Bull Market em Teste de EsforçoMercados
Nuno Serafim, analista IG Markets Portugal
Desde o dia 6 de Março o S&P500, índice que pela sua diversificação e capitalização melhor reflecte o comportamento das bolsas nos EUA e no mundo, subiu mais 38%.
É verdade que em períodos de acentuadas perdas bolsistas, usualmente apelidados de Bear Markets, como assistimos nos últimos 18 meses, é normal assistirmos aquilo a que podemos chamar de Bear Market Rallys com alguma frequência mas que depois não se confirmam. No entanto, a dimensão e características do rally que agora assistimos leva-nos a questionar se não estaremos a entrar num novo período de expansão de preços em bolsa.
Ao contrário de que se possa imaginar os períodos de fortes avanços na Bolsas não estão associados forçosamente a melhores resultados das empresas ou a condições económicas óptimas. Sobretudo, os períodos de fortes subidas, ou quedas, estão associados a alterações mais ou menos súbitas do sentimento dos investidores. A evidência empírica dos últimos 20 anos aponta como principais razões de base a Bull Markets a reduções no nível de aversão ao risco e a activos desvalorizados.
Nas últimas semanas assistimos principalmente a uma redução brutal nos prémios de risco exigidos pelos investidores para tomar risco. Ou seja o "apetite pelo risco" aumentou transversalmente a todas as classes de activos. Já que, depois das quedas registadas nos últimos 18 meses, é mais ou menos consensual que a grande maioria dos activos, com excepção das Obrigações de Tesouro, se encontrava razoavelmente desvalorizada. Embora a fase visível deste apetite seja a subida das bolsas a verdade é que este fenómeno foi sentido em vários vectores: o VIX (índice que mede a volatilidade implícita das opções sobre acções do S&P500) caiu de valores acima dos 40% para menos de 33% em apenas três semanas; e a rentabilidade obtida pelas Junk Bonds (obrigações de emitentes de elevado risco) superou em 13% a das Obrigações de Tesouro norte-americanas em Abril, o que é um novo recorde.
A alteração da postura dos investidores não se deveu obviamente à melhoria das condições meteorológicas. Alguns indicadores macroeconómicos têm demonstrado sinais encorajadores em áreas cruciais como o mercado imobiliário e de trabalho nos EUA e a confiança dos empresários (Zew) na Alemanha. Confirmando esta melhoria, a generalidade das empresas que tem reportado resultados tem batido consistentemente as estimativas dos analistas o que confirma o excessivo pessimismo de que a maioria dos agentes económicos estava imbuído até há bem pouco tempo.
Nem mesmo a divulgação dos resultados do Stress Test aos 19 maiores bancos norte-americanos assustou os investidores. Apesar de Bank of América, Wells Fargo e Citigroup, apenas!!, necessitarem de $59 mil milhões, Timothy Geithner assegura a solvência da maior economia do mundo pondo praticamente um ponto final na crise bancária. O ponto final pode não ser o fim da crise mas enquanto não se escrevem novos capítulos da história é bem provável que o rally continue por mais umas semanas senão mesmo meses. Os processos de ajustamento dos mercados financeiros são sempre surpreendentes, na maioria dos casos mais surpreendentes do que a própria imaginação dos investidores.
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