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Caldeirão da Bolsa

Entrevista a Cem

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Entrevista a Cem

por Ulisses Pereira » 14/4/2009 9:44

Hoje, o entrevistado do Caldeirão é Cem. Para aqueles que apenas há pouco tempo começaram a frequentar este mundo dos fóruns de Bolsa, recordo que o Cem é um dos participantes “históricos” dos fóruns de Bolsa.

Com uma lucidez de discurso fora do normal e com uma especialização em sistemas automáticos de negociação, sempre apelidei o Cem como “o guru dos gurus”. Talvez a sua linguagem mais técnica e a sua aversão a protagonismos, nunca fizeram dele um ídolo para as multidões. Mas, aqueles que são verdadeiramente bons, olham para ele com uma veneração e a admiração profunda.

É um enorme prazer poder entrevistar o “guru dos gurus”. :)

Ulisses: Há quantos anos negoceias em bolsa?

Cem: Desde o século passado!

Ulisses: Recordas-te dos teus primeiros dias como investidor e o teu primeiro negócio?

Cem: Nessa altura era tudo fezada e grande convicção de que as compras seriam baseadas em papéis que se iriam multiplicar por umas dezenas de vezes, santa ingenuidade!

Nunca tinha ouvido falar em Análise Técnica e era tudo baseado em Análise Fundamental, PERs, previsões de lucros, rumores de OPAS e coisas desse género. Os belos anos 90!

Recordo que na altura a primeira compra foram umas quantas acções da Inapa, o que estava relacionado com a indústria papeleira era considerada uma aposta muito sólida nesses tempos.

A seguir eram umas Reditus, parece que os computadores iam ser uma coisa do futuro, depois eram Lisnaves, a volatilidade daquelas acelerações astronómicas eram a verdadeira vertigem que todos os especuladores delirávamos, the good old times!

Ulisses: És, seguramente, uma das pessoas em Portugal que mais domina o mundo dos sistemas automáticos de negociação. Achas que o futuro dos mercados passa por aí?

Cem: Obrigado pela pergunta e pelo elogio mas não é como dizes, o assunto tem muito pano para mangas.
Não sou certamente um dos que mais domina este campo das novas tecnologias no campo da programação dos sistemas aplicados aos mercados, há milhares de programadores por esse mundo fora que, tenho a certeza, desenvolveram ferramentas de análise e sistemas de trading muito mais poderosos do que os que desenvolvi por hobby dedicado ao longo dos finais dos anos 90 para cá.

Os vulgarmente denominados sistemas automáticos de trading, de alguma forma mais ou menos dependentes de programação computarizada, encontram-se ao dispor dos grandes bancos de investimento, hedge funds, clientes institucionais e também, cada vez mais espalhados e divulgados, por muitas centenas de milhares de traders que actuam por conta própria, principalmente nos States por onde esta panóplia começou e se espalhou para o resto do mundo.

Serei talvez conhecido neste tipo de comunidades bolsistas da internet deste nosso rectângulo europeu por ter dado a cara por este tópico nos fóruns de Bolsa, apenas isso.

Outra questão pertinente tem sido se isto resulta em lucros ou cifrões no fim de cada ano ou de cada negócio. A resposta depende naturalmente da eficiência do programa de trading e dos seus resultados; terão tanto ou mais sucesso quanto mais performantes tiverem sido os testes feitos de antemão numas centenas de trades históricas efectuadas.

Infelizmente os resultados nestes sistemas de trading não aparecem logo ao virar da esquina, isto é como na pesca, há que ter alguma paciência e esperar que o peixe pique, por vezes passa muito tempo antes que os pesos pesados façam a diferença em relação aos pescadores de fim-de-semana.

A média duma rentabilidade de sucesso pode ser expectavelmente positiva no longo prazo mas a variação e o desvio-padrão da consistência dos resultados ainda é demasiado dispersa e por vezes muito exasperante para quem usa estes sistemas.
Por estes motivos há quem perca rapidamente as estribeiras e ponha em causa a sua real eficiência, até porque muitas vezes determinados sistemas com excelentes resultados em testes deixaram de os ter porque o comportamento do mercado em que foram aplicados mudou radicalmente.

Por exemplo, um sistema com bons resultados em tendências marcantes deixa de funcionar quando o mercado passa a lateralizar durante a esmagadora maioria do tempo. É claro que nesse caso se poderia juntar uma subrotina que identificasse o tipo de comportamento dominante e actuasse em conformidade mas tudo isto implica imensas variáveis e incertezas na programação que fazem deste tema dos sistemas de trading um campo imenso de possibilidades que podem vir a ser aproveitados pelos traders e especuladores da Bolsa em geral.

Também há obviamente quem venda gato por lebre, há imensa intrujice sem controlo nos anunciantes destes produtos, anunciando valores de performance milagrosos que, a serem verdade, tornariam os seus compradores em milionários em 2 tempos. Ora todos sabemos por experiência própria que neste campo ainda não há produtos milagreiros.
Se juntarmos, no entanto, os resultados de longo prazo de traders discricionários com os de traders que usem sistemas de negociação de sucesso comprovado “a la longue” não tenho dúvidas quanto ao desfecho final sobre quem terá mais sucesso ao fim de vários anos.

Nos campeonatos do mundo de traders profissionais da Robbins Cup, onde se têm juntado centenas de profissionais CTA (Commodity Trading Advisors) com muitos dos melhores gestores de fundos e com milhares de privados que gostariam de sair do anonimato, com dinheiro real e desde 1990 para cá ao longo dum ano inteiro de competição a actuar em commodities, Forex e derivados (futuros e opções), nunca até hoje ganhou ninguém que não tivesse algo parecido com um sistema de trading ou pelo menos regras muito mecanizadas ou disciplinadas de disparo das suas ordens.

Obviamente que quem usa sistemas de trading tem de obedecer a critérios muito rígidos: possuir elevada disciplina para seguir as ordens automatizadas, não questionar o porquê das compras e vendas do sistema e não se deixar enredar na grande armadilha das decisões emocionais.
Não sei se o futuro da negociação em Bolsa passará ou não pelo desenvolvimento deste nicho de mercado.
Há que notar que esta indústria dos sistemas de trading aplicados ao mercado tem na prática menos de 20 anos e que o Warren Buffett, que não usa a AT nas suas decisões, investe nos mercados há mais de 40 anos.

Em bom rigor a capitalização dos lucros tem uma importância crítica no sucesso da riqueza acumulada, mas sou levado a pensar que este sector tem um enorme potencial se o programa usado for comprovadamente eficiente e se o trader que o usa for realmente muito disciplinado.
Aqui também há muita crença: se o trader acreditar no potencial das ferramentas que usa terá provavelmente mais hipóteses de sucesso que um outro que desista às primeiras contrariedades que inevitavelmente lhe irão aparecer pela frente, tendendo então a mudar constantemente as regras das suas ordens.

Ulisses: Nunca fazes “trades” sem recorreres aos teus sistemas automáticos?

Cem: Sim, é um facto que só recorro a ordens dos sistemas de trading que desenvolvi para mim mesmo e vou mantendo esta forma de actuar porque comprovadamente deu-me bastante dinheiro a ganhar nos últimos 10/12 anos, mas não me perguntes quanto!

Ulisses: És um dos “históricos” dos fóruns de Bolsa. Quais os participantes que marcaram estes fóruns?

Cem: Meu caro Ulisses, vais-me desculpar mas não vou citar nomes. Não quero melindrar ninguém se me esquecesse de algum nome porque ao longo de imensos anos destas andanças muitos nicks, que recordo com saudade, apareceram e desapareceram sem deixar rasto e todos eles, antigos e mais recentes me marcaram bastante.

Certamente que uns se destacam ou destacaram mais que outros pelo nível claro de conhecimentos e experiências de mercado marcantes que possuem, nem preciso de os citar porque no passado até já os mencionei, mas ao longo dos anos nos fóruns de mercados em Portugal fui também aprendendo que até os mais “calejados” ou mais velhos vamos sempre bebendo novos conhecimentos até com mensagens de pessoal mais recente ou menos experiente no trading.

É por isso que ainda gosto imenso de ler os fóruns das Bolsas, é que estamos sempre a aprender e a divertirmo-nos com muito do que por aqui se vai dizendo.
Além do mais esta coisa dos fóruns ainda tem um magnífico extra: é que se fazem por esta via amizades magníficas e ganhamos um imenso respeito uns pelos outros, quanto é que isto pensam que vale?! Não tem preço!

Ulisses: Achas que hoje os participantes nos fóruns têm mais conhecimentos sobre o mercado do que há 10 anos atrás?

Cem: Inevitavelmente, sim, se a net tem algo de positivo é reter e espalhar depressa as coisas positivas que implicam mais conhecimentos.
No campo dos princípios básicos do trading, das armadilhas a evitar, de novos programas em tempo real, na facilidade de acesso aos mercados e a novos softwares de auxílio quer em auxiliares de AF e AT quer no desenvolvimento do sempre obscuro e espectacular campo do money management para aqueles que se dedicarem ao trading dos sempre perigosos produtos derivados, a vida está muito mais facilitada para os mais novos que só agora chegam aos mercados.

Ulisses: Por que é que tanta gente perde dinheiro nos mercados?

Cem: Ulisses, porque haveria de ser?! Os erros tradicionais do costume: “buy and forget”, o investimento a longo prazo dá sempre um retorno positivo, baixar a média dos preços de compra em tendências descendentes sem pensar que se está a expor a um risco de exposição em maiores quantidades do papel comprado, comprar na euforia excessiva e vender no pânico quando um determinado movimento de preços está a dar as últimas, usar regras baseadas principalmente em swings e esquecer as tendências dominantes, ficar convencido que o papel já está muito barato e que agora isto só pode mesmo subir, esquecer alguns detalhes subliminares de que é preciso ter em conta diversas escalas temporais numa decisão sobre que quantidade temos de colocar em risco em determinada entrada de compra num papel, etc.

Resumindo e concluindo: todos já vimos este filme vezes sem conta e infelizmente só há quem aprenda com os erros via “hard way”, à custa de muitas perdas que deixaram muita mossa e maltrato na carteira.

Ulisses: Profissionalmente, qual é a tua ocupação?

Cem: Engenheiro, com muito orgulho.

Ulisses: Quando consegues fugir do trabalho e do teu PC, o que fazes?

Cem: Adoro estar com a família, a minha mulher e a minha filha e, se possível numa estância balnear longe do mundo das notícias, de preferência nas Caraíbas ou na Tailândia. Mas não há bela sem senão, quando chego ao hotel a patroa descobre rapidamente que a primeira coisa que faço na televisão do quarto é um rápido zapping a verificar onde há canais sobre mercados!

Também me abstraio do que se passa à minha volta se estiver embrenhado numa excitante partida de xadrez, é o meu hobby favorito que vem dos meus tempos do liceu e que me ficou da loucura que rodeou o célebre match para o campeonato do mundo em 1972 entre o Fischer e o Spassky, não só me atraíam os lances espectaculares dos grandes mestres mas igualmente a guerra fria de bastidores que se passava entre as super-potências da altura.

Que mais? As grandes notícias do mundo internacional e do desporto de alta competição fascinaram-me desde sempre, se tiver um jornal ou revista da actualidade à mão de semear leio-o de fio a pavio.

Ulisses: Qual a tua personagem histórica favorita?

Cem: Com essa pergunta, assim de repente, é difícil escolher, mas se tiver de mencionar alguém da nossa História, outro passatempo sobre as nossas raízes culturais e de valores que gosto de cultivar e que infelizmente nas nossas escolas vão deixando perder cada vez mais, mencionaria algumas figuras brilhantes da nossa época áurea da 2ª Dinastia:

D. Nuno Álvares Pereira (nunca foi derrotado em combate, estando quase sempre no comando de uma minoria de tropas face ao inimigo na maior parte das batalhas), Infante D. Henrique (o primeiro homem de negócios do comércio marítimo, incluindo a iniciativa de convencer o pai D. João I a conquistar a primeira praça forte no norte de África, que servia de charneira às entradas e saídas do comércio mediterrânico com a Europa do norte: Ceuta), D. João II (o verdadeiro estratega dos Descobrimentos em larga escala planetária), Bartolomeu Dias (o primeiro a descobrir a passagem pela ponta sul da África, tendo participado também nas viagens de Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral), Afonso de Albuquerque (o estratega da conquista e predominância do domínio português nas praças fortes que deixou em dezenas de pontos no Índico e Golfo Pérsico) e já agora: Luís de Camões (aprender na altura do liceu “Os Lusíadas” era uma seca detestável, mas aperceber-me mais tarde da subtileza da linguagem poética avançada e da forma como defendia a epopeia, levada ao extremo, do portuguesismo dos nossos heróis e do nosso povo até ao século XVI, realmente é extraordinário como éramos um povo muito mais orgulhoso do que hoje somos há mais de 500 anos atrás).

Certamente haveria muitos mais a referir mas fica apenas a referência simbólica à época que na minha opinião mais marcou a nossa identidade de afirmação no mundo.

Ulisses: Podes dizer-me o livro, o filme e a música da tua vida?

Cem: Bolas, outras perguntas difíceis.
Isto não era suposto versar o tema do trading e dos mercados?!
Vou aqui deitar umas moedas ao ar e cá vai então:

Livro – “Manual do Metastock”, pois é claro, sem esta leitura não teria dedicado ao trading anos de esfuziantes pesquisas sobre o santo graal dos sistemas de trading e, podem crer, usar este tipo de ferramentas fez-me abrir um mundo novo de possibilidades acerca de como se pode ganhar muito dinheiro nos mercados a longo prazo e com muita paciência.

Filme – “Parque Jurássico (primeiro da série)”, para mim o mundo do cinema divide-se em antes e depois de Steven Spielberg, de facto o homem é genial.

Música – Enya: a música irlandesa pode deixar um ar melancólico a pairar mas a musicalidade instrumental e a voz da cantora ficam marcadas na nossa memória para sempre, em momentos em que preciso de me isolar ouvir esta música dá-me uma grande força para encarar adversidades. Obviamente há trechos musicais de outros autores, ex: “Imagine” do John Lennon, “I have a dream” dos Abba, “Nothing compares to you” da Sinead O’Connor e muitos outros que agora não me vêm à memória.

Ulisses: Qual é a maior ilusão do mercado?

Cem: Que é possível enriquecer em pouco tempo, para a maioria que se inicia nos mercados muitos pensam nos lucros fabulosos que podem ganhar e poucos pensam nos riscos do que podem vir a perder!

Ulisses: Que projecto, ao nível dos mercados, gostarias de abraçar?

Cem: É difícil estabelecer metas em projectos nos mercados, para mim basta-me continuar a usar no dia–a-dia a AT que fui desenvolvendo e que uso nos mercados, através da actualização da análise diária que faço correr nos programas de trading normalmente à noite a seguir ao jantar. Essa tarefa rotineira dá-me um gozo extraordinário independentemente de chegar rebentado ou ter tido ou não um dia de cão em termos profissionais.

Enquanto os mercados me derem gozo, e uns cobres extra jeitosos para além do salário normal, já me considero um tipo realizado e com sorte.
A saúde, a felicidade e a estabilidade familiar serão contudo as primeiras prioridades, a Bolsa e os mercados vieram por acréscimo e estarão para ficar enquanto esta actividade, hobby ou negócio extra, como lhe quiserem chamar, me for dando um enorme prazer em me continuar a dedicar.

Talvez a ideia mais maluca que tive recentemente foi a de colocar uma empresa na Bolsa. Aqui fica a breve história: era uma holding ligada ao sector da saúde que domina as participações accionistas numa clínica privada na marginal da linha do Estoril, onde vim a adquirir uma participação razoável e onde os outros sócios, quase todos médicos, me puseram à frente dessa SGPS, que vou gerindo como Administrador não remunerado nas poucas horas livres que vão aparecendo.

O facto de não haver nenhuma cotada do sector da saúde na nossa Bolsa e eu ter achado muito atractivo convencer os parceiros do negócio a poder investir ou especular com a liquidez de umas centenas de milhares de Euros por ano, provenientes dos lucros da clínica distribuídos em dividendos, numa carteira do tipo “hedge fund” foi na altura muito apelativo.

Ter à disposição capital adicional que poderia ter sido gerado por uma OPV acrescida dos lucros que o negócio vai gerando, não sei se sabem que a saúde é imune à crise porque os doentes não diminuem nestas alturas críticas, foi um projecto entusiasmante.
Só não foi para a frente porque o Banco que na altura foi contactado para o efeito, para colocador do negócio na praça e tomador firme da operação, achou o projecto super-interessante e uns meses depois de uma data de relatórios e pareceres com “business plan” à mistura, veio a dar o dito por não dito com uma nega diplomática alegando que a operação de mercado era muito arriscada!

O Banco chamava-se BPN e veio logo a seguir criar o seu próprio grupo de saúde no âmbito do seu núcleo accionista. Sem eu saber estava a competir ou a fornecer provavelmente informações relevantes para a ideia base do grupo de saúde da SLN que também nunca acabou por entrar para a Bolsa, não me perguntem porquê, mas que ainda hoje consideram prioritário não alienar! Olhem do que eu me safei e das voltas que o mundo dá.

Ulisses: O que é que ainda te falta para seres um grande “trader”?

Cem: Isso é algo que é difícil de avaliar e que depende das metas que estabelecemos para nós próprios, até porque considero o trading uma espécie de combate pessoal de cada um contra um dragão traiçoeiro, o mercado, onde o objectivo é ganhar dinheiro procurando antecipar os seus movimentos antes que ele nos faça em pedaços.
Não gosto de falar pessoalmente em termos de metas de trading mas basta-me que a este nível vá tendo uma rentabilidade média na minha carteira pessoal na casa dos 20% a 30% ao ano para me dar por satisfeito.
O segredo do sucesso é ir mantendo uma rentabilidade média razoável da ordem de grandeza da citada ao longo de uns 20 a 30 anos.

A capitalização dos eventuais lucros, atenção que infelizmente nem sempre é possível ter um ano positivo, encarregar-se-á de exponenciar o valor final da carteira, espero bem que se mantenha em ganhos tendencialmente crescentes ao longo do tempo, desde que vá mantendo o risco sempre relativamente controlado!

Se do ponto de vista do trading especulativo me considero relativamente disciplinado, procurando seguir à risca um plano de trading baseado em ordens mecanizadas resultantes dum sistema de trading e dum método eficiente de risco reduzido e optimizado de money management na carteira particular, as consequências de nos mantermos à tona de água virão por acréscimo, os lucros virão quase sem darmos por eles, bastando seguir os princípios básicos do trading:

- Tomar sempre posições de acordo com a tendência dominante.
- Controlar permanentemente o risco das posições expostas, quer a nível da maximização dos lucros como principalmente da minimização das perdas.
- Fechar posições perdedoras sem futuro o mais cedo possível logo que se sinta que a tendência dominante desapareceu.
- Deixarmo-nos seguir o máximo de tempo possível com a tendência, semanas ou meses a fio, se possível.

São estes pontos simples que originam uma carteira de trading saudável, poucos princípios que muitos ouviram falar mas que só poucos aderem na realidade prática do seu trading!

Ulisses: Quais são as características intrínsecas que um investidor deve ter?

Cem: Muita paciência para esperar pelas oportunidades certas, vontade de vencer e ganhar dinheiro mas com a capacidade de assumir riscos controlados, ter consciência de qual o risco a que está exposto através da simulação do que poderá acontecer de imediato à sua carteira se amanhã Wall Street abrir com um crash de 25% ou 30%, disciplina em aderir a regras básicas do trading e seguir um plano de negociação bem definido onde o estudo e a aplicação têm de ser permanentes numa base quase diária: ao longo de muitos anos a sorte deixa de ter um papel relevante e passa a ser o estudo e a análise permanentes que ditarão os resultados a longo prazo.

Sem estudo e sem esforço não se chega a lado nenhum em termos de resultados, em qualquer tipo de negócios ou ramo profissional. O trading não é excepção à regra de uma dedicação atenta e responsável, embora para muitos possa parecer quase um casino.

Outra coisa importante: embora nos devamos alhear dos impulsos emocionais de actuação impulsiva resultante das euforias e pânicos ou optimismos e pessimismos, estar atento a estes factores, sabendo controlá-los ou medi-los em qualquer tipo de comportamento reinante nos mercados, seja em regime tendencial ou oscilatório, pode ser um forte factor que permitirá obter vantagens se souber ser explorado em nosso favor.

Nos mercados não há certezas mas há probabilidades. Se soubermos colocar do nosso lado a esperança matemática em que, perante determinado cenário em que conhecemos a medição aproximada do factor emocional em determinada escala temporal, poderá atingir o ponto óptimo de geração da maior relação de ganho/perda, de acordo com padrões repetitivos do passado, teremos melhores hipóteses de obter sucesso do que outros que desconheçam essa importante informação.

Por muito que digam o contrário os sábios e os “profs.” da Economia, o verdadeiro motor que faz mexer os mercados não são os balanços e previsões de resultados das empresas e da Economia em geral, são apenas as expectativas do que sentem os participantes do mercado em relação ao que os outros pensam fazer. Porque não tirar então partido desta situação e procurar transformar estes indicadores de expectativas em indicadores líderes de trading?

Ulisses: Se fosses o CEO do Caldeirão, o que é que mudarias nele?

Cem: Vocês os moderadores é que são os especialistas e de certeza que já pensaram a fundo nisso.

Uma sugestão? Talvez pusesse em maior evidência e destaque, em paralelo no fórum junto a uma canto superior onde possamos ler as mensagens, um “refresh” com as cotações dos principais índices, acções mais populares e do EuroDollar.

Em relação à qualidade das intervenções, nesse ponto acho que o Caldeirão é incomparável, é a sua grande mais-valia aqui em Portugal e mesmo em relação a muitos dos grandes sites idênticos lá de fora.

Todos os participantes em geral contribuem de uma forma extraordinária e muito generosa para que isso aconteça e este ponto deve ser preservado e mantido a todo o custo, foi assim que o Caldeirão ganhou a notoriedade que lhe é sobejamente reconhecida.
Só espero que não venha aí uma OPA dum maluco qualquer, era bom para os moderadores e donos do site mas mau para a comunidade que participa e lê o fórum.

Ulisses: Para finalizar, que conselhos darias a alguém que está a dar os primeiros passos nos mercados?

Cem: Não se deixar levar pelas suas vontades emocionais primárias, ler bastante este tipo de fóruns das Bolsas e alguma literatura especializada, procurando destrinçar o que é positivo e negativo na sua forma de actuar nos mercados.

Começar com pouco capital e, sempre com dinheiro que nunca venha a precisar para as suas despesas diárias, pelo mercado de acções para ir confirmando por tentativa e erro o que deve ou não fazer no seu trading especulativo ou de investimento.

Nunca alavancar posições numa fase inicial em mercados de warrants, opções, futuros ou cambiais.

A regra número um terá de ser a de procurar manter sempre que possível o seu capital inicial. Há que ter uma noção fundamental: um valor de começo significativo para aplicação nos mercados só o vamos ter uma vez na vida, se o perdermos acabou-se a aventura de pensar que o trading pode dar muito dinheiro a ganhar e é assim que muitos perdem as ilusões e nunca mais querem saber dos mercados.

Quem perdeu nesta apaixonante actividade normalmente atribui-o ao azar! Mas se fizerem uma auto-crítica mais séria foram os que arriscaram demasiado sem saber o timing correcto apropriado e o nível de risco a que estavam sujeitos, é a vida!
Estar demasiado exposto a posições compradas em bear markets é demolidor e é um erro muito comum dos que aparecem muito novatos nestas andanças da Bolsa, o pessoal nestas condições só pensa que a recuperação está mesmo ali ao virar da esquina e que os preços já estão demasiado baratos, sem suspeitar que a martelada ainda pode demorar mais alguns meses ou até uns anos valentes.

Pensar que as Bolsas são só rosas, que somos os mais espertos e que “desta é que é, já não pode descer mais!”, os milhões estão mesmo ali à mão de semear para ser ganhos após umas poucas ordens do tipo “comprar à fartazana que isto é aposta certa”, sem suspeitar do pesadelo que os vai esperar até terminar realmente o bear market, tudo isto é muito repetitivo e demasiado frequente e atroz para quem desce pelo cano por esta via! Não quero com isto dizer que não compremos algumas vezes durante os bear markets, mas com algum tino e cautela, antes de ter a certeza que o bull voltou. É preferível comprar ao dobro dos mínimos com as acções em subida sustentada em bull market do que nos novos mínimos que uma acção vai fazendo em queda permanente num bear market, ponto.

Esta gente que perde e são muitos, a maioria, podem crer, vai deixando correr o marfim pensando que foi só um pequeno azar inicial a aposta não estar a resultar de imediato, a recuperação vem já aí, normalmente só pensa nos prejuízos tarde demais e sai em desespero perto dos mínimos!

Resumindo e concluindo: o mundo dos mercados é realmente único mas tem de ser abordado com o máximo de cuidado por todos os que daqui quiserem tirar partido em seu benefício, ou lucrar com o trading.
Para isso é necessário ter acesso ao máximo de informação possível, seja de carácter fundamental ou técnico, para tomar uma decisão de compra ou venda.
Com a certeza porém de que, qualquer que tenha sido o resultado final, o desenrolar de todo o ciclo desde a compra até à venda passando pelo misto de emoções que se desenrola no interior do detentor dessas acções durante esse período de stress, torna a negociação dos mercados na actividade de risco mais fascinante que existe à data presente.

Ulisses: Muito obrigado pela entrevista e que os teus sistemas te continuem a iluminar o caminho.
"Acreditar é possuir antes de ter..."

Ulisses Pereira

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