Horta Osório: "Provavelmente dediquei-me um bocadinho de mais e levei as coisas demasiado a peito"07 Janeiro 2012 | 10:00
Horta Osório regressa esta segunda-feira ao Lloyds, depois de se ter ausentado por problemas de saúde. "Privação do sono", foi o diagnóstico. Garante estar "lindamente" e preparado para regressar. Mas agora vai delegar, depois de ter negligenciado "tudo o resto" para além do trabalho. "A maior lição [deste episódio] foi conhecer os meus próprios limites", assume.
António Horta Osório, que esteve de baixa por problemas de saúde, admite, em entrevista à "Revista" do "Expresso", que concentrou em si toda a reestruturação do Lloyds, toda a informação e todas as decisões. O que o levou a um estado de “sleep deprivation” (privação do sono).
O gestor português tinha a missão de reestruturar o Lloyds – que inclui vender 600 balcões até Novembro de 2013 -, devolver o dinheiro que o Tesouro britânico injectou na instituição para evitar a sua falência e “contratar várias pessoas-chave para a equipa”. Questões que Horta Osório diz que só ele poderia resolver.
“Provavelmente dediquei-me um bocadinho de mais e levei as coisas demasiado a peito, negligenciei tudo o resto, foquei-me totalmente no banco”, admite.
Horta Osório diz que no início de Setembro se começou a sentir mal por não conseguir dormir. “No fim de Outubro tornou-se bastante notório e pedi ao ‘chairman’ do Lloyds para tirar três dias extra para descansar e fui para Portugal”, contudo, ao contrário do que pensou “o problema tornou-se ainda pior.”
“Então quando voltei na segunda-feira falei com o ‘chairman’ e disse-lhe: ‘Desculpe, isto realmente não está bem eu tenho de ir a um especialista’”. O diagnóstico foi cansaço, “sleep deprivation”, o que levou Horta Osório a uma clínica onde ficou a “dormir durante oito dias”.
Actualmente Horta Osório diz sentir-se “lindamente”, algo que foi atestado pelo seu médico, bem como pelo médio do banco. “Só não voltei logo porque entretanto meteu-se o Natal. Volto no dia 9 de Janeiro.”
O gestor diz não saber o que aconteceu para que o desfecho tenha sido este, considerando que, em termos de stress não aconteceu nada de muito diferente do que já passou. E exemplificou: foi para o Brasil, iniciar a operação do Santander, numa altura em que as taxas de juro passaram dos 18% para os 40%, regressaram aos 18% para voltarem aos 40% e numa altura em que o valor do real disparou, quando deixou de estar indexado ao dólar. Ou quando veio para Portugal comprar o Totta. Ou mesmo quando foi gerir o Abbey National e comprou posteriormente o Bradford & Bingley e o Alliance & Leicester. “As situações foram parecidas e não vejo nenhuma diferença do Lloyds.”
Horta Osório admite que “ignorou os sinais de alerta” e que só se preocupou “quando já era tarde para conseguir reverter a situação sozinho.”
“Extraí as adequadas lições, vou delegar mais”
“Agora que a estratégia está decidida e que temos toda a equipa de gestão a aplicar essa estratégia vou passar a segunda fase de estilo de gestão e passar a delegar mais as responsabilidades na minha equipa.”
“Extraí as adequadas lições, vou delegar mais e vou fazer isso mais rapidamente e já em Janeiro”, afirmou.
Horta Osório garante que a sua confiança não ficou abalada com este episódio e que esta foi uma “experiência de humildade” e que “só com o tempo e com os resultados é que as pessoas vão ver que nada mudou e que eu continuo a ser a mesma pessoa.” O responsável está confiante em relação ao futuro e à capacidade de convencer as pessoas de que este foi apenas um episódio isolado. “Não é um evento numa carreira de 27 anos que faz essa enorme diferença. Já sou CEO desde os 29 anos, já geri 12 bancos em três países diferentes, já trabalhei em cinco países diferentes e este é mais um percurso.”
O gestor demonstra confiança na estratégia desenhada para o Lloyds. “Nós temos a estratégia correcta”, “estou a construir uma grande equipa que vai levar o Lloyds ao que eu me propus em Junho, ou seja, voltar a ser um banco rentável, número um. Número dois, um banco que apoia adequadamente a economia inglesa. E número três, dar a possibilidade ao tesouro inglês de devolver o dinheiro aos contribuintes.”
Garante que nunca pensou em desistir, apesar de ter noção de que não precisaria de continuar a trabalhar, mas: “Não faço isto por ter de. Faço-o porque gosto de o fazer.”
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