MarcoAntonio Escreveu:Koreano, remetes-me para o post anterior mas com o anterior passa-se o mesmo. O que tu escreves não sustenta o que defendes, está tudo por computar e tu colocas apenas um valor, um factor entre muitos quando com toda a facilidade os factores que tu deixas de fora nos podem levar a concluir ou intuir precisamente o oposto do que tu propões.
Tu referes nesse post o seguinte:
koreano Escreveu:...
...
...
O contexto da discussão é o contexto da crise...
O contexto era este:
Lion_Heart Escreveu:Ao contrario do que muito pensam o dinheiro não desaparece em tempos de crise, ele é apenas transferido.
E é sempre transferido dos pobres (desde as classes baixas a classe média) para os ricos , pois são os pobres que fazem mexer a economia (são os consumidores por natureza pois são o maior numero de cidadãos).
O que não falta em Portugal é dinheiro nos bancos.
Logo os carros topo de gama , as lojas mais exclusivas , os rest. top e etc tem sempre clientes pois a elite e aos políticos não falta dinheiro. Alias até aumentam as suas fortunas nestas alturas.
MarcoAntonio Escreveu:..., em que o rendimento disponível diminui. Sem saber:
a) quanto dos 275 e quanto dos 2000 são convertidos em consumo e quanto são convertidos em poupança;
e
b) quanto do rendimento disponível se reduz no primeiro caso e quanto se reduz no segundo;
e
c) e sem computar os respectivos universos (quantos de uns e outros existem).
não é possível concluir nem tão pouco intuir nada a partir da relação de 7.3 para 1.
É possível concluir que de uma relação de rendimento disponivel de 1:5, ao descontarmos o consumo de primeira necessidade (que quando deixa de existir significa que a vida em sociedade - pelo menos - do individuo acabou), passámos para uma relação de 1:7.3. Tudo isto apenas no exemplo. Não são dados "oficiais".
Obviamente que basta "mexeres" nos valores do exemplo, tudo muda. Eu não os dei por lei, tentei razoavelmente determinar (está bem explícito). E o exemplo não pretende ser prova, apenas ferramenta intuidora do movimento. Se fosse para ser prova, não fazia apenas um exemplo, adicionava a função, perdia horas da minha vida para tratar dados (e provavelmente outras muitas horas antes até que me chegassem às mãos) e fazer uma tabela para depois pastar aqui. Sem querer desrespeitar os caldeireiros, gosto muito deste espaço mas contribuo aqui dentro dos limites que considero razoáveis.
E julgo que como resposta à "profundidade" do contexto que acima dei (o do Lion_Heart - um bem haja

) acho que foi razoável...
Quanto às tuas questões "a","b" e "c:
a) Nesta exemplo que dei, não contemplei a variável poupança independentemente. A poupança ficou dentro do "bolo" rendimento pós-consumo-básico. Para além de simplificar a análise ao não a incluir, se tivesse incorporado a poupança então teria também que incorporar obrigatóriamente o crédito. Qualquer uma destas 2 variáveis, embora válidas na economia real (e especialmente o crédito) iria "sujar" ou "mascarar" a simplicidade exemplificativa. E muitas outras variáveis podias introduzir também... a produtividade, por exemplo. Qualquer fundamento deste exemplo ruiria se porventura o indíviduo com o rendimento 5x superior tivesse que trabalhar 5x mais horas que o outro e não lhe restasse tempo disponível para consumir além do básico.
Na minha opinião, a simplificação ao não introduzir a poupança não é impeditiva da validade da argumentação: A proporcionalidade do rendimento pós-consumo-básico, em relação ao rendimento disponível, aumentou. E portanto o peso relativo do "rico" numa
variação de consumo seria maior do que a relação original entre os rendimentos disponíveis. Se optasses por admitir que ambos "gastavam" o rendimento pós-consumo básico todo em poupança, a frase anterior podia ser repetida, substituindo a palavra consumo por poupança.
A introdução da poupança (e do crédito) nesta argumentação iria subverter o propósito da mesma.
b) Reduzes no 1º e aumentas no 2º, ou vice-versa. É transferencia de valor entre as 2 "classes". Para o meu exemplo, encaixaria bem o valor de 210 euros (5% do rendimento disponivel total), transferidos do "pobre" para o rico".
Num primeiro momento, as percentagens do rendimento disponivel inicial eram de 16,7% para pobre e 83,3% para o rico. As percentagens do rendimento pós-consumo-básico (
a existir uma variação no consumo, é deste bolo que ela vem) eram de 12,1% e 87,9%, respectivamente.
Num segundo momento, "roubámos" 210 euros ao pobre. O rendimento disponivel total mantem-se. As percentagens de cada um, do rendimento disponivel, passam a ser (como esperado tendo em conta a transferencia) de 11,7% (-5%) e de 88,3% (+5%). O peso de cada um no rendimento pós-consumo-básico é que se alterou de forma bem diferente: passaram a ter um peso de 2,9% e 97,1%, respectivamente.
Ou seja,
em caso de existir uma variação no consumo da economia (seja por que motivos for)
o peso do rico nesse movimento (seja em que direcção for) é maior do que a proporção do seu rendimento disponivel e, se tiver havido uma transferencia de rendimento dos pobres para os ricos, esse mesmo peso aumenta também em maior proporção que a transferencia do rendimento disponível.
Sinceramente, o que creio que aqui poderias atacar (era o que eu esperaria), serio o facto de eu, para toda esta estória, considerar que os custos básicos aumentam relativamente menos à medida que aumenta o rendimento disponível.
Atenção que existem limites para o valor da transferencia de valor entre classes (que variam dependendo da direcção do movimento).Quaisquer valores que coloquem o rendimento dos pobres abaixo do valor necessário para o seu consumo básico, ou que coloquem o rendimento do rico ao nivel do dos pobres (deixa de haver classes), impossibilita a argumentação.
c) Se pegares no meu exemplo e lhe acrecentares mais 4 "pobres" (mantendo os valores de cada um das classes), partirás de um rendimento disponível dividido entre 50% dos pobres (a soma dos 5 rendimentos baixos) e 50% do rico. A divisão do rendimento pós-consumo-básico será de 40,7% nos pobres e 59,3%.
Ao efectuares a mesma transferencia de 5% do rendimento total, dos pobres (dividida entre os 5) para o rico, as rendimento disponivel total passa a ser de 45% nos pobres e 55% no rico, mas o rendimento pós-consumo-básico muda para 30,4% e 69,6% respectivamente.
Neste cenário mais abrangente, continua a verificar-se um aumento superior do peso do rico no rendimento pós consumo baásico em relação ao aumento do seu peso no rendimento disponivel total.
E tudo isto apenas porque alguem disse que em crise o dinheiro passava das mãos dos pobres para os ricos mas e que eles é que faziam mexer a economia. Eu só quis dizer que essa passagem de mãos do dinheiro fazia pender mais a balança para o outro lado... em proporções agravadas.
