A culpa é sempre dos outros, nunca é nossa. Nunca.
Deixo aqui mais um excelente artigo do PSG de hoje.
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Pedro Santos Guerreiro
O inimigo está entre nós
psg@negocios.pt
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No fim do arco-íris das ilusões portuguesas não estava um tesouro, estava um barril de pólvora. A explosão assoma em juros, créditos, riscos e bolsas, e o País apercebe-se bruscamente da sua solidão no descalabro. E agora? Agora nós...
No fim do arco-íris das ilusões portuguesas não estava um tesouro, estava um barril de pólvora. A explosão assoma em juros, créditos, riscos e bolsas, e o País apercebe-se bruscamente da sua solidão no descalabro. E agora? Agora nós.
Abastámo-nos antes, não nos bastamos agora. Precisamos dos aliados. Alemães, franceses, FMI, não somos esquisitos. Porque as defesas que julgávamos inexpugnáveis caem, uma após a outra. Em duas semanas passámos de convencidos a vencidos. Agora pedimos clemência, compaixão, dó. "SOS, senhora Merkel."
A descida do "rating" de ontem foi o estalo na cara que faltava para acordar o Governo do torpor negacionista. Melhor: o par de estalos, pois a desgraduação foi inesperadamente de dois graus. O corte aumenta os juros e, para mal dos nossos pecados, veio credibilizar aqueles que nos denunciam como gémeos da Grécia. Temo-la como uma pedra atada aos pés, que não nos deixa vir à tona.
A culpa não é da Standard & Poor's. E, se fosse, de que serviria culpá-la? Se este par de estalos serviu para alguma coisa, foi para que acordássemos do sonho em que isto não estava a acontecer.
Esqueça a tese do inimigo externo. São bodes expiatórios para esconder o pânico: "os especuladores", as agências de "rating", os "mercados", os salários dos gestores, os preços das gasolineiras, a oposição que não deixa, os jornais que não sabem, os alemães que não decidem... De tudo ouvimos, incluindo as críticas a quem alertava para a iminência: estávamos "do lado dos outros". Os homens precisam de adversários para serem maiores: "Sem São Jorge, o dragão nem grotesco seria", escreveu Chesterton. Mas nós inventámos inimigos para sermos menores.
O inimigo está entre nós: é a cobardia; é deixar de dispor pelo medo de indispor; é ter um Governo fracassado. E ser tão mau como os outros é consolo de medíocres. Está na hora de o País se deixar de comissões de inquérito, de greves e de desculpas para decidir o que é preciso e impopular.
O primeiro passo para abandonar o vício é reconhecer que ele existe. Não somos a Grécia mas estamos com ela nos últimos lugares desta compita europeia por crédito. A salvação das economias na crise financeira criou uma bolha gigante de dívida dos Estados, que agora terá de ser refinanciada.
Maio é um mês de forte corrida ao mercado. Não é possível a Portugal pagar taxas de 6%. E é impossível não acudir à Grécia ou reescalonar a dívida dos países, o que desmoronaria o euro. Claro que a Europa vai apoiar: a Grécia já; e Portugal depois, se necessário. Porque o receio que ninguém verbaliza é outro: é se chega a Espanha. Será o caos.
Portugal tem solução mas não é esta. O PEC e o seu aumento de impostos já não serve. Se PSD, PS e o Presidente se entenderem hoje é para cortar nas despesas sociais e avançar para as medidas radicais de que temos aqui falado, como cortar salários ou pagar subsídios em títulos de dívida. O crescimento só virá depois da recessão, deste empobrecimento que já vai numa década.
Nenhum herói nos salva desta. Não há Mestre d'Avis que nos embale, Martim Moniz que se entale, Bartolomeu Dias que dobre o cabo. Só contamos connosco. "Temos todos que responder", disse ontem Teixeira dos Santos. Todos somos dez milhões. Traga a conta.
As medidas de austeridade que há duas semanas eram politicamente impossíveis são hoje viáveis. Se não as tomarmos, virá um FMI que as tome. Mas, então, não estaremos a ser invadidos. Nós que nos evadimos."
(in
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