lfhm83 Escreveu:Marco o liberalismo de Fiedman/Hayek é uma forma de organização social. Simplesmente acho absurdo as teorias do rico paga mais e de direitos diferentes para os "pobres" e para os "ricos". Ou pior ainda como é na actualidade em que as leis são diferentes consoante género, orientações ou etnia. São esses mesmíssimos direitos os responsáveis pelas assimetrias que depois se acabam por verificar.
Quanto mais se desenha a lei caso a caso maior a burocracia e maior a injustiça social. Principalmente porque quando muda a conjuntura é muito mais complicado de voltar a adaptar as leis e todos os processos de gestão inerentes.
Mas isto para dizer que ser liberal no sentido americano/francês é ser-se socialista.
A ideia da esquerda mais radical até é que todos recebamos e paguemos o mesmo.
O que os moderados defendem é que quem tem mais contribua mais e quem tem menos contribua menos. E contribuir para o quê? Para a existência de sistemas sociais cujo acesso por parte da população não deve ser restrita por qualquer factor discriminatório, como a capacidade financeira ou estrato social, étnico ou racial.
Que leis consideras que a esquerda defende e que diferem consoante o género, orientações e etnia? Falas das quotas? Eu sinceramente não acredito nas quotas como forma de equilibrar e dotar a assembleia da república de uma mais real representatividade do povo, prefiro acreditar que nos próprios partidos políticos vão pensar nesse aspecto quando elaborarem as listas dos candidatos a deputados.
Dizes que liberal no sentido americano/francês é ser socialista? Será que Joe Biden ou Bloomberg se consideram socialistas? Será que são? São liberais moderados, democratas moderados. Eu sinceramente não consigo é achar pessoas que não são a favor de um Estado Social liberais, pois rejeitam a verdadeira e real liberdade dos cidadãos em vingar conforme as suas potencialidades, restringidos pela situação de nascença. Isto é ser libertário, e essa é a diferença que tentei focar quando partilhei aquele post.
Eu defendo impostos, mas não defendo que os impostos devem ser os mais altos possíveis. Não me perguntes qual é a carga fiscal que considero ideal, mas nem é a mínima possível, nem a máxima possível. É a que garanta o funcionamento correcto do Estado Social, da Justiça, da Defesa, das Infraestruturas, da Acessibilidade.
Há coisas em que a esquerda não se sabe defender. Por exemplo, na questão da habitação. Eu acho que a habitação é um valor patrimonial como outro qualquer, em que alguém deve pagar pela casa que deseja ou pode. Se não pode viver no centro da cidade, terá que viver nos subúrbios. Aí entra a valorização que eu dou a um sistema de transportes públicos que garanta a acessibilidade a essas pessoas que têm que viver fora da cidade as cujo trabalho é no centro. Ou o caso do acesso à universidade, em que o maior custo para esse acesso é a habitação ao contrário das propinas, porque as universidades em Portugal nunca se lembraram de ter residências com uma oferta para todos ou quase todos os estudantes, como acontece em países como os EUA ou a República Checa. E por exemplo, no caso da propagação dos alojamentos locais pelos centros históricos das cidades, eu sou a favor de uma restrição ao percentual de fogos dedicados a actividades de alojamento, não por questões sociais, mas por uma simples lógica de sustentabilidade turística. Um exagero de alojamentos locais nos centros históricos levaria no longo prazo a uma descaracterização das zonas e a um posterior desinteresse turístico por elas, algo indesejável. É uma questão de criar regras, e deixar o mercado funcionar com base nessas regras.
Enfim, creio que há pano para mangas na discussão sobre o que uma pessoa como eu, que me identifico como liberal moderado, consegue defender, sendo a favor de coisas defendidas em geral pela esquerda liberal, como o Estado Social ou garantias de acessibilidade públicas, políticas que combatam discriminações (não confundir com políticas discriminatórias pró-minorias) e de coisas defendidas em geral pela direita liberal, como políticas que facilitem um maior peso do mercado de capitais aberto para financiamento da economia, que reduzam a burocracia, que tornem o Estado mais leve e simples, que libertem o Estado de áreas onde a sua presença não é necessária para proteger os cidadãos.
Por fim gostaria de trazer o tema da justiça, provavelmente das áreas onde há maior injustiça social no nosso país. Alguém que não seja de classe alta facilmente desiste de um processo sobre o qual acha que tem razão devido aos custos enormes que disputar um processo custa em Portugal em relação aos salários médios. Por exemplo, uma pessoa X (com capacidade financeira alta) coloca um processo numa pessoa Y (com capacidade financeira baixa), no qual exige uma indemnização de Z euros. A pessoa Y, mesmo convencida que tem razão, vai ficar revoltada com a situação porque mesmo que tenha razão indo a tribunal, vai gastar em custas e advogado mais do que Z euros, para além das dores de cabeça e faltas ao trabalho que isso iria implicar. E mesmo assim, apesar de convencida de que tem razão, pode sempre perder ou empatar em tribunal, ou o processo pode arrastar-se aumentando os custos ainda mais. O que acaba por acontecer é que a pessoa Y aceita revoltada pagar a indemnização de Z euros à pessoa X, mesmo tendo razão. Isto é justiça? Como se resolvem este tipo de problemas?