A entrevista do Tomás Correia é reveladora. Um conjunto de respostas que são contrariadas por factos e números.
Começa a entrevista a dizer que o banco Montepio não é comparável com os outros bancos para tentar minimizar os números dos prejuízos, para durante toda a entrevista apresentar inúmeras vezes como justificação de que comparado com o sector estava bem ou melhor. Pois, comparável quando dá jeito e não comparável quando não dá.
Alguns dos pontos (e números!) que eu realçaria.
Negou os números das contas consolidadas da Associação Mutualista (AM). À afirmação do jornalista de que a AM perdeu 335 milhões de euros em 2013, respondeu:
"Não perdeu! Ganhou! 71 milhões de Euros se a memória não me falha." Sim, perdeu. As contas estão publicadas. A tabela abaixo mostra esses os valores. Os -335 milhões referidos pelo jornalista incluíam os interesses minoritários.
E insiste que a AM tem 800 milhões de reservas. Mas não se conseguem encontrar estes 800 milhões nas contas da AM. A exigência de contas consolidadas existe para alguma coisa. Mas a contabilidade tem destas coisas.
Transformar prejuízos em lucros não é das mais louváveis, mas quando gestores recorrem a este estratagema nas suas respostas é um sinal de alerta. Sinal de que querem esconder a realidade. Creio ser razoável substituir os “?” na tabela por um valor algures entre -150 e -200 milhões no resultado líquido e o respectivo reflexo nos capitais próprios. Esta atitude de esconder a realidade é patente na forma com as contas da AM são divulgadas no site: as contas individuais são facilmente acessíveis. As consolidadas é preciso procurar que estão algures escondidas no site...
Negou a exposição da AM ao Montepio: o jornalista afirma que 88% dos activos da AM estão investidos no banco Montepio. Resposta do Tomás Correia:
"Essas contas estão mal feitas! Os ovos não estão todos no mesmo cesto!" Pois é, as contas estão bem feitas e ele sabe melhor do que ninguém que estão bem feitas. Estão nas contas que ele publicou. A negação que assumiu em direto não abona a favor da sua credibilidade enquanto gestor. Infelizmente o jornalista não lhe perguntou porque era tão generoso na remuneração dos depósitos da Associação Mutualista.
Alteração das condições das emissões de dívida subordinada. Esta eu considero uma pérola. À afirmação do jornalista a descrever as alterações propostas responde: "Não é isso!". Mas é isso, sim senhor. O jornalista limitou-se a constatar as alterações propostas. Para depois garantir que, apesar de os termos serem alterados, de forma a que os juros poderão não ser pagos nas datas definidas (passando para a maturidade), os juros serão pagos nas datas inicialmente definidas. Não acontecer isso é uma "possibilidade meramente académica". Ahah! Claro, afinal a maioria destas obrigações já deve estar na carteira da AM... Mas como se isso não bastasse, diz que os atuais detentores beneficiam da "garantia de taxas de juro elevadas" nessas obrigações. O homem deve andar confundido. Como os juros delas são indexados à Euribor, nos últimos anos estas obrigações pagaram juros inferiores a 2% a.a. Isto é uma taxa elevada para dívida subordinada de um emitente com um rating BB/B2 para dívida sénior(Fitch e Moody’s)? Esta afirmação dele é mais do que negar a realidade ou atirar areia para os olhos dos outros.
Realçou a capacidade de gerar liquidez para substituir os 35% de financiamento externo que tinha em 2007. Parte desta substituição está no financiamento que os associados da AM estão a fazer sem saber (ilustrado pela exposição da AM) e a outra parte veio do Banco Central Europeu. Porque não o admitiu desta forma simples e transparente?
Jornalista: "O Finibanco foi um mau negócio."Resposta: “Está completamente enganado”. Justificou com diversificação do imobiliário e ficou por aí. Nada sobre resultados obtidos com esta compra.
Nos outros temas: imparidades, pressão do Banco de Portugal, auditorias, fundo de participação, aumento de capital, etc, como são mais subjetivos fica ao critério de cada um.