K. Escreveu:A descoberta do erro está a ter um impacto muito grande. Em Economia Política o timing das descobertas parece ser mais relevante do que as descobertas em si.
O importante é que foi descoberto nesta altura, em que, 3 anos depois de terem sido ridicularizados por uma campanha mediática que serviu diversos interesses, os economistas Keynesianos se estão a reorganizar, apresentando como trunfo principal os numeros do crescimento e do desemprego nos Estados Unidos, comparados com os da Europa, onde foram aplicadas medidas de austeridade que claramente pioraram a situação, como este grupo de economiastas sempre avisou.
E no mundo da investigação seja lá do que for, um erro na aplicação da metodologia descoberto num artigo muito citado, causa sérios danos na reputação dos autores e em toda a área em si. Esta é uma oportunidade de ouro para os Keynesianos.
Ou seja, a austeridade está a passar de moda. En hora buena!
Os Keynesianos até podem voltar a estar mais ou menos na moda. Mas o Vitor Gaspar não vai mudar o discurso. Nem estou a ver o Eurogrupo de repente passar a dar grandes facilidades a Portugal, por certo vão manter-se essencialmente com o mesmo discurso e a impor as mesmas coisas, mais vírgula menos vírgula. Por exemplo, no imediato, que se reponham as medidas do TC com outras medidas, ou seja, manter a austeridade.
A facilidade que está/estava a ser dada é meramente de alargamento dos prazos (e para isso acontecer, temos de manter as medidas duras de austeridade ao ponto de termos de substituir "imediatamente" as medidas canceladas pelo TC por outras equivalentes) e mesmo essa facilidade de alargamente de prazos já vinha de antes da história do paper.
Mesmo que a opinião (nos países sob austeridade) mude, há ainda outra questão mais ampla: que é o dos países que estão no papel de credor. Como a Alemanha ou os países Nórdicos, que querem é o dinheirinho de volta e/ou não estão para mandar mais para cá, digam lá o que disserem os políticos e os economistas sobre o efeito da austeridade. Isso é problema para os países sob austeridade "resolverem"...
O que estou a dizer é que isto é muito mais complexo que meramente a opinião de uma meia dúzia de economistas com mais ou menos impacto mediático, uns acérrimos de um lado e outros do outro e qual dos grupos está mais na mó de cima no momento.
Os líderes políticos como a Merkle e outros estão é preocupados com os seus próprios eleitorados (que se sentem os credores de Grécias, Portugais e afins).
Além disso, existem os efeitos colaterais: o que se passaria noutros países quando começassem a estender mais o braço a outros. Sim, porque para "levantar a pressão sob a austeridade" têm de existir "mãos largas" do outro lado para o compensar/permitir no imediato.
Há portanto aqui questões socio-políticas mais amplas que não permitem que as políticas virem 180º só por causa de mais ou menos paper.
A Europa tem um problema (ou melhor, um conjunto de problemas) que ainda demorará uns bons anos a digerir. No cerne do problema está precisamente esta divisão, falta de coesão, interna.
Falta de coesão política e económica, note-se bem.
E não é porque os Estados Unidos se comportam melhor ou pior que de repente a Europa vai passar a ficar muito coesa e tudo a remar para o mesmo lado (aliás, economicamente falando, os Estados Unidos estão longe de ser um bom exemplo, apenas servem para dizer que estão a portar-se no imediato um pouco melhor que a Europa, o que no meio disto tudo se situa quase no acessório... pois Europeus e Americanos estão ambos metidos num belo bico de obra!