lfhm83 Escreveu:Que imagem daria aos que votaram sim? Que a democracia é uma mentira. E depois admiram-se que a verdadeira extrema-direita comece a ensombrar a Europa.
Um referendo não pode colocar em causa a democracia quando consiste precisamente em auscultar o povo. ´E o povo que vota num referendo. É do mais democrático que se pode fazer.
Um referendo imediatamente a seguir a outro poderá ser questionável. Tendo já decorrido 3 anos e existindo um montão de informação nova (nomeadamente, o que é que os orgãos políticos britanicos conseguem ou não conseguem fazer e muito particularmente, exactamente que tipo de acordo os britânicos afinal conseguem e/ou lhes será imposto... o que desconheciam à data do primeiro referendo) são motivos mais que suficientes para uma
nova auscultação democrática para saber se aquilo que estão prestes a receber é afinal o que o povo realmente quer.
Aliás, na minha modesta opinião, teria sempre que existir um segundo referendo nem que não fosse para
o povo validar o acordo fosse ele qual fosse. Caso contrário é auscultar o povo com informação incompleta e no final forçar/impor uma resolução com o qual ele não concorda. O que efectivamente transforma a democracia numa mentira e é na verdade uma forma muito subtil de autoritarismo:
falas uma vez - e sem conhecer informação relevante - e não falas mais, daqui para a frente está tudo na nossas mãos e terás de aceitar a "nossa" resolução.
Esta situação é semelhante à que ocorreu em Portugal em 1975 com as eleições constituintes: o povo elegeu quem elaboraria a Constituição mas nunca validou o documento, a Constituição em si, nem teve hipótese alguma de o fazer. Eu não creio que a nossa Constituição seja particularmente má, mas sempre que alguém refere a Constituição, eu não posso deixar de pensar que Constituições há muitas, e que o povo português nunca disse que a Constituição que tem é a que quer ter. Foi-lhes efectivamente imposta. O que é, em si, problemático.
Outras democracias existem onde as Constituições ou suas emendas têm de passar por um referendo. O povo tem de validar a decisão/documento final. Em decisões desta importância deveria ser sempre assim, na minha opinião.
Voltando ao referendo britânico, poderá dar-se o caso de no final o povo britânico ter de aceitar um acordo, que se soubesse que era esse não o teria escolhido. O que não é particularmente democrático.