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Caldeirão da Bolsa

Memórias de um druida - A história da Reditus

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Re: Memórias de um druida - A história da Reditus

por 5640533 » 11/1/2019 1:18

Ulisses Pereira Escreveu:Enquanto vou continuando impossibilitado de analisar acções e de comentar o dia-a-dia dos mercados, recupero um artigo em que recordo a história da maluqueira que, há quase 10 anos atrás, se gerou sobre a Reditus:

A História dos mercados está cheia de episódios interessantes e que ficam marcados na memória daqueles que os viveram. Hoje, surge pela primeira vez neste espaço as “Memórias de um druida” que têm como objectivo relatar alguns desses episódios de forma a que aqueles que não os viveram, possam conhecê-los.

O início de 2000 foi um dos períodos mais emotivos da História da Bolsa portuguesa. Os principais mercados mundiais viviam um momento de euforia e a praça portuguesa não fugia à regra. Diariamente várias acções subiam fortemente, numa onda de loucura colectiva. Os noticiários abriam com notícias de novos máximos históricos na Bolsa portuguesa, os jornais da especialidade esgotavam, os fóruns de Bolsa na Internet estavam repletos e as salas de mercados cheias com os investidores a celebrarem as subidas constantes.

Recordo-me que, nessa altura, recebia cerca de 100 e-mails por dia, com os investidores a querem saber quais as acções que deviam comprar. E se alguém cometia a ousadia de advertir que as quedas se aproximavam era imediatamente apelidado de louco. Curiosamente, a minha empregada de limpeza, analfabeta e que nunca tinha falado de Bolsa na vida, discutia comigo as melhores acções para comprar naquela altura. Infelizmente, na altura não tive o discernimento necessário para perceber o claríssimo sinal contrário que a minha empregada me tinha acabado de dar.

Esta onda de euforia acentuou-se à medida que o topo (Março de 2000) se aproximava. Eram, sobretudo, os títulos do sector tecnológico que tinham as maiores valorizações, impulsionados também pelo enorme “boom” que a Internet vivia. A Reditus era uma das acções incluídas neste leque de acções e estava a ter boas valorizações tendo, na última quinzena de Janeiro de 2000, valorizado cerca de 50%. Contudo, no final de Janeiro, a negociação da Reditus foi suspensa devido ao anúncio de uma operação “harmónio” que a empresa ia anunciar.

Durante o mês de Fevereiro, enquanto a loucura atingia o seu auge na Bolsa portuguesa, a Reditus continuava suspensa com os investidores ansiosos pelo dia em que ela voltasse a ser cotada no mercado. Foram semanas de especulações sobre o preço a que reabriria a acção, com os investidores a anteciparem uma valorização extraordinária.

Durante vários dias, a acção não pode reabrir porque o sistema estava carregado de milhares de ordens de compra “ao melhor”, o que fazia com que a Reditus, caso começasse a negociar, abrisse a ganhar cerca de 2000%! A CMVM não deixou que a acção abrisse e obrigou a que todas as ordens tivessem preço, o que protelou a reabertura da acção por mais uns dias e fez com que a Reditus apenas reabrisse um mês depois de ter sido suspensa. Foi muito criticada esta decisão da CMVM mas eu considero que foi a decisão mais sensata que poderiam tomar.

A reabertura ocorreu no dia 1 de Março de 2000, com a Reditus a iniciar a sessão a ganhar cerca de 150%, atingindo o máximo do dia com uma valorização de 360% e fechando a sessão a ganhar cerca de 230% face à última sessão. Foi um dia de completa loucura, em que muitos investidores realizaram o melhor negócio da sua vida e muitos realizaram o pior negócio de sempre, comprando acções perto do seu máximo histórico.

É curioso como conheci algumas pessoas que a única compra que fizeram até hoje em Bolsa foi a de acções da Reditus naquele dia. Tinham sido semanas sucessivas com os investidores a espalharem a euforia pelos amigos e a convencê-los que a Reditus, por estar suspensa e não beneficiar das subidas ocorridas nessas semanas, seria a melhor compra do mundo e dinheiro garantido. Muitos aprenderam ali várias regras básicas: Não entrar no mercado no meio da euforia; não agir pelos conselhos dos outros; não contrair empréstimos para investir no mercado accionista. Infelizmente, o desrespeito desta última regra criou situações dramáticas a muitas pessoas no nosso país.

Apesar do topo da Bolsa portuguesa ter sido atingido apenas uns dias depois, essa sessão da reabertura da Reditus fica como o símbolo da euforia e do final de um dos mais explosivos “Bull Markets” do nosso mercado. Os meses seguintes foram o desvanecer dos sonhos de muitos investidores, com o fim de uma bolha especulativa e o início de um dos mais violentos “Bear Markets” de que há memória que levou a maior parte das acções a cair cerca de 90%.

Somos sempre tentados a pensar que momentos de tamanha euforia como os que aí se viveram jamais se viverão, mas a História dos mercados prova que estes movimentos de euforia e pânico tendem a repetir-se. É por isso que eu acho tão importante conhecermos o passado…

A Reditus um belo dia abriu sem ordem de venda. Não havia vendedores. Nunca tinha visto nada assim e nunca vi depois.
 
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por tugatuga11 » 16/10/2009 10:25

Lembro-me que certo dia estava ou no mundo_financeiro ou no bolsa e todos aguardavam por determinada hora pois previa-se uma noticia importante da somague. O pessoal fervilhava com a noticia mas hoje não me lembro se correu bem ou mal mas que estava tudo a olhar para o relógio e alguns cheios de somague... :mrgreen:
Não me canso de dizer: bons velhos tempos...apesar de preferir a "profissionalização" que a vida me trouxe no Forex...mas são episódios como este que o Ulisses contou que ficam para sempre na nossa memória :|
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por tugatuga11 » 16/10/2009 10:20

Artista, era o pessoal do canal milhões... :mrgreen: Lembro-me do maquinista e do pan pois sempre que tentava lá entrar recebia ordem de expulsão mas sempre dava para ver quem lá estava.
No entanto no canal mundo_financeiro ou no canal bolsa também se faziam grandes reuniões de quase confraternização em que cada um puxava pelo seu titulo.
Bons tempos! :wink:
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por artista_ » 15/10/2009 22:20

Lembro-me perfeitamente desse episódio, havia algumas pessoas nos foruns que aguardavam ansiosamente pelo regresso do título à negociação, foram bem recompensados, pelo menos os que souberam aproveitar, não terá sido tão fácil quanto isso no meio de tanta euforia, muitos terão mesmo assim perdido, pelo menos uma parte substancial dos ganhos do primeiro dia do regresso à negociação...

Houve outras situações interessantes, uma que ainda hoje me vem à cabeça foi com a Compta, a acção era muito pouco líquida e uns "artistas" organizaram num forum na net um movimento especulativo que resultou na perfeição, tenho a idéia que o título subiu 3 sessões na casa dos 40%, mas já não tenho a certeza... penso que a CMVM nunca chegou a apanhar nenhum deles, se é que era mais do que um!? :mrgreen: :mrgreen: Na volta ainda anda por aqui :)

abraços

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por pisão » 15/10/2009 20:00

Ulisses Pereira Escreveu:pisão, recordo-me sim da Lisnave, mas nessa altura já nem olhava para a acção já que estava praticamente em processo de falência e uma das minhas regras d eouro é não tocar nesse tipo de acções. E houve muitos que ficaram na mesma situação que tu. Confesso qu enão sei agora quanto é que isso valerá fora de Bolsa.

Um abraço,
ULisses


Fora de bolsa valem pouco, era bom era que voltasse a ser cotada em bolsa.
Vou-me contentando com os dividendos, este ano foi de €9,5 liquidos por cada acção.
Como o capital social é composto apenas por um milhão de acções, cada uma com o valor nominal de cinco euros e os capitais próprios da empresa eram no final de 2008 de cerca de 30 milhões de euros, se voltasse a ser cotada deveria de valer uns euros bons.

Um abraço
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por bestbland » 15/10/2009 12:47

Eu lembro-me de comprar a reditus mas fiz daytrade e até correu mais ou menos, e nessa altura se alguem perguntasse a mim que empresa estava a investir eu dizia:
Sei lá, é uma daquelas que estão a subir mais
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por Ulisses Pereira » 15/10/2009 12:41

pisão, recordo-me sim da Lisnave, mas nessa altura já nem olhava para a acção já que estava praticamente em processo de falência e uma das minhas regras d eouro é não tocar nesse tipo de acções. E houve muitos que ficaram na mesma situação que tu. Confesso qu enão sei agora quanto é que isso valerá fora de Bolsa.

Um abraço,
ULisses
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por bEMdISPOSTO » 15/10/2009 12:06

Ainda me lembro de ver um senhor (provavelmente reformado, embora nunca lhe tenha perguntado), poucos dias depois de começar a aparecer pela sala de investidores da corretora, andar a perguntar a vários se a Reditus era boa aposta para entrar (já ela tinha subido como uma desalmada)...

Não sei se chegou a entrar, que também nunca lhe perguntei nem o ouvi posteriormente comentar nada, mas rezo para que não tivesse entrado... era boa pessoa, pelas conversas que dele ouvi.

Já agora, para ser politicamente correcto, também não desejava aos meus inimigos que tivessem entrado... Mas 'pera lá?!? Afinal para que servem os inimigos?!? E se alguém quiser fazer fortuna na Bolsa terá que ser à custa de alguém!... Não, não estou a pensar bem... Oxalá todos ganhemos, oxalá tudo corra pelo melhor... Nada de apostas, só investimentos... e dividendos... e auditorias bem feitas... e price target's em banho maria... e informação para todos ao memo tempo... E hoje estava-se bem era à beira mar... solzinho porreiro...
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por bestbland » 15/10/2009 11:21

Aproveito o tópico para colocar o grafico do citibank.
Como podemos analisar para estar de volta aos numeros anteriores ainda há muito por subir
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por tugatuga11 » 15/10/2009 1:22

Ulisses, lembro-me de nesse dia "engolir" o almoço. Não podia perder tempo pois era comprar e vender assim que subia pouco. Foi um dos dias mais loucos da minha história em bolsa. Obrigado por o recordares.
Abraço.
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por pisão » 15/10/2009 0:18

Por essa altura também cotava a Lisnave que tinha umas subidas a pique e no dia seguinte quedas vertiginosas visto que a falência pairava no ar.
Fiquei com algumas entaladas, e aquilo que na altura parecia ser um péssimo negócio agora quase dez anos depois até é capaz de valer bom dinheiro.

O Ulisses recorda-se da Lisnave?

Um abraço.
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por V99 » 14/10/2009 16:18

Caro MarcoAntónio

Tem toda a razão já la vão quase 2 anos, são as saudades desses tempos que nos fazem por vezes perder a noção temporal. :mrgreen:

Abraço
 
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por MarcoAntonio » 14/10/2009 16:04

V99 Escreveu:Caro Ulisses,

Aproveito este tópico para também relatar um momento de euforia que ocorreu no fim do Bull Market em 2007.
Falo portanto da Galp, onde me encontrava no leque de possuidores de acções da mesma.
Recordo o saudoso mes de outubro de 2007, como sendo o mês mais incrivel na minha curta história nos mercados, quando ela galupou de 10,50€ para os 20,00€ mais coisa menos coisa em 2 semanas, portanto uma valorização de quase 100%.
Abraço,

V99


Acho que a memória te está a atraiçoar...
:wink:

Em Outuburo ela praticamente não mexeu e andou entre os 11 e 12 euros o tempo quase todo. Depois em Novembro é que teve uma explosão que em duas sessões a levou dos 10.80 aos 15.40 euros. E voltaria a subir até aos 19 euros e tal em finais de Dezembro.

De qq das formas foi uma fase formidável na GALP.
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1. Mais vale perder um ganho que ganhar uma perda, a menos que se cumpra a Segunda Lei.
2. A expectativa de ganho deve superar a expectativa de perda, onde a expectativa mede a
__.amplitude média do ganho/perda contra a respectiva probabilidade.
3. A Primeira Lei não é mesmo necessária mas com Três Leis isto fica definitivamente mais giro.
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por Razao_Pura » 14/10/2009 15:57

Olá Ulisses,

Excelente ideia a de publicares algumas curiosidade da bolsa.
Essa é de 20.
Se fizer parte das tuas "memoires" (que eu sei que faz) publica um post sobre a falecida PTM e sua ascenção aos ceús.

Thanks mate
R.P.
Trade the trend.
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por V99 » 14/10/2009 15:56

Caro Ulisses,

Aproveito este tópico para também relatar um momento de euforia que ocorreu no fim do Bull Market em 2007.
Falo portanto da Galp, onde me encontrava no leque de possuidores de acções da mesma.
Recordo o saudoso mes de outubro de 2007, como sendo o mês mais incrivel na minha curta história nos mercados, quando ela galupou de 10,50€ para os 20,00€ mais coisa menos coisa em 2 semanas, portanto uma valorização de quase 100%.
Abraço,

V99
 
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Re: Memórias de um druida - A história da Reditus

por DOW » 14/10/2009 14:09

zecatreca Escreveu:Amigo Ulisses

Obrigado por partilhar essa historia connosco.
Leva-me a crer que essa historia, colocada aqui tem agua no bico.

Para bom entendedor, meia palavra basta.

Cheira-me que o seu sentimente virou pessimista neste momento. Ou entao, sera para breve.

Um abraço


Neste momento ainda não estamos em euforia total, e ainda se discute se já estamos em Bull mode ou ainda continuamos em Bear... por isso acho que estamos mais perto do fundo do que do topo. ;)
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por Txuky » 14/10/2009 14:07

Eu peço desculpa pela provavel ignorancia mas gostava de saber porque é que o Ulisses não pode fazer comentarios sobre acções?
Já andei a pesquisar no forum mas nao encontrei nada...alguem me esclarece?
 
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por Ulisses Pereira » 14/10/2009 13:46

Zeca, estás a pensar demais. Foi apenas uma partilha de uma história e não tem nada a ver com o actual momento dos mercados.
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por PequenoInvest » 14/10/2009 13:28

:shock: Impressionante os meses de Janeiro e Fevereiro.
Eu nessa altura ainda nem sabia o que eram os mercados e acções e muito menos a Reditus.
Obrigado por esta aprendizagem :)

E agora, coitada, está totalmente moribunda :|
 
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Re: Memórias de um druida - A história da Reditus

por Zecatreca_1001 » 14/10/2009 13:28

Amigo Ulisses

Obrigado por partilhar essa historia connosco.
Leva-me a crer que essa historia, colocada aqui tem agua no bico.

Para bom entendedor, meia palavra basta.

Cheira-me que o seu sentimente virou pessimista neste momento. Ou entao, sera para breve.

Um abraço
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Memórias de um druida - A história da Reditus

por Ulisses Pereira » 14/10/2009 13:21

Enquanto vou continuando impossibilitado de analisar acções e de comentar o dia-a-dia dos mercados, recupero um artigo em que recordo a história da maluqueira que, há quase 10 anos atrás, se gerou sobre a Reditus:

A História dos mercados está cheia de episódios interessantes e que ficam marcados na memória daqueles que os viveram. Hoje, surge pela primeira vez neste espaço as “Memórias de um druida” que têm como objectivo relatar alguns desses episódios de forma a que aqueles que não os viveram, possam conhecê-los.

O início de 2000 foi um dos períodos mais emotivos da História da Bolsa portuguesa. Os principais mercados mundiais viviam um momento de euforia e a praça portuguesa não fugia à regra. Diariamente várias acções subiam fortemente, numa onda de loucura colectiva. Os noticiários abriam com notícias de novos máximos históricos na Bolsa portuguesa, os jornais da especialidade esgotavam, os fóruns de Bolsa na Internet estavam repletos e as salas de mercados cheias com os investidores a celebrarem as subidas constantes.

Recordo-me que, nessa altura, recebia cerca de 100 e-mails por dia, com os investidores a querem saber quais as acções que deviam comprar. E se alguém cometia a ousadia de advertir que as quedas se aproximavam era imediatamente apelidado de louco. Curiosamente, a minha empregada de limpeza, analfabeta e que nunca tinha falado de Bolsa na vida, discutia comigo as melhores acções para comprar naquela altura. Infelizmente, na altura não tive o discernimento necessário para perceber o claríssimo sinal contrário que a minha empregada me tinha acabado de dar.

Esta onda de euforia acentuou-se à medida que o topo (Março de 2000) se aproximava. Eram, sobretudo, os títulos do sector tecnológico que tinham as maiores valorizações, impulsionados também pelo enorme “boom” que a Internet vivia. A Reditus era uma das acções incluídas neste leque de acções e estava a ter boas valorizações tendo, na última quinzena de Janeiro de 2000, valorizado cerca de 50%. Contudo, no final de Janeiro, a negociação da Reditus foi suspensa devido ao anúncio de uma operação “harmónio” que a empresa ia anunciar.

Durante o mês de Fevereiro, enquanto a loucura atingia o seu auge na Bolsa portuguesa, a Reditus continuava suspensa com os investidores ansiosos pelo dia em que ela voltasse a ser cotada no mercado. Foram semanas de especulações sobre o preço a que reabriria a acção, com os investidores a anteciparem uma valorização extraordinária.

Durante vários dias, a acção não pode reabrir porque o sistema estava carregado de milhares de ordens de compra “ao melhor”, o que fazia com que a Reditus, caso começasse a negociar, abrisse a ganhar cerca de 2000%! A CMVM não deixou que a acção abrisse e obrigou a que todas as ordens tivessem preço, o que protelou a reabertura da acção por mais uns dias e fez com que a Reditus apenas reabrisse um mês depois de ter sido suspensa. Foi muito criticada esta decisão da CMVM mas eu considero que foi a decisão mais sensata que poderiam tomar.

A reabertura ocorreu no dia 1 de Março de 2000, com a Reditus a iniciar a sessão a ganhar cerca de 150%, atingindo o máximo do dia com uma valorização de 360% e fechando a sessão a ganhar cerca de 230% face à última sessão. Foi um dia de completa loucura, em que muitos investidores realizaram o melhor negócio da sua vida e muitos realizaram o pior negócio de sempre, comprando acções perto do seu máximo histórico.

É curioso como conheci algumas pessoas que a única compra que fizeram até hoje em Bolsa foi a de acções da Reditus naquele dia. Tinham sido semanas sucessivas com os investidores a espalharem a euforia pelos amigos e a convencê-los que a Reditus, por estar suspensa e não beneficiar das subidas ocorridas nessas semanas, seria a melhor compra do mundo e dinheiro garantido. Muitos aprenderam ali várias regras básicas: Não entrar no mercado no meio da euforia; não agir pelos conselhos dos outros; não contrair empréstimos para investir no mercado accionista. Infelizmente, o desrespeito desta última regra criou situações dramáticas a muitas pessoas no nosso país.

Apesar do topo da Bolsa portuguesa ter sido atingido apenas uns dias depois, essa sessão da reabertura da Reditus fica como o símbolo da euforia e do final de um dos mais explosivos “Bull Markets” do nosso mercado. Os meses seguintes foram o desvanecer dos sonhos de muitos investidores, com o fim de uma bolha especulativa e o início de um dos mais violentos “Bear Markets” de que há memória que levou a maior parte das acções a cair cerca de 90%.

Somos sempre tentados a pensar que momentos de tamanha euforia como os que aí se viveram jamais se viverão, mas a História dos mercados prova que estes movimentos de euforia e pânico tendem a repetir-se. É por isso que eu acho tão importante conhecermos o passado…
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caldeirao - red1.GIF
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caldeirao-red2.GIF
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caldeirao-red3.GIF
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