Bolsa brasileira deve ter semana de forte volatilidade
Bárbara Ladeia (
bladeia@brasileconomico.com.br)
04/02/11 20:27
Após encerrar sexta-feira (4/2) aos 65.269 pontos, muito próximo à mínima da semana, o Ibovespa confirma tendência de evasão de recursos da bolsa paulista. A próxima semana deve ter repiques de alta.
O principal índice acionário nacional encerrou a sexta-feira com desvalorização de 2,14% na semana. No ano, as perdas já somam uma desvalorização de 5,82%. Na máxima da semana, o índice alcançou os tímidos 68.011 pontos.
Com a temporada de balanços fora do país chegando ao fim, a onda de otimismo que contaminou os mercados americanos nas últimas semanas tende a um leve resfriamento nos próximos dias.
Com isso, os elementos condutores de alta para os mercados tendem a escassear, forçando os índices americanos e europeus a uma possível realização de lucros nos próximos pregões.
A falta de indicadores fortes nas próximas semanas podem colaborar para esse cenário. Eduardo Oliveira, operador da Um Investimentos, destaca três dias específicos da semana que podem trazer um tom mais negativo aos mercados americanos. "Segunda-feira (7/2), terça-feira (8/2) e quarta-feira (9/2) devem ser dias mais pesados para a bolsa americana. Há uma tendência de realização", sinaliza o especialista.
Com isso, quem deve ter sua tendência de baixa reforçada é a bolsa nacional, que já vem penalizada nos últimos pregões. "Se continuamos com essa perspectiva inflacionária desfavorável no país, a tendência é que entremos ainda mais nesse circuito de baixa".
Mesmo assim, Oliveira não descarta a possibilidade de dias de alta, com o mercado buscando posições favoráveis em meio a esse cenário conturbado. "O cenário está muito indeciso. Não que o mercado vai deixar o Ibovespa cair demais, então é possível que haja dias de alta no meio dessas quedas", aponta. "Será uma semana de volatilidade, mas no comparativo sexta contra sexta, teremos pouca variação."
Governo
As expectativas em torno das políticas macroprudencias do governo federal tem provocado fortes emoções nos investidores. Ao longo desta semana, o presidente da BM&F Bovespa, Edemir Pinto, tornou pública sua preocupação com o surgimento de novas medidas que possam conter a entrada de investimentos estrangeiros na bolsa.
Oliveira menciona que, ao final da semana, um boato de que seria adotada a incidência de Contribuição Provisória sobre a Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira (CPMF) sobre as aplicações estrangeiras na bolsa tomou conta das mesas de operação em todo o país.
No entanto, o operador não aposta na medida. "Não acredito que o governo vá adotar uma medida como essa agora", avalia. "Seria necessária uma tributação muito grande para que essa medida fizesse efeito".
No entanto, na expectativa do analista, há uma tendência que o mercado opere de lado durante as próxima duas semanas na expectativa da aprovação dos cortes no Orçamento, prevista para a última semana de fevereiro. Segundo Oliveira, somente após a aprovação desses cortes será possível avaliar qual será o tamanho do aperto monetário que o Banco Central terá de imprimir sobre a economia na tentativa de conter a pressão inflacionária.
"Se o corte frustrar o mercado, vindo menor do que o que esperamos, o Banco Central vai ter de pesar a mão. Isso pode piorar ainda mais a situação da bolsa nesse momento", avalia. Não por acaso, o analista já espera uma expectativa de juros básicos para 12,75% ou 13% já no próximo relatório Focus, a ser divulgado na segunda-feira.
A alta do juros, que podia favorecer pelo menos os papéis do setor bancário, não consegue gerar nem mesmo esse efeito, uma vez que pode intensificar a entrada de dólares para o país, gerando maior pressão do Banco Central com os compulsórios e novas medidas para conter a apreciação da moeda nacional.
Além disso, um cenário de aperto monetário prejudica os papéis de consumo e construção civil. "Quem se posicionou em papéis defensivos como os de elétricas ou educação, conseguiu se manter mais estável em momentos como o de hoje", avalia.
Análise Técnica
Do ponto de vista técnico e George Barros dos Santos, economista da Futura Investimentos, a análise tende ao otimismo, apesar da perda de suportes nessa semana. Mesmo com o forte recuo, o especialista afirma terem feito interessantes compras no último pregão da semana aguardando pelas recuperações de perdas de segunda-feira.
"Estamos muito próximos de um fundo muito resistente, aos 65 mil pontos", avalia. "Esse fundo está abaixo de todas as médias móveis que usamos, então entendemos que está na hora de fazer algumas compras para esperar os repiques de alta nos próximos pregões."
Nos gráficos da Futura, uma vez tocado esse fundo, há tendência que Ibovespa busque os 68 mil pontos, ainda que ele não seja alcançado nessa semana.
Santos aponta que, ao contrário do costume, o Ibovespa tem se mostrado suficientemente descolado do principal índice de Wall Street para gerar preocupação. "Estou apreensivo com a possibilidade de queda no Dow Jones. O índice já está próximo de fazer topo e tradicionamente o Ibovespa acompanha mais forte as quedas que as altas nos Estados Unidos", avalia.
Ações
Entre as pechinchas em destaque na análise técnica, Santos aponta os papéis das Lojas Americanas e da Hypermarcas que chegaram muito próximo das mínimas recentemente. "São papéis para médio prazo", aponta. No setor financeiro, o destaque fica para Itaú Unibanco (ITUB4).
No entanto, para curto prazo, o economista sugere que o investidor fique de fora do mercado ou operando com o máximo de cautela. "Está muito difícil trabalhar esses dias. Agora é hora de acompanhar e esperar o Ibovespa começar a se estabilizar em uma sequência mais firme", explica.