http://www.jornaldenegocios.pt/index.ph ... &id=413855
Saiba qual o impacto do PEC nas cotadas portuguesas
As medidas apresentadas pelo governo português no PEC deverão ter reflexo na actividade das cotadas nacionais. Alguns sectores serão mais penalizados, como é o caso da construção e infra-estruturas, defende o BPI. Mas, outras empresas deverão beneficiar da manutenção do rating da dívida pública portuguesa. Veja aqui a análise detalhada efectuada pelo BPI.
--------------------------------------------------------------------------------
Raquel Godinho
rgodinho@negocios.pt
As medidas apresentadas pelo governo português no Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC) deverão ter reflexo na actividade das cotadas nacionais. Alguns sectores serão mais penalizados, como é o caso da construção e infra-estruturas, defende o BPI. Mas, outras empresas deverão beneficiar da manutenção do “rating” da dívida pública portuguesa.
O governo apresentou ontem as medidas do PEC, com o objectivo de cortar o défice orçamental para 6,6% do produto interno bruto (PIB) em 2011, 4,7% em 2012 e 2,8% em 2013. Numa nota de investimento de hoje, o BPI analisa o impacto das medidas anunciadas para as cotadas nacionais.
Sector financeiro é o mais beneficiado pela manutenção dos “ratings”
Olhando para o sector financeiro, este “será o sector que mais beneficiará se os ‘ratings’ da dívida soberana ficarem inalterados”. O banco sublinha que um aumento de 25 pontos base no custo de financiamento no refinanciamento da dívida teria um impacto negativo de 2% a 5% nas nossas estimativas de lucros por acção.
O BPI não antecipa um “impacto directo” das medidas anunciadas para os bancos, não esperando que “o anunciado atraso dos investimentos públicos tenha um impacto significativo para os bancos e qualquer impacto potencial negativo nos volumes é claramente ultrapassado pela redução da percepção de risco do país ”.
Os analistas do BPI adiantam ainda que não estimam a venda da posição de 2,5% da Caixa Geral de Depósitos (CGD) no BCP, pois “não teria um impacto significativo nas contas públicas”, uma vez que esta participação tem actualmente um valor de mercado de cerca de 93 milhões de euros.
Congelamento do TGV não é uma “boa notícia” para a Mota-Engil
Na análise ao sector da construção e infra-estruturas, a construtora liderada por Jorge Coelho é a primeira a ser mencionada. O BPI defende que “o congelamento do comboio de alta-velocidade não é uma boa notícia, embora acreditemos que o mercado estava longe de avaliar o projecto”.
Contudo, a alteração no sistema de remuneração das auto-estradas sem portagens da Mota-Engil cortará a correlação com o tráfego e consequentemente os riscos derivados.
Quanto à Cimpor, Teixeira Duarte e Soares da Costa, a redução nos investimentos públicos “significa menos oportunidades de crescimento/recuperação, tornando os mercados estrangeiros mais e mais relevantes no ‘mix’ de negócios”.
Já a Brisa, “tem mais a ganhar com a manutenção do ‘rating’ de crédito soberano de Portugal do que tem a perder com um abrandamento no investimento público”. Ainda assim, o BPI considera que as medidas que contêm o consumo privado deverão afectar a recuperação do tráfego.
Contudo, a implementação de portagens em algumas das auto-estradas portuguesas deverá permitir à concessionária “capturar de voltar algum do tráfego perdido ao longo dos últimos anos”.
Efeitos do menor investimento público afectam indirectamente procura de energia
No que se refere à energia, a EDP é uma das possibilidades para o programa de privatizações do Governo. O BPI defende que “a possível privatização de outro bloco da EDP aumentaria a visibilidade no caso de investimento e a liquidez do título”.
A mesma fonte destaca que “os efeitos laterais de menores investimentos públicos vão afectar indirectamente a procura potencial de energia no país”.
Se a privatização da Galp Energia seguir em frente, aumentaria os cenários especulativos relativamente ao final do pacto entre os accionistas que termina este ano. Apesar de sublinhar que as medidas que penalizam o consumo privado não são uma “boa notícia” para qualquer empresa, “os ‘drivers’ da Galp são de alguma extensão supra-nacional”.
Telecomunicações não serão “particularmente afectadas” pelas medidas anunciadas
No campo das telecomunicações, o BPI não estima que o Estado Português ou a CGD vendam as suas participações na Portugal Telecom (PT) e Zon Multimedia, respectivamente, tendo em conta a sua importância estratégica e o pequeno impacto que teria nas contas públicas.
O BPI acredita que “o sector das telecomunicações não deverá ser particularmente afectado pelas medidas anunciadas”. Ainda assim, o forte esforço na contenção de despesas pode afectar negativamente a PT, já que esta é o maior fornecedor de telecomunicações das entidades públicas.
Três potenciais impactos nas empresas de pequena e média capitalização
O BPI identifica três impactos potenciais nas empresas nacionais de pequena e média capitalização. Em primeiro lugar, as medidas “podem ter um negativo impacto nas empresas que contam com a evolução do consumo privado em Portugal”, apontando companhias como a Jerónimo Martins, Ibersol, SAG e a Sonae SGPS.
A companhia liderada por Paulo Azevedo “deverá ser a companhia mais afectada devido à sua claríssima exposição a Portugal, incluindo o retalho não-alimentar”.
Por outro lado, o BPI continua a ver a Inapa como potencial alvo de privatização, apesar da pequena dimensão da empresa.
Por último, “se o consumo privado for afectado isso pode ter um impacto negativo no mercado de publicidade e consequentemente nas empresas de media”, o que penalizará a Impresa e a Cofina.