
Um artigo interessante do António Nogueira Leite:
http://albergueespanhol.blogs.sapo.pt/352864.html
Penso que ele se foca demasiado no Estado, sendo que eu considero que o problema não reside apenas aí, de qualquer forma vale a pena ler e sobretudo atentar na parte em que fala do défice da Balança de Bens e Serviços: parece que a OCDE tem uma previsão ainda mais catastrofista que eu em relação à evolução deste défice. Eu ainda admiti que este se pudesse contrair qq coisita
http://albergueespanhol.blogs.sapo.pt/352864.html
Penso que ele se foca demasiado no Estado, sendo que eu considero que o problema não reside apenas aí, de qualquer forma vale a pena ler e sobretudo atentar na parte em que fala do défice da Balança de Bens e Serviços: parece que a OCDE tem uma previsão ainda mais catastrofista que eu em relação à evolução deste défice. Eu ainda admiti que este se pudesse contrair qq coisita

Ao contrário do que diz a esquerda, a situação a que chegamos resulta, em boa medida, da progressiva estatização da economia portuguesa ao longo dos últimos 35 anos. É certo que após 1990 se iniciou a saída formal do Estado de muitos sectores produtivos que tinham sido por ele invadidos em 1975, mas a sua influência na economia, directa e indirecta, nunca parou de crescer.
Temos mais de metade da população dependente do Estado (entre funcionários, pensionistas, beneficiários de subsídio de desemprego e do rendimento social de inserção), a Despesa Pública representa metade da riqueza criada em cada ano (a despesa corrente primária cresceu quase 20 p.p. do PIB desde o início dos anos 80), ainda que formalmente de saída o Estado dirige pelas mais variadas vias (para além da legítima e necessária actividade de regulação e de defesa da concorrência) os sectores estruturantes da economia (energia, portos, telecomunicações, transportes aéreos e ferroviários), readquiriu um peso crescente no sector financeiro enquanto operador e, não satisfeito, transformou parte da nossa classe empresarial em meros exploradores de rendas económicas garantidas e nutridas pelos contribuintes actuais e futuros.
É normal, portanto, que um país tão colonizado pelo Estado, por via dos seus múltiplos braços, tenha um terrível problema de competitividade e tenha acumulado a sucessão de défices externos que coleccionou após a recessão de 1993, gerando uma dívida externa bruta de valor mais do que duplo da riqueza criada anualmente. Neste contexto, é normal que se fale de novo em exportar como um desígnio fundamental da nossa economia. Todos estamos de acordo que precisamos de reduzir significativamente o nosso défice da Balança de Bens e Serviços, que anda perto de 10% do PIB e se prevê (assim o faz a OCDE) se vá manter a esse nível (o que é, para mim, impossível, dado ser impensável continuar a assegurar o financiamento externo a uma economia que se comporte desse modo).
O próprio governo, abandonou, ainda que forçadamente e, alguns casos, rosnando um óbvio incómodo, a sua obsessão com o sector não-transaccionável, e passou a falar da importância da promoção das exportações. Ainda que tardiamente, avançou recentemente com a criação do Fundo de Apoio à Internacionalização e Exportação (FAIE), uma quase reincarnação do fracassado FIEP dos tempos de António Guterres. Embora não seja a panaceia para os problemas estruturais que afectam o sector de bens transaccionáveis da economia, o facto é que a medida é genericamente acertada. Na verdade, dado o actual momento de dificuldade de acesso ao crédito, a vontade e mobilização das empresas portuguesas para a entrada em mercados externos a disponibilização de 250M€ para empresas exportadoras é relevante e positivo.
O que já é francamente de evitar é a confusão de veículos através dos quais o Estado apoia e incentiva a economia e supre eventuais falhas do mercado do financiamento. Cria estes fundos, tem a AICEP capital, usa o grupo Caixa, nomeadamente a sua participada Caixa Capital, ainda tem os antigos fundos geridos na órbita do IAPMEI, enfim,… uma confusão. Não bastando a dificuldade conceptual que tenho com a noção indígena de “capital de risco público”, torna-se verdadeiramente incompreensível e fonte certa de desperdício e confusão, esta multiplicidade de instrumentos sobrepostos, a governação imprecisa com a decorrente possibilidade de futuros arbítrios e decisões por explicar. Igualmente grave é o sintoma que toda esta confusão revela: um Estado tentacular, descoordenado, desperdiçador….e, mais do que tudo, inviável.