a redistribuir aquilo que é dinheiros públicos para benefícios privados. Quem está à frente do Estado não deve tomar esse tipo de iniciativa.

A ideia foi apresentada pelo primeiro--ministro e foi apoiada pelo Presidente da República e pelo governador do Banco de Portugal...

Mas isso não está correto. O governo tem uma voz muito política, o Presidente da República também, e a única voz a que estou mais atento é à do governador do Banco de Portugal porque quer zelar pelo sistema financeiro. Politicamente é importante esta estabilidade e esta limpeza para não se contaminar potencialmente o risco da dívida pública, porque é fácil contaminar quando não se sabem bem os valores. Há quem fale em 20, há quem fale em 40, ninguém sabe coisa nenhuma, estamos a atirar uns valores para o ar. Mas se estamos a falar de 40 mil milhões é muito significativo para a dívida portuguesa. Se já temos uma dívida tão elevada e vamos meter mais 20, 30 ou 40, então ficamos mesmo com um problema sério porque, mais uma vez, onde é que vamos buscar o dinheiro? É mais 10, 15 ou 20% do PIB? Já temos 133%, vamos ficar com 150%? É um estouro monumental. Percebo que é simpático dizer que a banca já não tem problemas, mas depois a República explode.

E nessa altura surgem as agências de notação a ameaçar cortar o ranking...

Claro, porque aí acham que ficamos completamente insolventes. Ficaríamos numa situação dramática. Não vejo qualquer benefício desta solução, a menos que isto seja feito à custa de uma contração brutal da despesa pública. Ou seja, em vez de se estar a aumentar os funcionários públicos, vamos outra vez cortar salários, retirar um mês das reformas para financiar os bancos.

E aí iríamos assistir a um tumulto?

Já se sabe o que vai dar. Quem gosta de ver o seu salário cortado, ainda por cima para o meter nos bancos? Vamos ver quanto tempo é que vamos ficar sem cortes.

Voltando à banca, como vê os últimos desenvolvimentos da CGD?

Na minha opinião houve um compromisso, não acredito que tenha havido um mal-entendido. Depois disto tudo, o ministro teve de reconhecer que possa ter existido um mal-entendido entre as partes, mas não acredito. São partes demasiado conhecedoras, particularmente quem impôs ou quem vinha com essa ideia. Se fosse comigo, confesso, vinham com essa proposta e provavelmente não aceitava, mas mesmo que aceitasse não fazia a mínima ideia que existiria outra lei e caía da mesma maneira que o ministro caiu. Compreendo o erro original, que é simplicíssimo de esclarecer. Provavelmente, os colegas da chamada geringonça não o entenderiam, mas para mim é simples: eu, de facto, comprometi-me, achei que era a forma de termos um pacote coerente e competitivo com o setor privado para irmos buscar as pessoas que queríamos, eles impuseram estas condições e, para sermos competitivos, achei que tínhamos de lhes dar essas condições. Percebemos que, afinal, havia uma lei e que aquilo que pediram não dava para manter. Eu tenho de pedir desculpa aos próprios, a todos, porque fiz mal, errei. No início era tudo muito simples.

Tanto que António Domingues já pediu a demissão no final de novembro…

Mas se ao início era tudo muito simples, agora há um problema que é o das declarações verdadeiras em testemunho na Assembleia da República, em que o ministro diz que não há nada, mas afinal há cartas e, mais recentemente, sms. Agora parece que não querem deixar passar os sms. Se os sms entre eles não passam de a que horas almoçamos ou a que horas jantamos, não há problema nenhum em mostrá-los.

É porque há algo mais comprometedor...

Não há a mínima dúvida. Por muito ridícula que tenha sida a audição de Bill Clinton sobre o caso Monica Lewinsky, este foi um exemplo do que é uma exigência de transparência e de declaração sobre ações, apesar de achar que nem sequer deviam ter sido questionadas as pessoas.

Porque era um assunto pessoal?

Era absolutamente pessoal. Agora ponha isto no presidente dos Estados Unidos: não tenha dúvidas nenhumas de que tudo isto seria escrutinado e ele teria de pôr cá fora os sms, a lista das chamadas, tudo.

Concorda com essa divulgação?

Parece que agora só há prova se houver alguma coisa escrita, pelo menos foi o que o Presidente da República disse. Então vamos ver se sempre há ou se não há.

Mas a esquerda não concorda que haja essa divulgação e muito menos que seja usada na comissão de inquérito…


Não vejo problema nenhum. Se não há mensagens comprometedoras, então mostrem lá os sms. Com certeza que não estão a tratar de um problema pessoal ou íntimo.

Acha que Mário Centeno tem condições para se manter como ministro das Finanças?

Por muito menos que isto já se demitiram muitos ministros. Ponho num prato de uma balança os prós e os contras e, apesar de não concordar com a política económica desenvolvida, Mário Centeno conseguiu fazer um esforço enorme de, pelo menos, cumprir o défice, e isso é muito importante. Ainda é um crédito, mesmo que tenha entrado em inconsistências. É pena que tenha de se demitir por isto. Eu deixava isso ao critério dele. Mas temos uma democracia muito jovem e estamos num processo de aprendizagem; isto, numa democracia estável, seria insuportável. Mas nós, portugueses, podemos perguntar se tudo isto é relevante mas, para quem for muito cioso do cumprimento da verdade, não importa se é importante ou se não é importante porque a questão é que ele mentiu e poderá continuar a mentir. O ministro sai fragilizado e na última conferência de imprensa já reconheceu que poderá ter havido um mal-entendido. Está a tentar pedir desculpa, só que ele faz política, e isso é tenaz e acho que não o vão largar mais.

E ainda faltam as declarações de António Domingues…

É uma pena porque o problema tinha-se resolvido reconhecendo o erro. Todo este caso tem sido uma novela sem grande significado, curiosamente.

E, com isto, a discussão do plano de recapitalização tem ficado para segundo plano. A Caixa vai ter agora alguma estabilidade?

Desde que estejamos a falar de um plano que tenha sido feito com base em informação fidedigna. Mas há aqui outra história mal contada. Como é que as informações foram parar às mãos de António Domingues quando ainda era administrador do BPI? Mas isso já nem importa porque, mesmo de forma inadequada, chegou informação suficiente, exata e relevante para fazer o plano. Foi feito, foi aprovado. Então acredito que tenha todas as condições para que seja feito agora um bom trabalho. Compete agora à nova administração avançar com o plano.

Acha que Paulo Macedo é a pessoa ideal para liderar este processo?

Sou amigo pessoal de Paulo Macedo, mas olho para o trajeto dele e vejo que consegue compatibilizar o conhecimento técnico com uma capacidade de encaixe e de resiliência notável. Tem uma forma particular de fazer gestão nas instituições e por onde tem passado tem deixado boas relações. Isso é um sinal de que ele tem características de gestão muito adequadas e, como tal, estou à espera que faça um bom trabalho. Já o fez nos impostos, acho que fez um trabalho bom no Ministério da Saúde. Conseguiu sair com uma imagem boa do ponto de vista político, até para os seus opositores, que o reconhecem como um dos melhores ministros.

E em relação ao Novo Banco, acha que é preferível a nacionalização ou a venda ao desbarato?

Dói-me o coração vender o Novo Banco ao desbarato. Mas também reconheço que a não venda leva-nos provavelmente a ter de injetar continuamente capital no Novo Banco. Gostava que o Novo Banco fosse vendido, não ao desbarato, mas que fosse possível negociar com Bruxelas equipar o Novo Banco de capital e administração que o pusessem em condições para que daqui, por exemplo, a cinco, seis ou sete anos fosse vendido – e, nessa altura, com ganhos. O que tenho visto é administrações a chegarem e a tentarem resolver problemas sem se conhecer a missão do Novo Banco e o empenho acionista. Não se conhece nada, estamos em processos de curto prazo. A solução intermédia, que é privatizar parcialmente, é capaz de não ser má de todo porque, se eles conseguirem dar a volta, pelo menos a nossa parte enquanto acionistas portugueses pode ser rentabilizada e vendida mais tarde.

Mas 50% público e 50% privado?

O que puder ser. Preferia uma administração que tivesse um mandato para conseguir executar um plano traçado com capital para depois vender, para ver se conseguíamos ter algum ganho depois disto tudo.

Como vê o desfecho da OPA ao BPI?

Tenho pena que aquilo que foram instituições financeiras portuguesas, e algumas delas com ideais, com dinâmicas e com esses acionistas, tenham terminado. Isso acabou. Mas de momento não estou a ver qual seria a melhor solução, optou-se por uma solução de pacificar o banco e pô-lo com uma orientação firme para aquilo que quer fazer. Nesse sentido, é bom. Infelizmente há uma coisa com que acho que devemos ter cuidado, que é a concentração de capital espanhol, que pode ser perigosa, sendo excessiva. Porque se houver um problema como já houve na banca espanhola, isso reflete-se em Portugal.

E como vê a liderança ir para as mãos de um espanhol?

São eles que mandam. Não vejo motivos para que seja um problema. Por exemplo, o Banco de Inglaterra foi buscar um governador canadiano. É interessante porque não há tanto compromisso com o mercado; provavelmente, quando terminar o seu mandato vai voltar para o seu país de origem. Isso também significa que poderá estar mais livre para tomar medidas que possam ser antipáticas para as instituições locais.

Assistimos recentemente a uma relação atribulada entre governo e os partidos que o apoiam na redução da TSU para compensar o salário mínimo. Já era expetável?

Para ser sincero, estava à espera que este atrito fosse provocado ou aproveitado mais cedo pelo Partido Socialista e que fosse aproveitado no sentido de haver eleições antecipadas. O Partido Socialista gostava de governar sozinho. O modelo de sociedade que o PS deseja para Portugal é diferente daquele que é proposto pelo Bloco de Esquerda e pelo Partido Comunista, não tenho dúvidas nenhumas. António Costa está a usar a boleia do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista para conseguir uma coisa que é convencer o eleitorado de que o PS a governar é muito melhor para Portugal, para estar independente e para o país não estar tão instável. Eu leio desta forma e, ao ler isto assim, até pensava que os resultados de distribuição de rendimentos dessem efeitos mais cedo e, como tal, as pessoas iriam aderir mais depressa às teses do Partido Socialista e mudassem definitivamente a sua intenção de voto para o PS.

Pensava que isso seria para quando?

No limite, em março de 2017, porque tinham começado a apresentar as contas finais. Só que as contas foram boas, mas não foram assim tão boas quanto eles desejavam. Até podiam ter sido um bocadinho melhores tirando a questão da dívida porque, curiosamente, o Partido Socialista no governo foi além da troika, mas antes de estar no poder defendia que era um crime ir além da troika. Isto porque estavam a negociar um défice de 2,5% e, como tal, podiam ter sido mais generosos. Mário Centeno começou por ir a Bruxelas bater-se por um orçamento com um défice de 2,6%, depois teve de baixar para 2,5% e acaba com 2,1%. O que aconteceu aqui? Mas a verdade é que os efeitos não foram tão assim fortes para serem aproveitados para uma dissidência entre os partidos. Estava à espera que as divergências fossem mais fortes e mais óbvias. O que tenho visto é uma impensável capacidade do PCP e do Bloco de Esquerda para aceitarem coisas que eu achava impossíveis. Um desses exemplos foi a remuneração da Caixa Geral de Depósitos, em que os dois partidos encolhem os ombros e dizem que é o mercado. E isso faz-me uma grande impressão.

Acha que daqui para frente vai haver mais pontos de discordância?

Tenho admirado o poder de encaixe do Partido Comunista. Eles até já falam dentro das limitações impostas por Bruxelas, e isso tem acontecido com frequência nos discursos de Jerónimo de Sousa aos seus camaradas – um discurso semelhante ao de Passos Coelho. Já se conformam, quando a conversa não era essa há um ano. Mas acredito que quanto mais o Partido Socialista tiver a noção de que vai ter uma vitória com maioria absoluta, mais estará à vontade para esticar a corda, porque pensa que vai para eleições, ganha com maioria absoluta e não precisa mais dos outros dois. Essa é a minha leitura.

Enquanto isso não acontecer vai continuando a negociar…

Penso que a ideia de António Costa é ir tentando crescer em intenções de voto até que um dia está pronto a ir para eleições antecipadas.

E quem acha que vai partir a corda?

Sem dúvida que quem partir a corda vai ser prejudicado porque vai ser acusado pelos outros por a gerigonça não funcionar. O Partido Socialista não quer ser prejudicado porque quer ganhar mais no final e, por isso, vai pondo em cima da mesa propostas cada vez mais atrevidas no sentido de pôr dentro de uma governação de esquerda mais coisas à sua maneira. Acho que o Partido Comunista perde menos se quebrar e isso poderá ser um estímulo. Por outro lado, o Bloco de Esquerda, digam o que disserem, é um partido muitíssimo mais romântico do que o Partido Comunista e, como tal, poderá ficar pior na figura. Desta forma, não sei quem vai quebrar primeiro.

Ficou surpreendido com o apoio de Marcelo Rebelo de Sousa à geringonça?

Confesso que estou surpreendido. Mas às vezes não há necessidade de comentar todos os dias as notícias. Costuma-se dizer que a palavra é de prata, mas o silêncio é de ouro. E comentar todos os dias as notícias para dizer que tudo o que se está a fazer é bem feito desvaloriza. Comentar apenas para dizer que aquilo que o governo está a fazer está a fazer bem não é necessário fazê-lo todos os dias. Não sei se é fruto dos novos tempos, também Donald Trump quer comentar todos os dias com os americanos e com o mundo através do Twitter, ele twitta todos os dias, coisa estranha. Acho que há vantagem em que alguns representantes de alguns órgãos se refugiem um bocadinho para que, quando a palavra venha, tenha mais impacto. Se calhar, Cavaco foi excessivo, havia muita reserva, e as pessoas passavam uma semana inteira a debater o que ele quereria dizer com determinada frase. Agora nem há tempo para isso porque todos os dias há palavras do Presidente.

É passar do oito para o oitenta...

Isto é um bocado energético a mais e também um bocado exagerado. Talvez ele não queira de todo ser acusado de estar a pôr qualquer impedimento ao governo. Ou seja, se o governo tiver um sobressalto, há uma coisa que não podem acusar Marcelo Rebelo de Sousa que é ter impedido alguma ação que tenha causado mau resultado. Mas um mau resultado é culpa não só de quem propõe, mas também de quem subscreve. Porém, uma coisa é certa. Também pode ser acusado do contrário: o senhor deixou que a criança se aproximasse do precipício e nem sequer a agarrou, nem sequer comentou. Ainda assim, parece que agora começaram as zangas com a questão da Caixa Geral de Depósitos.

https://sol.sapo.pt/artigo/550104
 
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Re: Liberalismo com Euros ou Socialismo com Escudos?

por Ocioso » 20/2/2017 2:40

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Re: Liberalismo com Euros ou Socialismo com Escudos?

por Opcard » 19/2/2017 20:10

Acho graça ao título que foge realidade temos tido socialismo com euros ,a compra dívida pelo BCE é a socialização do sistema a semelhaça ao que era feito nas antigas repúblicas socialistas os seus bancos centrais imprimiam grandes quantidades de dinheiro não havia inflação porque os preços eram tabelados, a consequencia foi um empobrecimento generalizado

Tenho passado a vida a escutar a apnião de dezenas e dezenas de especialistas sobre as consequências de um banco central lançar até ao infinito liquidez no sistema .

Frases fortes :

" se o dinheiro fosse utilizado para reformar o estado era bem utilizado ,mas apenas tem servido para o seu funcionamento e despesa social "

"Um banco central não pode falir "

O BCE é uma construção política por isso pode entrar em colapso"

" os alemães acabarão por pagar a conta "

" os alemães impõem limites porque sabem que serão eles a pagar "

" o limite é a confiança na moeda "

" com saída de um país do euro a sua dívida fica titulada na futura moeda nacional para os nacionais Os restantes ... esse país entraria em bacarrota por não garantir as suas obrigações .


Obs : O serviço da dívida nos diversos países nunca teve um valor tão reduzido , na Grécia não chega este ano aos 2% do PIB ou a França nunca deveu tanto e nunca pagou tão pouco , dívida 100% do pib juros a 1% a 10 anos dá uns miseráveis 20 000 milhões euros se os juros dispararem é so fazer contar para cada 1% são mais são mais 20 000 milhões .

Isso do perdão da dívida é conversa disparatada o que conta é o custo da dívida .
Editado pela última vez por Opcard em 22/2/2017 11:36, num total de 2 vezes.
 
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Re: Liberalismo com Euros ou Socialismo com Escudos?

por Ocioso » 18/2/2017 20:08

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Re: Liberalismo com Euros ou Socialismo com Escudos?

por Ocioso » 18/2/2017 2:46

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Re: Liberalismo com Euros ou Socialismo com Escudos?

por Ocioso » 17/2/2017 2:07


A evolução da situação internacional, os recentes e previsíveis desenvolvimentos na União Europeia associados a outros factores externos têm de ser olhados na sua plena dimensão e repercussões no plano nacional. A tomada de posse da nova Administração dos EUA e as suas implicações políticas, económicas e comerciais ainda imprevisíveis, a desvinculação do Reino Unido da União Europeia, as novas regras de «financiamento» anunciadas pelo BCE, os factores de instabilidade e guerra persistentes em vários pontos do mundo colocam não pouca incerteza sobre os seus desenvolvimentos e consequências.

A situação do País e as suas perspectivas de desenvolvimento evidenciam com inegável acuidade a necessidade de uma política, patriótica e de esquerda capaz de preparar o País para enfrentar quer os desenvolvimentos externos e os condicionamentos que daí decorram, quer para assegurar a resposta aos problemas nacionais e afirmar a soberania e independência.

O País conheceu, nesta nova fase da vida política nacional, passos dados na defesa, reposição e conquista de direitos que travaram o caminho de declínio e intensificação da exploração e empobrecimento imposto pelo governo PSD/CDS. Este facto, com o significado que assume, não ilude entretanto as limitações que impedem que se vá mais longe quer na resposta a aspirações e direitos, quer na indispensável ruptura com os constrangimentos que estão na origem dos problemas estruturais que afectam o País.

A problemas acumulados por décadas de política de direita somaram-se as consequências da política de destruição do governo do PSD/CDS e do Pacto de Agressão subscrito por estes partidos e pelo PS com o FMI, a Comissão Europeia e o BCE. Fragilização da actividade produtiva, desinvestimento em áreas essenciais, ataque às funções sociais do Estado, destruição e entrega de empresas estratégicas, favorecimento da especulação financeira e da banca privada acompanhada do enfraquecimento da CGD, subserviência externa – marcas e opções de um processo de exploração e empobrecimento com consequências e efeitos duradouros que é preciso enfrentar e ultrapassar.

Portugal foi arrastado para uma situação que compromete o seu futuro. Não é possível iludir a vulnerabilidade de Portugal face a factores de conjuntura externa que não determina nem está preparado para enfrentar. Variáveis como as do preço do petróleo, da cotação do Euro e do Dólar ou das pressões sobre o abastecimento alimentar e energético, pendem sobre o País como ameaça. Desprovido de soberania monetária e totalmente dependente das opções do BCE ou da chantagem das agências de notação, Portugal está não só dependente do exterior como, de facto, condicionado no seu direito inalienável ao desenvolvimento soberano e do progresso social.

É uma perigosa ilusão admitir que mesmo sujeitando Portugal, como se continua a sujeitar, a regras e imposições da União Europeia que só servem os interesses políticos e económicos dos centros que a dominam, que mantendo o País amarrado a uma trajectória de consolidação orçamental que reduz a resposta aos problemas nacionais ou que aceitando o sufoco de uma dívida que impede o crescimento e desenvolvimento económico, se colhem as boas graças do capital transnacional. A última emissão de dívida portuguesa a dez anos a taxas de juro superiores a 4%, associadas a novas ameaças do Eurogrupo e às pressões da OCDE para as chamadas reformas estruturais e de exigência de maior «consolidação orçamental» , provam a impossibilidade de defender os interesses de Portugal sem enfrentar a questão da dívida e do Euro.

É uma perigosa ilusão pensar que face à acrescida instabilidade e incerteza no plano internacional os interesses nacionais se defendem no quadro do reforço da União Europeia. A União Europeia e o Euro significam para Portugal brutais constrangimentos em que os interesses nacionais têm sido atingidos, seja em nome do mercado único beneficiando o grande capital e as grandes potências seja em negociações internacionais sacrificando em favor de outros os interesses e a produção nacional.

Num quadro em que se agrava a incerteza e a instabilidade, não haverá a solidariedade que nunca existiu, não haverá qualquer favor que nunca houve. O que teremos é a União Europeia, ao serviço das suas principais potências, no quadro da disputa e negociação internacional, a ignorar, desvalorizar e sacrificar os interesses nacionais. A resposta, a única resposta é adoptar todas as medidas, incluindo medidas de emergência, de defesa e de reforço da soberania nos mais diversos planos, a par de uma política externa independente e soberana.

Como o PCP tem insistido, o problema do País não é de um défice, repetidamente usado para impor a redução da despesa pública, a limitação a direitos sociais e o ataque a salários e rendimentos, mas sim de uma dívida insustentável que reduz o investimento e consome recursos e riqueza nacionais.

O País não tem de se sujeitar à brutalidade de mais medidas de consolidação orçamental que atrofiam o seu desenvolvimento. Portugal, excluídos os juros da dívida, dispõe já hoje de um saldo orçamental primário superior a quatro mil milhões de euros. Como o PCP tem insistido, o que o País precisa é de se libertar da submissão ao Euro e recuperar a sua soberania monetária enquanto elemento necessário – associado à renegociação da dívida e ao controlo público da banca – para adoptar uma política que responda decididamente aos problemas da produção nacional, de criação de emprego e de investimento público.

O PCP valoriza os avanços e conquistas alcançados, inseparáveis da contribuição e da iniciativa do PCP. Avanços e conquistas cuja concretização só foi possível com a acção e a luta dos trabalhadores e pela intervenção do PCP. Avanços e conquistas que só se tornaram possíveis numa correlação de forças em que o PS não dispõe de um governo maioritário. Avanços e conquistas que, para além do que o Programa do governo admitia, só se tornaram possíveis pela acção e luta dos trabalhadores e do povo e da contribuição e influência decisivas do PCP. Medidas e avanços que um governo maioritário do PS não adoptaria.

O PCP prosseguirá a sua intervenção determinada pelo seu compromisso com os trabalhadores, o povo e o País. Tendo presente as possibilidades e a necessidade de dar resposta às suas aspirações e direitos, não iludindo limitações, constrangimentos e contradições resultantes das opções e orientações do Governo PS.

Contradições que desenvolvimentos recentes põem em evidência. Seja pela confirmação por parte do PS de opções que não rompem com a política de direita e que traduzem a sua vinculação com o grande capital que se expressam designadamente no acordo com as confederações patronais na concertação social, a não eliminação da caducidade na contratação colectiva e a não assunção do princípio do tratamento mais favorável renunciando à eliminação destas e de outra normas gravosas do Código do Trabalho e da legislação laboral da Administração Pública. Seja pela estratégia que PSD, e também CDS, têm em curso para procurar branquear o seu passado recente, dar expressão à sua posição revanchista face ao seu afastamento do poder, e tentar atingir ou condicionar a acção do PCP. Seja pela persistência em «pactos de regime» ou da promoção de «consensos alargados» que na prática assegurem que em decisões e questões estruturantes para o País os interesses e objectivos associados ao chamado «bloco central» prevaleçam.

O PCP não determinará a sua intervenção a partir de manobras ou pressões nem condicionará a sua intervenção e juízo próprio de decisão a objectivos e manobras de conjuntura.

Não contem com o PCP para desbaratar gratuitamente possibilidades e perspectivas criadas no plano político com a nova correlação de forças e de levar o mais longe possível a defesa, reposição e conquista de direitos.

Não contem com o PCP para ver na luta dos trabalhadores um alegado factor de instabilidade, nem para contribuir para apatias e conformismos que limitem o papel decisivo e insubstituível da luta dos trabalhadores e do povo para concretizar outro rumo para Portugal.

O PCP não transigirá perante a política de direita e as opções que lhe dêem corpo venham de onde vierem, prosseguirá a plena afirmação das suas propostas e projecto, e a luta por uma política alternativa patriótica e de esquerda.

O PCP reafirma a sua determinação e compromisso com os trabalhadores e o povo, com a plena convicção de que os interesses do País exigem uma outra política.

Face aos desenvolvimentos da situação internacional e da União Europeia, o PCP reafirma a necessidade de uma política patriótica e de esquerda, e dará expressão na sua intervenção a elementos cruciais para o País que assumem particular actualidade e urgência:

- o lançamento de um amplo debate sobre a produção nacional e o seu aumento, nomeadamente para garantir a soberania alimentar e energética, enquanto condição de independência económica e promoção de emprego, com a identificação das necessidades e dos recursos, a eliminação dos factores que a constrangem, as medidas que a promovam e dinamizem;

- a ampliação da acção em torno da libertação do País da submissão ao Euro, que associada à renegociação da dívida, e ao controlo público da banca, prepare Portugal face aos constrangimentos externos, recupere a soberania monetária e orçamental, liberte recursos para o investimento público, a melhoria dos serviços públicos e o reforço das funções sociais do Estado;

- a inscrição como objectivos inadiáveis a valorização do trabalho e dos trabalhadores, com o prosseguimento da acção de combate à precariedade, de aumento do salário mínimo nacional para 600 euros e o aumento geral dos salários, contra a desregulação e pela redução do horário de trabalho, pela defesa de direitos, a defesa e afirmação da contratação colectiva e a alteração do Código do Trabalho e da legislação laboral da Administração Pública com a revogação das normas gravosas;

- a afirmação de uma política de defesa não submetida a objectivos e estratégias da NATO e da militarização da União Europeia, no quadro de uma política externa de diversificação de relações económicas e diplomáticas, baseada na cooperação e na paz.

O reforço do PCP, o aumento da sua influência e do seu peso na vida política nacional, a convergência dos democratas e patriotas, o desenvolvimento da luta dos trabalhadores e do povo são factores cruciais para abrir novas perspectivas de resposta aos muitos e estruturais problemas nacionais.

O reforço do PCP e da sua intervenção constitui condição para a concretização de uma política patriótica e de esquerda que inscreva como objectivos essenciais o desenvolvimento económico, a superação dos défices estruturais, o progresso social e a soberania nacional.

http://www.pcp.pt/situacao-do-pais-face ... s-politica
 
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Re: Liberalismo com Euros ou Socialismo com Escudos?

por Ocioso » 17/2/2017 0:50

2016:

- PIB cresce 2 511 milhões de € (1,4%);
- Despesa do Estado aumenta 1 561 milhões de €;
- Despesa com pessoal aumenta 608 milhões de €;
- Mais 4 843 funcionários públicos;
-
O contributo da procura interna para a variação do PIB diminuiu, refletindo a redução do Investimento e, em menor grau, a desaceleração do consumo privado.
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Re: Liberalismo com Euros ou Socialismo com Escudos?

por Ocioso » 16/2/2017 20:48

https://www.dgaep.gov.pt

Nesta edição da SIEP divulgam-se os dados de emprego e remunerações médias recolhidos através do Sistema de Informação da Organização do Estado (SIOE) para o sector das Administrações Públicas, com referência ao 4.º trimestre 2016. É igualmente disponibilizado um capítulo de indicadores estatísticos de síntese sobre emprego e remunerações no universo das empresas públicas, demais pessoas coletivas públicas e outras entidades públicas que compõem os subsectores das sociedades não financeiras e financeiras do sector público.

Emprego

A 31 de dezembro de 2016, o emprego no sector das administrações públicas situava-se em 663 798 postos de trabalho, revelando um aumento de 1,2% em comparação com o final do trimestre anterior (mais 8 058 postos de trabalho). Para esta evolução contribuiu essencialmente o incremento do número de trabalhadores da administração central: mais 7 600 correspondente a uma variação de 1,5%. Os Ministérios da Educação e da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior apresentam o maior contributo para este aumento de emprego (mais 8 110 postos de trabalho no total) refletindo ainda, durante o 4.º trimestre do ano, a atividade habitual, no início do ano letivo 2016/2017, de continuação do processo de colocação de docentes e de outros trabalhadores contratados para os estabelecimentos de educação e de ensino do Ministério de Educação e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Em termos homólogos, este indicador apresenta um aumento de 0,7%, correspondente a mais 4 843 postos de trabalho em resultado do aumento de emprego na administração central (mais 4 059 postos de trabalho, para uma variação de 0,8%), em particular no Ministério da Educação, mais 2 363 postos de trabalho.

Face a 31 de dezembro de 2011, o emprego nas administrações públicas, no final do 4.º trimestre de 2016, reduziu globalmente em 63 631 postos de trabalho (-8,8%).

No final do 4.º trimestre do ano, o emprego por subsectores das administrações públicas manteve uma estrutura idêntica à do final do trimestre anterior: 76,3% dos trabalhadores encontram-se em entidades da administração central, 16,6% na administração local e 5,6% na administração regional autónoma.

O peso na população total mantém-se em 6,4% (rácio de administração). No final de 2016, o emprego no sector das administrações públicas representa cerca de 12,8% da população ativa e de 14,3% da população empregada. Por outro lado, em cada 10 trabalhadores das administrações públicas, 6 são mulheres, mantendo a taxa de feminização no sector acima do mesmo indicador para a população ativa. Na mesma data, as mulheres trabalhadoras nas administrações públicas representam 15,6% da população ativa do mesmo sexo.

Remunerações

Em outubro de 2016, o valor da remuneração base média mensal dos trabalhadores a tempo completo no sector das administrações públicas situava-se em cerca de 1 451,0€, correspondendo a uma variação de 0,7% em relação ao mês de referência do trimestre precedente (julho); e a uma variação homóloga de 3,5%, por efeito da entrada e saída de trabalhadores com diferentes níveis remuneratórios, bem como do impacto da eliminação da redução remuneratória para remunerações acima de 1500€ (Lei n.º 159-A/2015 de 30 de dezembro). A atualização do valor da Retribuição Mínima Mensal Garantida em 2016 (Decreto-Lei n.º 254-A/2015, de 31 de dezembro) produz efeitos na comparação com o período homólogo.

O ganho médio mensal das administrações públicas é estimado, para outubro de 2016, em 1 666,7€, indiciando uma variação global no trimestre de 0,5%, e a variação homóloga de 2,9%, pelos motivos referidos para a remuneração base média.
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Re: Liberalismo com Euros ou Socialismo com Escudos?

por JohnyRobaz » 3/2/2017 1:00

bogos Escreveu:
JohnyRobaz Escreveu:http://expresso.sapo.pt/economia/2017-02-02-IKEA-Portugal-sobe-salario-minimo-para-625-euros

Nórdicos... 8-)


Jonhy.....
E imagina tu se a carga fiscal, não fosse a que existe hoje para alimentar a máquina trituradora....

Eu gosto é de ver a treta do SMN discutido por politicos que nada, NADA percebem do que é o mundo real....
Decidir salários minimos por decreto, porque sim, sem avaliar condições do mercado, é pura ilusão.

Nós Tugas (os policitos), gostam é de vedetismo e real politic de soundbites...... Imagem, bonitos..... Qual a diferença do Narcisismo de Trump, ou de Costa?
That's the same shit...

Meu caro amigo e estimado Jonhy..... Se o mercado funcionasse, os IKEAS eram a normalidade banal....
Assim é uma excepção bem vinda.

E abes porque o fazem....porque são países que entendem muito bem o que é o liberalismo económico. O produzir para criar riqueza. A redistribuição ocorrerá naturalmente realizada pelo mercado.

Esta notícia só pode surpreender, que não entende que o avanço é através do capitalismo governado por liberais.

E enquanto não se mete isto na cabeça, lá vai a caixinha governando o burgo e governando-se bem para o seu bolso.

Cumprimentos


Amigo bogos,

Cá estamos nós, ambos liberais, mas um encostado um pouco à esquerda e tu bem avançado lá para a direita. :mrgreen:

Olha, imagina então que a carga fiscal era como a do país de origem do IKEA.. aí é que tu mandavas o Costa para um sítio que eu cá sei.. :lol:

O liberalismo funciona se cumprir regras, e se for socialmente responsável, e tu não sendo inocente, sabes bem que não é bem assim, muito menos em Portugal.

Quanto ao SMN, volto a frisar o que já disse mil vezes. Deve ser estabelecido em concertação social, com sindicatos fortes e sem ligações partidárias como é a vergonha da CGTP. Não sendo isso possível cá como é nos nórdicos, o governo tem que moderar/puxar por esse acordo. E se tu achas que depende das condições económicas, eu digo-te que isso é uma bela treta. Depende da inflação e da evolução da produtividade. Aliás, os sindicatos deviam existir não só para o salário mínimo, mas para garantir um pagamento adequado pelo trabalho feito. Dá uma olhadela neste gráfico e tira as tuas conclusões acerca do caminho que o mundo tem seguido depois dos anos 70, aquela década do nascimento do liberalismo do Friedman:

Imagem

Caro bogos, caso tenhas disponibilidade e aceites uma recomendação de um puto curioso, lê o "Rise of the Robots" do Martin Ford. Vais perceber porque é que o neoliberalismo falhou. Ou se quiseres, o capitalismo selvagem, ou capitalismo desregulado. Os trabalhadores caminham para a escravidão, ou para o desemprego, se a política não fizer o seu trabalho: zelar pelo bem estar dos cidadãos. E mais. Não te esqueças que quem alimenta as empresas, quem compra o que elas produzem, são as pessoas que na sua maioria, trabalham para outros. Se a ganância não for controlada, vamos acabar bem mal mais uma vez.

Abraço!
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Re: Liberalismo com Euros ou Socialismo com Escudos?

por bogos » 3/2/2017 0:25

JohnyRobaz Escreveu:http://expresso.sapo.pt/economia/2017-02-02-IKEA-Portugal-sobe-salario-minimo-para-625-euros

Nórdicos... 8-)


Jonhy.....
E imagina tu se a carga fiscal, não fosse a que existe hoje para alimentar a máquina trituradora....

Eu gosto é de ver a treta do SMN discutido por politicos que nada, NADA percebem do que é o mundo real....
Decidir salários minimos por decreto, porque sim, sem avaliar condições do mercado, é pura ilusão.

Nós Tugas (os policitos), gostam é de vedetismo e real politic de soundbites...... Imagem, bonitos..... Qual a diferença do Narcisismo de Trump, ou de Costa?
That's the same shit...

Meu caro amigo e estimado Jonhy..... Se o mercado funcionasse, os IKEAS eram a normalidade banal....
Assim é uma excepção bem vinda.

E abes porque o fazem....porque são países que entendem muito bem o que é o liberalismo económico. O produzir para criar riqueza. A redistribuição ocorrerá naturalmente realizada pelo mercado.

Esta notícia só pode surpreender, que não entende que o avanço é através do capitalismo governado por liberais.

E enquanto não se mete isto na cabeça, lá vai a caixinha governando o burgo e governando-se bem para o seu bolso.

Cumprimentos
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Re: Liberalismo com Euros ou Socialismo com Escudos?

por JohnyRobaz » 3/2/2017 0:07

“E assim como sonho, raciocino se quero, porque isso é apenas uma outra espécie de sonho.”, Fernando Pessoa
“Nothing good ever comes of love. What comes of love is always something better” , Roberto Bolaño
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Re: Liberalismo com Euros ou Socialismo com Escudos?

por jeremias » 30/1/2017 12:18

jeremias Escreveu:Se a minha avó me desse no natal de 1977, 1000 escudos (mil), e eu poupadinho guardasse numa caixa ao fim de 10 anos, esses mil escudos teriam perdido
90% do valor
(noventa por cento)
Valia 100 escudos.

Num exercício meramente teórico, e por simulação considerando 2000-2009 com o euro (se fosse possível)
Teria perdido menos de 25% do valor
De mil euros que guardei numa caixa, ao fim de 10 anos (dez), esses mil euros ainda teriam o valor de 766 euros.


Corrijam as contas se estiverem erradas. (pode estar porque fiz isto à pressa)

Viva o escudo.

Povo enganado. :lol: :lol: :lol: :lol: :lol:


Com escudo teremos crescimentos fantásticos. A produzir cuecas para o resto da europa. :lol:

A Irlanda já cresce. Depois da bancarrota e com o Euro.

Devem ser mesmo especiais.
 
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Re: Liberalismo com Euros ou Socialismo com Escudos?

por Dr Tretas » 30/1/2017 12:08

Lion_Heart Escreveu:
Ocioso Escreveu:O desempenho económico de Portugal desde a introdução do Euro no país:



ou seja, 0 , nada


E a culpa é do euro? Correlação não é causa.
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Re: Liberalismo com Euros ou Socialismo com Escudos?

por Lion_Heart » 30/1/2017 5:35

Ocioso Escreveu:O desempenho económico de Portugal desde a introdução do Euro no país:



ou seja, 0 , nada
" Richard's prowess and courage in battle earned him the nickname Coeur De Lion ("heart of the lion")"

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Re: Liberalismo com Euros ou Socialismo com Escudos?

por Ocioso » 29/1/2017 1:54

O desempenho económico de Portugal desde a introdução do Euro no país:
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